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O jornal O Sud Mennucci: sua finalidade e o fim do empreendimento

Esta parte do capítulo tem por objetivo a tentativa de responder uma questão que perpassou a problemática da pesquisa: desvendar por quanto tempo o jornal circulou no espaço do Instituto de Educação e na cidade de Piracicaba. Durante o processo de entrevistar os ex-alunos que participaram do empreendimento da feitura do jornal, consegui, por meio de um entrevistado, descobrir a existência de mais três exemplares, que fechavam o período de duração e de circulação do impresso.

Dessa forma, no exemplar de número dez/onze25, datado de novembro de 1954, os alunos articuladores do impresso, por meio de vários textos, se despedem do empreendimento, discutem sobre o que deveria ter sido a sua finalidade e qual seria a expectativa dos alunos em relação à continuidade da produção do impresso dentro do Instituto de Educação Sud Mennucci. Assim, na primeira página do exemplar, aparece a coluna, escrita pela direção26 do jornal, intitulada “Dos Fundos da Redação”, na qual o diretor, Sebastião de Almeida Mendonça começa o texto discorrendo sobre os acontecimentos do ano de 1954 na cidade de Piracicaba, como numa retrospectiva do ano que estava findando. Continua o texto incluindo o jornalzinho nos acontecimentos:

Tudo isso vimos passar. E o nosso jornalzinho, o nosso “SUD MENNUCCI” modesto, mais bem intencionado, viu passar tudo isso também. Mais ainda. Viu até morrer o 1952, nascer o 1953, nascer o 1954, viver e talvez não chegará a vê-lo morrer; talvez esse fim do ano vá acompanhar o nosso féretro: o enterro desse órgão estudantil!

- Nem pensem nisso... Disse-nos certo dia um nosso amigo leal, que arrematou a conversa fazendo-nos um ataque assim:

- Vocês não me digam que se julgam os únicos estudantes capazes de fundarem, dirigirem e elaborarem um simples jornal escolar. Vão-me desculpar, mas, se assim pensam, estão redondamente enganados. Qualquer estudante fará algo igual ou melhor. Tanto que se vocês acham que o “SUD MENNUCCI” vai morrer com a saída de seus últimos elementos desse Instituto de Educação, erram; nosso jornal ressurgirá cada vez mais glorioso e melhor.

25 O último exemplar, segundo o documento, abarca os números dez e onze, correspondendo aos meses de

novembro e dezembro, respectivamente.

26 Interessante notar que, a partir do nono exemplar, aparece já no cabeçalho a figura do diretor, que seria

No trecho, Sebastião de Almeida Mendonça escreve sobre a vida do jornal, seu tempo de circulação e a perspectiva de seu fim, devido ao fim do curso para os empreendedores do impresso no Instituto de Educação. Ressalta, contudo, que existia a possibilidade de outros alunos dentro do educandário darem continuidade ao empreendimento. Assim, continua o texto expondo que a notícia da possível continuidade confortaria o grupo de alunos envolvidos na organização desta ‘modesta’ imprensa. Ao lado deste texto aparece um pequeno aviso: “COLEGA, VOCÊ tem um dever a cumprir! Não deixe desaparecer o Sud”.

Na segunda página do referido exemplar aparece uma coluna, na qual três integrantes que pertenciam ao grupo de alunos articuladores do impresso se despedem do empreendimento:

Adeus, e muito obrigado!

Com a satisfação de haver cumprido o seu programa, O “Sud Mennucci” agradece profundamente todo o apoio recebido durante sua existência, principalmente aos diretores e professores do Estabelecimento; aos assinantes e anunciantes, sem os quais, não transparece dúvida, não poderia sair publicado este jornal.

De um modo geral, a todos aqueles que, seja com uma palavra de encorajamento, seja com um trabalho de colaboração, nos auxiliaram – dizemos: Adeus, e MUITO OBRIGADO!

Luiz de Almeida Mendonça Sebastião de Almeida Mendonça

Joaquim de Almeida Mendonça

Nesta mensagem, os irmãos Mendonça27 se despedem do empreendimento e agradecem a colaboração e apoio dos membros do espaço do Instituto, aos assinantes e anunciantes que, juntos, fizeram com que o jornal tivesse a repercussão necessária para ‘viver’ durante os dois anos de sua duração.

