• Nenhum resultado encontrado

ETAPA I Área técnica

PROBLEMA TECNOLÓGICO

2.3 TIPOLOGIAS DA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA

As tipologias utilizadas para identificar e classificar as inovações tecnológicas têm sido apresentadas como radicais, incrementais, contínuas, descontínuas, evolucionárias e revolucionárias, bem como arquiteturais, modulares, regulares e sistemáticas (GARCIA et al., 2002). Nesse contexto, as tipologias das inovações apresentam diferentes critérios de

classificação levando em consideração o tipo e o nível (baixo, moderado, alto) de inovatividade5 da mudança tecnológica resultante do processo de inovação.

Por outro lado, devido à diversidade de tipologias sugeridas em estudos empíricos diversos, tem-se observado a falta de uma delimitação consistente para identificar e classificar as inovações, uma vez que muitas tipologias apresentam similaridades entre seus conceitos (GREEN et al., 1995; HENDERSON et al., 1990; CHANDY et al., 2000; GARCIA et al., 2002).

A natureza interativa das inovações resulta em uma variedade de diferentes tipos de inovação, geralmente descrita em duas classificações distintas: (1) inovações radicais, para produtos em fase inicial de difusão e adoção; e, (2) inovações incrementais, para produtos em fase avançado do ciclo de vida. Desde o trabalho de Schumpeter (1934), diferentes tipologias têm sido classificadas como procedimentos radicais ou incrementais.

Para Utterback (1996, p. 200), uma inovação radical é aquela que reúne grande parte dos investimentos existentes de uma empresa em habilidades e conhecimentos técnicos, projetos, técnicas de produção, instalações e equipamentos. Além disso, têm-se definido como radicais as inovações que incorporam uma nova tecnologia, resultando em uma nova infraestrutura de mercado (SONG; MONTOYA-WEISS, 1998) ou como catalisadores para o surgimento de novos mercados e/ou novas indústrias (GARCIA et al., 2002). Os produtos radicais, com frequência, apresentam forte propensão ao risco (MORE, 1982), devido à necessidade de grandes montantes de capital para promover o processo de desenvolvimento radical e à incerteza atrelada à demanda de mercado, visto que os produtos seriam tão novos que o mercado não teria qualquer conhecimento anterior sobre eles e, consequentemente, nenhum meio de avaliá-los (FREEMAN, 1984).

As inovações incrementais, contudo, fornecem novos recursos, benefícios ou melhorias para tecnologias existentes em um mercado existente (GARCIA et al., 2002). Nesse sentido, uma mudança incremental “envolve a adaptação, refinamento e aperfeiçoamento de produtos, métodos de produção ou distribuição existentes” (SONG; MONTOYA-WEISS, 1998, p. 126). Segundo Johne e Snelson (1988), essas inovações são importantes por dois principais motivos: (1) como uma maneira de obter vantagem competitiva em um mercado tecnologicamente maduro; e, (2) porque, procedimentos simplificados baseados em tecnologias existentes, podem ajudar a alertar um negócio sobre as ameaças e oportunidades associadas à mudança para um novo patamar tecnológico.

Adicionalmente, as inovações incrementais não requerem conhecimento tecnológico ou de mercado para a realização de novos produtos. Ou seja, as mudanças ocorrem somente no nível micro, causando descontinuidades tecnológicas ou alterações profundas no

marketing. Enquanto isso, as inovações radicais possuem bases de conhecimento técnico ou

sobre o mercado existente superficiais, implicando descontinuidades tecnológicas e de

marketing, nos níveis macro e micro (GARCIA et al., 2002).

Com o propósito de sistematizar esta temática, Garcia e Calantone (2002) categorizaram diferentes tipologias, sugeridas com base em estudos empíricos diversos, em cinco grandes grupos – dicotômica, tricotômica, tetracotômica, penta e octo -, os quais se diferenciam pela quantidade de categorizações utilizadas para descrever o tipo e o grau de inovatividade da mudança técnica resultante do processo inovativo, conforme o Quadro 2.2.

Sobre as tipologias da inovação, Rothwell e Gardiner (1988) enfatizaram a dicotomia das ‘inovações’ e ‘reinovações’. Assim sendo, para esses autores, as inovações são invenções radicalmente novas, estabelecendo marcos em novos produtos, tais como, criando outras indústrias. Já as ‘reinovações’ podem resultar de uma tecnologia existente, aprimorando o design de produtos existentes (incremental), ou uma nova tecnologia, melhorando os produtos existentes (geracional), ou uma tecnologia existente, criando novos produtos (novas marcas de produtos), ou materiais reformulados, aperfeiçoando os produtos existentes (melhorias), ou novas tecnologias, modernizando subsistemas de produtos existentes (pequenos detalhes).

