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– PósGraduação em Letras Neolatinas

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Academic year: 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE LETRAS E ARTES FACULDADE DE LETRAS

FLÁVIA TEIXEIRA PAIXÃO

O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA

Flávia Teixeira Paixão

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro como quesito para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Orientadora: Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

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O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA

Flávia Teixeira Paixão

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos mínimos para a obtenção do Título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola)

Aprovada por:

______________________________________________________________________ Presidente, Profa. Doutora Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

______________________________________________________________________ Prof. Doutor Celso Vieira Novaes - UFRJ

______________________________________________________________________ Prof. Doutora Viviane C. Antunes Lima (UFRRJ)

______________________________________________________________________ Profa. Doutora Angela Maria da Silva Corrêa – UFRJ, Suplente

______________________________________________________________________ Profa. Doutora Adriana Leitão Martins – UFRJ, Suplente

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Paixão, Flávia Teixeira.

O valor aspectual veiculado ao pretérito perfeito composto do espanhol na variante mexicana / Flávia Teixeira Paixão. – Rio de Janeiro: UFRJ/FL, 2011.

xi, 99f.: Il.; 31 cm.

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas (Língua Espanhola), 2011. Referências Bibliográficas: f. 112–116.

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Dedico esta dissertação àqueles que têm dedicado parte dos últimos vinte e cinco anos de suas vidas à minha vida. Aos meus pais, Sandra e Farias, a minha linda avó Wilma

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AGRADECIMENTOS

A Deus, pela oportunidade de estar aqui, por tudo o que sou e tenho e por tantas e tantas bençãos que me proporciona. Ao mestre Jesus pelo seu amor, ao meu anjo guardião e todos os amigos espirituais.

Aos meus pais, pelo amor e apoio incondicionais e pela educação moral e escolar que me deram. À minha mãe, por ser a melhor mãe que eu poderia ter, por cuidar tão bem de mim, ainda que seja da sua forma.

À minha linda avó Wilma, por também me amar incondicionalmente, cuidar sempre de mim e pelas orações para que eu conseguisse chegar até aqui com um pouco mais de calma e discernimento.

À minha irmã Fernanda, que apesar das inúmeras brigas, nos momentos difíceis sempre deixa claro seu grande amor por mim. Por estar sempre na torcida e me ajudar inúmeras vezes a corrigir testes, trabalhos e provas para que sobrasse tempo para eu fazer esta dissertação. E à minha irmãzinha Paola, que mesmo falando sempre no meu ouvido, quando eu estava triste, olhar para a alegria dela muitas vezes foi o que me animou. Ao meu irmão-cunhado Juju, por estar sempre disposto a me ajudar e por ser um amor em nossas vidas.

A Leandro Miranda pela imensurável compreensão e paciência de esperar, por tanto apoio e amor dedicados a mim. E principalmente por entender todas as minhas oscilações de humor.

À família Velho Miranda por sempre torcer por mim, por me receber de braços abertos todas as vezes que ia em suas casas. Às orações feitas pela minha sogra Neuza.

Aos meus amigos de anos que estiveram sempre prontos a ouvir minhas lamentações e reclamações, pela paciência e por entender que eu não poderia mais sair sempre. Obrigada, Carlinha Jales, Dayse Lucy, Manu Passos, Priscila Barbosa e Rachel Xavier. Amo vocês!!!

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orientações” e me mostrar que é possível um professor de faculdade pública ter vida acadêmica e vida pessoal. Obrigada por tudo!!!

Ao professor Celso Novaes, que teve que me receber com minhas diversas dúvidas, que teve paciência para as minhas chatices. Por ter sido um exemplo de professor e pesquisador, por ter respostas para tudo e por me fazer entender e gostar do Gerativismo.

Aos professores da Graduação que foram exemplos para mim do que é ser um verdadeiro PROFESSOR, com quem tanto aprendi durante todos estes anos na UFRJ. Meu muito obrigada aos caríssimos professores: Mercedes Sebold, Eline Resende, Silvia Cárcamo, Lúcia Helena Gouveia, Mônica Orsini, Fabiana Almeida, Mônica Fagundes e Celso Novaes. A todos os professores da graduação que contribuíram de alguma forma na minha formação como profissional e como pessoa.

Às minhas queridas amigas e companheiras de jornada: Camilla Santero, Carolina Parrini e Mariana Ruas (a “nem”), por compartilharem do desespero, das vitórias, das lágrimas, dos congressos e de tudo o mais que a Pós-Graduação nos proporcionou durante esses dois cansativos anos. Ao mais recente amigo Diego Vargas pelas dicas, auxílio e conversas pelo facebook. As minhas amigas “Clacquianas”: Taiana Braga, Lays e todas as outras.

À Priscila Santos e Bianca Florêncio pela inestimável por me ajudar a utilizar os programas para a análise.

À Luciana Nascimento, pelas aulas de italiano que possibilitaram meu ingresso no Mestrado.

Às meninas do grupo de IC que sempre foram uns amores: Leitão, Estrela, Lessa, Fernandinha, Sara, Letícia, Anne e todas as outras.

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À Carla Cristina minha grande e fiel amiga que apesar da distância que nos separa agora, sempre, em todos os momentos esteve presente em minha vida, me apoiando, me animando e me ajudando. Te amo amiga!

A minha mais recente amiga Cátia Nery, por toda a sua alegria e amizade!!!

A todos os amigos do Centro Espírita Meimei: Cláudia, Cláudio, Dione, Flávia Falcão, Jailton, Jorge, Lívia, D. Maria do Valle, Marta, Mariluci, Rebeca, Rita, Wanessa, por todo o apoio, orações, preocupações e por ser uma grande família para mim. Agradeço, também, aos meus anjinhos da evangelização, por serem pequenas luzes em minha vida. Não esqueço dos jovens da casa pelos quais também sou apaixonada!!!

A todos do CIEP 239, mas principalmente à Christiane, Claúdia Trevas, Juliana, Lígia, Louise, Maria Engracia, Natália, Telma, Sandra. Obrigada por tudo!!!

Aos meus queridos alunos do CIEP 239 que, apesar das “baguncinhas”, me alegram e me fazem sentir uma pessoa melhor e mais feliz.

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RESUMO

O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA

Flávia Teixeira Paixão

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

O objetivo principal deste trabalho é analisar, a partir de um estudo gerativista, o valor aspectual veiculado ao pretérito perfecto compuesto (he ido) na variante mexicana do espanhol. O pretérito perfeito composto (PC) é uma forma verbal que apresenta grandes divergências de uso entre as línguas românicas e também entre variantes geográficas — e sociais — de uma mesma língua.

