• Nenhum resultado encontrado

ETAPA I Área técnica

PROBLEMA TECNOLÓGICO

2.5 MENSURAÇÃO DO SISTEMA INOVATIVO

Diante do interesse da política pública em promover a atividade inovativa, estimular o crescimento econômico e a empregabilidade há, claramente, uma crescente necessidade de mensurar e avaliar a mudança tecnológica para disseminar o conhecimento sobre as forças motrizes e as consequências socioeconômicas da inovação (KLEINKNECHT et al., 2002).

Assim como a pesquisa, a inovação, caracteriza-se por ser um processo dinâmico e multidimensional, contextualizado em termos de ideias, aprendizagem, criação de conhecimento, ou em relação a competências e capacidades, sendo, algumas vezes, sugerido como inerentemente impossível de quantificar e mensurar, embora, para alguns aspectos, suas características gerais não excluam a medição das dimensões-chave dos processos e outputs (SMITH, 2005).

Mensurar a mudança tecnológica envolve, tipicamente, um dos três principais aspectos: (1) mensurar uma variável de entrada, tal como as despesas com P&D; (2) uma variável de saída intermediária - número de invenções patenteadas; ou, (3) uma variável direta de saída - novos produtos (ACS et al., 2002).

Outros autores (ARCHIBUGI; PIANTA, 1996) sugerem que a inovação pode ser analisada, classificada e mensurada por meio de várias perspectivas como: (1) quanto à tecnologia – características técnicas da inovação; (2) quanto ao produto – natureza do produto em que a inovação é provável de ser incorporada; (3) quanto ao setor de produção – principal atividade econômica da empresa que gerou a inovação; e, (4) quanto ao setor de uso – principal atividade econômica dos usuários da inovação.

Geralmente, a quantificação do desempenho inovativo é apresentada por um processo que se configura ao modelo de input-transformação-output, no qual a combinação de fatores produtivos de entrada resulta em saídas inovativas (ROGERS, 1998; SMITH, 2005; ALMEIDA, 2010).

Guan e Chen (2010) propõem uma perspectiva mais ampla para mensurar a inovação, incorporando tanto medidas relacionadas ao processo inovativo global quanto aos subprocessos internos, caracterizados pelos processos de P&D à montante e de comercialização à jusante. Esses autores consideram que inputs originais, acarretam em

outputs intermediários que geram os resultados finais. A execução desse processo de

transformação é apoiada por atividades primárias – pesquisa, desenvolvimento e testes – destinados à produção dos outputs intermediários e, atividades secundárias – marketing, manufatura e engenharia – empreendidas no subprocesso de comercialização.

Normalmente, os indicadores de entrada e saída diretamente relevantes para mensuração da inovação envolvem os recursos destinados à P&D e estatísticas de patentes, respectivamente (BASBERG, 1987; ANCHIBUGI; PIANTA, 1996; SMITH, 2005; OCDE, 2005). Apesar da relevância, foi verificada a existência de algumas desvantagens, diante da aplicabilidade desses indicadores, que podem sub- ou sobreestimar o desempenho inovativo das empresas (KLEINKNECHT et al., 2002).

Em primeiro lugar, as medições de despesas com P&D não mostram a eficiência do processo pelo qual os insumos são transformados em outputs intermediários ou em produtos inovadores. Além disso, não expõem a importância quantitativa ou econômica das inovações produzidas, nem indicam o nível de complexidade tecnológica dos produtos resultantes (COOMBS et al., 1996).

As estatísticas de patentes, mesmo estando disponíveis ao público em grandes números e a baixo custo (ANCHIBUGI; PIANTA, 1996), não são bons indicadores do valor econômico (ACS et al., 2002), já que uma proporção de patentes nunca será traduzida em produtos/processos comercialmente viáveis (BASBERG, 1987; COOMBS et al., 1996; ROGERS, 1998); algumas invenções e inovações não são patenteáveis (OCDE, 2005); estrategicamente, algumas empresas não comercializam a patente, para impedir que um concorrente não possa patentear e usá-la (KLEINKNECHT et al., 2002); e, finalmente, as empresas em setores de alta oportunidade tecnológica tendem a uma maior propensão à apropriação da inovação por meio de patentes do que empresas em setores de baixa oportunidade tecnológica (KLEINKNECHT et al., 2002; HAGEDOORN et al., 2003).

