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ETAPA I Área técnica

PROBLEMA TECNOLÓGICO

2.4 SISTEMAS DE INOVAÇÃO

O processo inovativo resulta de um conjunto de atores (indivíduos, empresas e outras instituições de conhecimento) inter-relacionados capazes de gerar, difundir e utilizar tecnologias (artefatos físicos, know-how técnico) que possuem valor econômico (CARLSSON

et al., 2002) em diferentes esferas.

Nesse sentido, a inovação - resultado de interações entre agentes diversos (universidades, centros de pesquisa, empresas, clientes, fornecedores) - passa a ser analisada de forma sistêmica e por meio de uma compreensão holística de como a informação circula em múltiplas direções, interativamente, formando uma perspectiva variável na dinâmica do sistema (COOKE et al., 1997).

Edquist (2005, p. 182) define os sistemas de inovação como os determinantes do processo de inovação, ou seja, todos os importantes fatores econômicos, sociais, políticos, organizacionais, institucionais e outros que influenciam o desenvolvimento, a difusão e o uso de novas tecnologias e/ou novos produtos.

Os sistemas de inovação podem ser visualizados em várias dimensões. Em alguns casos, dependendo do contexto, o foco particular é o país ou região; em outros, o setor ou tecnologia. Dessa forma, é possível avaliar os sistemas em níveis: nacional (FREEMAN, 2002); regional (COOKE et al., 1997); setorial (MALERBA, 2002); tecnológicos

(CARLSSON et al., 2002); e, por fim, o agrupamento de empresas em forma de clusters de inovação (ENGEL et al., 2009).

Em nível nacional, essa perspectiva sistêmica da inovação é representada, segundo Freeman (2002), em duas diferentes abordagens: “estreita” e “ampla”. A abordagem estreita se concentra nas instituições que deliberadamente promovem a aquisição e disseminação do conhecimento, sendo as principais fontes de inovação. Já a abordagem ampla, reconhece que essas instituições são incorporadas em um sistema socioeconômico muito mais amplo, no qual influências políticas e culturais ajudam a determinar a escala, a direção, e o sucesso relativo de todas as atividades inovadoras.

Cooke et al. (1997) observaram que a abordagem de Freeman (2002) poderia ser complementada de forma importante por um foco subnacional. Uma melhor configuração para esse foco seriam os sistemas regionais de inovação, os quais, analogamente aos sistemas nacionais, são avaliados por meio de dois aspectos: (a) regionalização - relacionando a região a sua capacidade de competência (jurisdição), valorizando o seu grau de autonomia para desenvolver políticas e gerenciar os diferentes elementos que compõem o sistema regional, além da capacidade de financiamento para investimentos estratégicos em infraestruturas absolutamente necessárias para o desenvolvimento de processos de inovação; e, (b) regionalismo - relacionado com a base cultural da região que fornece certo nível de potencial sistêmico.

Os sistemas setoriais complementam os conceitos anteriores, tendo como propósito, representar um conjunto de produtos, novos e estabelecidos, para usos específicos e um conjunto de agentes realizando interações mercantis e não-mercantis para a criação, produção e venda desses produtos (MALERBA, 2002). Carlsson et al. (2002) apresentam os sistemas setoriais, baseados na ideia de que diferentes setores ou indústrias operam sob diferentes regimes tecnológicos caracterizados por uma combinação particular de oportunidades e condições de apropriabilidade, graus de cumulatividade do conhecimento tecnológico, e por características relevantes desse conhecimento. Em termos mais amplos, pode-se dizer que um sistema setorial é resultado coletivo da interação e coevolução dos vários elementos envolvidos (MALERBA, 2002). Com base nessas definições, percebe-se que os sistemas setoriais possuem uma base de conhecimento, uma demanda tecnológica e inputs definidos.

Em um quarto nível, a literatura mais recente apresenta os sistemas tecnológicos, definidos como uma rede de agentes interagindo em uma tecnologia específica sob uma infraestrutura institucional particular e envolvendo a geração, difusão e utilização da tecnologia (CARLSSON; STANKIEWICZ, 1991). Esses sistemas possuem interações de

mercado e não-mercantis em três tipos de redes: relacionamentos entre comprador/fornecedor, resolução de problemas em redes e a formação de redes informais (CARLSSON et al., 2002). Existem muitos sistemas tecnológicos, podendo fazer sentido mencionar sistemas tecnológicos regionais ou locais, ou em casos mais extremos, em sistemas tecnológicos internacionais ou globais (CARLSSON; STANKIEWICZ, 1991).

Para uma última análise dos sistemas de inovação, observou-se o surgimento de um novo padrão para a inovação e comercialização, o qual é visualizado na forma de clusters. Os estudos sobre clusters foram amplamente discutidos por Porter (1990), que os define como concentrações geográficas de uma massa crítica de instituições e companhias (incluem fornecedores, prestadores de serviço, universidades, associações de negócio) interligadas em um campo particular compartilhando vantagens por meio da agregação de expertise e recursos especializados.

Engel et al. (2009), baseados em um estudo de práticas de clusterização no Vale do Silício, tentaram explicar que os clusters de inovação não são somente puras aglomerações de empresas com um foco industrial comum. Para esses autores, o Vale do Silício é mais que uma aglomeração de empresas que se beneficiam por estarem próximas umas das outras, mas sim, compreende um ambiente favorável à criação e ao desenvolvimento de ventures empresariais de alto potencial. Esse ambiente é caracterizado, principalmente, por: (1) mobilidade de recursos intra- e inter-firmas; (2) novas empresas criando mecanismos tão rápidos e frequentes para a inovação; (3) comercialização de tecnologias; (4) experimentação de modelos de negócios; (5) desenvolvimento de um novo mercado; (6) perspectiva estratégica global inicial; e, (7) alinhamento entre incentivos e metas.

Os sistemas de inovação, em todas as dimensões, contribuem para uma análise descritiva do funcionamento, da dinâmica, da transformação durante o processo de desenvolvimento de uma inovação, dos fatores que afetam o desempenho e da competitividade das empresas. Ademais, são relevantes fontes para o desenvolvimento de propostas de políticas públicas. Mowery e Nelson (1999) afirmam que a competitividade dos países está relacionada à presença de empresas eficientes, interagindo com outras empresas e com avançadas organizações não-empresariais (centros de pesquisa, fundações governamentais) e instituições de ensino, formando, assim, um arranjo institucional entre universidade, indústria e governo, envolvidos por meio de redes de comunicação de dinâmica complexa, que, com a evolução dos sistemas de inovação, passou a ser denominado tríplice hélice (ETZKOWITZ; LEYDESDORFF, 2000).