Segundo García Fernández (2000), o PC no espanhol pode ter duas leituras aspectuais: uma de Perfeito (perfect) e outra de perfectivo. Martínez-Atienza (2008) destaca três subvariedades do aspecto Perfeito: o resultativo, o experiencial e o continuativo. E afirma que, na variante mexicana, o PC está veiculado ao aspecto Perfeito continuativo (ação iniciada no passado, que continua no presente e pode seguir acontecendo no futuro). Objetivo, portanto, neste trabalho observar, se, atualmente, o PC está veiculado apenas ao valor aspectual de Perfeito continuativo, no espanhol mexicano. As minhas hipóteses iniciais são: 1ª) que todo o PC nessa variante está veiculado ao aspecto Perfeito; 2ª) o PC está veiculado ao Perfeito continuativo.

O corpus utilizado consiste em oito entrevistas do projeto PRESEEA México, sendo dois homens e duas mulheres do grupo dos jovens (20-34 anos) e dois homens e duas mulheres dos adultos (35-54), todos com nível superior.

Os resultados obtidos demonstram que PC, no México, ainda está, na maior parte dos casos (78,6%), veiculado ao Perfeito continuativo. Contudo, 21,4% dos dados tinham o valor de relevância presente (Perfeito experiencial ou Perfeito resultativo), resultado esse que confirmou minha primeira hipótese, entretanto refutou a segunda.

Palavras-chave: Pretérito perfeito composto, aspecto gramatical, Gramática Gerativa.

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RESUMEN

O VALOR ASPECTUAL VEICULADO AO PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO DO ESPANHOL NA VARIANTE MEXICANA

Flávia Teixeira Paixão

Orientadora: Maria Mercedes Riveiro Quintans Sebold

Resumen da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Neolatinas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Neolatinas (Estudos Linguísticos Neolatinos, opção: Língua Espanhola).

El objetivo principal de este estudio es analizar, a partir de un estudio generativo, el valor aspectual relacionado al pretérito perfecto compuesto (he ido) en la variante mexicana del español. El pretérito compuesto (PC) es una forma verbal que muestra grandes diferencias en el uso entre las lenguas romances y también entre las variantes geográficas – y sociales – de una misma lengua.

De acuerdo con García Fernández (2000), el PC puede tener dos lecturas aspectuales: una de Perfecto (perfect) y una de perfectivo. Martínez-Atienza (2008) destaca tres subtipos del aspecto perfecto: el resultativo, el experiencial y el continuativo. Se dice que en la variante mexicana, el PC se relaciona al aspecto Perfecto continuativo (la acción se inició en el pasado, sigue en el presente y puede seguir en el futuro). Objetivo, por lo tanto, en este trabajo, observar, si, actualmente, el PC sólo se relaciona al valor aspectual de Perfecto continuativo en el español de México. Mis hipótesis iniciales son: 1ª) que todo PC en esa variante está relacionado al aspecto Perfecto; 2ª) el PC está relacionado al Perfecto continuativo.

El corpus utilizado se compone de ocho entrevistas del proyecto PRESEEA México, dos hombres y dos mujeres en el grupo de jóvenes (20-34 años) y dos hombres y dos mujeres de los adultos (35-54), todos con la educación superior.

Los resultados obtenidos demuestran que el PC, en México, todavía está, en la mayoría de los casos (78,6%), relacionado al Perfecto continuativo. Sin embargo, el 21,4% del valor de los datos tenían el valor de relevancia presente (Perfecto resultativo o Perfecto experimental), un resultado que ha confirmado mi primera hipótesis, sin embargo refutó a la segunda.

Palabras clave: Pretérito perfecto compuesto, aspecto gramatical, la Gramática Generativa.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1. ASPECTO DO PONTO DE VISTA DA TEORIA LINGUÍSTICA ... 15

1.1. A Teoria Gerativa ... 15

1.1.2. Representação sintática ... 22

1.2. Distinção entre Tempo e Aspecto Gramatical ... 30

2. O PRETÉRITO PERFEITO COMPOSTO ... 40

2.1. O aspecto Perfectivo e o aspecto Perfeito ... 40

2.2. A formação …... 46

2.3. O pretérito perfeito composto no Português e em outras línguas ... 47

2.4. O pretérito perfecto compuesto no Espanhol ... 54

2.4.1 O PC na variante mexicana do espanhol ... 64

2.5. A representação do PC nas árvores ... 70

3. METODOLOGIA E CORPUS …... 77

4. ANÁLISE DOS DADOS ... 84

4.1. Resultados da análise dos dados ... 84

4.2. A representação sintática do pretérito perfeito composto na variante mexicana ... 106

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 109

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 112

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INTRODUÇÃO

Chomsky (1986) afirmava que se um cientista marciano chegasse a nosso planeta sem conhecer nada sobre linguagem e observasse como se comportam, concluiria que haveria apenas uma única linguagem humana, com diferenças apenas marginais. Chomsky pretendia com essa metáfora demonstrar que as línguas seriam muito mais parecidas do que diferentes.

Ao comparar diversas línguas, se poderia pensar que há muitas diferenças entre elas, que entre algumas, inclusive, não existiria nenhuma semelhança. Entretanto, estudos, principalmente realizados depois da segunda metade do século XX, demonstram e defendem que há muito mais semelhanças que diferenças entre as línguas. Um dos argumentos que reforça essa visão universalista é que dispomos de uma Gramática Universal que disponibiliza todos os traços possíveis de serem realizados em uma língua natural.

A fim de provar que as línguas são mais semelhantes que diferentes, estudos gerativistas atuais têm realizado comparações entre elas, tendo como hipótese que por detrás das variedades, pode-se encontrar os componentes invariáveis de todas as línguas. Alguns desses estudos têm como objeto de análise as noções de tempo e aspecto e suas formas de realização morfológica.

Este trabalho também utilizará as noções de tempo e aspecto. Parte-se, aqui, da ideia de que a aspectualidade, ou seja, o visualizar as ações como acabadas, em transcurso, ou com consequências no presente é um processo mental, comum a todos os seres humanos e por isso existe em qualquer língua, ainda que haja diferentes formas de realizações de tal aspecto. Deste modo, a pesquisa, aqui feita, baseia-se nas teorias gerativistas que assumem que o aspecto é inerente, inato a todas as línguas, e que a diferença entre estas consiste na realização morfológica de cada uma.

Tratarei acerca da noção de tempo e aspecto ao analisar o pretérito perfecto compuesto (PC) do espanhol. O PC é uma forma verbal que apresenta grandes divergências de uso entre as línguas românicas e também entre variantes geográficas — e sociais — de uma mesma língua. Pode-se dizer que o PC é uma categoria temporal-aspectual, uma vez que carrega traços de tempo e aspecto. A princípio, essa forma composta1 estaria veiculada ao aspecto Perfeito2. Martínez-Atienza (2008) destaca três subvariedades do aspecto Perfeito: o resultativo, o experiencial e o continuativo. Entretanto, enquanto no português, o PC estaria,

1 Sempre que utilizar a expressão “forma composta” estarei referindo-me ao pretérito perfeito composto. Já ao

mencionar a forma simples, estarei citando o pretérito perfeito simples.