Por meio de uma analogia ao Diagrama de Venn, Basberg (1987) e Hagedoorn et al. (2003) resumiram algumas dessas implicações sugerindo que existe um grande grupo caracterizado como invenções, das quais uma parcela está em uso, mas não foi patenteada – subgrupo das inovações; outra parcela, foi patenteada, mas não está em uso - subgrupo das patentes; uma parcela menos representativa foi patenteada e está em uso - interseção entre os subgrupos das inovações e patentes; e, a maior parcela dessas invenções continua somente no campo da ideia - área restante do conjunto. A representação gráfica dessa ideia está ilustrada na Figura 2.2.

Ressalta-se, ainda, que os indicadores de patentes e despesas com P&D tendem a subestimar ainda mais a taxa de inovação no panorama das micro e pequenas empresas em estágio inicial de desenvolvimento (KLEINKNECHT et al., 2002; FLOR; OLTRA, 2004), nas quais a presença de diferentes barreiras, a falta de padronização e formalização da

estrutura organizacional, muitas vezes, limita as atividades durante o processo de desenvolvimento inovativo.

Em pesquisa realizada nas Start-Ups de alta tecnologia japonesas, Koga (2005) confirma esse fato, considerando que empresas em estágios iniciais de desenvolvimento, nomeadas de “recém-nascidas”, possuem restrições orçamentárias, não são tão propensas a receber subsídios e, mesmo que, obtendo fundos de fontes externas, não apresentam forte incentivo para a realização adicional de P&D, podendo, assim, ser incentivada a utilizar esses fundos para outros fins. Em contrapartida, as empresas em fase de crescimento, denominadas como “empresas jovens”, têm forte demanda por fundos para P&D, isso porque, atividades de pesquisa e desenvolvimento são reconhecidas como fonte de vantagem competitiva e, portanto, de crescimento.

Figura 2.2 – Generalização da relação entre patentes, invenção e inovação

Fonte: Basberg (1987, p. 133). Ver também Hagedoorn et al. (2003, p. 1367).

Diante dos problemas existentes e com o uso desses indicadores tradicionais, muitos pesquisadores estão sugerindo a utilização de indicadores múltiplos (EVANGELISTA et al., 2001; HAGEDOORN et al., 2003; FLOR; OLTRA, 2004; GUAN; CHEN, 2010) para quantificar o desempenho tecnológico, uma vez que esses indicadores vêm a atender a ambientes dinâmicos e mais complexos.

Nesses ambientes, como nos tradicionais, os processos estão transformando, normalmente, inputs, incluindo as ações, métodos e operações, em outputs. Porém, especialmente, durante os estágios de crescimento da inovação, devido a fatores como complexidade, incerteza e falta de linearidade, uma variedade maior de processos ocorre,

INVENÇÃO

INOVAÇÃO PATENTE

Invenções patenteadas que não

estão em uso.

Invenções que não estão em uso.

Invenções em uso.

Invenções patenteadas em uso.

resultando em uma multiplicidade de interações e, portanto, na existência de inputs e outputs intermediários. Essa rede complexa de processos interconectados é ilustrada na Figura 2.3, em que cada processo corresponde a uma parte de um processo maior.

Figura 2.3 - Rede complexa de processos interconectados

Fonte: Elaborada própria.

Para mensurar esse sistema dinâmico, serão necessários, além de considerar, múltiplos indicadores, fragmentá-los de acordo com os diferentes estágios que constituem o modelo de crescimento de uma inovação. Lev (2001) propõe que a inovação envolva, tipicamente, três estágios interconectados: (1) estágio de aprendizagem e descoberta – centraliza na geração e aquisição de conhecimentos e habilidade (fase de pesquisa); (2) estágio de implementação – evidencia a viabilidade técnica (fase de desenvolvimento) e, (3) estágio de comercialização – promove a difusão do produto e facilita o retorno financeiro e econômico. Corroborando com as ideias desse autor, Guan e Chen (2010) avaliam o processo global de inovação como a interação dos subprocessos de P&D (à montante) e comercialização (à jusante), ambos envolvidos, respectivamente, com atividades de apoio primárias e secundárias.

Respaldada pelos trabalhos de Lev (2001), Evangelista et al. (2001), Hagedoorn et al. (2003), Auerswald e Branscomb (2003), Flor e Oltra (2004), Milbergs e Vonortas (2004) e Guan e Chen (2010), a Figura 2.4 apresenta um quadro conceitual envolvendo os estágios de transformação, as atividades de apoio e indicadores de entrada e saída, com a finalidade de elucidar o inter-relacionamento entre as partes envolvidas no sistema, quando o propósito for mensurar um processo típico de produção de uma inovação.

OUTPUT