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Memórias sobre o empreendimento de produção do jornal O Sud Mennucc

3 AS MEMÓRIAS DO GRUPO DE ALUNOS: FLUTUAÇÕES E CONTRADIÇÕES NAS NARRATIVAS

3.2 Memórias sobre o empreendimento de produção do jornal O Sud Mennucc

Este item tem por finalidade expor as memórias dos entrevistados sobre o empreendimento de produção do jornal, tentando, ao longo da exposição, mostrar as distorções e contradições que aparecem quando se trabalha com memórias individuais, questão considerada por Alberti (2004) ao problematizar o método da história oral nas pesquisas. Segundo a autora, há que se captar a análise de possíveis distorções da memória,

devido ao discurso do entrevistado que muitas das vezes vem carregado de subjetividade. Desta forma, o texto será escrito a partir de uma retomada das questões que não foram esclarecidas nos capítulos anteriores.

A questão central que permeou essa pesquisa foi compreender como se estabeleceu a relação de um grupo de alunos do Instituto de Educação Sud Mennucci em torno da articulação e produção de um jornal escolar, intitulado O Sud Mennucci, entre os anos de 1952 e 1954. Algumas hipóteses foram levantadas ao longo da análise dos onze exemplares do jornal escolar. Por meio desta fonte foi possível desvendar quem eram os sujeitos que faziam parte da organização do impresso; perceber que alguns integrantes deste grupo de alunos também faziam parte do Grêmio Normalista do Instituto época. Entretanto, não foi possível saber de que maneira se formou esse grupo que compunha a organização e a redação do jornal escolar.

Luiz de Almeida Mendonça, diretor fundador do empreendimento, relembra como se deu a articulação que formou o grupo para produzir os jornais escolares, em 1952. Ideia encabeçada, em suas palavras e na dos outros entrevistados, por ele e por seus dois irmãos, que “viviam sempre juntos”:

Esse grupo era de alunos que faziam parte de amizade particular. Gustavo Jacques Dias Alvim, Amador Pedroso de Barros, Raul Jorge Nechar, meus irmãos Joaquim de Almeida Mendonça, Sebastião de Almeida Mendonça e eu, Luiz de Almeida Mendonça. Nós morávamos perto do Instituto Sud Mennucci e nos intervalos a gente ia tomar café na minha casa e convidava os colegas, ia uma turma de cinco, dez colegas e lá tivemos a ideia na minha casa: vamos fundar um jornal estudantil, etc. e tal? A turma disse: vamos, vamos e demos a ideia.

[...] Modéstia inclusa, modéstia que vá as favas, mais era eu e meus dois irmãos que tínhamos a ideia como desafio na época. Todo mundo dizia que era difícil fazer jornal, que só saia o primeiro número, inclusive uma professora de Português, ela disse assim: o primeiro número sai mas os outros não vão sair.60 (Luiz de Almeida Mendonça, entrevistado.)

Gustavo Jacques Dias Alvim também expõe suas memórias sobre como se formou o grupo de alunos para compor o jornal. Fica evidente que todos os entrevistados atribuem a ideia de fazer o jornal aos três irmãos Mendonça, sendo então uma ideia particular que, de

60Aqui nesta fala do ex-aluno aparece a discussão sobre uma outra questão, a relação entre os alunos e

acordo com as lembranças de Gustavo Jacques Dias Alvim, surgiu fora do ambiente escolar e não em uma atividade extraclasse, como as prescrições de Casasanta indicavam:

A história desse jornal, nasce com a pessoa que se tornou o primeiro diretor do jornal, o Luiz Mendonça. Acho que ele é a memória principal disso. Acontece que quando ele monta esse primeiro grupo, ele trabalha com mais dois irmãos, o Joaquim e o Sebastião. Este já é falecido.O Joaquim eu não sei. Ambos escreviam muito bem. Então eles formam esse núcleo e convidam alguns colegas que eles sabiam que tinham boa redação, que gostavam de escrever, pelos trabalhos escolares que a gente apresentava. Dos que foram somados, pelo menos, eu diria para você: o Amador, eu, tínhamos essa qualidade. Por exemplo, esse Sperandio escrevia muito bem. E quem ficava na direção era o Luiz. O Luiz e o Joaquim não eram os que mais escreviam, mas eles eram os mais empreendedores. (Gustavo Jacques dias Alvim, entrevistado.)