Em uma dimensão mais ampla, Abernathy e Clark (1985) avaliam as inovações em quatro diferentes categorias, correlacionando a competência tecnológica aos ambientes de mercado. Inicialmente, as inovações são caracterizadas pela ‘criação de nichos’, em que uma tecnologia existente, estável e bem especificada, é refinada, melhorada ou alterada para suportar uma nova posição de mercado. Em seguida, como inovações ‘arquiteturais’, moldando as ligações entre os novos mercados e as novas tecnologias por meio da criação de novas indústrias ou o aprimoramento das existentes. Por conseguinte, em inovações ‘regulares’, as quais se constroem sob técnicas e práticas de produção estabelecidas, visando mercados e clientes existentes. E, finalmente, por ‘revolucionárias’, que descontinuam e tornam obsoletas as técnicas e práticas de produção, embora continuem a vislumbrar mercados e consumidores existentes.

Quadro 2.2 – Tipologias da inovação tecnológica

CATEGORIZAÇÃO DA

TIPOLOGIA TIPOLOGIA AUTORES

Dicotômica (duas categorizações)

descontínua / contínua Robertson (1967); Anderson e Tushman (1990).

instrumental / final Grossman (1970). variações / reorientações Normann (1971).

autêntica / adoção Maidique e Zirger (1984). original / reformulada Yoon e Lilien (1985). inovações / reinovações Rothwell e Gardiner (1988). radical / rotina Meyers e Tucker (1989). evolucionária / revolucionária Utterback (1996). sustentável / disruptiva Christensen (1997).

realmente novo / incremental Schmidt e Calantone (1998); Song e Montoya-Weiss.

ruptura / incremental Rice et al. (1998)

radical / incremental Balachandra e Friar (1997); Freeman (1994); Atuahene-Gima (1995); Kessler e Chakrabarti (1999); Lee e Na (1994); Schumpeter (1934); Stobaugh (1988). Tricotômica (três categorizações)

baixa inovatividade / moderada

inovatividade / alta inovatividade Kleinschmidt e Cooper (1991). incremental / nova geração /

radicalmente novo Wheelwright e Clark (1992).

Tetracotômica (quatro categorizações)

incremental / modular / arquitetural

/ radical Henderson e Clark (1990). criação de nicho / arquitetural /

regular / revolucionária Abernathy e Clark (1985). incremental / mercadologicamente

evolucionária/ tecnologicamente evolucionária / radical

Moriarty e Kosnik (1990). incremental / avanços de mercado /

avanços tecnológicos / radical Chandy e Tellis (2000). incremental / arquitetural / fusão /

ruptura Tidd (1995).

Penta (cinco categorizações) sistemática / maior / menor /

incremental / não registrado Freeman (1994).

Octo (oito categorizações)

reformuladas / novas partes / remerchandising / novas melhorias / novos produtos / novos usuários / novos mercados / novos clientes

Johnson e Jones (1957).

Fonte: Garcia e Calantone (2002, p. 117).

Dando continuidade, Garcia e Calantone (2002) apontaram três categorias para descrever as inovações de produto: (1) incremental; (2) realmente nova; e, (3) radical. A classe “realmente nova” compreende uma fase intermediária entre a inovação incremental e radical. Segundo esses autores, uma inovação “realmente nova” compreende um produto moderadamente inovador. Isso implica que uma inovação “realmente nova” acontece tanto no nível macro quanto no nível micro. No nível macro ocasiona uma descontinuidade

tecnológica ou uma descontinuidade de mercado, mas não ambas. Se ambas ocorrem, a inovação deve ser classificada como radical e, se não houver descontinuidade, a inovação é considerada incremental. Enquanto isso, no nível micro, qualquer combinação entre descontinuidades tecnológicas e de mercado pode ocorrer na firma (GARCIA et al., 2002).

Em outro ponto de vista, Kleinschmidt e Cooper (1991) propuseram uma distinção entre os graus de inovatividade, subdividindo-os em: (a) alto nível inovativo – incluem inovações novas para o mundo, empresa e mercado; (b) moderado nível inovativo - consistem em linhas menos inovadoras para a empresa e em inovações para uma linha de produtos ou processos existente; e, (c) baixo nível inovativo – incluem inovações baseadas em pequenas modificações, reduções de custo e reposicionamento.

Em síntese, as tipologias das inovações auxiliam as empresas na formulação das estratégias, uma vez que permitem identificar e classificar o tipo e grau de inovatividade das mudanças técnicas resultantes do processo de inovação, interligando, assim, as necessidades tecnológicas e de mercado às competências organizacionais.