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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Isis Sanfins Schweter

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Academic year: 2018

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC - SP

Isis Sanfins Schweter

Organização e imprensa estudantil no Instituto de Educação Sud Mennucci

(1952-1954)

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

São Paulo

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Isis Sanfins Schweter

Organização e imprensa estudantil no Instituto de Educação Sud Mennucci

(1952-1954)

MESTRADO EM EDUCAÇÃO: HISTÓRIA, POLÍTICA, SOCIEDADE

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Educação: História, Política e Sociedade, sob a orientação do Professor Doutor Daniel Ferraz Chiozzini.

São Paulo

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Banca Examinadora

____________________________________________

____________________________________________

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Dedico este trabalho a meu pai, Paulo, ávido e inteligente

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AGRADECIMENTOS

Sinto alívio e gratidão por ter chegado este momento. Tenho imensa satisfação por ter condições objetivas de escrever estas palavras.

Agradeço ao professor Daniel Ferraz Chiozzini, meu orientador, pela ajuda com a definição do objeto a ser pesquisado, bem como por todos os apontamentos construtivos feitos durante a pesquisa. Sem sua percepção complexa e inteligente, o texto não teria tido este direcionamento.

Agradeço aos professores Mauro Castilho Gonçalves e Norberto Dallabrida, pela leitura criteriosa e atenciosa do relatório de qualificação, e pelo auxílio nos caminhos da conclusão deste texto. Em especial, ao professor Mauro, que em todo o tempo de curso me auxiliou nas discussões sobre a problemática desta pesquisa nas disciplinas que foram cursadas.

A Maria Ligia, minha mãe, pessoa maravilhosa, altiva e alegre, que sempre nos ensinou que a educação e a formação profissional adequada de suas três filhas mulheres é de importância primeira em nossas vidas.

Ao Tio Carlos, pelo apoio em momentos decisivos para que o projeto de fazer uma pós-graduação se tornasse real. Obrigada meu querido por fazer as vezes de pai. Amo-te.

Ao Rodrigo, namorado, companheiro, amigo, que me ajudou a ter paciência e calma em muitos momentos de aflição ao longo desses dois anos.

Ao amigo irmão José Maurício, pelas indicações de leitura, pela paciência, pela escuta e por ter me incentivado a continuar os estudos no programa em Educação.

Aos meus amigos queridos, irmãos do coração: Susana, Ana Flávia, Guilherme e Renata, pelo incentivo constante. Vocês são pessoas muito importantes para mim e fazem minha vida se tornar mais leve e tranquila.

Agradeço ao pessoal de casa, pela paciência e ajuda em diversos momentos nestes dois anos: Melissa, Isaac, Ana e André. Valeu!

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À querida Betinha, pessoa maravilhosa e sempre pronta a ajudar a todos.

Aos professores do programa EHPS, que com dedicação e zelo me mostraram os caminhos da pesquisa na área da educação.

Aos senhores entrevistados que gentilmente me cederam suas recordações sobre a imprensa estudantil pesquisada: Luiz de Almeida Mendonça, Marly Therezinha Germano Perecin e Gustavo Jacques Dias Alvim.

Aos funcionários e ao diretor da Escola Estadual Sud Mennucci. Às gentis senhoras da limpeza, que me acompanharam nas visitas ao arquivo da instituição.

A Luciana de Almeida Tavares, pela revisão do texto.

Ao CNPQ – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – pelo auxílio financeiro.

Agradeço a todos que, de uma ou outra forma, me incentivaram e me apoiaram nesta empreitada. Tendo nascido em um meio onde a possibilidade de fazer uma pós-graduação ainda é um intento distante, sinto-me satisfeita e agradecida por ter conseguido trilhar esse percurso e por ter contado com o entendimento, incentivo e a paciência dos que me cercam. Obrigada.

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RESUMO

A pesquisa consiste em investigar a história da organização discente da Escola Normal Sud Mennucci de Piracicaba, posteriormente denominada Instituto de Educação Sud Mennucci. Essa organização criou um impresso estudantil, o jornal intitulado O Sud Mennucci, que publicou textos elaborados pelos próprios alunos e que associavam a vida escolar a temáticas variadas como currículo, produções literárias, cotidiano da escola, posição ocupada pela instituição na cidade, lugar da mulher na sociedade, reivindicações por melhorias nas condições da escola, entre outras. Em cerca de dois anos de duração, o jornal publicou anúncios e passou a circular fora do espaço escolar. O objetivo esteve em compreender a dinâmica de sociabilidade estabelecida entre os estudantes em torno da articulação e produção de um jornal escolar entre os anos de 1952 a 1954, contribuindo para o entendimento das práticas discentes no espaço temporal delimitado para esta pesquisa e da cultura escolar da referida instituição. As fontes utilizadas foram exemplares do jornal O Sud Mennucci e alguns exemplares de jornais locais. Também foram realizadas entrevistas com os ex-alunos da instituição, participantes ou não dessas organizações, visando registrar a memória que esses sujeitos construíram de sua trajetória discente e do impresso escolar.

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ABSTRACT

The research consists in investigating the history of the students’ organization of the Escola Normal Sud Mennucci de Piracicaba, later called the Instituto de Educação Sud Mennucci. This organization created a student’s periodical, the paper entitled O Sud Mennucci has published texts written by the students and which associatedschool life to various issues such as curriculum, literary productions, the school routine, the position occupied by the institution in the city, the place of women in society, demands for improvements in school conditions, among others. In about two years’ duration, the newspaper published ads and began to circulate outside school. The purpose was to understand the dynamics of sociability established between the students around the articulation and production of a school newspaper between the years 1952 to 1954, contributing to the understanding of the students practice in the defined timeline for this research and the school culture of the institution. The sources used were copies of the newspaper Sud Mennucci and some copies of local newspapers. Interviews were also held with the alumni of the institution, participating or not in these organizations with the objective of register the memory that these individuals built from their students career and the school periodical.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 12

1 A ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL E O IMPRESSO O SUD MENNUCCI 18

1.1 O Sud Mennucci e sua materialidade 25

1.2 A articulação dos estudantes e a rede de relações 31

1.3 O jornal O Sud Mennucci: sua finalidade e o fim do empreendimento 44

1.4 A caracterização do grupo de estudantes articuladores do impresso 47

2 A IMPRENSA ESTUDANTIL E O JORNAL O SUD MENNUCCI: ENTRE

PRESCRIÇÕES E PRÁTICAS 57

2.1 As prescrições relativas à imprensa escolar nas escolas secundárias normais 66

2.2 O impresso O Sud Mennucci: as práticas e as apropriações dos alunos 74

2.3 Os embates entre os ensinos clássico e científico: uma perspectiva das

práticas escolares no impresso O Sud Minucia 91

3 AS MEMÓRIAS DO GRUPO DE ALUNOS: FLUTUAÇÕES E

CONTRADIÇÕES NAS NARRATIVAS 100

3.1 Os ex-alunos do Sud Mennucci e suas trajetórias 103

3.2 Memórias sobre o empreendimento de produção do jornal O Sud Mennucci 107

3.3 A memória coletiva da instituição nas memórias individuais 121

CONSIDERAÇÕES FINAIS 129

REFERÊNCIAS 135

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Fotografia 1: Sud Menucci. 20