Com um ar de despedida nos textos, aparece novamente na terceira página do mesmo exemplar uma Carta de Despedida, na qual o grupo de alunos explica ao leitor o findar do jornal, qual era o seu dever e fala também sobre a indiferença dos alunos do educandário

27 Interessante notar aqui que, a partir do nono exemplar, aparecem como organizadores e articuladores da feitura

do jornal os três irmãos da família Mendonça. Esta hipótese do protagonismo destes três alunos na ação deste empreendimento será problematizada no terceiro capítulo desta dissertação, com o apoio da entrevista de Luiz de Almeida Mendonça, diretor fundador do jornal escolar.

quanto a seu fim. Num outro ponto, trata das contrariedades que ocorreram para que o jornal viesse a lume:

Caro leitor:

Digamos que este é o último número de “O Sud Mennucci”, afim de que você saiba do que vamos tratar.

Para muitos, a nossa despedida não faz vir à tona o indício daquele estado emotivo que tão bem se apodera dos que partem como dos que ficam. Deixa de circular o jornalzinho, e a maioria dos jovens do educandário da Rua São João é indiferente ao fato. Não faz mal. O “Sud” tem a consciência tranquila. Teve um ideal, lutou por esse ideal e, após mil contrariedades, fechou as portas de sua Redação. Mas não morreu: um ideal nunca morre, mesmo quando frustrado. E agora, leitor amigo, permita-nos dizer-lhe qual a finalidade deste humilde órgão estudantil.

Tudo que nasce tem seu papel a representar no mundo. O “Sud” veio para criar um ambiente novo, desconhecido da quase totalidade das escolas do Brasil, ambiente este com características importantes. Uma delas é oferecer aos estudantes de bom gosto, os que realmente vem a escola para adquirir cultura, oportunidade para exporem suas ideias de maneira a haver um intercâmbio entre eles, desenvolvendo-se uma sólida amizade baseada em princípios de bem, e que não existe senão em grupos de três ou quatro rapazes ou moças. Isso permite aos professores conhecer melhor seus alunos, estreitando-se o laço que une docentes àqueles que lhes foram confiados em missão sublime. E muito mais.

Na carta, os alunos se referem às contrariedades que surgiram durante o tempo em que o jornal circulou. Contrariedades que vinham inclusive dos colegas do educandário. Continuam falando sobre a “finalidade do humilde órgão”, retomando de certa maneira os objetivos que estavam presentes no primeiro exemplar (início do capítulo), que seriam os de promover e criar um ambiente de imprensa dentro do Instituto, onde os alunos tivessem espaço para expor suas ideias por meio de textos publicados no impresso, estabelecendo um intercâmbio entre esses pensamentos, com a intenção maior de promover uma sólida amizade entre os alunos, coisa que, ao fim do empreendimento, o grupo concluiu que não foi possível com todos, visto que continuam a carta expondo que não falaram mais para não criar inimizades. Finalizam o texto lamentando as falhas que ocorreram em alguns exemplares em relação, por exemplo, aos erros de redação e tipografia, terminando da seguinte maneira:

[...] Meditando, quando você chegar aquele ponto que lhe explicará por que meia dúzia de escolares não podem redigir um jornal, sabemos que nos

desculpará pela imperfeição. E ouça: “O Sud” não morreu. Se quiser tirá-lo do sono, use “bastante” gente boa como você.

Neste ponto, foi possível concluir que o jornal durou dois anos, de 1952 a 1954, justamente o período em que esse grupo de alunos permaneceu no Instituto de Educação Sud Mennucci. É perceptível que o grupo tinha a expectativa de que o jornal passasse a ser produzido por outros alunos que permanecessem no educandário. Até aqui, não foi possível verificar se houve continuidade da produção do jornal na escola.

Foi possível constatar também, retomando o primeiro exemplar editado pelos alunos, qual seria a finalidade de criar uma imprensa estudantil dentro do educandário, qual seja, a de criar um espaço, o jornal, no qual os alunos pudessem expor suas ideias. Serviria também para combater o separatismo e o isolacionismo presente na “massa estudantil”. Os alunos verificam, entretanto, ao fim do empreendimento, que não foi possível concretizar este último ideal, a não ser entre o grupo que compunha a produção do jornal. Verifica-se então a presença de conflitos em relação à produção do jornal por parte dos colegas do espaço escolar. Tensões estas que serão expostas mais adiante, ao longo da dissertação.