De acordo com as memórias, o grupo de alunos foi encabeçado pelos três irmãos e outros integrantes que faziam parte de sua amizade particular. Eram bons alunos e escreviam bem. O professor Gustavo Jacques Dias Alvim chegou a afirmar que muitos trabalhos que iam para o jornal eram recomendados pelos professores, por serem bons trabalhos, feitos e corrigidos em aula. A professora Marly Therezinha Germano Perecin, quando questionada sobre as lembranças que tinha dos alunos se articulando para produzir o jornal, do qual ela não fez parte, ressalta novamente que a ideia de fazer o jornal foi mérito dos irmãos Mendonça:

Olha, isso é mérito dos irmãos Mendonça. Não eram os alunos mais brilhantes, não. Eram inteligentes e esse lado prático de criar, de estabelecer relacionamentos, isso eles tinham sim, é. Amador trabalhava junto com a família, era moço pobre. Os irmãos Mendonça. O Gustavo não, o Gustavo tinha tempo. Os outros não. Os próprios irmãos Mendonça era família que lutava. Então, veja bem: o mérito é dos irmãos Mendonça. Eram dinâmicos mesmo e o Sperandio, o Amador. Amador era um grande relações públicas e escrevia muito bem. (Marly Therezinha Germano Perecin, entrevistada.)

Neste trecho aparece seu olhar de historiadora. Ressaltando o mérito dos irmãos Mendonça no empreendimento, a entrevistada tentou definir a posição e condição social de cada um dos integrantes que compunham a organização do impresso. Novamente é apresentada a justificativa de que os alunos eram bons escritores.

Em outro ponto, a professora comenta sobre suas conversas com Samuel Pfrohmn, sujeito que estudou no Sud Mennucci em tempo posterior e que, segundo ela, foi fundador da Academia de Educação de São Paulo. O teor da conversa se baseava na perspectiva de formação do Instituto e dos profissionais que saíam deste espaço institucional, mostrando que havia indiretamente um estímulo à prática da exposição de ideias e da escrita:

[...] Samuel Pfrohmn não é da minha turma. São três ou quatro turmas à frente, mas engraçado: uma vez eu conversando com Samuel, os profissionais saídos da escola eram muito treinados na escola a expor ideias. Isso era tradição humanística da própria escola. Porque os primeiros professores foram advogados, foram escritores. Então isso é característica da escola Sud Mennucci. Exigir a expressão, a dialética, partir pra retórica, escrever, crítica, isso era muito puxado. (Marly Therezinha Germano Perecin, entrevistada.)

Os três entrevistados citam o nome de Amador Pedroso de Barros, ex-aluno que escreveu os textos mais emblemáticos do jornal escolar, como aquele que abre o primeiro capítulo da presente dissertação. Ali o aluno fala sobre o surgimento do jornal escolar, sua finalidade e as expectativas que o grupo tinha em relação à publicação do impresso, mostrando o teor ideológico do impresso em suas palavras. Em várias partes das entrevistas, os ex-alunos se referem a Amador como um bom comunicador e exímio escritor. O professor Gustavo Jacques Dias Alvim ressalta que “o aluno era um pouco mais velho e muito inteligente”. Pelo que contam as memórias, Amador Pedroso de Barros, em sua vida profissional se tornou juiz, vindo a falecer muito cedo. Interessante notar que os textos desse aluno publicados no impresso destoavam dos demais pelo teor dos mesmos, ponto que será retomado mais adiante.

Outro ponto que foi levantado ao longo da dissertação, estava em entender a relação deste grupo de alunos com o Grêmio Normalista do Instituto de Educação na época em que o jornal era publicado, já que ficou em hipótese que o grupo de alunos que compunha o corpo editorial do jornal também fazia parte do Grêmio. De acordo com Luiz Mendonça, as duas atividades eram coisas diferentes e independentes, não estando relacionadas, apesar de alguns integrantes do Grêmio, como já foi constatado, atuarem também na produção do jornal escolar.

