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memorização da Allemande BWV 1013 de J.S Bach para flauta solo

Ariel da Silva Alves34

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil Leonardo Loureiro Winter

Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil

Resumo: A pesquisa teve como objetivo investigar a utilização de guias de execução como estratégia de

memorização da Allemande BWV 1013 de J. S. Bach para flauta solo. O referencial teórico foi o estudo realizado por Roger Chaffin, Tânia Lisboa, Topher Logan, Kristen T Begosh: Preparing for memorized cello performance: the role of performance cues (2010). A pesquisa foi realizada através de auto-estudo, tendo um dos autores como participante. A coleta de dados foi realizada através de onze (11) sessões de estudo e duas apresentações públicas registradas em áudio e vídeo e através de diários de estudos. Para verificar a eficiência da memorização, a peça foi reescrita após um mês da última apresentação. A respiração do flautista foi utilizada como um dos mais importantes guias estruturais na obra. A utilização de guias de execução contribuiu como estratégia para aumentar o controle e eficiência em uma performance de memória.

Palavras-chave: Memorização, Guias de execução, Flauta, BWV 1013, J. S. Bach.

Abstract: This research aims to investigate the use of performance cues as a strategy to memorize a solo piece

for flute by J. S. Bach (Allemande, BWV 1013). The theoreticalframework was the study developed by Roger Chaffin, Tania Lisboa, Topher Logan and Kristen Begosh: Preparing for memorized cello performance: the role of performance cues (2010). The qualitative survey was developed through self-study. The data were collected through eleven (11) study sessions and two public performances recorded on audio and video and registered on study diaries. To verify the efficiency of the memorization, the piece was rewritten a month after the last

performance. The flutist's breath was used as one of the most important structural guides in the piece. The use of performance cues can contribute as a strategy to enhance control and confidence in a performance by memory.

Keywords: Memorization, Performance Cues, Flute, BWV 1013, J. S. Bach.

A pesquisa teve como objetivo investigar a utilização de guias de execução35 como estratégia para memorização da Allemande BWV 1013 de J. S. Bach para flauta solo. A investigação teve origem a partir da observação de que, diferentemente de pianistas ou violonistas, poucos flautistas costumam utilizar-se da prática de memorização de obras em suas apresentações públicas. Como objetivos específicos a pesquisa procurou investigar características do processo de memorização do flautista, averiguar quais guias de

execução foram utilizados na memorização da obra, bem como comparar o processo de memorização do flautista com pesquisas realizadas em outros instrumentos, levantando semelhanças, diferenças e reflexões sobre possíveis influências da técnica instrumental no processo de memorização.

Como referencial teórico foi escolhido o estudo realizado por Roger Chaffin, Tânia Lisboa, Topher Logan, Kristen T Begosh: Preparing for memorized cello performance: the role of

performance cues (2010). O primeiro movimento (Allemande) da Partita BWV 1013 de Bach

foi escolhida como obra do presente estudo por ser representativa do repertório flautístico. Neste movimento destacamos alguns elementos técnicos e interpretativos que permeiam a execução musical do flautista: o controle respiratório, o planejamento do fraseado, a flexibilidade nas mudanças de registro do instrumento, o controle articulatório e do andamento, a clareza nas progressões harmônicas e polifonia musical, a destreza na

34 Email: ariel.es.alves@gmail.com

35 Conforme Chaffin (2010), Performance cues. Neste trabalho foi adotado o termo em português "Guias de Execução".

digitação, entre outros. Além disso, a semelhança do estudo de Chaffin et alli (2010), a

Allemande BWV 1013 possui estrutura tonal bem definida, o que favorece um melhor

entendimento do processo de memorização através de guias de execução (GEs). A pesquisa, de viés qualitativo, foi realizada através de auto-estudo, tendo um dos autores como participante. A coleta de dados foi realizada através de onze (11) sessões de estudo e duas (2) apresentaçoes públicas que foram registradas em aúdio e vídeo e anotaçoes em diários de estudo. Para verificar a eficiência do processo de memorização, a obra foi reescrita um mês após a última performance.

Guias de execução

Guias de execução são marcos que um músico experiente utiliza para monitorar a execução de uma peça. Essas marcações são feitas através da sinalização das

informações relevantes na partitura, geralmente em cores e diferentes formas, permitindo uma diferenciação e classificação dos guias, bem como o agrupamento de guias

semelhantes. Segundo Chaffin (Chaffin et alli 2012, 240), o conjunto de guias forma um mapa mental que fornece meios de monitorar e controlar a ação rápida e automática das mãos, dando ao músico flexibilidade para se recuperar de erros e se ajustar às demandas idiossincráticas de cada execução. Durante uma apresentação pública, os guias de

execução tornam-se importantes aliados para o músico lidar com as demandas técnicas e emocionais de uma performance.