Fotografia 2: Loja anunciante do jornal O Sud Mennucci, a Concessionária GMC,

da família Guidotti&Cia. 29

Fotografia 3: Escola Estadual Sud Mennucci nos dias atuais. 127

Figura 1: Os cabeçalhos representando as duas fases do Jornal O Sud Mennucci

(exemplares 3 e 7 respectivamente). 27

Figura 2: Anúncios publicitários do Jornal O Sud Mennucci. 28

Figura 3: Anúncios publicitários do Jornal O Sud Mennucci. 28

Figura 4: O Corpo Editorial em suas duas fases (exemplares 3 e 7

respectivamente). 30

Figura 5: Nota sobre a sessão de posse do Grêmio Normalista. 33

Figura 6: Primeira página do exemplar número quatro, em que é anunciada a

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LISTA DE APÊNDICES

APÊNDICE 1 – Fontes documentais 138

APÊNDICE 2 – A materialidade do impresso O Sud Mennucci 140

APÊNDICE 3 – Principais assuntos do jornal O Sud Mennucci 141

APÊNDICE 4 – Diversidade e quantidade de anúncios no jornal O Sud Mennucci 148

APÊNDICE 5 – Entrevista de Gustavo Jacques Dias Alvim 152

APÊNDICE 6 – Entrevista de Luiz de Almeida Mendonça 162

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INTRODUÇÃO

A presente dissertação tem por objetivo investigar a história de um grupo de alunos em torno da elaboração de uma imprensa estudantil da Escola Normal de Piracicaba, posteriormente chamada Instituto de Educação Sud Mennucci, entre os anos de 1952 e 1954. Pretende-se entender qual foi a relação estabelecida por este grupo em torno da articulação e produção de um jornal escolar, intitulado O Sud Mennucci. O objetivo é compreender a dinâmica de sociabilidade estabelecida entre os estudantes organizadores do impresso, com a intenção de contribuir para o entendimento das práticas discentes no espaço temporal delimitado e da cultura escolar da referida instituição.

A análise terá como foco o conteúdo do jornal e as memórias dos sujeitos que participaram da elaboração do mesmo, buscando analisar como este grupo de alunos se articulou em torno da elaboração do impresso discente. O jornal escolar será entendido aqui dentro de um conjunto de práticas características da instituição pesquisada. Essa concepção está presente nas novas perspectivas para o campo da história da educação, voltadas para a História Cultural, buscando contemplar a cultura material escolar.

Esta pesquisa se relaciona diretamente com a experiência que tive como professora na Escola Estadual Sud Mennucci, no ano de 2011. Uma das escolas mais antigas da cidade de Piracicaba, instalada em um prédio centenário, próprio da arquitetura do final do século XIX, a antiga Escola Normal, fundada em 1897, está consagrada na memória coletiva da cidade como instituição de excelência, onde se encontravam os melhores alunos e professores primários.

Ao elaborar um projeto de conclusão do curso de pós-graduação lato sensu em história pela PUC-SP, entrei em contato com documentos presentes no então denominado “arquivo morto” da escola estadual Sud Mennucci. Neste arquivo, encontrei vasta documentação acerca dos alunos que passaram pela instituição, desde sua fundação, até o final da década de 1980. Encontrei históricos escolares, e seis exemplares do jornal O Sud Mennucci, datados de 1952 e 1953.

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produzirem um impresso estudantil com o intuito de, a partir daí, compreender aspectos da organização estudantil como um todo. Neste sentido, passei a perscrutar e conhecer os sujeitos que compunham a produção do jornal.

Consegui entrar em contato com quatro ex-alunos articuladores do jornal. Um deles me disponibilizou mais outros dois exemplares que acabaram por compor uma série linear de oito exemplares, num recorte temporal que foi de 1952 a 1954. Ao longo da análise dos jornais, o que me passou a chamar atenção foram os discursos dos alunos articuladores do impresso em torno da produção do jornal e de outras questões, como reivindicações por melhorias no espaço da instituição e ligações políticas deste grupo de alunos com outros sujeitos do espaço extraescolar. Foi possível também perceber um discurso marcado por um forte componente moralista.

A partir desta análise inicial das fontes, outros questionamentos foram levantados: tentar compreender em que período temporal o jornal circulou; entender se o jornal cresceu junto com a atuação deste grupo de alunos que o produziam e de que maneira se deu essa progressão, com o objetivo de compreender como foi esse processo de crescimento do jornal e da representatividade dos alunos por meio do mesmo. Num outro ponto, compreender como se deu a circulação do jornal fora da escola, como esse processo foi viabilizado, visto que a partir da análise das fontes, existiam anunciantes e assinantes do impresso fora do espaço escolar. Neste sentido, esta questão remeteu à outra, que foi a tentativa de compreender como se deu a atuação política do jornal na cidade de Piracicaba.

No primeiro semestre do curso de pós-graduação em educação também entrei em contato com disciplinas que contribuíram para a conformação dos questionamentos da pesquisa. A princípio, a ideia era compreender a atuação dos alunos como um todo dentro da instituição1. Entretanto, à medida que os levantamentos bibliográficos referentes à história das instituições escolares e da temática da imprensa foram sendo levantados e também pelas orientações, percebi que o material que tinha em mãos, principalmente os exemplares do jornal escolar O Sud Mennucci, serviam de fonte para compreender de que forma os alunos se articularam para produzir um jornal dentro do espaço escolar. A análise do jornal foi se revelando um ponto de partida singular para a pesquisa.

1Havia o interesse, inclusive, de compreender a origem social dos alunos que frequentavam o educandário nos

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Ao trabalhar com as memórias, realizando as entrevistas num momento posterior, consegui entrar em contato com mais três exemplares do jornal escolar, os números nove, dez e onze, que estavam arquivados na casa de um dos ex-alunos. Analisando esses exemplares, concluí que o tempo de circulação do jornal durou até dezembro de 1954. Desse modo, foi possível delimitar com mais segurança o recorte temporal da presente pesquisa, que se justifica pelo tempo de duração do impresso na escola, de 1952 a 1954, resultando em onze exemplares, ao todo.

Ao longo da pesquisa, entrei em contato com uma prescrição elaborada pelos integrantes do movimento da Escola Nova no Brasil em relação à produção de jornais escolares nas escolas normais e secundárias. Trata-se da obra denominada Jornais Escolares, de Guerino Casasanta, publicada em 1939 pela Biblioteca Pedagógica Brasileira. Nesta investida do movimento, o autor fez um inquérito dos jornais escolares produzidos pelas escolas mineiras ao longo da década de 1930. Num outro ponto, o autor dá todas as dicas sobre como produzir um jornal nas escolas primárias, secundárias e normais. A partir daí, este documento passou a ser encarado na pesquisa como a principal prescrição que circulou no ambiente educacional na época em que os jornais foram elaborados e, ao longo da análise, foi feita a relação entre essa normatização e as práticas colocadas pelo grupo de alunos ao produzir o impresso escolar O Sud Mennucci. Esta obra serviu de guia para analisarmos os usos sociais feitos pelos alunos por meio do impresso.

Trabalhar com a análise dos jornais escolares produzidos por um grupo de alunos na cidade de Piracicaba direciona esta pesquisa para aspectos da cultura escolar da instituição pesquisada. Marta de Carvalho discorreu sobre esse conceito e sobre o processo de renovação no campo da história da educação, onde houve, no início dos anos 1990, uma “virada epistemológica” para o campo da História. Os pesquisadores da educação, nesse processo, se voltaram para outros aspectos do universo da escola que ainda não haviam sido investigados nas pesquisas anteriores, como as práticas escolares de professores e de alunos e o cotidiano da instituição (CARVALHO, 1998, p. 31-32).

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abordagem nas pesquisas que tratam da imprensa educacional se relaciona com impressos produzidos por alunos das instituições pesquisadas, como a pesquisa de Amaral (2002), que trabalha com as diferenças ideológicas entre duas antigas escolas da cidade de Pelotas e, num ponto de sua tese, trata das manifestações do corpo discente das duas instituições, mediante a atuação dos grêmios escolares veiculados à produção de jornais, definidos pela autora como impressos estudantis.

Sobre essas novas formas de abordagem, Amaral explica que a análise dos impressos estudantis sugere a perspectiva de outro sujeito a ser investigado, o aluno. Dessa forma, abre-se a possibilidade de trazer uma voz pouco escutada pelos pesquisadores, produzindo-abre-se uma nova roupagem à história das instituições escolares por meio dos impressos. Segundo a autora: “[...] É o ator estudante que se manifesta, que registra, que inscreve a sua manifestação através dos impressos, que passam a ser novas fontes e/ou objetos a darem visibilidade à produção estudantil” (AMARAL, 2002, p. 120).

