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METODOLOGIA E CORPUS

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 76-83)

O objetivo deste trabalho é analisar o uso do PC na variante mexicana do espanhol, tendo como foco os valores aspectuais veiculados a esse tempo verbal. Para isso analiso oito amostras de fala do Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y de América (PRESEEA) – México. Esse projeto é composto por mais de 39 regiões, tanto na Espanha, como nos diversos países americanos.

O objetivo do PRESEEA é reunir um grande corpus oral, tecnicamente adequado e sociolinguisticamente representativo de uma ampla mostra de cidades de todo o mundo hispânico. A intenção é que este corpus de língua falada se converta em um dos maiores da língua espanhola. Os organizadores do PRESEEA desejam que seus materiais permitam realizar estudos desde perspectivas muito diferentes, interessando a especialistas de distintos campos: dialectólogos e sociolinguistas, foneticistas, gramáticos, analistas do discurso, pragmáticos o etnolinguistas.

Todos os informantes escolhidos para este estudo são de nível superior e estão divididos em dois grupos: os jovens (20-34 anos) e os adultos100 (35-54). Segue abaixo uma tabela com suas informações:

CORPUS PRESEEA – MÉXICO. Informantes de nível superior Inform

ante

Identificação da entrevista no corpus Sexo / grupo Idade

1 Entrevista 1 Homem / jovem 25

2 Entrevista 2 Homem / jovem 25

3 Entrevista 11 Mulher / jovem 21

4 Entrevista 12 Mulher / jovem 21

5 Entrevista 16 Homem / adulto 49

6 Entrevista 18 Homem / adulto 45

7 Entrevista 21 Mulher / adulto 43

8 Entrevista 23 Mulher / adulto 41

Apesar de ser composto por diversas regiões, o PRESEEA mantém um nível de uniformidade através dos seus fundamentos metodológicos, sobre os quais faço uma exposição a seguir:

1- PRESEEA se articula em uma rede de equipes de investigação sociolinguística, adscritos voluntariamente ao projeto e que se responsabilizam pelo recolhimento dos materiais de língua falada procedentes de uma comunidade. As comunidades estudadas no projeto são núcleos urbanos, monolíngues ou bilíngues, com uma população hispano-falante bem assentada, com consciência de comunidade e suficientemente diversa desde um ponto de vista sociológico.

2- Os informantes terão de ser por nascimento ou anos de residência, membros reconhecidos de sua comunidade. A seleção dos informantes para as entrevistas se faz baseada em critérios fixos em uma mostra por cotas. As cotas são criadas a partir de três variantes: sexo/gênero, idade e nível de instrução.

3- Os materiais destinados a fazer parte do corpus oral se reúnem mediante conversas semi-dirigidas e gravadas com microfone a vista na situação de entrevista. As entrevistas se realizam propondo aos informantes módulos temáticos (saudações, o tempo, lugar onde vive, família e amizade, costumes, perigo de morte, anedotas importantes na vida, desejo de melhora econômica) que permitem alcançar diversos tipos de discurso. As conversas têm uma duração mínima de 45 minutos.

4- As equipes que integram o PRESEEA se organizam para a realização de análises sobre os materiais de língua falada recopilados.

5- Os materiais gravados se transcrevem seguindo convenções baseadas no sistema SGML (Standard Generalized Markup Language) e as normas internacionais da TEI (Text Encoding Initiative).

Durante as entrevistas encontramos vários símbolos, codificações, e como estes poderão aparecer em futuros exemplos dados neste trabalho, é interessante explicar o significado deles.

- Dois pontos [:] indicam sílabas ou sons alongados;

- Pontos de exclamação [¡!] indicam exclamações e tom animado. - Pontos de interrogação [¿?] indicam entonação interrogativa.

- Parênteses duplos [(( ))] especificam algum fenômeno ou ação não verbal. Por exemplo, ((pigarro)), ((interrupção)), ((ruídos)).

- Parêntesis [( )] marcam diversos tipos de informação: 1) passagens incertas da transcrição;

2) ruídos ou sons significativos da gravação ( (hh): respiração o aspiração audível; (e:): titubeio; (ts): muxoxo101; (m:): dúvida; (hm): confirmação; (ahá): entendimento, apoio; (risa = 1): risada do informante, (risa = 2): risada do entrevistador, (risa = todos) risada de ambos; 3) lapsos ou pausas de duração superior a 2 segundos: (lapso = 2): pausa de 2 a 3 segundos, (lapso = 3): pausa de 3 a 4 segundos, aproximadamente;

- Barra [/] indica pausa: [/]: pausa breve; [//]: pausa média; [///] pausa longa (silêncio de 1,0 a 1,2 segundos);

- Sublinhado [___] indica superposição de discurso;

- Travessão [–] indica palavra ou enunciado cortado, seja por correção ou por hesitação; - Três pontos [...] indica suspensão do discurso;

- Aspas [« »] indicam citação e estilo direto.