2 Para diferencial o aspecto Perfeito do tempo verbal pretérito perfeito, utilizarei a letra maiúscula quando fizer

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de fato, apenas veiculado à leitura aspectual de Perfeito continuativo, veremos mais detalhadamente, neste trabalho, que há a possibilidade, em espanhol, segundo alguns autores (Bartens & Kempas, 2007 e Carrasco Gutiérrez, 2008), do PC poder, a princípio, na variante peninsular do espanhol, e no norte da Argentina estar veiculado a dois aspectos: Perfeito3 ou Perfectivo.

Há muitos estudos dedicados a debater o uso do PC em espanhol, a descrever os contextos onde aparecem nas diferentes variantes dessa língua. Entretanto, poucos abordam a questão deste tempo verbal poder veicular dois diferentes aspectos, o perfectivo (evento concluído) ou o Perfeito (consequência no presente de um evento passado).

O estudo de Harris (1982, apud Akerberg 2008) analisa o uso do PC nas línguas românicas. Com a evolução dessas línguas, o uso desse tempo verbal foi se modificando e com isso o valor aspectual veiculado a ele também. O autor descreve a evolução da categoria do PC em diferentes etapas e propõe que o PC pode estar em 4 estágios. Harris, (ibidem) demonstra o que representa o PC em cada etapa e mostra que ao se desenvolver e passar para outro estágio, a língua não perderá os valores já existentes. A escala do autor começa com a etapa onde o PC encontra-se apenas veiculado ao Perfeito resultativo, já a última fase, seria aquela onde o PC fosse utilizado em contextos nos quais deveria-se usar a forma simples, ou seja, em contexto de aspecto perfectivo.

O meu projeto inicial ao entrar no mestrado era analisar o PC no português do Brasil, na variante madrilena e mexicana do espanhol. Escolhi usar o PC porque apesar dele existir no português e no espanhol, os valores semânticos nem sempre são equivalentes nessas línguas.

Contudo, quando fui buscar dados no corpus brasileiro que iria usar, NURC-RJ (Projeto da Norma Urbana Oral Culta do Rio de Janeiro), apenas encontrei cinco ocorrências de PC, quantidade que seria insuficiente para análise. Recorri a outro corpus, Peul (Projeto de Estudos sobre o Uso da Língua), onde havia somente uma ocorrência. Essas poucas ocorrências, poderiam, a princípio, demonstrar que nessa língua há um baixo uso do PC, que poderia ser justificado pela questão de estar vinculado apenas a contextos de Perfeito continuativo, ou por estar sendo substituído pela perífrase estar + gerúndio.

Nesta dissertação, analisarei, portanto, o uso do PC na variante do México. Entretanto, ainda que os dados analisados sejam dessa variante, não deixarei de fazer comparações com o português e com a variante mexicana do espanhol.

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Estudos4 defendem que a variante mexicana do espanhol, utiliza o PC apenas veiculado a leitura de Perfeito continuativo, ou seja, refere-se a ações que começaram no passado, continuam no presente e podem ocorrer no futuro.

Minhas hipóteses iniciais são que: 1ª) de fato o PC no México estaria veiculado ao aspecto Perfeito; 2ª) o PC estaria veiculado basicamente ao Perfeito continuativo.

Ao realizar este trabalho, tenho como objetivos descrever o uso do PC na variante do México, em quais contextos ele aparece. Além disso, confirmar se, de fato, o PC da variante mexicana está veiculado ao Perfeito continuativo. E por último, observar a relação do PC com os marcadores temporais; uma vez que esse é um dos pontos a que muitos se referem quando tratam da diferença entre a forma simples e a composta do pretérito perfeito do indicativo.

Para realizar minha análise, utilizarei um corpus que consiste de oito entrevistas do projeto PRESEEA (Proyecto para el Estudio Sociolingüístico del Español de España y de América) México, sendo dois homens e duas mulheres do grupo dos jovens (20-34 anos) e dois homens e duas mulheres dos adultos (35-54), todos com nível superior.

Tendo em vista os objetivos supracitados, este texto divide-se em cinco capítulos. No primeiro, apresento o quadro teórico da Gramática Gerativa, defino o que é tempo e aspecto e defendo a existência de um nódulo aspectual da árvore sintática. No segundo, exponho acerca do aspecto Perfeito, da formação do PC e do seu uso nas diversas línguas e variantes. No terceiro, apresento a metodologia e o corpus utilizado e no quarto, faço a análise dos dados levantados. No quinto apresento, então, as considerações finais.

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1. ASPECTO DO PONTO DE VISTA DA TEORIA LINGUÍSTICA

Neste capítulo, apresentarei dois conceitos fundamentais para a análise que me proponho a fazer: o de tempo e o de aspecto. Entretanto, antes de tratar especificamente sobre eles, apresentarei a Teoria Gerativa, na qual me baseio nesta dissertação.

1.1. A Teoria Gerativa

Nesta seção, apresentarei os princípios básicos da Teoria Gerativa, em seguida as quatro questões fundamentais para a investigação gerativista, para depois expor sobre o modo de representação usado nessa teoria, e propor que, assim como o tempo, o aspecto deveria ter um lugar na árvore sintática.

1.1.1. Princípios básicos

Até meados da década de 50, o campo da linguística era dominado pelo estruturalismo clássico, por pressupostos teóricos behavioristas, em que a aquisição da linguagem era vista como resultado da observação do comportamento dos adultos e da formação de hábitos. Os behavioristas estudavam o comportamento, pois esse poderia ser algo observável. Para esses estudiosos, o “não observável” não poderia ser estudado cientificamente e comprovadamente. Suas pesquisas tinham ênfase nos princípios básicos da aprendizagem e da mudança de comportamento, defendiam que todo o comportamento seria aprendido. Na teoria behaviorista, o indivíduo seria um ser passivo no processo de aprendizagem sofrendo influência do meio externo. Entretanto, esse meio poderia ser manipulado, modificando assim o comportamento do indivíduo.

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portanto, no princípio de que cada falante possuía uma gramática interiorizada composta por um dicionário mental das formas da língua e por um sistema de regras que permitia combinar essas formas à semelhança do processamento computacional.

Assumir uma proposta inatista não significa dizer que a criança já nasça com sua gramática particular pronta, como explica Raposo (1998), e sim que já possua uma predisposição para sua formação, que depende de um “gatilho” que será dado pela interação desse aparato interno com os dados do meio ambiente. Isso significa a maturação da gramática interna. Pode-se observar, portanto, que a Gramática Gerativa não nega que os dados linguísticos do meio externo influenciem na aquisição da linguagem da criança, mas afirma que sem o dispositivo linguístico inato à criança, apenas o meio exterior não conseguiria formar a gramática particular de um falante.