Pensar na articulação de um grupo de alunos – no Instituto de Educação Sud Mennucci – para a elaboração de um impresso estudantil entre os anos de 1952 e 1954 significa fazer emergir a voz de sujeitos pouco ouvidos nas pesquisas, os alunos. Nesta perspectiva de análise da imprensa escolar estudantil, ocorre o desvendar das práticas dos sujeitos envolvidos no processo educacional, dentro da cultura escolar da referida instituição.

Tema que se insere nas novas questões que foram lançadas pela Nova História Cultural, que redesenharam os objetos e os métodos da história da educação. Novos temas passaram a ser investigados pautados nas práticas culturais, seus sujeitos e seus produtos, buscando compreender a perspectiva dos sujeitos dos processos investigados e as representações que agentes determinados fizeram de si mesmos. Nesse processo, de acordo com Carvalho (1998, p. 33), “a escola passa a ser concebida como um produto histórico da interação entre dispositivos de normatização pedagógica e das práticas dos sujeitos que se apropriam dela”.

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visto que a obra de Guerino Casasanta foi encarada como uma das prescrições que havia na época para a produção de jornais nas escolas brasileiras.

Dessa forma, a pesquisa torna-se relevante por, primeiramente, compreender a atuação dos alunos num determinado período da história da educação e por relacionar as práticas dos alunos dentro do espaço educacional – por meio do jornal escolar O Sud Mennucci – com as normatizações que vigoravam na época referentes à produção de jornais escolares.

A partir destas considerações, foi possível dividir a presente dissertação em três capítulos, de acordo com o objeto e com as preocupações de pesquisa. O primeiro capítulo trata de apresentar o grupo de alunos, a organização que se articulou para produzir o jornal escolar. O jornal e o Instituto de Educação serão analisados a partir da sua relação com uma memória coletiva da instituição, construída tanto dentro quanto fora do espaço escolar. Também será colocada em questão, por meio da análise da materialidade do impresso, a rede de relações estabelecidas por esses alunos na defesa de seus interesses junto ao Instituto de Educação. Além disso, por meio da análise do conteúdo do impresso, será analisado o processo de finalização do empreendimento, no final do ano de 1954, quando o grupo de alunos se despede dos leitores. Por fim, essa organização de alunos será discutida dentro de algumas conceituações para agrupamento de alunos, como movimento estudantil e associativismo, até a noção de rede de sociabilidade, entendida por Ângela de Castro Gomes (1999).

O segundo capítulo buscou, primeiramente, discutir a temática da imprensa estudantil dentro das pesquisas em história da educação. Num outro ponto, pretendeu verificar quais eram as prescrições no contexto que os jornais do Instituto de Educação foram pensados e produzidos. Por meio das providências que foram tomadas em relação à concepção, ao desenvolvimento e à produção de impressos, pretendemos verificar como se deu o processo de progressão do jornal e suas formas de atuação, tanto dentro quanto fora do espaço escolar, analisando as apropriações que foram feitas no que se refere às normatizações que vigoravam na década de 1950 para a produção de jornais escolares. Por fim, os textos colocados nos jornais serão apresentados dentro dos embates prescritivos que existiam na época em relação ao conteúdo do currículo nas escolas secundárias, como o ensino clássico e científico.

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1 A ORGANIZAÇÃO ESTUDANTIL E O IMPRESSO O SUD MENNUCCI

Surge o Sud Mennucci

De há muito planejávamos um órgão assim, que, qual incentivo do saber e ao aluno de nossa escola, pudesse estar a seu lado; amigo humorista e sempre pronto a servir. Encontrarão os colegas, nesse periódico modesto, sempre um espaço a eles dedicado, no qual poderão publicar seus trabalhos, quando bem classificados em aula, a critério do professor da matéria que o mesmo se referir.

Dispomo-nos a pugnar pelo Educandário a que pertencemos e esperamos de seu corpo docente e discente, todo apoio que temos certeza, dignar-se-ão de nos prestar, como pessoas compreensivas e altruístas que são.

Esperamos seja “O Sud Mennucci” acolhido com consideração, pois tentaremos, por seu intermédio, firmar as relações de amizade entre a juventude normalista, dando combate à indiferença, ao separatismo e isolacionismo que deparamos às vezes, não sem tristeza, na massa estudantil. Pugnaremos pela união dos nossos num só coração, para que, futuro a dentro, possa Piracicaba mostrar sempre o brilho de sua vontade e de seu saber, continuando a doar, para o Brasil, homens que, satisfazendo um Diógenes, não necessitariam de luz de sua lanterna para mostrar no rosto a retidão do seu caráter e hombridade de suas ações.

Como trabalho estudantil que é tenderá este a transformar-se numa publicação de caráter estritamente literário, recebendo então, as colaborações que nossos professores se dignarem nos conceder. Por ora, organizaremos aqui, somente contribuições de alunos, aceitando destes toda observação criteriosa que vise nos trazer melhoras.

Que esta hora, pois, em que nasce “O Sud Mennucci”, seja de

entendimento; que nossos leitores fiquem satisfeitos e façamos jus ao nosso intento que é o de primar pela harmonia, dando aos colegas algo que necessitavam e esperamos seja recebido sem as críticas pejorativas tão comuns no ignorante, no agitador e no indivíduo que, sem escrúpulos, sente selvagem prazer em minar as bases de toda e qualquer nova realização. É este nosso desejo sincero.

Amador Pedroso de Barros

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classificados em aula, com publicações de caráter estritamente literário; esperavam também ter a contribuição dos docentes e discentes na produção do impresso.

Já nesta apresentação do jornal, o autor também expõe que a união dos estudantes permitiria que Piracicaba pudesse mostrar “o brilho de sua vontade e de seu saber” continuando a doar para o Brasil homens ‘iluminados’ pela luz de Diógenes. O filósofo grego da Atenas Antiga perambulava pelas ruas com uma lamparina, durante o dia, alegando estar procurando um homem honesto. No final do trecho citado, o aluno Amador Pedroso de Barros defende que o objetivo da publicação do impresso, seria o de primar pela harmonia no educandário. Tinha a esperança de que o jornal fosse recebido “sem as críticas pejorativas, tão comuns no ignorante, no agitador e no indivíduo que, sem escrúpulos, sente selvagem prazer em minar as bases de toda e qualquer nova realização”. O componente da honestidade aparece aqui para justificar a perspectiva moralizadora do impresso2.

A ideia de os alunos do Instituto de Educação, por meio do jornal, mostrarem o “brilho de sua vontade e do seu saber” remete a uma construção histórica da memória coletiva desta instituição. A antiga Escola Normal, depois Instituto de Educação Sud Mennucci é lembrada pelos habitantes da cidade de Piracicaba como espaço de excelência de educação3, de onde entravam e saíam os melhores alunos, a elite pensante da cidade. Esse discurso está presente nos jornais locais da cidade4, nos discursos dos alunos organizadores do jornal, e também nas memórias da Associação de ex-alunos da Escola Normal, que até hoje procura manter consagrada essa memória idealizada da instituição.

O lugar ocupado pela instituição na memória coletiva é revelador do significado dessa escola para a cidade e de tudo o que a ela está associado, inclusive o jornal escolar. De acordo

2 A perspectiva moralizadora, presente nos textos que alunos publicavam no jornal, será tratada ao longo da

dissertação com mais acuidade, visto que em todos os exemplares aparecem textos escritos pelos alunos, em que

“prescrevem” aos alunos leitores normas de conduta moral, em relação, por exemplo, à prática da cola por parte dos mesmos, durante a época de provas.

3 No relatório de qualificação, a tese de doutorado intitulada Escola Complementar e Normal de Piracicaba:

formação, poder e civilidade (1987-1921) do pesquisador Tony Honorato, defendida pela Unesp de Araraquara, foi indicada para dar maior fundamentação à ideia de a escola normal Sud Mennucci ter sido considerada na memória coletiva uma instituição de excelência. Ao procurar o texto na biblioteca da faculdade, não consegui encontrar nenhum exemplar desta obra. Após essa constatação, foi enviado um e-mail para o pesquisador, solicitando um exemplar da obra para que pudesse ser incorporado ao texto. Entretanto, Honorato indicou que não seria possível ceder o texto, visto que ele estava aguardando o mesmo ser publicado, não havendo, segundo ele, a possibilidade de acesso.

