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3 VOCÊ PODE ANDAR, VOCÊ PODE DANÇAR.

VAMOS COMEÇAR? A

METODOLOGIA

As Oficinas Pedagógicas são espaços de formação continuada na Secretaria de Educação do Distrito Federal, que existem desde o ano de 1986, são subordinadas à CRE (Coordenação Regional de Ensino) e à EAPE (Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação). Cada Regional de Ensino possui uma Oficina Pedagógica, totalizando 14 unidades, distribuídas pelo Distrito Federal. As atividades desenvolvidas nas Oficinas Pedagógicas têm, como eixos norteadores, a ludicidade e a criatividade. A Oficina Pedagógica de Ceilândia situa-se na EQNM 17/19, área Especial, Ceilândia Sul, porém a oficina Percebendo a música, vivenciando a dança na escola foi oferecida na Escola Parque de Ceilândia, por oferecer um espaço mais amplo, e apropriado ao trabalho corporal para execução das aulas.

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A formação continuada, oferecida aos profissio- nais da educação do Distrito Federal, vem como mais uma alternativa de pesquisa tendo em vista que o professor precisa ser um pesquisador que age e reflete sobre sua ação, pois:

Quem não pesquisa não pode ensi- nar. Essa ideia não desvaloriza habi- lidades didáticas, nem mesmo algu- mas tradicionais [...], mas indica que é importante começar do começo: no começo está a pesquisa, não a aula (DEMO, 2008, p. 40).

A oportunidade de capacitação, para os profissionais da educação, permite a exploração e a criação de estratégias que resgatem o interesse dos envolvidos, pois é fato que esses profissionais encontram dificuldades no dia a dia acadêmico e profissional.

Na busca de fortalecer o trabalho da dança na educação escolar, a oficina Percebendo a música, vivenciando a dança na escola vem agregar o corpo, a música e dança, em busca de metodologias diversificadas a serem desenvolvidas com professores/ coordenadores atuantes na rede pública de ensino e nas escolas conveniadas. A proposta foi encaminhada à UNIEB/CEI (Unidade Regional de Educação Básica de Ceilândia) para apreciação e aprovação e as inscrições foram realizadas na própria Oficina Pedagógica de Ceilândia, havendo dezessete inscritos para 15 vagas, todos os interessados foram contemplados.

Foram quatro encontros de três horas de duração, totalizando a carga horária direta de doze horas. Aconteceram às terças-feiras, no período noturno. Dos dezessete professores inscritos, doze concluíram a oficina, sendo 100% do sexo feminino, com a seguinte atuação: três em Centro de Ensino Especial, uma coordenadora de anos iniciais, uma professora de ensino médio, uma de anos finais, uma da educação infantil e cinco atuavam em anos iniciais do ensino fundamental. A turma era composta de forma híbrida, de maneira que os participantes precisavam adaptar

as propostas à sua realidade, motivando o seu lado criador. A quantidade de alunos, beneficiada indiretamente pela formação, não é precisa, justamente pela diversidade de etapas envolvidas, porque tínhamos, numa mesma turma, professoras desde a educação infantil até o ensino médio, conforme já foi informado.

Tratou-se de uma pesquisa qualitativa, em que os dados foram coletados por meio de observação, de entrevistas semiestruturadas, de depoimentos orais dos participantes (que foram filmados para registro), nos quais se pôde verificar a pertinência da Oficina, por promover evoluções para além do profissional, pois alguns participantes relataram estar vencendo os próprios limites com relação ao ritmo e à coordenação motora. Houve uma participante que mencionou ter sentido muita dificuldade na execução das propostas e, por isso, precisaria de ampliação de carga horária da oficina para que, após maior quantidade de vivências, ela sentisse mais segurança para aplicar a oficina aos seus estudantes do ensino médio. As demais participantes não relataram sentir dificuldades em aplicar as atividades sugeridas em suas turmas de atuação, chegando a mencionar, inclusive, o quanto algumas atividades despertaram o interesse das crianças.

Os encontros foram temáticos e desenvolvidos por meio de atividades participativas, exposições teóricas, vivências, leituras, jogos com foco no método d’O Passo (binário/ ternário/quaternário); a fim de trabalhar o movimento de maneira lúdica, ou seja, aprendizados que promovam o entretenimento, o prazer e a diversão às pessoas envolvidas, trazendo, assim, ganho significativo no processo de ensino-aprendizado escolar. Segundo Artaxo e Assis (2013, p. 49):

O Passo surge em resposta ao proces- so altamente seletivo, é um trabalho de autoria de Lucas Ciavatta, publi- cado em 2003, e atualmente utilizado no Brasil e no Exterior. Este método que inicialmente aborda a questão

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rítmica, seguindo em direção à me- lódica, simultaneamente à vivência dos movimentos musicais rítmicos. Baseado em uma movimentação cor- poral específica, por meio da qual se aprende tanto a realizar os ritmos quanto a entendê-los.