A Gramática Gerativa considera que os seres humanos possuem a faculdade da linguagem e que essa seria específica da mente humana, ainda que outras espécies disponham de sistemas de linguagem (comunicação). Dessa forma, assume-se que as propriedades essenciais da linguagem são diretamente determinadas pelas propriedades mentais dos seres humanos e estudar a linguagem humana consiste em estudar determinadas propriedades da mente dos homens (CHOMSKY, 1986). Portanto, a natureza dos estudos gerativistas é mentalista, ou seja, seu objeto de estudo está baseado em um sistema de regras e princípios radicados em última instância na mente humana.

Afirmar que existe uma faculdade da linguagem, é assumir a modularidade da mente, assumir, também, que a mente é composta de módulos autônomos, e que um deles seria o da faculdade da linguagem. É importante ressaltar que dizer que um módulo é autônomo não é defender que ele não interaja com outros módulos, como por exemplo, com os de desempenho: sistema articulatório-perceptual, que interpreta e regula as propriedades fonéticas, e o sistema conceptual, que interpreta e regula as propriedades semânticas. O que se quer defender é que cada faculdade da mente tem suas propriedades exclusivas e, por isso, deve ser observada e analisada separadamente.

Um dos autores que argumentou a favor da modularidade da mente foi Curtiss (1981). A autora, através de estudos de casos de crianças5, defende a ideia de que a mente humana apresenta diversos módulos independentes constituídos por diferentes sistemas cognitivos. A aquisição da linguagem, não dependeria apenas do desenvolvimento sensório-motor, ela se

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desenvolveria através de mecanismos específicos da linguagem.

Essas crianças apresentavam claras dissociações entre a linguagem e outras habilidades cognitivas não-linguísticas, ou seja, poderiam conseguir produzir frases com boa sintaxe e morfologicamente correta, entretanto sem sentido ou vice-versa. Uma dessas crianças que Curtis (ibidem) analisa é Marta, uma menina de 16 (dezesseis) anos com retardo mental que conseguia produzir frases com morfologia e sintaxe correta, mas sem sentido lógico. Com os testes neuropsicológicos aplicados a Marta, a autora chega a conclusão que a faculdade que está relacionada às habilidades sintática e morfológica, não é a mesma relacionada ao aspecto semântico das frases.

Outra questão a ser apresentada sobre a teoria gerativista é seu caráter universalista, ou seja, defende-se que todas as línguas humanas possuem propriedades comuns, mesmo não havendo, anteriormente, qualquer contato que permita atribuir essas características comuns à difusão cultural. Isso se deve ao fato da GU possibilitar, em seu estágio inicial, as realizações de todos os sistemas linguísticos do mundo, ou seja, possibilitaria o desenvolvimento de qualquer língua.

Assume-se que a FL é constituída pelo léxico e pelo sistema computacional6. O léxico seria como um “armazém” de itens lexicais, entradas lexicais que contêm informações minimamente de natureza fonética, sintáticas, semânticas. As entradas lexicais teriam também informações de natureza idiossincráticas, do tipo – óculos (só existe no plural). Já o sistema computacional estaria formado por princípios invariáveis com opções restritas aos elementos funcionais e propriedades gerais do léxico, as computações também podem ser chamadas de derivações. O sistema computacional produz representações que podem convergir ou fracassar, isto é, elas convergem quando conseguem ser legíveis pelos sistemas de interface, caso isso não ocorra, há o fracasso, conhecido na literatura como crash. Defende-se, nessa fase da teoria, que há um vocabulário universal invariante de onde são retirados os elementos substantivos, e as categorias funcionais seriam os únicos elementos parametrizáveis (CHOMSKY, 1995). Defende-se, dessa forma, que as línguas são muito mais semelhantes do que distintas, já que possuem princípios universais. As variações e diferenças entre as línguas encontram-se nas diferentes formas de realização dos traços dos itens lexicais.

Chomsky (2001), ao tratar sobre as diferenças entre as línguas, propõe o princípio da

6 A Teoria da Gramática Gerativa começa em uma época que está em auge o desenvolvimento dos computadores,

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Uniformidade, e em um primeiro momento assume essa proposta de que, em termos gerais, a linguagem é uniforme e de que todas as línguas têm acesso a todos os traços dos itens lexicais. Entretanto, mais adiante, no mesmo texto, o autor defende o princípio da Seletividade que seria baseado na proposta de que diferentes línguas selecionariam distintos traços de um conjunto de traços universais do léxico. Sigurðsson (2005) defende que apenas o princípio de Uniformidade explicaria a diferença entre as línguas

Analisando tais diferenças, Sigurðsson (ibidem) defende o fato de que se um traço não for realizado morfologicamente não significa que ele não exista em determinada língua. O autor propõe o “Princípio do Silêncio”, isto é, as línguas possuiriam “silêncios com significados” (meaningful silence). Esses silêncios seriam traços que são semanticamente interpretáveis, mas fonologicamente silenciados. Sigurðsson (ibidem) assume, portanto, que todas as línguas têm acesso a todos os traços, que podem ser realizados fonologicamente ou não.

Um exemplo para a proposta do autor de “Princípio do Silêncio” seria o da ausência de sujeito e de morfema explícito para marcar número e pessoa no verbo das orações não-finitas no português. Em: Carla disse [__querer aquela saia], é possível saber quem é o sujeito do verbo querer, uma vez que existe um sujeito abstrato (denominado PRO) co-referenciado ao sujeito da oração principal e que apresenta, portanto, os mesmos traços desse.

Ao pensar nas diferenças entre as línguas e nas variações dentro de uma própria língua, Menegotto (2003) também apresenta elementos da Gramática Gerativa que permitem entender como é possível que haja diferenças entre as línguas se a GU é algo inato aos seres humanos7.

Menegotto (ibidem) cita o Princípio da uniformidade (CHOMSKY 2001), para apresentar a questão da variação. A faculdade da linguagem seria, portanto, um sistema perfeito, com sintaxe perfeita e pura e as imperfeições viriam dos sistemas de desempenho. A variação é, portanto, uma imperfeição e por isso deveria ser atribuída a fenômenos observáveis. A autora explica que a faculdade da linguagem precisa adaptar seu conteúdo aos sistemas de desempenho8 e que as aparentes imperfeições entre as línguas seriam resultados dessa adaptação. Dessa forma, a autora expõe que essas imperfeições não procedem do sistema computacional e sim das interfaces que se relacionam com os outros sistemas envolvidos na linguagem (articulatório-perceptual e conceptual-intencional)

7 Os argumentos de Menegotto (2003) são baseados no Programa Minimalista. Esta fase da Gramática Gerativa

será apresentada nesta dissertação mais à frente.