4 Algumas páginas de jornal selecionadas em uma hemeroteca foram encontradas no arquivo da escola, onde se

encontram inúmeras notícias sobre a Escola Normal Sud Mennucci, posteriormente denominada Instituto de

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com Pollack (1992), a memória é um fenômeno construído social e coletivamente, submetido a flutuações e mudanças constantes, mas que, entretanto, apresentam pontos invariáveis e imutáveis, resultantes de um trabalho de organização e enquadramento destas invariáveis da memória. Elemento que constitui identidade ao indivíduo e ao grupo, a memória é um fenômeno construído, coletiva ou individualmente, no qual ocorre o trabalho de gravar, recalcar, excluir, sendo resultado também de um trabalho de organização (POLLACK, 1992, p. 203-204).

Fotografia 1: Sud Mennucci.

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP).

Disponível em: www.ihgp.org.br, ihgp@ihgp.org.br, acesso em 26/01/2015.

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O Colégio Estadual, que funciona junto à Escola Normal “SudMennucci”, é

uma instituição que honra sobremaneira o ensino de nossa terra. O Curso

Ginasial e o Curso Científico da “SudMennucci” todos os anos, diplomam

turmas pequenas, é verdade, mas, turmas brilhantes, constituídas de alunos realmente preparados para continuar seus estudos. São turmas que se destacam pela qualidade e não pela quantidade. (JORNAL DE PIRACICABA, 1953.)

Aqui o componente da qualidade do ensino que era ministrado no educandário aparece como parte constitutiva da construção dessa memória coletiva sobre a escola piracicabana. A notícia continua ressaltando o gabarito dos alunos que saíam dos cursos clássico e científico e iam para as melhores universidades, como a Universidade de São Paulo, mostrando que os alunos da escola Sud Mennucci diante da seletividade e a dificuldade para ingressar nestas instituições de ensino superior, “brilharam sem dúvida”.

Em outra notícia, de primeira página, publicada no dia 21 de abril de 1953 – data do aniversário da instituição e época em que o jornal dos alunos foi publicado –, depara-se novamente com a construção de uma memória sobre a instituição:

A Escola Normal “Sud Mennucci”, comemora hoje o seu 56º aniversário de fundação, marcando assim uma brilhante etapa dedicada a grandeza do ensino paulista. O tradicional educandário de nossa cidade vem cumprindo não só sua nobre missão de educar a mocidade, como também influindo decisivamente para o nosso progresso. Da “Sud Mennucci” tem saído

inteligências luminares que honram o magistério e também outras profissões liberais.

Nossa Escola Normal é, inegavelmente, um orgulho para nossa terra, um motivo de esperança para a Pátria estremecida e, aos jovens, um incentivo para as lutas do ensino imperecível. (JORNAL DE PIRACICABA, 1953.)

A ideia de a escola contribuir para o “progresso” da cidade e servir como “esperança para a Pátria” faz parte de um discurso nacionalista presente no contexto da Primeira República, no qual a instrução pública era vista como salvação da nação. A missão de educar a mocidade cabia ao Sud Mennucci, sendo a escola considerada um “orgulho” para a cidade.

Esta perspectiva também está presente no material produzido pela Associação de ex-alunos, anteriormente mencionada. Em impresso5 publicado pela associação, datado de 2007, novamente esta construção está presente por meio de artigos de ex-alunos, que atualmente

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fazem parte desta associação e que, de certa forma, legitimam essa memória consagrada. Um desses artigos, escrito pela historiadora piracicabana Marly Therezinha Germano Perecin6 – também ex-aluna da instituição – narra a história da educação em Piracicaba, mostrando o envolvimento e as articulações do Partido Republicano Paulista com as diversas iniciativas educacionais na cidade. Por meio do discurso nacionalista republicano, a autora vai descrevendo como ocorreu na cidade o processo de estabelecer e construir escolas primárias e secundárias. Dentre essas iniciativas, destaca a história do Instituto de Educação Sud Mennucci.

Num ponto do artigo, a autora afirma que, por conta do desenvolvimento urbano iniciado na cidade a partir do início da República, que envolveu a abertura de ruas e a construção de redes de esgoto, Piracicaba chegou, no ano de 1911, com 48 mil habitantes, se tornando, segundo as palavras da autora, uma cidade “limpa, arborizada e dotada de praças aconchegantes nas tardes de verão”. Neste contexto, Piracicaba passou a ser considerada a segunda cidade paulista em número de escolas, contando com quarenta unidades, passando a ser chamada de Ateneu Paulista7, aposto que, segundo ela, vem sendo repetido através dos tempos (PERECIN, 2007, p. 22).

Sobre isso, a autora afirma:

A antiga boca do sertão, no século XVIII, havendo passado pela fase de fronteira agrícola, no século XIX, surpreendia com o seu florescimento cultural, fruto da expansão das escolas e da manifestação de sua jovem elite pensante. (PERECIN, 2007, p. 23.)

A partir desse ponto, a autora passa a descrever o processo que culminou na construção do prédio em que está instalada a escola até hoje, na rua São João, no centro da cidade. Destaca a beleza e a grandiosidade de sua construção, que, segundo ela, apresentava características de um palácio:

6 Marly Therezinha Germano Perecin é uma historiadora piracicabana que publicou vários textos dedicados à

história tradicional da cidade e, em particular, à história do Instituto de Educação Sud Mennucci. Seus textos –

que estão citados na dissertação – são representativos de uma história institucional, produzida no âmbito do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba).

7 Perecin explica que Ateneu, em sentido lato, diz respeito à Academia, estabelecimento de ensino superior

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Ninguém escapa ao impacto de sua grandeza interior, nem ao sortilégio de sua beleza plástica, a criança, ou o desconhecido, que venham pela rua São João, a meio do calor e da luminosidade do sol piracicabano. Todo aquele que ascendeu as escadarias daquela acrópole, ao adentrar, queda-se, perplexo, no Saguão. Mágica penumbra, ali, esconde formas e imagens, que à dilatação das pupilas, se apresentam, paulatinamente, ao espectador desavisado, insinuando-se em seu imaginário e despertando misteriosas interrogações remanescentes de um passado, onde até as paredes falavam. –

Qual o desvendamento do mistério?

- Faça-se a luz! Ilumine-se a mente interior, afastem-se as trevas da ignorância e da presunção! – Esta é chave do código ao desavisado forasteiro que penetra o limiar, a ante-sala do “Ateneu Paulista”. (PERECIN, 2007, p. 26.)

Nesse sentido, a autora ressalta ainda que, passado um século da construção da Escola Normal, datada de 1917, saíram daquela instituição grandes mestres do magistério secundário e superior, “milhares de soldados anônimos da grandeza da Pátria”8 nas escolas primárias.

Percebe-se, por essa descrição, que a instituição pesquisada tem forte relação com a construção da memória coletiva da cidade. A própria designação da cidade como Ateneu Paulista mostra, de certa forma, essa imagem de cidade das escolas, sendo o Sud Mennucci o local por excelência para a formação de professores em Piracicaba (PERECIN, 2007, p. 26).

De acordo com Peres (1997), Piracicaba, na década de 1950, era idealizada pelos grandes feitos de suas elites, que permitia lhe exaltar uma “inteligência piracicabana”, capaz de fazê-la romântica, culta e politizada9.

Outro indicativo de como a instituição foi rememorada, inclusive pelos diferentes sujeitos que passaram por ela, surge num artigo de um periódico piracicabano de grande circulação na cidade até os dias atuais, o Jornal de Piracicaba. Denominado A Escola Normal de Piracicaba. O artigo foi escrito por Maria Celestina Teixeira Mendes Torres, historiadora e ex-professora de História do Instituto de Educação Sud Mennucci à época da publicação do impresso analisado nesta pesquisa10. Neste texto, datado de abril de 1985, Torres chama a atenção dos leitores para a necessidade de restauração do velho prédio da Escola Normal.

