• Nenhum resultado encontrado

PARTE I UMA NOVA ÉTICA DA PRESERVAÇÃO DA NATUREZA E O

CAPÍTULO 1 O REPENSAR DO PAPEL DO HOMEM NO ECOSSISTEMA

2.4. Princípio da Precaução

Neste princípio encontramos a verdadeira “essência do direito ambiental”, vetor básico que responde aos clamores de urgência por um meio ambiente limpo e equilibrado, a ser tratado como ‘carro chefe’ em relação `a implementação das políticas públicas ambientais (DERANI, 2001, p.165).

Como a própria denominação indica, tal princípio impõe a adoção de um prévio juízo de valor sobre a real necessidade de implementação de atividades tendenciosamente prejudiciais ao meio ambiente, ainda que não existam provas cientificamente conclusivas sobre o seu caráter degradante28. Eleva a um grau mor a necessidade de planificação das atividades produtivas, visando à garantia da qualidade de vida, não apenas para o presente, mas abarcando a sociedade futura.29

Enquanto o princípio da prevenção preocupa-se com a detecção antecipada do dano, de forma a tentar evitá-lo, existindo nesse caso o conhecimento que determinada conduta venha a causar dano, o princípio da precaução não se limita a evitar uma poluição eminente, eliminar ou reduzir uma poluição existente, de forma a proteger-se de conhecidos perigos. Busca-se antes evitar o simples risco, tentando combater a poluição desde o início, objetivando-se o rendimento duradouro dos recursos. (FAUCHALD, 1998, p.23)

28

“A sua irrupção reflete a crescente sensibilização para os riscos inerentes à complexificação constante e vertiginosa da realidade social e a consciência da necessidade de identificar e gerir a incerteza científica.” (MARTINS; FREITAS, 2001, p.12; DERANI, 2001, p. 164 ).;

29

Fácil perceber a diferença existente entre os princípios da prevenção e o da precaução a partir da distinção entre perigo ambiental e risco ambiental: o primeiro já se encontra proibido ou combatido por ações preventivas ou reparadoras pelo ordenamento, sendo conhecidos os efeitos maléficos que passaria a causar. Os riscos ambientais nem sempre são proibidos, por serem muitas vezes desconhecidos. Devem, entretanto, ser excluídos posto que se trabalhados podem ser minimizadas as probabilidades de danos. (MACHADO, 2001, nota 13).

O princípio da precaução exige que, diante de sérios riscos ao meio ambiente, mesmo que as conseqüências de uma determinada conduta não estejam comprovadas como maléficas através de um nexo causal entre uma atividade e seus efeitos, ainda assim devem ser tomadas as precauções ou medidas necessárias para impedir a sua ocorrência.30

Tem especial importância na construção das novas políticas públicas ambientais, conduzidas de forma mais racional e materializadas em condutas não-poluidoras, muitos mais vantajosas que as demais políticas que trabalham com elevados e incalculáveis custos da reparação de um dano já verificado.

Mas desenvolvimento sustentável e ação preventiva não são sinônimos (HERRERA, 2000, p.38). As medidas de precaução são meios utilizados para alcançarmos o desenvolvimento sustentável, podendo aquelas variarem de acordo com as políticas ambientais adotadas, o desenvolvimento do país ou mesmo as opções tecnológicas escolhidas.

O presente princípio não determina que tipo de instrumentos devem ser utilizados, mas aponta para os que têm a função preventiva, estando explicito na nossa Constituição Federal quando

30

A Declaração do Meio Ambiente de Estocolmo (1972) adotou a precaução como diretriz ambiental básica, vindo o princípio, desde então, a orientar todas as políticas ambientais modernas. Da mesma forma, a Conferência das Nações Unidas acontecida no Rio de Janeiro em 1992, a ECO/92, inseriu a preocupação do desenvolvimento sustentável e a necessidade de se trabalhar com a ameaça de danos sérios e irreversíveis, declarando e garantindo expressamente o princípio da precaução, estampado no Princípio 15: com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com as capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. Passa também a ser parte integrante do Tratado de Maastricht – pedra Fundamental da Comunidade Européia. Cf. (ARAGÃO, 1997, p. 68.)

inserido no desenvolvimento sustentável e na obrigatoriedade do Estudo de Impacto Ambiental, a titulo explicativo.

As políticas tributárias desincentivadoras seriam fortes aliadas na concretização do princípio da precaução, uma vez que diante de meras suspeitas de dano seria difícil estabelecer rígidas proibições administrativas.

Por outro lado, o critério da ação preventiva serve de medida para a quantificação dos tributos ambientais, representando o custo médio de evitar a contaminação.31 Além disso, apontando o princípio da precaução paras as atividades que não devem ser autorizadas, ou as que estariam proibidas pelo direito, serviria também como instrumento impositor de limites à tributação ambiental justamente porque não pode ser estabelecido tributo que tenha como hipótese de incidência atividade ilícita.

Conforme ressalta Álvaro Mirra,

A partir do momento em que o princípio da precaução é reconhecido como parte integrante do nosso ordenamento jurídico, entre os princípios gerais do direito ambiental, não resta dúvida de que ele exerce influência sobre a interpretação e a aplicação de todas as normas do sistema jurídico ambiental em vigor. (1996, p.98)

A precaução deve ser vista como uma linha orientadora dos objetivos da política de proteção ambiental, exigindo medidas não mais paliativas, como compensações financeiras de condutas danosas, mas que seja previamente verificado o grau de periculosidade ambiental das atividades econômicas, impedindo o prosseguimento de qualquer ação potencialmente causadora de dano, obrigando, ainda, à implementação substancial de uma melhor qualidade de vida da população (DERANI, 2001, p.166)

31

Este entendimento é também positivamente afirmado pela Alemanha, num projeto de Código Ambiental elaborado por uma comissão de especialistas do Ministério de Meio Ambiente (§ 192) (HERRERA, 2000, p.38)

Esse raciocínio conduz a trabalhar a partir do viés da relação economia-meio ambiente, no qual a prática de atividades de precaução é muito menos onerosa do que remediar os prejuízos ambientais.

Ponto fulcral relativo a esta implementação consiste na definição dos instrumentos de que se vai utilizar o Estado:

O primeiro passo nesse sentido há de consistir na coordenação entre as políticas e órgãos governamentais da área econômica e da área ambiental,

(...).tanto através do licenciamento administrativo, da imposição de multas, da determinação de limpeza ou recuperação ambiental, como pela cobrança de tributos, enquanto fonte de recursos para custeio da proteção ambiental (OLIVEIRA, 1999, p. 13-, 16)32.

Procuraremos demonstrar que para implementação de uma política tributária ambiental, o presente princípio da precaução ganha uma importância bem maior que a regra do Poluidor- Pagador, repressivo e não preventivo. Para a Tributação Ambiental é muito mais importante evitar a ocorrência de qualquer dano ao meio ambiente, através dos estímulos e imposições fiscais e extrafiscais, do que compensar o custo de uma dano ambiental.

Outra conseqüência apontada em decorrência do princípio da precaução é a inversão do ônus da prova. Exige-se do autor potencial provar, com devida anterioridade, que sua ação não causará danos ao meio ambiente, para a partir daí ter autorizada sua conduta.

Ainda em conseqüência do Princípio da Precaução, muitas vezes a relação de causalidade é presumida com intenção de que seja evitado dano em face de incertezas científicas. (MACHADO, 2001, p.62)

32

No mesmo sentido, FLAVIA PIOVESAN: “... para a efetividade do direito é essencial que o texto aponte a fonte de recursos das políticas públicas ambientais.”(PIOVESAN, 1997, p. 85).