8 Princípio da Condição de legibilidade do Programa minimalista. Nesta dissertação, apresentaremos esse

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Como dispomos de um repertório muito amplo de opções léxicas, sintáticas e fonológicas, conseguimos nos comunicar de forma efetiva em diferentes situações comunicativas. O fato de que um falante use diferentes construções em distintas situações não é algo que deva ser explicado através do conceito da gramática universal, entretanto, a GU deve ser capaz de explicar satisfatoriamente porque todas essas construções são possíveis.

Sendo assim, defende-se, então, que a variação se encontra no léxico, e que a sintaxe é a mesma e única para todas as línguas. A criança selecionaria em sua gramática os traços que são relevantes em sua língua e iriam associando-os aos morfemas. Essa associação, segundo Menegotto (ibidem), poderia ser de um morfema com um traço ou poderia acontecer que o mesmo morfema se associasse a mais de um traço9.

A questão do universalismo, da uniformidade e do lugar da variação, segundo a Gramática Gerativa, foram tratadas pelo fato de serem questões fundamentais para explicar o fenômeno que estudo nesta dissertação. O aspecto é um traço disposto em todas as línguas como propõe o universalismo, entretanto as diferenças existentes em suas formas de realizações encontram-se relacionadas à morfologia. Menegotto (ibidem) defende, por exemplo, que é possível dizer que duas línguas podem ser diferentes na especificação categorial dos itens que expressam tempo, ou seja, diferenciam-se em relação aos morfemas temporais que se associam com diferentes traços para determinar seu status categorial. Dessa forma, a princípio, podemos pensar que os distintos valores veiculados ao pretérito composto nas diversas variantes do mundo hispânico, possam ser justificados pela associação de algum morfema a diferentes traços aspectuais ou temporais. Ao propor uma árvore sintática para o uso do PC com valor de Perfeito e outra para o uso do PC com valor de Perfectivo, explorarei mais essa relação entre morfema e traços.

Voltando à apresentação dos princípios e pressupostos da Gramática Gerativa, faz-se necessário apresentar a questão central de pesquisa desse quadro teórico. O objetivo dos linguistas gerativistas é a compreensão de quais são os estados mentais que correspondem ao conhecimento de uma língua. Assim sendo, Chomsky (1988) formula quatro questões fundamentais que são a base de toda a investigação gerativista:

1) O que constitui o sistema de conhecimento linguístico? 2) Como esse sistema de conhecimento surge na mente/cérebro? 3) Como esse sistema de conhecimento é posto em uso?

4) Quais são os mecanismos físicos que servem de base para esse sistema de

9 Tem-se como exemplo, a desinência -va do pretérito imperfeito do indicativo, que contém traço de tempo e de

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conhecimento e para o uso do mesmo?

A primeira pergunta busca saber quais estados mentais correspondem a conhecer uma língua. O objetivo é tentar entender os estados mentais da mente humana, compreender o conteúdo desse sistema de conhecimento. Entretanto, para estudar, de fato, as questões relacionadas à pergunta número 1, é necessário diferenciar os conceitos de competência e desempenho linguísticos. Chomsky (ibidem) define competência como conhecimento linguístico, é algo inconsciente, não escolarizado. A competência estaria relacionada aos princípios da GU.

Já o desempenho corresponde à habilidade linguística e está relacionado ao modo como esse conhecimento é posto em uso. O desempenho é a interação da faculdade da linguagem com os sistemas que põem em uso esse conhecimento linguístico (competência). No desempenho podem surgir alguns problemas, devido a algumas falhas, como, por exemplo, de atenção ou de memória.

Esses princípios fornecidos pela GU ofereceriam mais de uma possibilidade de realização morfológica, entretanto, quando a criança entra em contato com os dados de sua língua materna uma dessas possibilidades é fixada na mente do indivíduo.

Para exemplificar a questão da fixação de um parâmetro, pode-se citar a possibilidade de haver sujeito nulo10 nas diferentes línguas. O português e espanhol, por exemplo, permitem frases sem a presença do sujeito fonético, o que já não ocorre no italiano. Pode-se explicar essa questão pelo fato de que a GU possui um princípio que determina a existência da posição de sujeito nas orações.

Para que se possa responder à primeira questão proposta – o que constitui o conhecimento linguístico de um indivíduo –, é necessário que sejam descritos os princípios inatos, que caracterizam a GU, e os parâmetros específicos a sua língua.

A segunda questão tem recebido uma especial atenção nos estudos gerativistas, está focada na pesquisa do modo como adquirimos esse sistema de conhecimento. Trata-se do estudo sobre aquisição de linguagem. Essa questão está ligada à primeira pergunta, pois para estudar a aquisição na teoria gerativista, se faz necessário assumir uma visão inatista, aceitando a existência da GU.

Chomsky (ibidem), ao tratar dessa questão cita o “Problema de Platão”. Ele questiona como os seres humanos com um contato tão breve, pessoal e limitado com o mundo são

10 Essa questão na literatura, encontra-se geralmente associado ao Parâmetro pro-drop na Teoria de Princípios e

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capazes de saber tanto. A resposta dada é que esses já nasceriam com um conhecimento prévio, inato, uma herança biológica, geneticamente determinada, igual a outros elementos próprios aos seres humanos que fazem com que tenhamos pernas e braços ao invés de asas, por exemplo. Portanto, para responder à segunda questão, é necessário pesquisar como se dá a fixação dos parâmetros presentes na GU quando o indivíduo é inserido no ambiente linguístico.

Em relação à questão 3, que busca saber como esse sistema de conhecimento é utilizado pelo falante em situações discursivas concretas, o que se deve observar é o desempenho linguístico, isto é, como se põe em uso a competência linguística do indivíduo. Chomsky (ibidem) defende que essa questão se divide em dois aspectos: o problema da percepção (como interpretamos o que ouvimos) e o problema da produção (o que dizemos e porquê dizemos algo). O autor relaciona este último ao “problema de Descartes”, que defende o aspecto criativo do uso da linguagem. O ser humano, portanto, não repete apenas o que ouve, ele produz novas formas linguísticas (novas em sua própria experiência linguística ou na história da língua) e não existe limites para esta inovação. Chomsky (ibidem) conclui que os homens são capazes de criar / compreender um número infinito de expressões linguísticas a partir de um número finito de regras, estipuladas pelos princípios inatos e pelos parâmetros da língua.

E, por fim, a quarta questão se refere aos mecanismos físicos, neuronais que suportam a linguagem como sistema mental. Para se estudar essa questão seria necessário encontrar mecanismos físicos que correspondessem aos conceitos abstratos propostos pelos linguistas gerativistas. Isso só será possível se houver um trabalho conjunto entre linguistas, neurologistas, psicólogos e patologistas da fala.

A pesquisa que será feita, nesta dissertação, está relacionada com a questão (1), pois pretendo descrever fenômenos observados através do desempenho linguístico dos informantes, tentando compreender o que se passa na mente de um falante quando utiliza o tempo verbal estudado, e como é possível que o PC esteja relacionado a diferentes leituras aspectuais. A seguir apresentarei a forma de representação sintática utilizada na Gramática Gerativa.