8 A ideia de progresso e de grandeza da Pátria encontrada nos discursos da historiadora citada e também nos

textos dos alunos que escreviam no jornal mostra que o discurso republicano da instrução pública estava presente e permaneceu, de certa forma, dentro da memória desses sujeitos, quando os mesmos se referem à antiga Escola Normal e depois ao Instituto de Educação Sud Mennucci.

9 Para fazer essa colocação, a autora se refere às afirmações contidas no livro Síntese Urbana, da historiadora Marly Therezinha Germano Perecin.

10 Ao longo da análise dos conteúdos dos jornais escolares pesquisados, é perceptível, em diversos exemplares, a

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A historiadora “relembra” com “emoção e saudade”, a Escola Normal Sud Mennucci. Discorre sobre o hino da escola e elenca os nomes dos alunos formados professores nas primeiras turmas que passaram pela instituição. Ressalta que, para a escola normal, muitos estudantes de outras cidades foram atraídos para estudar, e foram esses que difundiram pelo interior do estado de São Paulo “o gabarito de seus mestres e a eficiência de seus diretores e funcionários”.

Lamenta o fato de que esta escola de grandes mestres e ilustres alunos estaria abandonada, e não é mais a antiga Escola Normal. Nesse ponto, Torres (1985) relembra os “tempos áureos” do Instituto de Educação:

Não é mais o antigo Instituto Sud Mennucci, com a sua fanfarra e seus desfiles, suas belas exposições de Trabalhos Manuais, seu magnífico

“Orfeon”, suas belas exposições comemorativas de datas nacionais, ou ainda

as bibliotecas especializadas de Português, de Zelinda Carmona, de Geografia, de Antônio Moraes Sampaio, do Clube de Ciências de Moacyr Diniz, do Centro de Estudos de História, ou ainda de um jornalzinho

denominado “Sud Mennucci”, organizado e publicado por três Irmãos

Mendonça, com colaboração dos alunos do Ginasial e do Científico.

O Sud Mennucci dos Mendonça não será esquecido quando se fizer uma

história da Imprensa de Piracicaba. Nele se pode apreciar os “dons literários” dos adolescentes daquela época, que faziam versos, contavam

piadas, e até artigos sobre fatos da História do Brasil eram capazes de escrever. (TORRES, 1985.)

Nesta explanação da professora de História, lamentando e relembrando os bons tempos da velha Escola Normal, identifica-se novamente a construção dessa memória coletiva da instituição. Dentro desta construção, a menção ao jornal O Sud Mennucci aparece relacionando-se com ela, no sentido de legitimar esse espaço como de excelência, onde as atividades escolares eram frutíferas e organizadas pelos alunos do educandário.

A relação estabelecida entre escola e cidade foi ensaiada nesta pesquisa, e aprofundada por Gonçalves (2003), que pretendeu analisar o papel da Igreja Católica – na cidade de Taubaté, estado de São Paulo – nos campos cultural e educacional, nas décadas de 1950 e 1960. Dessa forma, procurou compreender as ações de sujeitos e instituições em permanente tensão na luta pela hegemonia nos campos da cultura e da educação, disputados pela Igreja e pelos setores leigos da sociedade. Utilizando conceitos advindos de Thompson, o autor

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procurou verificar as tensões e conflitos envolvidos nessa competição. Para tanto, utilizou como fontes a imprensa laica e católica da cidade, documentações sobre escolas católicas e instituições leigas e também as vivências de sujeitos que se formaram professores nas diversas escolas normais da cidade.

De acordo com o autor, a partir da década de 1950, na história da cidade, as demandas educacionais e culturais aumentam, havendo a necessidade de se criar uma elite política e letrada para pôr em prática o projeto de modernização conservadora em curso. É neste contexto que se iniciam as disputas e tensões, passando a Igreja Católica local a aumentar sua atuação por meio da imprensa – com o semanário O Lábaro – das escolas paroquiais, do rádio, do cinema e da escola de formação de professoras. A Igreja, operando no espaço na cidade, passou a incentivar o laicato a assumir posições políticas, morais e culturais.

É por esse meio que o autor verifica a atuação da hierarquia católica e laicato no contexto de mudança da cidade de Taubaté, mostrando os setores dominantes lutando entre si pela hegemonia no processo de conformação/configuração da cidade no momento em que a mesma “pulsava”. Verifica que na cidade – esta encarada como questão, memória e documento – “definiram-se espaços, desenharam-se atitudes, revolucionaram-se e se mantiveram práticas” (GONÇALVES, 2003, p. 180).

Esta tese contribuiu para pensar posteriormente nas relações entre escola e cidade no contexto da cidade de Piracicaba, tanto na década de 1950 quanto em momentos posteriores, visto que a sua intelectualidade – composta também por ex-alunos do Instituto de Educação Sud Mennucci que fizeram parte de alguma forma do empreendimento do jornal, como Gustavo Jacques Dias Alvim e Marly Therezinha Germano Perecin – atuou e atua no espaço da cidade, por meio da imprensa local, da universidade metodista e da própria escola pesquisada resultando em redes ou espaços de sociabilidade, na defesa de seus interesses no espaço da cidade.

1.1 O Sud Mennucci e sua materialidade

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da materialidade do impresso. Pretendo verificar aqui em que medida esta perspectiva de análise pode contribuir para encontrar respostas para esses questionamentos.

São onze os exemplares do jornal intitulado O Sud Mennucci. Pensado e elaborado por alunos homens que também faziam parte do Grêmio Normalista, foi editado e produzido entre os anos de 1952 e 1954, sem uma regularidade precisa, de acordo com os documentos analisados. O primeiro foi editado em novembro de 1952. O segundo saiu em abril de 1953, o terceiro uniu os meses de maio e junho de 1953. O quarto em agosto de 1953. O quinto em setembro do mesmo ano e o sexto também uniu os meses de outubro e novembro de 1953. Os exemplares sete e oito foram editados respectivamente, em abril e maio de 1954. O exemplar de número nove foi editado em outubro de 1954 e os exemplares dez e onze – editados em um mesmo exemplar – corresponderam aos meses de novembro e dezembro.

Em relação à regularidade das páginas dos exemplares encontrados e número das mesmas, também não encontrei um padrão material que regularizasse sua produção. Os exemplares de número um e dois tinham ambos seis páginas, foram produzidos em papel jornal e tinham a dimensão de 30x45 cm. O exemplar de número três contava com sete páginas. A partir deste exemplar, o impresso passa a ser produzido com papel couché, tipo de papel especial, próprio para uso na indústria gráfica. Com melhor qualidade para impressão, apresenta a superfície lisa e uniforme, facilitando a impressão dos formatos das letras. Passam a apresentar a dimensão de 28x38 cm. Os exemplares de número quatro e cinco contam com quatro páginas cada um. O exemplar de número seis, comemorativo de um ano do órgão, conta com oito páginas. Os exemplares de número sete, oito, nove e dez/onze voltam a ter quatro páginas cada um.

A partir da análise do estilo tipográfico, foi possível identificar a técnica de impressão dos jornais, que estava em circulação na época em que o impresso foi produzido. Ao que tudo indica, todos os exemplares foram compostos e impressos em Linotipo (linotype), impressora antecessora da off set. Era a impressora mais acessível na época11.