Com base em estudos realizados com músicos profissionais, Chaffin estabelece quatro categorias principais de guias de execução (GEs): basico, estrutural, interpretativo e expressivo (Chaffin, 1997, 2001, 2002, 2003, 2005, 2006, 2009 e 2010, passim):

● Guias estruturais: representam os limites de seções, subseções, frases, sentenças e períodos, elementos que em conjunto formam um sentido musical. Outro tipo de guia estrutural é chamado de “Switch” (ponto de troca), utilizado para a

recuperação da memória quando um material musical idêntico se repete na peça, porém com alguns pontos divergentes;

● Guias expressivos: representam os vários afetos que definem o caráter da peça. Fornecem outros níveis de organização hierárquica, dividindo a peça em frases expressivas;

● Guias interpretativos: abrangem mudanças de dinâmicas e andamento. Segundo o autor, a maior parte das decisões sobre interpretação e técnica realizadas por músicos são automaticamente implementadas como resultado da prática. No entanto, alguns guias devem ser monitorados durante a execução, para garantir que sejam realizados conforme o planejado (Chaffin 2012, 191);

● Guias básicos: representam aspectos técnicos essenciais para a realização da música como, digitação, dedilhados, coluna de ar e etc. Esses guias podem variar de acordo com o instrumento.

A obra

A Partita em Lá menor para flauta solo, BWV 1013, cujo título original é Solo pour la flûte

traversière, não possui uma data precisa de composição, assim como grande parte das

artigo intitulado “J. S. Bach's Compositions for Solo Flute: A Reconsideration of Their

Authenticity and Chronology”, esta peça foi composta no ano de 1718. Neste período Bach

atuava como mestre de capela em Köthen (1717-1723), onde encontrou ocasião propícia para dedicar-se à música secular de câmara.

A Partita em Lá menor para flauta solo, BWV 1013, é composta por quatro movimentos de danças: Allemande, Courante, Sarabande e Bourrée Angloise. O primeiro movimento da obra (Allemande) é o movimento mais extenso da obra, apresentando fluxo ininterrupto de semicolcheias e polifonia gerada pela mudança de registro, saltos e pedal nas notas graves.

Exemplo 1: Allemande BWV 1013 para flauta solo de J.S. Bach, compassos 1 a 6.

O processo de memorização

A memorização da Allemande se processou através das seguintes etapas: ● Análise harmônica e descritiva-formal do movimento;

● Planejamento das sessões de estudos;

● Onze (11) sessões de estudos privadas, com registro em áudio e vídeo e através diário de estudo;

● Duas (2) apresentações públicas (ensaio aberto e recital avaliativo); ● Reescrita da partitura.

Análise harmônica e descritiva-formal da obra

A análise harmônica e descritiva-formal foi utilizada com o objetivo de compreender as sequencias harmônicas e demarcar limites de seções, períodos e frases na obra, auxiliando o processo de memorização. O motivo inicial em semicolcheias permeia o primeiro

movimento em compasso quaternário e tempo moderado. Em um instrumento melódico, Bach utiliza-se do artifício de sugerir um discurso polifônico através de notas pedais estruturais que sustentam a harmonia, realizando um contraponto com notas ornamentais superiores. Apresentando forma binária (AB), o movimento pode ser representado através da seguinte figura abaixo:

Figura Figura 1: Representação formal da Allemande BWV 1013 de J. S. Bach, forma binária.

As sessões de estudo

O estudo prático da obra foi distribuído através das sessões de estudo. Ao todo foram contabilizadas 11 (onze) sessões de estudo, que transcorreram num período de

aproximadamente 3 (três) meses36, com periodicidade semanal. O tempo de cada sessão de estudo era flexível, variando de acordo com a tarefa a ser realizada: o tempo máximo de duração de uma sessão de estudo foi de aproximadamente uma hora e trinta e seis

minutos (sessão 3) e o mínimo foi de vinte e oito minutos (sessão 11). Nesta etapa foram aplicados os guias de execução durante o estudo e memorização do primeiro movimento da Partita, BWV 1013. Os guias de execução foram marcados na partitura com cores e formas diferentes, conforme recomendado por Chaffin et alli (2010). Esta etapa foi

subdivida em (5) cinco estágios (estudo exploratório, prática integrativa, audição da peça, revisão da técnica e preparação para a performance). A maior parte dos dados coletados se concentrou nesta etapa. Cada sessão foi sistematicamente registrada em áudio e vídeo, com anotações gerais (local de estudo, data, horário inicial e horário final, impressões e estratégias utilizadas), registradas em diário de estudo. Cada estágio do estudo foi representado nos quadros abaixos:

Estudo Exploratório Sessão de

Estudo Objetivos Estratégias de Estudo 1

Identificar as partes principais da obra Marcação dos Guias Estruturais.

- Utilização da análise como ferramenta de apoio para demarcar a estrutura da peça: limites de seções, frases e períodos;

36 De junho à setembro de 2014.

2 Identificar e marcar os guias interpretativos, expressivos e básicos.

- Três execuções da peça com a leitura da partitura identificando os guias marcados; - Realização de exercícios de respiração para expandir a capacidade de armazenamento de ar nos pulmões (controle da coluna do ar)

3

Memorizar a seção (A) e a seção (B) separadamente.

- Executar cada frase três vezes com leitura da partitura e três vezes sem o auxílio da partitura; - Divisão da seção (B) em duas partes, execução de memória do compasso (20-31) e do

compasso (31-47);

- Uso de leitura métrica nos trechos mais complexos da seção (B);

Quadro 1: Estudo exploratório (sessões 1 à 3), objetivos e estratégias utilizadas.

Prática Integrativa Sessão de

Estudo Objetivos Estratégias de Estudo 4

Executar

integralmente o 1° movimento da Partita sem a leitura da partitura.

- Execução integral da peça de memória;

- Utilização dos guias de execução no resgate da peça a partir da memória;

- Estudo de cada seção separadamente; - Estudo da seção (B) dividido em duas partes: Compasso, (20-31) e do compasso (31-46); 5

Executar

integralmente o 1° movimento da Partita sem o auxílio da partitura

-Execução integral da peça de memória

- Utilização dos guias de execução no resgate da peça a partir da memória;

- Executar de memória três sequências corretas de cada frase da seção (B);

Quadro 2: Prática integrativa (sessões 4 e 5), objetivos e estratégias. Revisão da Técnica

Sessão de

Estudo Objetivo Estratégias de Estudo

6

Revisão dos guias de execução marcados.

- Execução de memória da peça;

- Remarcação dos guias de execução na partitura;

- Duas execuções da peça com leitura da partitura observando os guias remarcados; - Execução de memória da peça para encerrar a sessão de estudo;

7

Explorar cada guia separadamente.

- Estudo de cada seção da peça separadamente; - Utilização da partitura;

- Estudo dividindo as seções em duas partes; Quadro 3: Revisão da técnica (sessões 6 e 7), objetivos e estratégias.

Preparação para Performance Sessão de

Estudo Objetivos Estratégias de Estudo

8

Enfatizar os guias expressivos e interpretativos.

- Tocar pensando apenas no guia que estiver executando para diminuir o nível de ansiedade; -Separar os trechos mais complexos;

-Estudo dos guias expressivos marcados na peça;

-Estudo dos guias interpretativos marcados na peça;

- Execução de memória enfatizando guias expressivos e interpretativos;

-Revisão de trechos problemáticos com o auxílio da partitura;

- Execução integral da peça sem o auxílio da partitura; 9 Executar a peça de memória o mais próximo da performance pretendida.

- Estudo intensivo na seção (B);

- Trabalho separado com cada frase da seção (B);

- Repetição de memória de trechos complexos da seção(B);

- Marcação de Guias Básicos nos compassos (20 e 25);

- Três execuções sucessivas da peça para identificar problemas recorrentes;

10 Solucionar problemas recorrentes em alguns trechos da peça.

- Enumerada cada respiração da peça e estudo de cada trecho separadamente;

- Estudo dos trechos da peça alternando leitura da partitura e sem partitura;

- Execução de memória de cada trecho da peça três vezes sem falhas;

- Execução completa da peça sem o auxílio da partitura;

11

Identificar trechos problemáticos.

- Três execuções sucessivas da peça completa para identificar erros recorrentes;

- Estudo concentrado em compassos específicos: compassos, 8, 11 e 20 ;

Quadro 4: Preparação para performance (sessões 8, 9, 10 e 11), objetivos e estratégias.