Gustavo Jacques Dias Alvim afirmou que o jornal não surgiu dentro das atividades do Grêmio. Acentua que o “Grêmio nas escolas se tornava ativo por conta do esporte”, em

detrimento das atividades culturais, por exemplo. Essa condição prática envolvendo o papel do Grêmio aparece no segundo capítulo da dissertação, no qual analisamos um texto deste entrevistado, narrando um sonho que havia tido sobre um Grêmio mais participativo. Sobre essa relação entre o grupo e o Grêmio, Luiz Mendonça conta que “não havia ligação”, sendo que o órgão era independente das atividades do Grêmio. Notícias que envolviam a atuação desta agremiação eram colocadas no jornal talvez por fazer parte de atividades cotidianas dos alunos.

As lembranças que a professora Marly Therezinha Germano Perecin relatou sobre o Grêmio nestas atividades61 se referem à sua não participação. A professora conta que quem mais participava das atividades do Grêmio eram os meninos, e “as meninas eram mais

contidas”. Também ressalta que o Grêmio era mais voltado para os esportes do que para

atividades culturais dentro do espaço do educandário. Neste ponto, é necessário reafirmar, como foi discutido no primeiro capítulo deste texto, que não é possível caracterizar esse grupo de alunos como articuladores de um movimento de estudantes dentro da escola, tendo como origem o Grêmio Estudantil. Estes alunos não estavam fazendo reivindicações por melhorias institucionais nem por questões políticas, sendo o empreendimento do jornal mais uma atividade de expressão dos alunos do que um movimento articulado.

Outro ponto da entrevista que mostra um aspecto da natureza deste agrupamento de alunos é revelado na fala do ex-aluno Luiz de Almeida Mendonça. Quando questionado sobre a representatividade que o grupo de alunos tinha no espaço do educandário, acentua que o grupo não defendia interesses quaisquer. Sobre o grupo e o interesse em publicar um jornal escolar, o entrevistado ressalta: “[...] Era um ideal de ver seu nome publicado, seus artigos

publicados. Mas não havia contestação, não havia ataque” (Luiz de Almeida Mendonça, entrevistado).

O entrevistado continua dizendo que os alunos que escreviam no jornal não tinham problemas financeiros e que por esse motivo, não eram agressivos e contestadores. O interesse em produzir um jornal escolar estava assentado no ideal de ver os artigos dos alunos publicados em um meio impresso. Encaravam a feitura do jornal no espaço do Instituto de Educação somente como um desafio, e não como um veículo de representação de um grupo e de contestação por ideais políticos que defendiam.

61 Num dos exemplares do jornal O Sud Mennucci, no artigo intitulado “Sessão de Posse do Grêmio”, aparece o

Aspecto que ficou no âmbito da hipótese no primeiro capítulo do trabalho diz respeito às formas de impressão gráfica do jornal escolar O Sud Mennucci; a perspectiva de sua materialidade não ficou bem esclarecida pelas fontes escritas. Conseguimos levantar uma hipótese de que os jornais eram impressos por meio das máquinas Linotipo, muito usadas na época. Entretanto, de acordo com as memórias de Luiz Mendonça, os jornais eram impressos pela máquina da marca Planeta, nas tipografias de Rio Claro e Limeira, cidades próximas a Piracicaba. Segundo o entrevistado, a impressão “era feita numa máquina antiga cuja

alimentação era feita manualmente uma em uma folha”. Em outro ponto, ressalta:

O jornal era impresso em Limeira e a gente ia de Fordinho 29 da família Frasson durante a noite para encontrar lá o pessoal do jornal trabalhando. [...] Interessante citar que quando era impresso em Limeira quem dirigia o Fordinho 29 era o Vicente Frasson. E ele levava. E como ele não tinha carta, ele era menor de idade, fazíamos de noite. “De noite os guarda tão dormindo”. Ninguém parava o Fordinho 29.

Alguns desses jornais foram impressos em Piracicaba, nas oficinas do Jornal de Piracicaba, também com um sistema de alimentação manual. (Luiz de Almeida Mendonça, entrevistado.)

De acordo com suas memórias, Luiz de Almeida Mendonça afirma que o jornal escolar O Sud Mennucci era impresso nas mesmas máquinas que rodavam a impressão dos jornais locais da cidade de Piracicaba e das cidades vizinhas. Questionado sobre como conseguiu esses contatos, o entrevistado enfatiza que telefonava para as tipografias para saber se havia disponibilidade para imprimir os jornais escolares.