Não foi possível identificar se a montagem de linotipo era feita manualmente (letra por letra) ou por uma máquina de datilografar acoplada à impressora linotipo. Sobre esse aspecto

11 De acordo com BRITO (2010), a “máquina de impressão dispunha de uma caldeira contendo uma liga em

estado de fusão e um teclado em que cada tecla comandava a descida da matriz de cobre da letra correspondente. Essas matrizes encontravam-se alojadas em uma série de tubos verticais e por atuação de ar comprimido eram empurradas. Uma vez justapostas, umas ao lado das outras, matrizes de letras pretendidas de modo a formar uma linha, abria-se a comunicação com uma caldeira ou crisol e o metal fundido espalhava-se sob a fila de matrizes, solidificando-se numa peça única, linha bloco. Fazia-se então a composição linha a linha e não letra a letra, o que

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da materialidade do impresso, Luca (2005) ressalta que é possível verificar por meio dela a história da indústria gráfica no Brasil, examinando as condições técnicas de produção impressa vigente em determinado contexto histórico12. Foram buscadas informações mais precisas, nesse sentido, por meio de entrevistas, conforme será apontado no capítulo terceiro.

Nas primeiras páginas dos exemplares aparecem informações sobre o lugar em que os mesmos eram produzidos, onde era feita a redação. Consegui identificar duas etapas. O critério utilizado para identificar os onze exemplares em suas duas fases foi o local de produção do impresso e o valor de venda dos exemplares.

Na primeira fase, observou-se que os primeiros seis exemplares foram produzidos na rua Dom Pedro II, nº 1.291. O endereço da redação muda a partir dos exemplares de números sete a onze, que passam a ser produzidos na rua Manuel Ferraz de Arruda Campos, nº 824. Outro aspecto que muda do exemplar seis para o sete, é o valor de cada exemplar: segundo o cabeçalho, o valor de cada jornal era de Cr$ 2,00 (dois cruzeiros), até o exemplar de número seis. A partir do sétimo exemplar, o valor do jornal passa a ser veiculado no impresso por meio de assinaturas, valendo Cr$10,00 (dez cruzeiros) anuais.

Figura 1: Os cabeçalhos representando as duas fases do Jornal O Sud Mennucci (exemplares 3 e 7, respectivamente)

Fonte: Material fotocopiado pela autora.

12 Heloisa de Faria Cruz e Maria do Rosário da Cunha Peixoto, no texto Na oficina do historiador: conversas

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A presença crescente da publicidade nos impressos é outro aspecto que aparece na comparação dos exemplares. O jornal tinha anunciantes com propagandas comerciais da cidade. Estabelecimentos como: Concessionários – GMC – Oldsmobile – Opel, Móveis Manfrinato, Farmácia São José, Casas Pernambucanas, Livraria e Papelaria do Brasil, Casas Nely, Livraria Católica, Casas Khiel, Casa Passarela e Galeria dos Tecidos. Ao longo dos exemplares, vai aparecendo uma diversidade maior de anunciantes. O número de anúncios variou de acordo com o exemplar. Nos exemplares em que o número de páginas é maior, aparecem mais anúncios13.

Figura 2: Anúncios publicitários do Jornal O Sud Mennucci.

Fonte: Material fotocopiado pela autora.

Figura 3: Anúncios publicitários do Jornal O Sud Mennucci.

Fonte: Material fotocopiado pela autora.

Após análise minuciosa dos anúncios contidos nos onze exemplares, dois aspectos me chamaram atenção. Primeiro, a maior parte dos estabelecimentos comerciais anunciantes estavam localizados nas ruas do centro da cidade de Piracicaba, em localidades próximas à instituição. Outro ponto revelador e importante para a pesquisa: os anúncios contêm informações sobre uma questão que atravessa a pesquisa em seu percurso, a ligação deste grupo de alunos com os sujeitos políticos da cidade de Piracicaba. O primeiro anúncio que mostra essa relação está presente na propaganda do consultório do Doutor Samuel de Castro Neves, médico que, no ano da publicação deste exemplar (1953), era o prefeito da cidade pelo Partido Trabalhista Brasileiro. Outro anúncio emblemático é o da Concessionária GMC de

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caminhões e carros de passeio de propriedade das empresas Guidotti& Cia. O senhor Luciano Guidotti, dono da referida empresa, viria a ser prefeito da cidade no ano de 195514. Esta propaganda aparece em todos os exemplares, sempre na primeira página, o que mostra a relação dos alunos que produziam o jornal com os comerciantes da cidade, que, ao que tudo indica, eram atuantes no cenário político local.

Fotografia 2: Loja anunciante do jornal O Sud Mennucci, a Concessionária GMC, da família Guidotti&Cia.

Fonte: Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba (IHGP).

Disponível em: www.ihgp.org.br, ihgp@ihgp.org.br, acesso em 26/01/2015.

Os impressos trazem informações sobre quem produzia o jornal. Acompanhando a definição das fases colocada acima, os primeiros seis exemplares são acompanhados de um quadro com os nomes dos organizadores do jornal e a função de cada um dentro da editoração do mesmo. Do primeiro ao terceiro exemplar aparece o nome do diretor fundador, Luiz de Almeida Mendonça, o secretário Joaquim de Almeida Mendonça, irmão do primeiro. Os redatores eram Amador Pedroso de Barros, Antonio Sperandio e Sebastião de Almeida

14 As relações estabelecidas com os sujeitos políticos da cidade aparecem nos textos presentes nos exemplares.

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Mendonça, o terceiro irmão. O redator auxiliar era Vicente Frasson. No segundo exemplar, aparece um novo redator, Gustavo Jacques Dias Alvim. O restante do corpo editorial continua sendo o mesmo. No sétimo exemplar, outros nomes aparecem na composição deste quadro. Surgem outros redatores, como Antonio Sérgio Bergamin, Murilo Graner, Raul Nechar e Valdemiro Carlos Sgabiero. Aparecem redatores do departamento social: Hilda Matos Stractico, Theresa Watanabe, Michaela Novais e João Chaddad. Ao que parece, outros sujeitos despontam no corpo editorial do jornal a partir do sétimo exemplar. Curioso perceber que o quadro editorial não aparece no oitavo exemplar.

Figura 4: O Corpo Editorial em suas duas fases (exemplares 3 e 7 respectivamente).

Fonte: Material fotocopiado pela autora.

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circulavam na cidade, pelos endereços. Pôde-se verificar que os mesmos estabeleceram contato com os comerciantes que possuíam estabelecimentos nas localidades vizinhas à instituição, no centro da cidade. Os aspectos gráficos e as formas de impressão do jornal mostram as condições em que foram produzidos os jornais.

1.2 A articulação dos estudantes e a rede de relações

Esta parte do capítulo pretende apresentar e definir o grupo que compôs a editoração e articulação do impresso analisado. Também propõe discutir a dificuldade em associar este grupo de estudantes em determinadas categorias de análise existentes na historiografia educacional sobre o tema.

De acordo com os jornais, os alunos que participavam da produção do jornal também faziam parte do Grêmio Normalista15 do Instituto de Educação Sud Mennucci. Um grupo organizado, no contexto da década de 1950, se articulou e passou a produzir um jornal escolar que tinha o mesmo aspecto material dos impressos periódicos que circulavam pelo espaço da cidade de Piracicaba.

Esta informação se fundamenta em uma notícia veiculada no segundo exemplar analisado, no qual se encontra uma nota mostrando a composição do Grêmio Normalista do Instituto de Educação, datada de abril de 1953. Este espaço foi utilizado para noticiar a sessão de posse da diretoria do Grêmio Normalista. Observando os nomes que compunham a nova diretoria da agremiação, encontram-se os alunos articuladores do jornal O Sud Mennucci, como Amador Pedroso de Barros (presidente), Vicente Frasson (1º secretário), Joaquim de Almeida Mendonça (tesoureiro geral), Sebastião de Almeida Mendonça (1º tesoureiro) e Gustavo Jacques Dias Alvim, orador do Grêmio.

Estes alunos eram justamente os sujeitos que compunham o corpo editorial do impresso. Entretanto, dentro desta nota da sessão de posse, observam-se outros nomes que não aparecem na organização do mesmo. Esta informação aponta para a afirmação colocada acima, de que estes sujeitos se articularam em torno de um grupo de alunos que também pertencia à estrutura de um Grêmio Normalista para compor um jornal escolar.