O PRESEEA do México abrange o Distrito Federal e mais onze municípios do México, como mostra o mapa abaixo, sendo de I a XVI a parte referente ao Distrito Federal e de 1 ao 11 os outros municípios.

Mapa da área que o PRESEEA – México abrange.

Escolhi trabalhar com entrevistas, pois trata-se de um gênero oral e como tal, é algo mais espontâneo. Acredito ,também, que o fenômeno estudado seja mais comum na fala,

tendo em vista que essas mudanças demoram mais a atingir a escrita, pois essa é, normalmente, mais formal, mais próxima das regras normativas.

As entrevistas acima são classificadas como entrevistas sociolinguistas. Segundo Back et al (2007), entrevistas sociolinguísticas são caracterizadas pela peculiaridade do método, que tem como objetivo analisar a fala de uma comunidade, o uso linguístico “espontâneo”. De acordo com Schiffrin (apud: Back et al, 2007), pode-se realizar um estudo ideal da variação utilizando as narrativas orais, pois são unidades delimitadas do discurso e apresentam uma estrutura interna regular. Logra-se, dessa forma, obter uma análise controlada e sistematizada dos aspectos formais e funcionais da variação. Portanto, observa-se que essas entrevistas possibilitam realizar pesquisas sobre fenômenos que caracterizam a língua, sendo assim, um instrumento metodológico de coleta de dados de fala em situações comunicativas naturais e espontâneas.

Analisei apenas a fala do entrevistado, pois a do entrevistador pode ser mais cuidada, pode ter sido previamente escrita, estudada, e, além disso, as informações acerca do entrevistador não são fornecidas, não podendo garantir assim que todos os informantes sejam da mesma região.

Após selecionar as entrevistas, destaquei todas as ocorrências do PC ocorrentes em todas as entrevistas através do uso da ferramenta computacional WordSmith Tools em sua quinta versão, desenvolvida por Mike Scott e Oxford University Press. Este programa é um grande facilitador para uma análise quantitativa, pois nos mostra todas as ocorrências existentes do que estamos pesquisando.

Depois do levantamento de todos os dados, estes foram rodados em um programa computacional utilizado por pesquisadores da sociolinguista quantitativa, o GoldVarb X. Neste programa, seleciona-se grupos de fatores que nos parecem importante para analisar o fenômeno. Esses grupos, na verdade, são as nossas hipóteses de que tipo de características linguísticas e/ou extralinguísticas, poderia influenciar determinada variação ou mudança. Foram selecionados, portanto, sete grupos de fatores, que após a rodagem no, GoldVarb X me permitiram analisar os resultados quantitativa e qualitativamente.

O primeiro grupo que seria analisado era o aspecto gramatical, analisar se o PC estava veiculado ao aspecto Perfeito ou perfectivo. Com esse fator, queria observar se, de fato, na variante mexicana do espanhol o PC só estaria veiculado ao aspecto Perfeito continuativo, se poderia ser outro subtipo de Perfeito, ou ainda, algo menos esperado, se encontraria algum caso de aspecto perfectivo.

Para julgar como Perfeito:

1- se o verbo indicasse duração, iteração ou evento começado, mas ainda não terminado;

2- se tivesse indicador temporal como esta semana, hoy, siempre, ahora, todavía no, nunca, ya102;

3- se não tivesse marcador temporal, mas fosse seguido por verbo no presente que tivesse relação com o fato, ação, estado expresso pelo PC.

Para julgar se era perfectivo utilizei dois critérios: 1- não haver marcador;

2- não haver nenhuma outra indicação de ligação com o presente.

Ainda que estivesse baseada nos critérios acima, em alguns casos foi difícil decidir se o verbo era de aspecto Perfeito ou perfectivo. Com relação à dificuldade de assegurar se o PC tem leitura perfectiva ou de perfeito, Ilpo Kempas (2008), confirma nossa dificuldade de especificar com exatidão o valor aspectual:

Aunque existen casos indudablemente atribuibles uno u otro aspecto –como el ejemplo (7f), que representa claramente el PPC AOR– para lograr una interpretación correcta, es necesario conocer todo el contexto. Aun así, opinamos que existen casos cuya aspectualidad no es fácil de determinar con criterios objetivos por un observador externo103.104

Entretanto, após análise dos dados, observei que no México, a forma composta sempre apresentava aspecto Perfeito. Portanto, o grupo de fatores – aspecto verbal de Perfeito ou perfectivo foi excluído da análise. Abaixo seguem os sete grupos, que de fato analisei, e a explicação do porquê de eles estarem sendo analisados:

1- PC de continuidade (d) ou PC de relevância presente (r) – esse grupo está voltado para a checagem de qual tipo das subvariedades de Perfeito é mais frequente na variante mexicana, relacionando também a escala proposta por Harris (1982), onde o PC pode passar por quatro estágios. Dividi os três tipos de Perfeito apresentados por García Fernández (2000) nos dois grupos que seguem abaixo propostos na escala de Haris (op. cit.):

I- Grupo do PC de continuidade – neste grupo está presente apenas o PC com leitura de aspecto Perfeito continuativo que pode conter traços de duração ou iteração. O predicado, nesse caso, uma ação que começou no passado, continua no presente e pode ser projetar para

102 Apesar de ya ser um marcador de fase, observei sua ocorrência junto do grupo de marcadores temporais. 103 Exemplo (7f) Anoche te he visto em sueños.