1.1.2. Representação sintática

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aproximadamente com as palavras. Contudo, não seriam todas as sequências que constituiriam expressões gramaticais. O autor apresenta como exemplo as três frases a seguir (p.65):

(a) O mecânico limpou o automóvel com um pano. (b) * O limpou mecânico automóvel o pano um com. (c) * O um o com mecânico limpou automóvel pano.

Como é possível observar, as sentenças (b) e (c) são agramaticais11, ou seja, são sentenças que não têm sentido na língua portuguesa. Ao observar esses exemplos, pode-se supor que na mente do falante haveria um mecanismo que estabeleceria uma estrutura interna à sequência linear entre os elementos dentro de uma oração. As frases (b) e (c) não estariam compatíveis com essa sequência.

Para que uma sentença seja formada, há sucessivas uniões de elementos de nível inferior em grupos maiores, começando pelos itens lexicais. Esse tipo de organização em grupos hierárquicos complexos denomina-se estrutura de constituintes. Observe a estrutura de constituintes da frase (a), segundo Raposo (ibidem, p. 66):

Como é possível observar, na formação de uma frase temos diversos grupos menores. Por exemplo, os constituintes o e mecânico juntaram-se formando um grupo hierarquicamente superior (um constituinte sintagmático), o que podemos ver também com o automóvel e um pano. Em seguida a palavra com se une ao grupo um pano, formando, consequentemente,

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outra unidade de nível superior. Dessa forma, as sequências vão se unindo, formando sempre níveis superiores, até chegar à sequência estrutural mais elevada que é a frase. Nas frases, (b) e (c), há a junção de elementos que não é permitida pelas regras da gramática do falante, e por isso são sentenças agramaticais.

Como expus anteriormente, os estudos gerativistas se propõem a pesquisar quais são os estados mentais que correspondem ao conhecimento de uma língua e como seria a representação mental de uma sentença composta de constituintes sintagmáticos. A gramática gerativa representa esses sintagmas e seus movimentos dentro da sentença através de uma estrutura hierárquica composta por nódulos binários, chamada de “árvore sintática”. Nessa representação, cada constituinte corresponde a um nó, que tem o nome da categoria que ele representa. Os diversos elementos que formam a estrutura de uma expressão linguística são classificados em um número finito de categorias. Essa classificação depende da natureza das palavras e essas categorias são o produto da combinação de traços distintivos binários12.

Ao citar o modelo de representação da árvore sintática é importante apresentar o modelo da Teoria X-barra, que consiste na inclusão de categorias de nível intermediário posicionadas entre as categorias mínimas (as categorias lexicais) e as categorias máximas (as categorias sintagmáticas).

Para os gerativistas, as frases possuem esquemas sintáticos abstratos em que se reconhecem três níveis hierárquicos, em vez de dois (as categorias lexicais – nome (N), verbo (V), preposição (P), adjetivo (Adj) e as categorias sintagmáticas - SN, SV, SP, Sadj). São três níveis de projeção sintática a partir das categorias lexicais V, N, A e P. A projeção sintática de nível 1 seria o resultado da combinação da categoria lexical com os seus complementos e representa-se como X', sendo que X se refere a uma variável que pode ser preenchida por uma categoria N', V', A' ou P'. A projeção sintática de nível 2 é o resultado da composição da categoria X' (obtida através da primeira projeção) com o especificador da categoria lexical em questão, representando-se como X" (variável que pode ser N", V", A", P''). Os especificadores não fazem parte da composição das categorias lexicais nem tampouco podem ser categorias lexicais, mas servem-lhes de modificadores. A configuração abstrata da teoria X-Barra será, dessa forma, representada segundo o esquema:

12 Dizer que os traços são binários quer dizer que um traço pode ser marcado positivamente, caso esteja presente

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Em um primeiro momento, as frases poderiam ser classificadas baseadas na estrutura morfológica da flexão verbal, propôs-se, então, que a categoria da flexão (INFL13 ou I) fosse o núcleo da sentença. Assim, a sentença (S) passou a ser considerada a projeção máxima de INFL. A flexão verbal pode projetar novos níveis, sendo, portanto, uma categoria funcional de grande importância na sintaxe da frase. Veja abaixo como seria a árvore sintática com INFL:

Árvore sintática com INFL14

O nódulo de flexão tinha como núcleo INFL e como complemento VP. A categoria flexional INFL seria composta por um conjunto de traços binários de Tempo – [± T] e Concordância – [± Agr]. A partir do momento em que se definiu INFL como núcleo da sentença, vários estudos começaram a surgir sobre a camada flexional.

Um desses estudos foi o de Pollack (1989). A partir de um estudo feito por Edmond (1976), em que o autor propunha que todos os verbos em francês se moviam para a camada flexional (IP), Pollack (op. cit.) faz um estudo comparativo detalhado entre o francês e o inglês. O autor tinha como objetivo encontrar uma explicação que desse conta da posição dos verbos em relação aos advérbios (intra-sentenciares), às partículas de negação e ao

13Nesta dissertação, serão utilizadas as siglas do inglês, por serem consagradas na literatura. INFL (inflection -

flexão)

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quantificadores em ambas as línguas. Ele objetivava conseguir que uma mesma árvore pudesse conter todos os nódulos necessários para todo tipo de movimento do verbo.

Baseado em diversos exemplos extraídos das duas línguas e a partir da assunção de que o advérbio tem posição fixa na sentença e que a posição de origem é [Adv + V], Pollock (op. cit.) observou que, em sentenças finitas no francês, o verbo sempre se deslocava para a esquerda do advérbio quando havia um marcador de negação ou um quantificador; no inglês, não havia tal movimento, salvo com verbos não-lexicais (be / have). Já nas orações não-finitas com verbos lexicais, o verbo segue o marcador de negação (Neg + V) e antecede o advérbio (V + Adv) no Francês e, em inglês, a negação antecede o verbo (Neg + V). Com verbos não lexicais o verbo pode anteceder ou se pospor à negação no Francês, no inglês a possibilidade de [V+Neg] seria duvidável.

Pollock (op. cit.) propôs, então, que não haveria somente um sítio de aterrissagem para o verbo, IP, e sim dois, um para o que chamou de movimento curto e outro para o movimento longo. O movimento curto ocorre quando os verbos não-finitos se movem para uma posição entre a partícula de negação e a posição ocupada pelo advérbio / quantificador, esse sítio de aterrissagem seria o nódulo que abrigaria as informações de concordância (AgrP). Já os verbos lexicais realizariam os movimentos longos e o sítio de aterrissagem abrigaria as informações de tempo verbal (TP).