15 A relação da organização de alunos com o Grêmio Normalista será esclarecida no capítulo terceiro, no qual as

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Este mesmo exemplar apresenta redigido o discurso do orador do Grêmio, Gustavo Jacques Dias Alvim, destacando aspectos referentes ao desenvolvimento da escola, e revela o que foi indicado no início como objetivo do jornal: “promover a união e a harmonia dos estudantes”; discurso que também pode apontar para uma forma de atividade desta organização discente:

Sem embargos, iniciamos este período de aulas mais alegres que nos anos passados, pois nós, alunos atuais deste educandário, temos a satisfação de ver quasi prontas mais quatro salas de aulas, o que vem suprir necessidades que se faziam urgentes, e ao mesmo tempo concretizar um velho sonho dos alunos.

Aí, nosso júbilo torna-se ainda maior, porque com o aparecimento destas salas, surgirá também, simultaneamente, o ambicioso e esperado laboratório de química.

Gustavo Jacques Dias Alvim

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Figura 5: Nota sobre a sessão de posse do Grêmio Normalista.

Fonte: Material fotocopiado pela autora.

No primeiro exemplar, datado de novembro de 1952, na coluna denominada Inovações, na primeira página do jornal, aparece a preocupação de Sebastião Almeida Mendonça, tesoureiro do jornal, com o pedido, que já havia sido feito, para a construção de novas salas de aula no espaço da Escola Normal. O trecho indicado acima, do aluno Gustavo Jacques Dias Alvim, mostra que essa reivindicação feita foi, de certa forma, atendida:

Inovações

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divididas em grupo de duas (um grupo em cada lado do prédio principal), destinar-se-ão a ser salas-ambientes.

Quanto às matérias a que servirão, só pudemos apurar dados referentes à cadeira de Química.

O ideal da Diretoria da Escola seria dar a cada matéria um compartimento especial, à guisa das sala de Geografia e Desenho, por exemplo; lugar onde os professores teriam todos os meios adequados ao seu trabalho.

Uma das causas que moveram a construção das salas referidas, é o fato de a nossa Escola, tornar-se em breve, Instituto de Educação, conforme os planos já traçados.

Como vemos, nossa Escola progride.

Sebastião de Almeida Mendonça

Nesta coluna, o aluno Sebastião de Almeida Mendonça dá ao leitor algumas informações sobre a reivindicação que foi feita para a construção de novas salas de aula. Não se sabe aqui quem efetivamente pediu a construção das salas. Pois logo abaixo, o aluno cita que a construção das salas foi um ideal da Diretoria da escola. Salienta ainda que uma das causas da construção das salas seria o fato de que a Escola se tornaria, em breve, Instituto de Educação16.

Entretanto, uma notícia publicada pelo Jornal de Piracicaba – um pouco antes destas informações que o aluno Sebastião de Almeida Mendonça expõe – datada de abril de 1952, mostra uma informação sobre a ampliação do prédio da Escola Normal. Numa matéria de primeira página intitulada “Será ampliado o prédio da Escola Normal Sud Mennucci”, o editorial do jornal mencionado noticia que o secretário da Viação e Obras Públicas, doutor Nilo Andrade Amaral, autorizou a ampliação do prédio da Escola Normal de Piracicaba. Segundo o jornal, a comunicação deste fato foi transmitida pelo prefeito da cidade, doutor Samuel de Castro Neves, sujeito que, como já foi mencionado, anunciava no jornal. Ainda segundo o jornal local, esta melhoria foi conseguida pelo deputado Valentim Amaral. De acordo com o editorial, o espaço da instituição não era mais suficiente para atender os alunos do ensino secundário:

16 Em novembro de 1952, a instituição ainda era uma Escola Normal, denominada Sud Mennucci. Somente em

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Há cerca de vinte anos que a Escola Normal está pequena demais para Piracicaba. Há muitos anos que vimos armários cheios de material precioso para o ensino de ciências, espalhados pelos corredores do edifício, porque as salas respectivas foram transformadas em salas de aula. O Clube de Ciências que tanto renome vem obtendo nos meios educacionais viveu ali espremido em meia dúzia de metros quadrados, até que precisou sair, procurar outro ambiente onde pudesse realizar a sua obra educativa. A administração luta com as maiores dificuldades e suporta os maiores desconfortos, num trabalho insano para manter o atual nível de ensino do tradicional colégio.

A preocupação com a ampliação do espaço da instituição advinha tanto do grupo de alunos que produzia o jornal quanto dos políticos da cidade de Piracicaba. Utilizando os jornais locais como fonte, a relação entre cidade e escola aparece, e também a relação entre estes sujeitos que reivindicavam melhorias na cidade e os políticos locais da cidade. Essa teia de relações pode contribuir para explicar a natureza desta organização de alunos em torno do jornal O Sud Mennucci e seus objetivos com a publicação do mesmo.

No exemplar de número nove aparece novamente uma reivindicação por melhorias no espaço do Instituto. Com o artigo intitulado “Nossa quadra”, a organização discente expõe que, desde 1948, as direções do Grêmio da Escola Normal vinham falando em atijolar e cimentar a quadra de esporte, mas não o faziam. Segundo o artigo, os iniciadores do movimento para a melhoria da quadra de esportes, os diretores esportivos, não conseguiram levar a termo o ideal. Neste sentido, a situação de precariedade da quadra Antônio Martins Belmudes de Toledo é expressa no texto publicado no jornal. Por fim, os editores do jornal lançam um apelo pela melhoria da quadra de esportes:

Lanço um apêlo à nova direção do grêmio, para que faça uma campanha pró-melhoramento da nossa praça de esportes, pois ela atualmente é a mais velha

da cidade, porém a mais “avacalhada”. E que os estudantes do nosso

Instituto colaborem e se possível for também os senhores dignos professores e diretores, pois a quadra também faz parte do nosso Estabelecimento. Só assim, teremos o sonho dos estudantes do Instituto realizado e, ao mesmo tempo, terá a ex-Escola Normal uma quadra apresentável, realmente!

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“aos ilustres professores” agradecendo a acolhida do jornal por parte do diretor da escola à época, Arlindo Rufato.

O exemplar de número quatro é fundamental para o entendimento do papel desempenhado pelo jornal dentro deste grupo. Novamente, duas ligações políticas – estabelecidas inclusive num espaço extraescolar – são apresentadas por parte dos sujeitos que produziram o jornal. A primeira está presente no editorial17, em que os alunos denunciam o brusco racionamento de energia elétrica na cidade. Segundo os membros do jornal, esta “empresa imprevidente” não permitiu o anseio cultural dos alunos e do jornal18, causando,

com isso, o comprometimento da impressão do jornal:

Ninguém ignora que vivemos uma quadra brusca de racionamento de energia elétrica, imposta por uma empresa imprevidente, quanto à tarefa de caminhar passo a passo com o progresso da estimada Pátria.

Imprevidente, repetimos, e a acrescentamos – danosa – porque tolhe diretamente o mínimo anseio cultural. Tanto assim que, nesse modesto órgão, guardando as devidas proporções, é obrigado a se apresentar no presente molde, justamente quando, a representar a expressão escrita dos estudantes do nosso Instituto de Educação, devia circular de maneira proeminente, senão festiva.

Antes de findarmos essas passageiras repulsas, a público, – visto como a temos imorredoura, com rancor, no imo do entendimento – antes de findarmos, precisamos pedir aos leitores que ponderem, que, quando a imprensa, modesta por modesta, sente-se afogada por forças terceiras, é sinal de que a derrocada da ordem ou do progresso, aligeira os passos...

O componente de denúncia dos problemas da cidade, como a questão do racionamento de energia, aparece dentro das preocupações dos alunos. Segundo eles, o racionamento da energia fez com que houvesse um atraso e uma diminuição do tamanho daquele exemplar. Cecílio Elias Neto (2000)19, conta que no ano de 1953, “a Empresa Eléctrica, responsável

17 Interessante notar que, a partir do momento em que começam a aparecer os editoriais, os autores desses textos

que abriam o jornal não mais se identificam nominalmente. Acredito que, nestes textos sem nome, quem está

‘falando’ e se fazendo representar é justamente a organização estudantil. Este é um indício de que o jornal passou a ter posições mais coesas e ganhou uma estrutura semelhante a um jornal da imprensa corrente.

