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5 METODOLOGIA E ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa foi realizada com uma turma de 2º período, com 18 crianças, com idade entre cinco e seis anos, em uma instituição pública de Educação Infantil do Distrito Federal. Ressaltamos que todos os procedimentos de pesquisa foram seguidos, como a assinatura de termo de consentimento livre e de esclarecido pelos responsáveis das crianças. Todos os nomes citados neste artigo são fictícios. O CEI é uma escola pública do Distrito Federal e atende crianças de 3 meses a 6 anos. As crianças atendidas na escola são, em sua maioria, provenientes de família de baixa renda. A instituição oferece à comunidade Educação Precoce, Educação Infantil, Educação Especial e Ensino Fundamental. Atende a aproximadamente 670 crianças e foi projetada para receber os alunos da Educação Infantil, tendo um espaço amplo e seguro para que o trabalho seja desenvolvido de maneira satisfatória. Sua estrutura física conta com um palco de alvenaria para as diversas apresentações teatrais, que são oferecidas às crianças, e, também, para as apresentações feitas por elas.

A atividade empírica foi realizada com a observação participante, no período de fevereiro a maio de 2016, nos diversos momentos da rotina vivenciada pela classe, tais como: acolhida no pátio, rodas de conversa em sala

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de aula, lanche, parque, brincadeiras em sala e na quadra, momentos de higiene, realização de atividades de registro, momentos de leitura e contação de histórias e saída para casa.

Conforme Vieira (2015), as dinâmicas conversacionais, realizadas durante o processo empírico, contribuem para o conhecimento da experiência pessoal, da vivência e da opinião dos participantes da pesquisa. Esses diálogos, que são realizados informalmente, oferecem preciosas contribuições para a construção da informação ao longo da pesquisa, pois não apresentam um caráter diretivo, como outros instrumentos.

Foram elaboradas sequências didáticas relativas à contação de histórias, na qual foram colocadas em prática aprendizagens adquiridas no curso de Pedagogia, tais como: buscar, por meio do diálogo, informações acerca do cotidiano dos alunos, dando voz para que possam participar; e expor suas opiniões e seus entendimentos sobre o que está sendo falado, o que proporcionará uma aprendizagem relacionada com a vida.

Neste trabalho, constam, para análise dos dados, duas sequências didáticas. Essas sequências foram escolhidas a partir do cotidiano dos alunos, por serem histórias que trazem, de maneira lúdica, informações sobre alimentação saudável e colaboração, e porque demonstram, em outras sequências didáticas, bons resultados com o trabalho com a contação de histórias.

Destacamos a importância da atividade lúdica na contação de histórias, no desenvolvimento da criança na primeira infância. Um momento único para algumas crianças que só podem desfrutar dessa prática na escola, visto que, em sua casa, muitas vezes, não há espaço para que isso ocorra.

Quando perguntado aos alunos, quem gostava de ouvir histórias, todos responderam que sim. E quando perguntado quem conta histórias para eles em casa, muitos disseram que só ouvem histórias na escola, e alguns disseram que a mãe, o pai, o tio, a avó contavam histórias em casa.

Saber das crianças quem gosta de ouvir histórias e quem as conta é uma forma de verificar quantas crianças costumam ter essa prática em casa, uma forma de verificar quem tem o hábito de ouvir histórias. Com isso, podemos perceber se há hábito de leitura em família.

O trabalho de contação de histórias foi realizado diariamente, logo após a entrada e a acolhida das crianças em sala.

O ato de contar histórias enquanto expressão artística é um ato de cria- ção. Sabe-se, por exemplo, que a cada vez que narramos uma mesma história, mesmo que o texto físico tenha sido memorizado e narrado in- tegralmente, executamos um evento único e original. Sendo assim, ao se recontar uma mesma história, ainda que o narrador e os ouvintes sejam os mesmos, as suas experiências de vida e as suas reações diante dela serão outras. Parafraseando Herácli- to: não se conta uma mesma história duas vezes (MORAES, 2012, p.17). Os livros, a serem lidos em sala, foram previamente selecionados durante a coordenação semanal. Foram utilizados recursos como o avental das histórias, os livros, os recursos de áudio e vídeo, os fantoches, os palcos, os dedoches; houve, também, a utilização de roupas, de perucas e de maquiagem para abrilhantar a contação de história.

