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11 PERCEBENDO A MÚSICA E VIVENCIANDO A DANÇA NO MÉTODO ‘O PASSO’

• Thais Felizardo Resende, Professora na SEEDF (thaisfelizardo@uol.com.br)

1 RESUMO

Este artigo apresenta o resultado da oferta de uma oficina de formação continuada aos professores da SEEDF na CRE de Ceilândia. Traz, como eixos norteadores, a ludicidade, o Método d’O Passo e a relação com o corpo/ dança. Utilizando o método d’O Passo, o trabalho busca inserir o corpo/dança de modo consciente, podendo ser desenvolvida em qualquer etapa do ensino, tendo em vista que havia, na mesma turma, professoras desde a educação infantil até o ensino médio. Ao final, foi possível perceber que a maioria dos participantes foi contemplada pela proposta que pôde ser repassada aos alunos, com as devidas adaptações. No entanto, foi possível perceber também que, devido à individualidade dos sujeitos, algumas atividades precisariam ser retomadas, revistas, vivenciadas novamente por algumas professoras apresentarem dificuldades na execução de atividades que exigiam coordenação motora e rítmica. A oficina apresenta, portanto, uma oportunidade de superar os limites, conforme alguns relatos. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa cujos dados foram coletados por meio de observação, de entrevistas semiestruturadas e de depoimentos orais dos participantes. Há, portanto, o objetivo possível de tornar o espaço escolar um lugar mais atrativo tendo aulas mais encantadoras e de deleite a discentes e a docentes, envolvendo o indivíduo, a mente e o corpo como um todo indissociável.

Palavras-chave: Ludicidade. O Passo.

Formação Continuada. Dança. Corpo.

2 INTRODUÇÃO

De uma forma autêntica e original O Passo apresenta uma opção metodo- lógica que integra o corpo na experi- ência de sistematização e construção do conhecimento musical, sem divi- sões redutoras do tipo sentir versus pensar, saber racional versus saber intuitivo[...] O Passo propicia um tra- balho efetivamente de grupo, desde o início, e de prática de conjunto ime- diata e altamente gratificante, porque realizada não sobre exercícios prepa- ratórios, mas sobre matrizes culturais brasileiras reconhecidas, tratando a música como um fato cultural e a educação como uma proposta social- mente contextualizada (SANTOS apud ARTAXO; ASSIS, 2013). É, com este mesmo sentido e entusiasmo, que o Método d’O Passo foi oferecido e vivenciado na Oficina Pedagógica de Ceilândia (DF) para professores interessados, por meio da oficina temática: Percebendo a Música, vivenciando a dança na escola.

A proposta visou contribuir para o aprimoramento da atuação das professoras/ estudantes dentro e fora do ambiente escolar,

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e referências em relação à dança, ao corpo e à música, pois os mesmos podem colaborar para a promoção de uma maior vivência/ sensação do processo de desenvolvimento corporal de modo a ampliar o significado de sua prática docente/discente no processo de ensino-aprendizagem.

É importante ressaltar que tal proposta foi motivada pelo contexto escolar atual em que o aspecto corpo é pouco explorado e a tecnologia se faz mais presente e atrativa entre os estudantes. Sendo assim, as oficinas mostraram a necessidade de ampliação do ensino de dança nas escolas, viabilizando a construção de uma concepção de aprendizagem crítica, significativa, lúdica e consciente para o ensino da dança.

O trabalho propôs o enriquecimento da prática de docentes, promovendo o estudo, a reflexão e a troca de experiências entre profissionais da educação que tiveram interesse em conhecer a dança e O Passo como mais uma ferramenta palpável e viável para ser abordada na educação. Vale lembrar que, de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 12), a criança é:

Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questio- na e constrói sentidos sobre a nature- za e a sociedade, produzindo cultura. Nesse sentido, incentivar a consciência corporal desde a educação infantil até a fase adulta é importante, pois construímos nossa identidade por meio daquilo que vivenciamos, manifestamos e produzimos; e esse processo se dá também por meio do corpo. Assim, faz- se importante ressaltar que a oficina esteve, em todos os momentos, amparada pelo que norteia o documento Currículo em Movimento da Educação Básica dos anos finais:

[...] o currículo proposto visa a uma maior vinculação do estudante às linguagens de cena, com produção e reflexão crítica que se desenvolve a partir da relação corpórea senso- rial com o conhecimento da história das artes cênicas em nível mundial e suas relações com o Brasil.[...] As práticas que constituem a cul- tura corporal podem ser compreen- didas como o conjunto de danças, esportes, ginásticas, jogos, lutas, atividades rítmico-expressivas e ou- tras intimamente ligadas a práticas sociais, construídas e reconstruídas no transcorrer da história humana. Tais práticas expressam formas e representações simbólicas de reali- dades vivenciadas pelo homem com sentido lúdico, artístico, agonístico e estético entre outros (DISTRITO FEDERAL, 2014b, p. 54, 72). Apesar do trecho acima citado estar descrito na disciplina de teatro, é notório que há um avanço com relação a conteúdos específicos da dança, porém o que temos, na prática da vivência nas escolas, ainda é uma abordagem da disciplina Artes, na qual a dança é uma de suas ramificações, ou seja, uma linguagem a ser trabalhada dentro da disciplina dependendo da habilidade e do interesse do professor; a dança, ainda, é pouco explorada e empregada com irrisória autonomia.

A oficina “Percebendo a música vivenciando a dança na escola” buscou aproximar a linguagem da dança no ambiente escolar, reforçando sua importância, pois há um universo enorme de possibilidades e de criação. Por meio do método d’O Passo, podemos desmistificar que a dança é somente para alguns, mostrando, na vivência do trabalho, que a dança é para todos, como uma disciplina viável e com papel social importante dentro do ambiente escolar; tornando-o um espaço atrativo, que promove aprendizagens de forma lúdica e fomenta a socialização entre os participantes.

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No processo de desenvolvimento e de aprendizagem, a dança, como linguagem artística, transcende à concepção de produto pronto para reprodução; apresenta-se como processo de expressão humana e cultural, de criação e de elaboração com características próprias, pois seus princípios norteadores envolvem a expressão, a vivência ativa, a criação, a apreciação, a contextualização, a reflexão, a compreensão e o fazer do mundo que nos é apresentado de modo real ou fictício.

Os alunos não podem ser considera- dos simplesmente como mente e o corpo ser secundarizado em benefí- cio dela, e é obvio que não devemos secundarizar a mente em benefício do corpo. Mente e corpo não podem ser instrumentos a serem manejados. Precisamos fazer que nossos alunos deixem de ser corpo-objeto e tor- nem-se corpo-sujeito, um corpo vívi- do (VERDERI, 2009, p. 41).

Sendo assim, dança não significa somente codificar e decodificar passos e/ou movimentos a serem repetidos e reproduzidos por um grupo ou por um solo sem o entendimento do trabalho em si. A dança deve ser uma experiência indispensável ao desenvolvimento psicomotor, afetivo e cognitivo do ser humano, pois se trata de uma competência sólida e palpável; não se resume a dança como técnica ou uma movimentação repetitiva que, segundo uma visão bastante comum, restringe-a ao preparo para um aprendizado da dança nos moldes tradicionais.

Dessa forma, o interesse foi priorizar a dança por meio do movimento consciente, tendo, como base, a marcação do tempo por meio do método d’O Passo, criado pelo teórico Lucas Ciavatta (músico formado pela Unirio e Mestre em Educação pela UFF, é criador do método de educação musical O Passo), no intuito de mostrar que é possível fazer um trabalho formador e transformador, dentro do ensino da dança, que valorize sons e movimentos que possam reverberar em cada um, proporcionando uma construção coletiva na formação do

professor enquanto ser musical e dançante. Isso oportuniza a reflexão e a ampliação de suas vivências colaborando, assim, para o enriquecimento de sua prática docente.

O corpo não é só um acessório da mente. Ele é uma unidade autôno- ma de construção do conhecimen- to. Você tem que passar pelo corpo primeiro para compreender. O que a criança e os professores fazem é se aproximar da música através do movimento. Quem ensina para você é o seu próprio corpo” (CIAVATTA 2003, p. 156).

Sendo assim, o trabalho buscou mesclar o método d’O Passo, o corpo, a música e a dança de maneira lúdica e criativa/espontânea; em que os envolvidos dançaram e criaram coreografias envolvidos pelo próprio fazer, reverberando no seu trabalho educacional.

3 VOCÊ PODE ANDAR,