Assim sendo, para dar conta do comportamento do verbo em orações finitas e não-finitas e, após observar tais movimentos, Pollock (op. cit.) conclui que uma única camada flexional não poderia dar conta das diferentes posições do verbo no francês, o que o leva a propor a cisão da camada flexional em duas: tempo e concordância. O autor alega que a diferença entre as duas línguas residiria na força de AGR, que é o que faz com que os movimentos ocorram. Assim sendo, em línguas com AGR opaco (inglês, por exemplo), os verbos lexicais não se movimentam em direção à INFL porque precisam atribuir papel temático (se subissem não conseguiriam fazê-lo). Já em línguas de AGR transparente (francês, por exemplo) o verbo lexical se movimenta em direção à INFL e mesmo assim é capaz de transmitir papel temático.

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Árvore sintática proposta por Pollock (apud LESSA, 2010)

Na proposta de Pollock (op. cit.), o nódulo de tempo (TP) dominaria o nódulo de concordância (AgrP). Muitos foram os estudos que surgiram analisando se realmente TP dominaria AgrP.

Na década de 90, Chomsky, através de seus estudos, observa que devem ocorrer algumas mudanças no quadro teórico da Gramática Gerativa. Nessa época, o que se defendia era a teoria de Princípios e Parâmetros, contudo com esse objetivo de fazer algumas mudanças no quadro atual, Chomsky apresenta suas novas propostas e denomina essa fase da Gramática Gerativa como Programa Minimalista (PM)15. Como anteriormente, se continuará observando a língua, sua representação e seus constituintes. Dessa forma, no PM haverá uma importante mudança na estrutura da representação sintática proposta por Pollock (op. cit.).

Neste novo momento da teoria gerativista, a linguagem passou a ser descrita em termos de economia e simplicidade e as demais faculdades mentais que interagem com a FL16 passaram a ter mais destaque na teoria. Essas faculdades mentais seriam os sistemas de desempenho: o articulatório-perceptual, responsável pelas informações referentes ao som e o sistema conceptual-intencional, responsável pelas informações referentes ao significado.

No modelo do PM, mantém-se a ideia de que a FL é constituída pelo léxico e pelo sistema computacional, entretanto, agora, propõe-se que as diferenças entre as línguas não se

15 É necessário esclarecer que o PM não é um novo quadro da Gramática Gerativa, na verdade ele apenas traz

algumas modificações com relação aos modelos anteriores. Por ter havido algumas mudanças, um novo nome foi apresentado.

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encontram no sistema computacional e sim no léxico. Dessa forma, como as línguas são mais semelhantes do que diferentes, uma vez que possuem os princípios universais, a variação e as distinções entre as línguas encontrariam-se nas diferentes formas de realização dos traços dos itens lexicais.

Três princípios centrais do PM são os de: Condição de economia, de legibilidade e de Interpretação Plena. A condição de economia diz respeito a formação de uma expressão linguística, essa sempre será feita através da derivação que seja mais econômica, que tenha menos passos, isto é, o processo que seja menos custoso.

A condição de legibilidade refere-se ao fato de que os sistemas de desempenho precisam ser capazes de compreender as instruções que os níveis linguísticos (forma fonológica e a forma lógica17) emitem. Portanto, para que sejam aproveitadas, as expressões geradas pela FL devem satisfazer as condições de legibilidade impostas por esses sistemas. E por último, a interpretação plena está relacionada ao fato de não poder haver símbolos supérfluos na representação gerada. A forma fonológica não pode gerar, por exemplo, um tipo de som que não tenha correspondente no sistema de desempenho, pois isso seria apenas ruído.

Outra mudança do PM é que já não se defende mais a operação de movimento do verbo como servindo para a incorporação de afixos verbais ao radical. O movimento agora é compreendido como uma operação para a checagem dos traços flexionais presentes nos verbos de uma determinada língua – informação já disponível na entrada lexical – com os traços invariáveis presentes nas categorias flexionais das línguas. Portanto, antes se defendia a ideia de que o verbo vinha do léxico nu e se movimentava para incorporar os morfemas de tempo, concordância, etc, depois se passou a defender que o verbo já viria flexionado e se movimentaria para checar a compatibilidade desse morfema com os traços especificados na categoria funcional.

A visão de checagem de traços é importante, pois se assume dessa forma que certos traços formais de um item lexical podem ser eliminados durante seu processo de geração pelo sistema computacional. Por exemplo, os traços formais fortes não são lidos pela interface lógica e, por isso, precisam ser eliminados antes de spell-out18, ou seja, na sintaxe aberta19, para satisfazer as condições de legibilidade impostas pelos sistemas de desempenho.

Considerando a questão da interpretabilidade dos traços pelos sistemas de desempenho

17 A forma fonológica é o nível que estabelece interface com sistema articulatório perceptual. Já a forma lógica é

o nível que estabelece relação com o sistema com sistema conceptual.

18 Ponto a partir do qual, não se pode mais inserir nenhum item lexical.

19 Tudo que acontece na sintaxe aberta terá repercussão nas duas interfaces – de som e de significado. Será algo

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e tendo como objetivo apresentar uma organização do sistema linguístico de uma forma mais econômica, Chomsky (1995) sugere que a representação dos sintagmas nas árvores devesse ser feita apenas quando esses fossem semanticamente relevantes. O autor, através de suas análises, conclui que traços formais fortes não são interpretáveis pela interface lógica, devendo, dessa forma, ser eliminados na sintaxe aberta. Propõe, então, que as categorias que só tivessem traços não-interpretáveis deveriam ser completamente eliminadas da teoria.

Chomsky (ibidem), a partir de dados em inglês, observou que o traço formal de concordância dos verbos era não-interpretável pela interface lógica, ou seja, não era conceptualmente motivado e, por isso, não havia necessidade de se manter como núcleo de uma categoria funcional. O autor argumenta que para a interpretação de um conceito expresso por um substantivo é relevante o fato desse ser singular ou plural, o que não aconteceria com a interpretação de um verbo, na qual a concordância de número do verbo não interferiria.

Chomsky (ibidem), propõe, portanto, que se elimine o nódulo de concordância (Agr) da árvore como categoria funcional e inicia-se, então, uma nova pesquisa em busca de uma categoria que pudesse ocupar o nódulo de Agr junto com o tempo.

Bok-Bennema (2001), para analisar a categoria flexional, baseia suas observações em dados do francês e do espanhol e assume a proposta de Cinque (1999) de que há uma ordem dos advérbios e que em muitas línguas esta hierarquia é constante. Bok-Bennema (op. cit.) realiza sua análise tentando dar conta das diferentes posições dos verbos em relação aos advérbios, os quais divide em advérbios de modo, “intermediários” e modais. A autora defende que, uma vez que se submetem à operação merge20, os advérbios não se movem21 mais.