A rotina da contação de histórias pode ser exemplificada pelo extrato do diário de campo: Iniciei o momento da contação de história apresentando alguns objetos (cesta com maçãs, milho, abacate, e outras frutas feitas de massinha de modelar) que fariam parte da his- tória. Perguntei a elas qual história seria contada e as respostas ficaram entre Branca de Neve e Chapeuzinho Vermelho. Iniciei a leitura apresen- tando o livro A cesta de Dona Mari- cota e explicando um pouco sobre a

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105 importância da história e que nós te-

ríamos muito para conversar depois de ouvi-la. Ao longo da leitura do livro, interrompi alguns momentos da narrativa para esclarecer o signi- ficado de palavras desconhecidas pe- las crianças. Embora realizássemos algumas interrupções, as crianças seguiam atentas e participativas du- rante a leitura do livro. As crianças se mostraram bem envolvidas com o enredo que contava as aventuras do diálogo entre as frutas vindas da feira. Após a leitura do livro con- versamos sobre a história: momento mais emocionante, parte preferida da história e a opinião pessoal sobre o livro. As crianças aqui são identifica- das por nomes fictícios (NOTAS DO DIÁRIO DE CAMPO, 2016).

Quadro 1 – Sequência didática – A cesta de Dona Maricota

ATIVIDADE

*Leitura do livro: A cesta de Dona Maricota. *Atividade xerocada para colorir, na cesta, sua fruta preferida.

*Ilustração da parte que mais gostou da história. *Execução da receita de uma salada de frutas e de uma salada de legumes e degustação de verdura.

*Reconto oral da história. MATERIAL

Lápis de cor, canetinha hidrocor, Papel A4.

OBJETIVO

Despertar, nas crianças, o gosto por alimentos saudáveis .

Conhecer o que as crianças compreendem por alimentação saudável.

Preparar, junto com as crianças, alimentos que são saudáveis para que todas possam ter a oportunidade de degustar. E relatar se gostaram ou não do que foi provado.

Fonte: produção da pesquisadora.

No livro, por meio de versos e de rimas, os alimentos conversam entre si e contam quais são as vantagens de se comer frutas, verduras e legumes. Após a leitura, houve uma conversa sobre alimentação saudável e tivemos algumas falas das crianças sobre o tema:

Maria Isabel: Alimentação saudável

é comida de fruta e de sopa.

Ana Luísa: É comer frutas e tem que

gostar de frutas, eu gosto de frutas, de banana.

Sara: É porque alimentação saudá-

vel é comer tudo que a mamãe faz. Eu como fruta e abacaxi e adoro mo- rango também.

Pedro H.: Tia, eu gosto de fruta, e

de alimento saudável, minha mãe me dá fruta.

As narrativas estimulam a criatividade, a imaginação e a oralidade; facilitam o aprendizado; desenvolvem as linguagens oral, escrita e visual. As narrativas incentivam o prazer pela leitura; promovem o movimento global; trabalham o senso crítico e as brincadeiras de faz-de-conta, os valores e os conceitos, colaborando com a formação da personalidade da criança, propiciando um envolvimento social, afetivo e cultural; e as inserem na realidade da diversidade que nos cerca. E, além disso, todo esse trabalho pode ser realizado na escola, pois é, na sala de aula, que a criança tem a oportunidade de trocar, com colegas, momentos, impressões, experiências que são vivenciadas de maneiras diferentes por serem únicas, sejam elas familiares ou mesmo advindas de culturas diferentes.

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Em outra atividade pedagógica, a leitura da história da Galinha Ruiva.

Quadro 2: Sequência didática – a galinha ruiva ATIVIDADE

*Leitura do livro: A Galinha Ruiva. *Atividade:

*Ilustração da parte que mais gostou da história.

*Execução da receita de um bolo de milho para degustação.

*Reconto oral da história. MATERIAL

Lápis de cor, papel A4,

canetinha hidrocor. OBJETIVO

Conversar com as crianças sobre como surgem os alimentos e como são processados até chegarem a nossa mesa. Trabalhar valores como a responsabilidade, a cooperação; e desenvolver o senso crítico em relação ao comportamento dos personagens da história, comparando-os com nosso comportamento na vida real.

Preparar, junto com as crianças, a receita do bolo para que todas possam ter a oportunidade de conhecer os ingredientes e manusear os materiais.; auxiliar no preparo e poderem degustar.

Fonte: produção da pesquisadora

A contação da história foi iniciada com a apresentação das ilustrações dos personagens (pato, cachorro, gato, e a galinha com os pintinhos). Ao perguntar o que a história contaria, e ao sugerir que poderiam ter esses personagens, surgiram as sugestões da história do Patinho Feio, O Lobo Mau, entre outras, lembrando, também, a Galinha Pintadinha. Assim, iniciei a história e já, no início, algumas crianças comentaram que os amigos da galinha eram preguiçosos. Após a narrativa, fomos conversar sobre o comportamento da galinha e de seus amigos, e as observações feitas foram:

Ana Luísa: Essa galinha coitadinha

tem que fazer tudo sozinha.