Nos encontros, foram abordados os temas: • A importância da dança dentro do

processo de ensino-aprendizagem numa perspectiva do desenvolvimento do movimento consciente;

• a escuta atenta: metrônomo, marcação, tempo e ritmo;

• expressão e compreensão da dança em vários contextos históricos remetendo e respeitando o repertório corporal e musical de cada um;

• apreciação, criação e realização da dança; • elementos da composição coreográfica

tendo como base o método d’O Passo; • criação e apresentação de uma composição

coreográfica.

Para o cumprimento de horas indiretas, as professoras apresentaram a construção de jogos/dinâmicas que possibilitaram a dança nas escolas, assim como estudos de textos e de pesquisas para apresentação de trabalho em grupos sobre o método d’O Passo, o compasso binário, ternário e quaternário, de maneira lúdica e criativa.

Por meio da oficina temática Percebendo a música, vivenciando a dança na escola, os profissionais tiveram a oportunidade de enriquecer sua prática docente, pois realizaram estudos, debates, reflexões e troca de experiências em relação à dança. Viram a oficina como mais um conhecimento palpável e viável para ser abordado na educação. Não deixou de ser, também, uma espécie de resgate corporal dos participantes, pois:

Durante muito tempo na história do pensamento ocidental, temos vivido o predomínio de uma visão dicotô- mica do ser humano, fragmentan- do-o em corpo (lugar das emoções) e mente (pela qual se expressaria a alma racional). Hoje, a ciência che- ga à compreensão de que o ser é um todo, e que acreditar em tal separa- ção é dar origem às dissociações que levam à doença, pois o ser humano é aquilo que sente, o que pensa e o que faz (HOFMANN, 2009, p. 170). Atuando há certo tempo, com a formação continuada de professores, é possível perceber a presença corriqueira de profissionais que desconhecem o próprio corpo, possuindo dificuldades rítmicas e de coordenação motora, além de um “travamento” corporal, já que muitos não têm, como foco, o corpo em sala de aula, por acreditarem que corpo e mente são assuntos dissociados dentro da unidade escolar, reflexos da falta de um trabalho mais voltado para o corpo durante sua formação acadêmica inicial e sua trajetória de vida. Dessa maneira, as oficinas, com atividades simples e lúdicas, puderam fazer esse resgate, essa volta ao próprio corpo do professor, que, na prática, pode perceber-se como um ser completo.

Percebemos a necessidade de termos professores que, além de reconhecerem a importância da dança, tenham consciência do seu corpo, pois:

É com o movimento que o ser humano constituiu sua história e será pelo seu movimento que vamos continuar a construí-la [...] para que o indiví- duo conseguisse encontrar respostas às suas questões e, sobretudo, viver dignamente como ser humano, com a carne e a alma sendo vista como uma só, um corpo só, um corpo úni- co (STRAZZACAPPA, 2012, p. 62). Visando isso, o método d’O Passo, a ludicidade, a música e a dança vêm como

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alternativas a serem lançadas na formação desses profissionais de modo a motivá-los a contribuir para uma educação mais prazerosa, ativa, participativa, eficaz no processo de ensino-aprendizagem.

No trabalho, fez-se a junção do método d’O Passo e a ludicidade por meio de atividades rítmicas e dançantes, ou seja, a dança esteve em foco; a métrica foi marcada por movimentos corporais, com diversas possibilidades de exploração pelos participantes.

O trabalho também fomentou o estudo da dança no processo de ensino-aprendizagem educacional trazendo, como base, a metodologia d’O Passo, sendo um dos recursos viáveis para o processo de criação de movimento expressivo consciente dentro do contexto escolar.

Nosso interesse está focado na importância do corpo para a aquisição de habilidades e compreensões musicais, no entanto, entendemos que este processo não pode ser considerado isoladamente: ele deve ser visto dentro de processos mais amplos que relacionam o corpo a todo o desenvolvimento da percepção e da cognição (CIAVATTA, 2003, p. 64). O desafio foi lançado às professoras e elas aceitaram, a princípio, com um certo receio, porém o trabalho ampliou o diálogo feito em relação à importância das atividades corporais; especialmente a dança, a qual o processo de formação continuada deve ser significativo aos profissionais de educação.

4 CURTO O PASSO, O RITMO,