Gustavo Jacques Dias Alvim, por outro lado, tem outra memória sobre as formas de impressão do jornal. Segundo ele, “a família dos Mendonça tinha uma tipografia, chamava

Tipografia Santa Cruz62, que depois o Luiz herdou, não me lembro quando. Acho que não existe mais”. E continua dizendo que “ele sempre mexeu com tipografia. Então essa era uma

das facilidades que a gente tinha”. Cada entrevistado construiu uma memória particular desta

62 A minha memória da infância relembra que o senhor Luiz de Almeida Mendonça foi vizinho de meus pais,

quando eu era criança e morava na Rua Santa Cruz, bem em frente à casa do diretor-fundador do Jornal O Sud

Mennucci, na década de 1980. A casa dele ficava ao fundo e em frente estava localizada sua tipografia. Na entrevista realizada, a única relação feita por Luiz Mendonça com tipografias ao longo de sua vida se relaciona a seu pai, que, segundo ele, teve tipografia na cidade de Marília na década de 1940, antes que a família viesse para Piracicaba, na década de 1950. É possível que Luiz Mendonça soubesse – quando da época de publicação do impresso – dos processos tipográficos de impressão de um jornal devido à atividade do pai em tempo anterior. Entretanto, esta tipografia à qual o professor Gustavo Alvim faz alusão foi fundada na Rua Santa Cruz, na década de 1970.

questão. Aqui, é preciso levar em consideração o papel que cada um tinha dentro do empreendimento. Gustavo Jacques Dias Alvim chega a afirmar que não participava desse processo, sendo esta a responsabilidade de Luiz de Almeida Mendonça. Aqui aparece a questão da memória seletiva ressaltada por Pollack (1992), e também uma versão ou “construção” do passado, valorizada por Alberti (2004). Não se trata, neste ponto de captar a realidade do fato, mas sim de analisar e flagrar as distorções nas falas dos entrevistados. Mesmo algo relativamente simples, como a impressão do jornal, está sujeito a diferentes rememorações. De qualquer forma, o fato de os irmãos Mendonça, e especificamente o entrevistado, terem notoriamente uma relação mais próxima com o processo de feitura do jornal permite atribuirmos um caráter mais verossímil a sua versão.

Outra questão que envolveu a problemática de pesquisa esteve em compreender como o jornal escolar conseguiu assinantes dentro do espaço escolar e como estendeu sua atuação para além dos muros da escola; como este grupo de alunos fez para conseguir o financiamento da produção do jornal, visto que, como já foi analisado nos exemplares, havia assinantes e anunciantes, inclusive fora do espaço escolar. Comerciantes, empresários e políticos da cidade assinavam e anunciavam no jornal. E uma das questões levantadas referia-se a entender como se deu esse processo de aquisição de anunciantes. O problema do financiamento do jornal foi inclusive levantado nas prescrições que vigoravam na época, por Guerino Casasanta. Este assunto era visto como um problema, visto que o custo de tal empreendimento era elevado na época. Luiz de Almeida Mendonça relembra a maneira como agiu para conseguir anunciantes, pois, como contou, esta seria sua função no grupo, materializar o jornal e distribuir aos leitores:

Eu como era mais conversador me prontifiquei a arrumar o dinheiro para pagar a impressão do jornal e ao mesmo tempo nós corremos todas as salas de aula nos intervalos para que os alunos assinassem o jornal e que adquirissem o jornal.

O meu irmão mais novo, Sebastião, era o que redigia os artigos junto com o Joaquim e eu era só, eu não escrevia no jornal, eu era só a parte comercial. Eu saí no comércio da Rua Governador e as empresas conhecidas faziam propaganda, Relojoaria Rubi, o Café Brasil da família Lerme Ferrari, né. Então a gente, eu era o responsável pra pôr em prática o pagamento do jornal. Os redatores e meus irmãos falavam: ó, nós damos pra você o jornal pronto, agora você é responsável pela impressão, pelo pagamento da impressão. (Luiz de Almeida Mendonça, entrevistado.)