18No exemplar de número cinco, do mês de setembro de 1953, aparece uma nota intitulada “Centro de Estudos

de História”, na qual a redação do jornal noticia aos leitores que a presente edição não pode ser publicada com a

folha referente à comemoração do ‘7 de setembro’, devido à falta de energia elétrica na cidade quando da

impressão do referido exemplar. A folha só seria publicada no sexto exemplar.

19 Cecílio Elias Neto é um escritor piracicabano. Escreveu vários livros sobre as peculiaridades do regionalismo

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pelos serviços de transporte público, luz e água como que abandonara a cidade”. Conta ainda que a empresa foi desapropriada pelo prefeito Samuel de Castro Neves.

Sobre o problema de fornecimento de energia elétrica, Peres (1997) ressalta que a década de 1950 foi considerada como um período de transformação no espaço urbano de Piracicaba, visto que o setor industrial passou a ser uma atividade predominante na cidade. Segundo ela, esse processo histórico foi idealizado por intelectuais e esteve repleto de tensões para que houvesse a construção da ‘Piracicaba moderna’. Dentre essas tensões, a autora aponta que, “os meios de transporte eram um fator desfavorável para a industrialização na cidade, o serviço de água e esgoto e o fornecimento de energia elétrica eram precários, sem apresentar ainda condições satisfatórias de abastecimento urbano” (PERES, 1997, p. 13).

Em notícia veiculada no impresso com o título de “Carta aberta aos leitores de O Sud Mennucci”, a direção do jornal explica aos leitores a demora na publicação do referido exemplar, datado de outubro de 1954. Segundo o texto, devido ao pleito de 3 de outubro, as tipografias da cidade estavam sobrecarregadas de “serviços eleitorais”, sobretudo a que se encarregava da feitura do órgão20.

O tom de denúncia usado especificamente nos textos mencionados anteriormente mostra uma atuação e preocupação desses alunos com os problemas políticos e econômicos da cidade. Aqui aparece a atuação política extraescolar deste grupo de alunos do Instituto de Educação pesquisado, com um tom bastante distinto em relação àqueles utilizados para tecer críticas internas à instituição.

A segunda forma de articulação dos alunos aparece na mesma primeira página do quarto exemplar. A matéria toma quase toda a extensão da página e tem o título “Instituto de Educação Sud Mennucci”. Os alunos saúdam a satisfação da “Piracicaba culta” pelo fato de a Escola Normal ter se tornado Instituto de Educação em 7 de agosto de 1953. As relações dos alunos com os professores e políticos locais surgem logo após as saudações:

Os alunos do nosso Estabelecimento, como toda a Piracicaba culta, devem, a estas horas, estarem exultantes de satisfação, com o fato de a Escola Normal

Therezinha Germano Perecin, professora responsável pelas construções da memória histórica da cidade e da instituição pesquisada. Devido à dificuldade em encontrar pesquisas sobre a história social e política da cidade, utilizei essas duas obras no sentido de compreender, de maneira crítica, o cenário político, social e econômico de Piracicaba.

20 Esta notícia colocada no impresso contribui para o entendimento, no capítulo terceiro da presente dissertação,

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“Sud Mennucci” ter se transformado em Instituto de Educação “Sud Mennucci”.

Essa melhoria devemo-la à idéia do Prof. Argino da Silva Leite que, pela imprensa, ensejou a oportunidade da medida que, na Assembléia, fez o deputado Valentim Amaral tornar-se concreta.

Para uma visão rápida da extensão da medida, reproduzimos o trecho inicial do texto de lei, em que o governador Lucas Garcez após a assinatura, sancionando-a e promulgando-a.

Finalizando, queremos louvar o nobilíssimo ato do Dep. Valentim Amaral, assim como, publicamente, reconhecer o expressivo interesse que tem o professor Argino da Silva Leite pelas cousas tangentes à Escola, cuja cátedra de Matemática, acha-se sob sua competente direção.

A notícia é saudada pelos editores do impresso. Os alunos informam que a medida só foi possível graças à articulação do professor Argino da Silva Leite que, segundo os alunos, atuando na imprensa, permitiu que a medida fosse votada na Assembleia, fazendo com que o deputado Valentim Amaral21 tornasse a mesma concreta. Logo abaixo dessa notícia, um trecho inicial da lei é reproduzido. Novamente, os alunos louvam a iniciativa do deputado e do professor e acentuam que a medida só foi possível pela articulação desse deputado.

21 O deputado Valentim Amaral já apareceu no presente texto, nas notícias do jornal da cidade sobre a ampliação

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Figura 6: Primeira página do exemplar número quatro, em que é anunciada a transformação da Escola Normal em Instituto de Educação.

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Neste ponto, é necessário mostrar quais eram os sujeitos que participavam da política na cidade de Piracicaba. O deputado Valentim Amaral, articulador da medida que resultou na lei para a escola normal de Piracicaba era um piracicabano que se elegeu deputado estadual pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), em 1951. Era aliado do então prefeito de Piracicaba, Samuel de Castro Neves, representando o mesmo partido. Era um fiscal de rendas, além de advogado e oficial do exército, atividade da qual se afastara. Segundo Elias Neto (2000), esse deputado era “pessoa chegada de Getúlio Vargas”, então presidente da República. Também tinha relações profissionais com Jânio Quadros, prefeito de São Paulo desde 1953, sendo Secretário de Finanças da Capital.

Samuel de Castro Neves, então prefeito da cidade, foi eleito em 1951 pelo PTB, estabelecendo alianças políticas com o PSD e a UDN22. Era considerado, segundo Elias Neto (2000), um poderoso líder do município, junto com outros sujeitos que o antecederam e que ainda faziam parte das disputas políticas, as chamadas famílias aristocráticas da cidade, como os Duarte Novais, os Pacheco, os Moraes Barros, os Ferraz de Camargo e os Dias Gonzaga, este último tendo como representante Luiz Dias Gonzaga, “velho coronel do PRP”. Segundo o autor, Samuel de Castro Neves e Luiz Dias Gonzaga faziam parte ainda de um “estruturado” coronelismo na cidade. O autor acentua que os que seguiam estes sujeitos eram chamados de “gonzaguistas” e “samuelistas”. Elias Neto (2000) afirma que a partir da candidatura de Luciano Guidotti, em 1955, iniciou-se na cidade o rompimento político com essa antiga estrutura oligárquica, herdada do partido republicano paulista na cidade. Isso porque Guidotti fazia parte dos novos industriais da cidade, pertencendo a empresas do ramo automobilístico e tendo, portanto, outros interesses políticos, importantes para a cidade naquele contexto histórico.

Peres (1997) afirma que a década de 1950 representou um momento de transformações econômicas e sociais para a cidade de Piracicaba, dentro de um contexto político maior, caracterizado pelo governo de Getúlio Vargas, nacional-desenvolvimentista. Dessa forma, a autora investigou como a cidade se comportou diante das mudanças socioeconômicas nacionais e em que medida essas mudanças trouxeram outras questões para a cidade. Entende que houve um grande crescimento do espaço urbano. Dentro desse processo de urbanização, o desenvolvimento industrial se mostrou em curso na cidade de Piracicaba na época.

22 No exemplar de número sete, aparece uma lista de assinantes do jornal. Dentre os assinantes, está Francisco

Imagem

Figura  1:  Os  cabeçalhos  representando  as  duas  fases  do  Jornal  O  Sud  Mennucci  (exemplares  3  e  7,  respectivamente)
Figura 3: Anúncios publicitários do Jornal O Sud Mennucci.
Figura 5: Nota sobre a sessão de posse do Grêmio Normalista.
Figura 6: Primeira página do exemplar número quatro, em que é anunciada a transformação da Escola Normal  em Instituto de Educação

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