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“Contar é uma Arte da Palavra, da mesma forma que a Poesia.

Mas trata-se de uma palavra parti- cular.

A ‘palavra contadora’ é uma palavra carregada de élan, de entusiasmo. É uma palavra profunda, poderosa, mágica.”

Michel Hindenoch

Preciso aquecer minha voz e encontrar o tom apropriado que este momento exige. A história que vou contar é a ressonância de muitas vozes e almas que fizeram parte desta experiência, carregada de emoções, que continua a ser praticada pelas Oficinas Pedagógicas do Distrito Federal. Somos seres narrativos, somos, também, segundo Nancy Huston (2010), uma “espécie fabuladora”. Escrever a história das Oficinas Pedagógicas, no recorte da história de um dos cursos, “A Arte de Contar Histórias” e dos seus 20 anos de existência, de muitas emoções, de muitas transformações e de crescimento pessoal e profissional, é um exercício, também, de escrita da minha própria história. Hoje, quando paro e penso que mais da metade da minha vida se deu no espaço da Oficina Pedagógica, levo um susto, mas logo o coração se aquieta,

1 RESUMO

O presente artigo tem, como objetivo, referen- ciar a relação do lúdico como facilitador da aprendizagem durante a experiência de forma- ção de professores no curso “A Arte de Contar Histórias” nas Oficinas Pedagógicas do Distrito Federal. O enfoque teórico e metodológico, des- te curso, está pautado em aulas teóricas e vivên- cias práticas, promovendo o aperfeiçoamento dos professores com o exercício da narração de histórias e o compartilhamento de saberes e de fazeres, contribuindo, assim, para a aproxima- ção prazerosa entre o leitor e a leitura. Durante o curso, os professores desenvolvem projetos lite- rários em suas escolas contribuindo para o aper- feiçoamento de sua prática enquanto pesquisa- dores que, também, propõem teorias, modelos e tecnologias educacionais pertinentes ao coti- diano escolar, no qual a reflexão deve partir da prática para a construção de conhecimentos pe- dagógicos. O curso, desta forma, é também um espaço de criar e de recriar a realidade na vida dos professores e de seus alunos, contribuindo para a formação de uma sociedade leitora e de uma escola que acredita na ludicidade e no pra- zer de aprender e de realizar novas descobertas. Em 2016, o curso “A Arte de Contar Histórias” completou 20 anos de formação continuada nas Oficinas Pedagógicas.

Palavras-chave: Memória. Oralidade. Narrativa. Contadores de histórias. Experiência.

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7 A arte de contar histórias: 20 anos de formação continuada nas Oficinas Pedagógicas do Distrito Federal (1996 a 2016)

pois dei o meu melhor, me emocionei e experimentei muito junto aos professores, nos cursos de formação e nos pátios das escolas por onde passei e contei muitas histórias. Agora, na reta final desta jornada de trabalho, junto às Oficinas Pedagógicas, com o processo de aposentadoria em andamento, estou com o coração batendo forte e tranquilo ao mesmo tempo. Encerrando um ciclo, me preparo para a separação, na certeza de que saio da Oficina, mas que ela, enquanto experiência, nunca sairá de mim.

O curso “A Arte de Contar Histórias” começou a ser esboçado em 1996 nas Oficinas Pedagógicas de Brazlândia e de Ceilândia, as quais ofereciam cursos de formação de contadores de histórias aos professores da SEDF.

A primeira formação de formadores do curso foi oferecida para os profissionais que atuavam nas 14 Oficinas Pedagógicas, no ano 2000, pelas professoras Aldanei Menegaz de Andrade e Neuza Maria Machado Perez, da Oficina Pedagógica de Brazlândia.

Segundo Ecléa Bosi (2003, p. 31): “A memória opera com grande liberdade escolhendo acontecimentos no espaço e no tempo, não arbitrariamente, mas porque se relacionam através de índices comuns. São configurações mais intensas quando sobre elas incide o brilho de um significado coletivo”.

Tenho consciência que a memória é seletiva, ficcional e criativa. Quando narramos o passado, também estamos inventado nossa própria história, baseada em fatos reais, selecionados por nossa lembrança, enfim, recontar é sempre um ato de criação.

A memória é um trabalho sobre o tempo vivido, no qual os acontecimentos não são lembrados de forma linear, assumo, assim, a liberdade de encadear e de compor os momentos de meu passado.

Ecléa Bosi (2003, p. 31) nos convidou a refletir: “Nós devemos contar histórias? A nossa história? É verdade que, ao narrar uma experiência profunda, nós a perdemos também naquele momento, em que ela se corporifica (e

se enrijece), na narrativa. Porém, o mutismo, também, petrifica a lembrança que se paralisa e se sedimenta no fundo da garganta, como disse Ungaretti, no poema sobre a infância, que ficou: presa ao fundo da garganta como uma rocha de gritos”.

Sendo assim, melhor que contemos nossa própria história, mesmo que esta fique enrijecida. De acordo com Bosi (2003 p. 45), narrativa e oralidade “se desenvolvem no tempo, falam no tempo e do tempo, recuperando na própria voz o fluxo circular que a memória abre do presente para o passado e deste para o presente”.

Nesse exercício de lembrança dos 20 anos do curso “A Arte de Contar Histórias” e de meus 28 anos de atuação na Oficina Pedagógica de Brazlândia, procuro deixar, para os que me sucederão, um pouco da minha experiência. A Portaria nº 116, de 31 de julho de 2012 da SEDF, define as Oficinas Pedagógicas como: “[...] espaço destinado à formação continuada dos profissionais de educação, apoiando a pesquisa, o estudo, a criação, o desenvolvimento de recursos lúdicos e posturas pedagógicas criativas, flexíveis e humanizadas, além de possibilitar a produção de materiais lúdico-pedagógicos como recursos didáticos que favorecem os processos de ensinar e aprender” (DISTRITO FEDERAL).

Um dos grandes desafios, que o momento atual exige, é a prática da constante capacitação de professores, de coordenadores e de gestores, o que vem a ser denominada de Formação Continuada. A Oficina Pedagógica é um lugar privilegiado para o exercício desta formação, tendo em vista que cada Regional de Ensino da Secretaria de Educação dispõe de uma Oficina Pedagógica com equipe técnico-pedagógica especializada, e em constante formação, bem como de um espaço físico, de equipamentos e de materiais disponíveis para esta prática. O recorte temporal, desta escrita, se deu de 1996 a 2016, pois foi, em 1996, que iniciamos os cursos para contadores de histórias, e o

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momento atual, em que este curso continua sendo oferecido nas 14 Oficinas Pedagógicas do Distrito Federal.