As apresentações públicas

As apresentações públicas37 foram relevantes para a pesquisa, tendo função de verificar o desenvolvimento do processo de aprendizagem e memorização em uma situação de

performance pública e na extração de dados para análise. A reescrita da partitura

37 Durante o estudo foram realizadas duas apresentações públicas nas quais a peça foi executada de memória: uma no dia 9 de setembro de 2014 (em formato de ensaio aberto), e outra no dia 18 de setembro de 2014 (no segundo recital avaliativo de mestrado, com presença de banca avaliadora). As apresentações foram realizadas no Auditório Tasso Correia do Instituto de Artes da UFRGS.

A reescrita da partitura de memória é um procedimento proposto por Chaffin (2010) em suas pesquisas sobre memorização. O autor ainda sugere que este procedimento seja efetivado após passado um período sem contato com a peça. Nesta pesquisa a reescrita da partitura foi realizada no dia 21 de setembro de 2014, aproximadamente um mês após o recital avaliativo. Esse procedimento tem por objetivo avaliar a eficácia do método utilizado no processo de memorização - utilização dos guias de execução - e verificar a capacidade de retenção do conteúdo musical armazenado na memória.

4. Resultados

A marcação de guias de execução na partitura foi realizada durante o estudo exploratório nas sessões (1-2) e durante a revisão da técnica nas sessões (6-7). Algumas das

marcações ocorreram em sessões isoladas, como é o caso de alguns guias interpretativos e guias básicos. Os guias básicos foram grafados na partitura na sessão (9). Ao final do estudo foram contabilizados sessenta e nove (69) guias de execução marcados na

partitura. O gráfico a seguir mostra a quantidade de marcações para cada tipo de guia de execução na peça:

Gráfico 1: Guias de execução utilizados na Allemande BWV 1013 de Bach

Os guias estruturais foram os mais sinalizados durante o estudo, correspondendo a 33% das marcações na partitura. Este tipo de marcação está relacionada à aspectos como limites de seções, subseções, períodos e frases.

Os aspectos assinalados na obra como guias estruturais foram: os limites de cada seção (início e fim de cada parte da obra) e as respirações (a delimitação de cada frase). A aplicação dos guias estruturais neste estudo contou ainda com a enumeração das respirações em cada trecho.

Exemplo 2: Marcação de guia estrutural, compasso 9

A enumeração de cada respiração agiu de duas formas neste estudo: permitiu organizar ou estruturar a peça em vinte e um (21) trechos e atuaram como coordenadas de um mapa, permitindo uma localização precisa dentro da peça. A marcação das respirações como guias estruturais foi fundamental para condução da peça de memória.

Os guias expressivos representaram 29% das marcações realizadas na partitura. As marcações de natureza expressiva correspondem a aspectos relacionados ao caráter da peça, a afetos e representações extra-musicais. Estas marcações representam o que o interprete pretende comunicar à plateia durante a performance.

Exemplo 3: Marcação de guia expressivo, compasso 20

Os guias interpretativos corresponderam a 25% das marcações realizadas na partitura. Essas marcações correspondem às dinâmicas (forte, piano, crescendo, decrescendo, dentre outras) anotadas na peça.

Exemplo 4: Marcação de guia interpretativo, compasso 7.

Destacamos que a peça não possui nenhum tipo de marcação de dinâmica definida pelo compositor: as marcações de dinâmicas foram realizadas pelo intérprete. À medida que o estudo se desenvolvia, novas possibilidades interpretativas eram utilizadas. Para este tipo de marcação, além das ideias interpretativas pré-concebidas, adotamos como referência gravações realizadas por diferentes intérpretes e que foram analisadas durante o estágio de audição da obra. Outro fator determinante para as escolhas interpretativas da obra foi a execução da peça em sala de aula seguida de discussão sobre diversos aspectos da execução.

Os guia básicos representaram 13% das marcações realizadas na peça. Diferentemente dos outros guias marcados, os guias básicos surgiram apenas nas ultimas sessões de estudo. Estes guias corresponderam a problemas técnicos (foco da nota, posição dos lábios, dedilhados) identificados durante a execução da peça.

Exemplo 5: Marcação de guia básico, compasso 20

De maneira sintética apresentamos um quadro geral da distribuição dos guias de execução em cada trecho da peça, dividido por seção. A seção (A) compõe trechos de um a nove e a seção (B) trechos de dez a vinte e um. Cada trecho inicia e finaliza nos compassos

descritos no quadro, em seguida, são apresentados no quadro os guias de execução que atuaram em cada trecho da peça.