104 Embora existam casos, sem dúvida, atribuídos a um ou outro aspecto, como o exemplo (7f), que claramente representa o PPC AOR- para conseguir uma interpretação correta, é necessário conhecer todo o contexto. Ainda assim, acreditamos que há casos em que não é facil determinar a aspectualidade com critérios objetivos através de um observador externo.

o futuro. Esse tipo de PC seria o representante do estágio 2 da escala proposta por Harris (op. cit.). Para classificar um PC como desse grupo, utilizei alguns critérios:

1- se ele apresentava traços de duração ou iteração, para isso me apoiava na cardinalidade dos complementos, nos tipos de marcadores e também no contexto geral da entrevista;

2- se ele estava acompanhado de um marcador de negação ou duração, uma vez que considero, aqui, que esses marcadores durativizam a ação;

3- se enquadravam-se nos exemplos dados por Lope Blanch (1961), como, por exemplo, el maestro no ha venido (ainda pode vir), ou em relação às interrogativas – ¿Has pensado bien en lo que te dije?.

II- Grupo do PC de relevância presente – nesse grupo está presente o PC de leitura de Perfeito experiencial ou de resultativo, ambos marcam ações já acabadas, mas que tem relação com o presente. O experiencial é quando o sujeito passou por alguma experiência e isso tem alguma relevância no momento presente. Já o resultativo é quando se foca o estado resultante de uma ação passada. O uso desse PC estaria relacionado ao estágio 3 da escala proposta por Harris (op. cit.). Para classificar o PC como desse grupo, observava se a ação expressa representa uma experiência do passado relacionada ao momento da enunciação ou um resultado presente de alguma ação passada.

O esperado é que na variante mexicana grande parte, se não todos os usos de PC, seja do tipo continuativo.

2- Tipo de verbos – em relação ao aspecto lexical, havia quatro opções, baseadas na proposta de Vendler (1967): estado (e), atividade (a), processo culminado (u) ou culminação (h). Abaixo segue os traços que estão envolvidos para a classificação e análise de cada tipo de verbo:

- Verbos de estado: [- dinâmico], [- pontual] e [- télico]. - Verbos de de atividade: [+ dinâmico], [- pontual] e [- télico].

- Verbos de processo culminado: [+ dinâmico], [- pontual] e [+ télico]. - Verbos de culminação: [+ dinâmico], [+ pontual] e [+ télico]

A base deste trabalho é analisar o aspecto gramatical veiculado ao PC, mas esse grupo de fator foi criado para que eu pudesse observar se algum tipo de verbo favoreceria o uso do PC como Perfeito ou como Perfectivo.

Tendo em vista o caráter durativo e iterativo que a princípio o PC do México tem, minha hipótese inicial é que a maior parte dos verbos sejam de estado e atividade.

3- Pessoa gramatical do sujeito – poderia ser de primeira (1), segunda (2) ou terceira (3). Ao trabalhar esse grupo de fatores, tinha como objetivo observar se alguma dessas

pessoas favoreceria o uso de aspecto perfectivo ou Perfeito, ou ainda, se favoreceria algum subtipo de Perfeito.

4- Animacidade do sujeito – assim como o grupo anterior, gostaria de observar se o sujeito ser [+] animado (g) ou [-] animado (b), poderia favorecer um ou outro aspecto ou subtipo do aspecto Perfeito.

5- Marcador temporal – Com esse grupo de fatores, meu intuito era observar com que tipos de marcadores temporais os dados de PCs apareceriam e se encontraria algum uso de PC interpretado como aoristo acompanhado de um marcador temporal que não incluísse o presente, como por exemplo: “Ayer he visto a Juan”. Nesse grupo de fator, havia duas possibilidades: com marcador (c) e sem marcador (s).

6- Gênero: masculino (m) e feminino (f) – com esses fatores queria checar se haveria alguma diferença no uso do PC em relação ao homem e a mulher. De toda a literatura sobre PC consultada, nenhum trabalho fazia menção a esse fator, mas de qualquer forma, acredito que pode ser importante controlá-lo.

7- Grupo da faixa etária – jovem (j) ou adulto (v). Como é possível observar na proposta de Harris (1982), o PC passa por diversos estágios em diversas línguas, podendo portanto, sofrer modificações em seus valores aspectuais. Ao observar as diferenças entre o grupo jovem e o adulto, o intuito é ver se há alguma diferença de uso entre as gerações. Isso poderia indicar que o uso do PC está sofrendo modificações no espanhol do México.

Após apresentar os sete grupos de fatores que serão controlados, no próximo capítulo apresentarei a análise dos dados.

No documento – PósGraduação em Letras Neolatinas (páginas 76-83)

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