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PARTE I UMA NOVA ÉTICA DA PRESERVAÇÃO DA NATUREZA E O

CAPITULO 4 A ATUAÇÃO ESTATAL E A NECESSIDADE DE INSERÇÃO

4.4. Os instrumentos públicos de proteção ambiental

4.4.1. Medidas diretas de preservação

Os métodos diretos de preservação, adotados pelo Estado, implicam imposição de obrigações e proibições, a partir de um poder de controle deste sobre as pessoas, bens e atividades, nos limites da cada competência institucional.

Tentando demonstrar força e buscando conferir eficácia aos direitos fundamentais o Estado adota uma postura eminentemente punitivo-repressiva, através do direito administrativo, civil e penal.

As normas punitivas, em qualquer daqueles domínios, ainda são maioria e bastante rigorosas, mas não conseguem alcançar a efetividade necessária. Busca-se, com a referida postura, encobrir a fraqueza do Estado em evitar e prevenir os danos ambientais.

A forma de diferenciar os métodos diretos dos indiretos, segundo Vagueira Garcia, repousa

em la escasa liberdade de actuación que se deja al particular em los primeros para alcanzar el resultado buscado por la norma; por tanto, solamente podrá cumplir o no los requisitos que se especifiquem, incurriendo en infracción si no los respecta, pero sin tener la possibilidad de elegi el modo y la cantidad de poluición a disminuir, como sucede em los segundos. (GARCIA, 1999, p. 55)

Mas, por outro lado, ressalta-se que mesmo os meios indiretos de conservação ambiental prescindem sempre de norma reguladora, visto que exigem o auxilio estatal que tem nas normas jurídicas o seu veículo de expressão.

A tutela administrativa do meio ambiente assemelha-se bastante a uma forma especial de gestão ambiental, - que integre a Administração Pública e a sociedade organizada - embasadas em sólidos preceitos legais, porquanto a administração tem como um dos seus fundamentais princípios o da legalidade.

As disposições de caráter administrativo compreendem o veículo habitual de regulação de conduta por parte do Poder Público. Entre as medidas de controle de poluição e degradação, em primeiro lugar, apontamos a fixação dos limites máximos permitidos de emissão de contaminantes. De outro lado, a prescrição de condutas obrigatórias em relação a determinados processos

produtivos, prescrevendo condutas a realizar e a evitar, cominando multa ou perda de licença em caso de infração – no que se assemelham às medidas penais.

Como bem difuso, carece o meio ambiente de proteção por parte do Poder Público, que se vale sobretudo do seu poder de polícia, limitando o exercício de alguns direitos individuais em prol da coletividade e da conservação ambiental.

Esse poder de polícia é comumente exercido por meio de ações fiscalizadoras, contemplando a tutela administrativa, tanto corretivas, inspectivas, entre outras. Entre as medidas preventivas e não reparadoras está o licenciamento ambiental que visa a preservar de riscos potenciais ou efetivos a qualidade do meio e a saúde da população, provenientes de qualquer empreendimento ou intervenção sobre o meio ambiente. Pretende-se adequar a conduta e, quando necessário, puni-la.

Dentre as três esferas básicas de atuação do Direito Ambiental – a preventiva, a reparatória e a repressiva – a tutela civil do meio ambiente cuida da reparação ambiental, quando efetiva a ocorrência do dano.

A reparação ambiental acontece através das normas de responsabilidade civil, culminando na imposição de uma importância em dinheiro (indenização) ou na tentativa de recomposição do estado anterior ao dano (o que nunca ocorrerá de forma absoluta).

Em matéria ambiental, as responsabilidades são independentes, podendo haver a repercussão jurídica tripla: sanções administrativas, criminais e civis.89

Causar dano ao meio ambiente significa trazer-lhe prejuízo, lesar os recursos ambientais, promover o desequilíbrio ecológico e conseqüentemente da qualidade de vida. Nesse sentido, o interesse público maior é evitar a ocorrência de danos ambientais, vez que quase ocorrida a lesão ao meio ambiente, esta é irreparável ou de difícil reparação.

89

É o princípio da independência das responsabilidade, decorrente do art. 1.525 do CC, e do art. 225, § 3º da Constituição Federal.

Além disso, chegar a um cálculo da totalidade do dano ambiental para impor a sua compensação é uma das maiores dificuldades das medidas reparatórias. Nestes casos de indenização em dinheiro, o valor fixado terá como parâmetro o dano causado ao meio ambiente e não a capacidade econômica do lesante, visto ter este assumido o risco e todos os ônus inerentes à atividade.

Neste ponto, as medidas diretas de responsabilidade civil diferem-se das medidas tributárias, indiretas. Nestas últimas, o quanto exigido ao sujeito passivo obrigado deve pautar-se preferencialmente pela capacidade contributiva daquele e não por medidas de valoração ambiental propriamente ditas.

A responsabilidade civil por dano ambiental é regida pelo sistema da responsabilidade objetiva. Ou seja, funda-se no risco assumido pelo lesante e independe da culpa do agente, exigindo-se apenas para sua efetividade a ocorrência do dano e o vínculo de causalidade com a atividade. Esta responsabilidade objetiva está expressa nos §§ 2º e 3º do art. 225 e art. 21, XXIII da Constituição Federal de 1988, materializando a regra do ‘poluidor-pagador’, fazendo recair sobre o autor do dano o ônus proveniente dos custos sociais de sua atividade. Evita-se, dessa forma, a privatização dos lucros e socialização dos prejuízos.

Como o direito ao meio ambiente limpo e equilibrado é um dos direitos fundamentais da pessoa humana, chama o direito penal a intervir diante de determinados casos de agressão,90 ressaltando mais uma vez a repercussão jurídica tripla da danosidade ambiental: responsabilidade penal, administrativa e civil – alternativa ou comulativamente.

A Lei 9.605/98, a denominada Lei da Vida, trouxe ao ordenamento brasileiro disposições sobre sanções penais e administrativas, decorrentes de atividades e condutas lesivas ao meio ambiente.

90

Trata-se, no caso de sanções penais, de condutas antijurídicas, não permitidas pelo direito, denominados crimes ambientais. O bem que se deseja proteger e resguardar é o meio ambiente limpo e equilibrado em sua dimensão global, aqui entendida o ser humano e as gerações futuras.

Para a tipificação penal, o fato danoso ambiental é ilícito, tendo sido afetado sem autorização legal, licença ou mesmo em desacordo com as determinações legais. Não se trata simplesmente do exercício de conduta danosa ao meio ambiente. (MIRALÈ, 2001, p. 446).

Tanto a conduta comissiva como omissiva podem ser penalizadas, ou seja, condutas proibidas que causem ou possam causar danos à saúde humana, bem como ‘deixar de adotar medidas de precaução em caso de risco de dano ambiental grave ou irreversível’91 podem levar à consumação de um delito ambiental.

A ilicitude de uma conduta lesiva ao meio ambiente representa o limite de imposição das medidas tributárias ambientais, já que os tributos não podem ter como hipóteses de incidência condutas proibidas pelo Direito. Assim, onde incidiria a responsabilidade penal, não comportaria a tributação ambiental.