Aqui, o entrevistado rememora a função de cada um dos irmãos na feitura do impresso. Interessante perceber que o Instituto de Educação Sud Mennucci se localizava perto da Rua Governador, principal rua do centro da cidade, onde o ex-aluno foi buscar financiamento para a impressão do jornal. Mais adiante, ao longo da entrevista, ele contou em detalhes como era o financiamento e a participação dos alunos neste processo. Segundo o ex- diretor do jornal O Sud Mennucci, “parece que tinha 440 assinaturas, [...] os alunos

cooperavam comprando”:

A gente sempre ia onde a gente era conhecido então, por exemplo, procura doutor fulano de tal que é dentista né, então a gente ia atrás dele e vendia o anúncio. Era, vendia o anúncio: olha, nós estamos fazendo um jornal estudantil Sud Mennucci e o senhor quer cooperar? Quanto é? É cinco merréis. Cinco merréis e nada a pessoa arriscava e dava.

[...] Dava apertado, mas dava para financiar. Com a compra pagava a dívida que ficava. Dependia dos anúncios, mais a compra, a venda do jornal. (Luiz de Almeida Mendonça, entrevistado.)

Quando questionado sobre o financiamento dos empresários, Luiz de Almeida Mendonça ressalta que todos da cidade cooperavam, “o Luciano Guidotti que cooperava, todo

mundo cooperava”. Ressalta que estes anunciantes pagavam adiantado pelo anúncio e

compravam o jornal por causa das propagandas que anunciavam, conseguindo que o custeio do jornal fosse feito.

Gustavo Jacques Dias Alvim, ao ser questionado sobre o assunto, acentuou que não tinha lembrança sobre como se deu o processo de conseguir assinantes para o jornal. Contou que somente quando leu novamente os exemplares do jornal verificou que tinha assinaturas. Em relação aos anúncios, o entrevistado lembra que os mesmos foram trabalhados e que “os

próprios envolvidos no jornal é que buscavam esse tipo de receita”. Na fala do professor, é possível verificar que ele se isenta de envolvimento total no empreendimento de produzir o jornal, visto que participava somente como redator de textos que eram publicados. Mais uma vez, a referência aos irmãos Mendonça como os mais ativos no processo de colocar o jornal em circulação aparece, e nas palavras do entrevistado, “os Mendonça também apareciam

como alguém que era o dono, que se movimentava, porque ele inclusive dava sustentação”. Gustavo Alvim explica que quando faltava algum recurso, “os Mendonça punham”. Sobre o protagonismo dos três irmãos no empreendimento, o professor Gustavo acentua:

Eram três irmãos que viviam juntos, quer dizer, a gente fazia reunião sabe. Eles chamavam pra reunião, pra sentar junto, escrever, mas no fundo eu acho que eles tinham assim um sentimento de pertença sabe. E era verdade, hoje eu posso pensar: realmente eles propiciavam meios né e trabalhavam ativamente. (Gustavo Jacques Dias Alvim, entrevistado.)

Os dois entrevistados acentuam que a questão da sustentação material do jornal era fundamental, visto que eram necessários recursos para o seu financiamento. Gustavo Jacques Dias Alvim lembra que o custo de impressão em uma tipografia era muito alto e para que ele chegasse a ser impresso e publicado era difícil. Curioso ressaltar que esta dificuldade foi expressa também por Guerino Casasanta em sua obra Jornais Escolares, na qual o autor acentuou que muitos jornais escolares não eram publicados nas escolas por causa do financiamento, visto como um problema.

Sobre a questão de os alunos articuladores do impresso O Sud Mennucci terem entrado em contato com a obra de Casasanta durante o processo de feitura do jornal, ambos acentuam que não tinham conhecimento e não entraram em contato com a mesma. Neste ponto, é necessário ressaltar que o processo de apropriação não pode ser estritamente verificado em relação à indicação do livro de Guerino Casasanta. Entretanto, é necessário afirmar que a ideia de produzir jornais circulava no espaço do Instituto de Educação e consta que o livro se encontrava na biblioteca da escola63. Os entrevistados, quando questionados sobre o possível contato com outros jornais escolares na época, inclusive de outras instituições, também disseram que não conheciam outros jornais que eram publicados em escolas. Marly