Carmem: Esses amigos da galinha

são muito é preguiçoso.

Gustavo: O cachorro só queria era

dormir e nem foi ajudar a galinha.

Sara: Bem feito que ela não deu bolo

para ele, eles são muito preguiçosos.

Alana: Agora, a galinha vai comer

só com os pintinhos o bolo de milho. Conversamos sobre a atitude dos outros animais, que não quiseram ajudar, e questionamos a atitude da galinha em relação a eles. As crianças concordaram que a galinha não foi injusta. Após a contação das histórias, as crianças ficavam entusiasmadas e queriam sempre comentar sobre os personagens, sobre os fatos ocorridos, sobre o que mais gostaram ou não gostaram, falaram sobre os sentimentos, às vezes, até choraram devido ao envolvimento no momento da audição. No momento posterior à contação, podemos identificar o quanto esse recurso é valioso, pois vemos a desenvoltura das crianças ao narrar fatos que consideram importantes; ao fazer comentários e até relações dos fatos da história com suas vidas em família. Elas se identificavam com algumas histórias, com alguns personagens e relataram sua opinião sobre comportamentos e ações ouvidas.

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107 Algumas crianças não participavam ativamente

nas atividades de contação de história e foram se envolvendo no processo aos poucos. Com a utilização dos recursos didáticos da Tertúlia Literária (PEREIRA; ANDRADE 2014), essas participações foram se ampliando e percebemos que todos querem contribuir com uma fala, dando sua opinião sobre a história ouvida e, assim, conseguimos despertar, nas crianças, a capacidade de se expressar.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa se articulou no intuito de analisar a contribuição da contação de histórias no processo de desenvolvimento da oralidade de crianças na Educação Infantil. Acreditamos que alcançamos êxito ao apresentarmos parte das sequências didáticas realizadas com as crianças da turma pesquisada.

Observamos, como resultado do trabalho pedagógico diário, com a contação de histórias, a melhora na capacidade de expressão das crianças, o desenvolvimento da oralidade, a ampliação do vocabulário e, sobretudo, a construção do respeito ao ouvir o outro e de esperar a sua vez de falar.

Com esse trabalho, percebemos que é preciso levar em conta a realidade das crianças que frequentam a escola pública na qual o trabalho foi realizado, pois apresentam uma realidade bastante adversa e, muitas vezes, mesmo que tenham em seu ambiente familiar contação de histórias, essas não têm o procedimento adequado para que percebam o mundo em que elas estão inseridas. Assim, por muitos terem conflito no ambiente familiar, esse contato com as histórias não traduz as mesmas narrações trabalhadas pela escola e que deveriam ter como fim, única e exclusivamente, o prazer da literariedade.

Percebemos que há, ainda, um longo caminho a ser seguido para que as crianças se expressem; queiram falar; aprendam a valorizar esses momentos de ouvir histórias junto com seus pares e, assim, poderem comentá-las. Falarem

sobre o que elas entenderam, suas impressões, enfim, participarem de momentos nos quais há a valorização das suas falas, para que, com isso, as crianças se sintam respeitadas e valorizadas em suas opiniões.

7 REFERÊNCIAS

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CARDOSO, Bruna. Práticas de linguagem oral e escrita na Educação infantil. São Paulo: Anzol, 2012.

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CONDEMARÍN, Mabel; GALDAMES, Viviana; MEDINA, Alejandra. Oficina de Linguagem. São Paulo: Moderna. 1997. DALCIN, Andreia. Um olhar sobre o paradidático de matemática. 2002. 162 f. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática)– Faculdade de Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2002. Disponível em: <http://www.fae.unicamp.br/zetetike/ include/getdoc.php?id=121&article=25& mode=pdf>.

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MAIA, Joseane. Literatura na formação de leitores e professores. São Paulo: Paulinas, 2007.

MORAIS, Fabiano. Contar Histórias: a arte de brincar com as palavras. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2012.

PEREIRA, Jane Christina; ANDRADE, Ana Paula Santiago Seixas. Tertúlia literária dialógica: teoria e prática: guia didático a partir de uma experiência de extensão no Programa Nacional Mulheres Mil. Brasília: Editora IFB, 2014.

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109 Eixo: Atuação na educação infantil com ênfase na aprendizagem lúdica

14 O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA NO PROCESSO