Seção A

Trecho Compasso Guia estrutural Guia expressivo Guia interpretativo Guia básico

1 1-5 X X X 2 5-7 X X X 3 7-9 X X X 4 9-12 X X X 5 12-14 X X 6 14-16 X X 7 16-17 X X 8 17-19 X X X 9 19-20 X X X Seção B

Trecho Compassos Guia estrutural Guia expressivo Guia interpretativo Guia básico

10 20-23 X X X 11 23-25 X X X X 12 25-28 X X X 13 28-31 X X 14 31-33 X X 15 33-35 X X X 16 35-37 X x 17 37-39 X X (x) 18 39-41 X X 19 41-43 X X X x 20 43-45 X X x 21 45-46 X X X

Quadro 6: Quadro geral de guias de execução na peça

Analisando o quadro acima observamos que os guias de execução estruturais e

expressivos tiveram um papel preponderante na execução memorizada da peça: no nível estrutural, a peça era conduzida através dos pontos de respiração marcados na partitura; no nível expressivo, a peça era conduzida por frases expressivas ou até mesmo por uma

seção expressiva. Quando necessário, os guias interpretativos e básicos eram utilizados, seja para enfatizar uma determinada dinâmica (guia interpretativo), ou para manter a atenção em um trecho de difícil execução (guia básico).

Os recursos utilizados na recuperação da peça durante a reescrita38 foram a entonação das notas através do solfejo e a simulação da digitação das notas sem o instrumento. Esses recursos auxiliaram principalmente no resgate de trechos mais complexos da obra.

Conclusão

O aplicação dos guias de execução estabelecido por Chaffin contribui de maneira significativa no processo de memorização da música, auxiliando na categorização e organização mental das informações. Além disso os guias possibilitaram a automatização e o resgate rápido do conteúdo memorizado durante a execução da peça em público (ensaio aberto e recital avaliativo).

O movimento escolhido teve o predomínio de marcações de guias estruturais (23), seguido de marcações de guias expressivos (20). Os guias estruturais e expressivos foram

importantes para garantir estabilidade na condução da execução da peça: em caso de lapso de memória havia a certeza de que a música seguiria a partir de outro ponto estrutural sem interromper o fluxo musical. Os guias expressivos permitiram a

comunicação com o público através dos aspectos expressivo sinalizados na música. Nos instrumentos de sopros e, principalmente na flauta, o controle respiratório

desempenha um papel fundamental na produção do som e na realização de aspectos técnicos-interpretativos durante a performance. Em situações de performance pública os efeitos emocionais afetam diretamente o sistema respiratório, causando o descontrole da respiração e aumentando o nível de ansiedade durante a execução. Como suporte para o controle da execução musical, cada respiração da peça foi enumerada, atuando como coordenada de um mapa estrutural da peça para o intérprete. Esta marcação permitiu a localização precisa de cada trecho da peça durante a execução.

A aplicação de estratégias eficazes no controle e automatização das sequências foi fundamental para uma execução de memória de excelência. Os guias de execução permitiram a recuperação das informaçoes estabelecidas durante o estudo de maneira mais eficaz do que pela simples repetição musical.

Referências

Chaffin, Roger. 2012. “Estratégias de Recuperação Da Memória Na Execução Musical: Aprendendo Clair de Lune.” Em Pauta, n° 20 (34/35): 187–221.

Chaffin, Roger, Topher R Logan, and Kristen T Begosh. 2012. “A Memória E a Execução Musical.” Em Pauta, n° 20 (35/36): 223–244.

Chaffin, R., T. Lisboa, T. Logan, and K. T. Begosh. 2010. “Preparing for Memorized Cello

38 A partir da análise das dificuldades apresentadas durante a reescrita da partitura de memória acreditamos que o conteúdo armazenado na memória (de longo prazo) tenha sido o conteúdo da execução da peça e não o conteúdo estritamente escrito na partitura. Esta atividade se mostrou bastante desafiadora, visto que não é uma prática comum o interprete reescrever a obra de memória, e por termos pouca experiência com esse tipo de atividade encontramos algumas dificuldades.

Performance: The Role of Performance Cues.” Psychology of Music, n° 38 (1): 3–30.

Marshall, Robert L. 1979. “J. S. Bach’s Compositions for Solo Flute: A Reconsideration of Their Authenticity and Chronology.” Journal of the American Musicological Society, n° 32 (3): 463–