Após seus resultados, a autora postula quais seriam os sítios de aterrissagem do movimento longo e curto do francês e do espanhol, com o verbo finito ou não-finito. Bok-Bennema (op. cit.), alcança importantes observações a partir da análise de tempos compostos – verbo auxiliar flexionado e verbo principal no particípio. A autora explica que o alvo do movimento do particípio passado, tanto no francês como no espanhol, seria F222. Ela defende que esses particípios codificam, tipicamente, traços de aspecto, e que o fato de eles se moverem para F2 indicaria que F2 é um núcleo aspectual que conteria traços [± Perfectivo].

20 Operação responsável pela ligação de objetos linguísticos já formados, para a construção de uma expressão

linguística maior.

21 Com exceção dos casos como o de movimento wh. Movimento wh ocorre em interrogativas, refere-se ao

movimento do pronome interrogativo. A sigla wh deve-se ao fato desses pronomes em inglês começarem com essas letras (what, where, who, when, why).

22 A autora, a princípio, denomina como F1 o sítio de aterrissagem do movimento longo do verbo, e como F2 o

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Dessa forma, a autora propõe que a camada flexional seja composta por tempo, que seria o F1, e por aspecto, que seria F2.

Estudos mais recentes, da área da neurolinguística, trouxeram dados que poderiam confirmar a proposta de que o nódulo aspectual deveria ser o novo ramo da árvore que substituiria o nódulo de concordância.

Um desses trabalhos é o de Novaes & Braga (2005) que investigaram o déficit na produção do aspecto verbal de uma afásica. Nesse estudo, foram aplicados a uma paciente / informante dois testes de preenchimento de lacuna com o intuito de observar a sua produção dos aspectos perfectivo e imperfectivo. Os dados revelaram uma dissociação na produção dos verbos no perfectivo e no imperfectivo. Os autores concluíram, de fato, que a paciente tinha mais problemas com o aspecto imperfectivo do que com o aspecto perfectivo. Os autores informaram que a paciente apresentou problemas com aspecto, mas não com tempo e concordância. Essa observação parece confirmar a proposta de que o nódulo de aspecto possa substituir o de concordância.

Portanto, dentro da linha teórica adotada, a da Gramática Gerativa no modelo do Programa Minimalista, baseada no universalismo, considera-se que o aspecto é inerente, inato a todas as línguas, apenas realizando-se de formas distintas em cada uma. O aspecto é, então, considerado, nesta dissertação, uma categoria funcional conceptualmente motivada, ou seja, composta por traços [+interpretáveis] e, por isso, é importante nos estudos da linguagem.

Após esta apresentação do quadro da gramática gerativa, a seguir tratarei da distinção entre tempo e aspecto gramatical, que é um ponto fundamental para compreender a proposta de estudo deste trabalho.

1.2. Distinção entre Tempo e Aspecto Gramatical

Segundo Comrie (1976), o tempo verbal (tense) é uma expressão gramaticalizada de localização no tempo, já o aspecto relaciona-se aos diferentes modos de ver a constituição temporal interna de uma situação23, ou seja, como ocorreu a situação independente de quando. Assim sendo, Comrie (ibidem) define, a princípio, dois aspectos como básicos: perfectivo e imperfectivo. O autor denomina como aspecto perfectivo24 quando há uma visão de um evento como um todo (Comi uma maçã) e o imperfectivo quando há, essencialmente,

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uma atenção à estrutura interna da situação (Comia maçãs).

Comrie (ibidem) analisa algumas suposições acerca desses aspectos. O autor refuta, primeiro, a ligação que autores fazem entre esses aspectos e o tempo de duração, quando defendem a ideia de que o aspecto perfectivo indicaria ações de curta duração, enquanto o imperfectivo indicaria as de longa duração. Comrie (ibidem) expõe que ambos aspectos podem ser utilizados para se referir à mesma duração de tempo. Ele cita como exemplos duas frases em francês (p.17):

(a) Il régna trente ans. (b) Il régnair trente ans.25

Na letra (a), estaria sendo relatado o evento de reinar como um todo (perfectivo), já a letra (b), estaria se referindo ao fato de que durante trinta anos a pessoa estava reinando, e está, portanto, tratando-se da duração dessa ação (imperfectivo). Entretanto, pode-se observar que em ambas frases o tempo de duração é o mesmo – trinta anos.

Comrie (ibidem), em seguida, refuta a ideia de que o aspecto perfectivo está relacionado a verbos que expressam eventos com uma duração limitada, pontual ou momentânea. Ressalta também que a perfectividade não indicaria apenas ações completas, como defendem alguns autores.

Na distinção entre tempo e aspecto, De Miguel (1999) expõe que tanto tempo quanto aspecto são noções relacionadas à temporalidade dos eventos verbais. Entretanto, essa recebe um tratamento diferente em cada noção. O tempo localizaria o evento em um tempo externo, localizando-o em relação ao momento de fala, ou seja, marcando se o evento ocorreu antes do momento da enunciação (passado), se está ocorrendo (presente) ou se ainda ocorrerá (futuro). O tempo seria, portanto, uma categoria dêitica. Já o aspecto trataria essa temporalidade como uma propriedade inerente ou interna do próprio evento, sem fazer referência ao momento da fala. Dessa forma, o aspecto seria, então, definido como uma categoria não dêitica, uma vez que nesse há uma visão do evento como um todo, sem se fazer referência ao momento da enunciação.

Ao estudar o tempo verbal, cabe fazer referência ao sistema de Reichenbach (1947, apud Carrasco Gutiérrez 2008) que desenvolve uma teoria dos tempos verbais baseada em três entidades temporais primitivas: S (speech time) que é o tempo da enunciação ou da fala; E (event time) que é o tempo do evento (o evento referido pelo predicado da sentença); e R (reference time) que é o tempo de referência. Entretanto, ao tratar mais a frente da

(31)

representação dos tempos verbais na árvore, mostrarei e assumirei a proposta de Carrasco Gutiérrez (2008). Isso ocorre, pois como se observará adiante, apenas as três entidades primitivas não possibilitam uma compreensão completa do significado dos tempos verbais.

Segundo Reichenbach (op. cit.), os tempos verbais ordenam, de diversas maneiras, as três entidades temporais acima. O tempo presente, por exemplo, pode ser representado por S,R,E (onde a vírgula significa coincidência ou superposição), ou seja, no presente, o tempo da enunciação coincide com o tempo de referência que coincide com o tempo do evento.

Para dar um exemplo da perspectiva de tempo, segundo o sistema de Reichenbach, e aspecto, observe as frases abaixo:

a) He estado muy preocupado. b) Ayer vi a Pedro.

Em (a), o pretérito perfeito composto (doravante PC) he estado representa o aspecto Perfeito: a perspectiva temporal é aberta e a situação passada (E – tempo do evento) continua e/ou segue relevante durante o momento da enunciação (S). O ponto de referência (R) coincide com o momento da fala. Já em (b), o pretérito simples tem o aspecto perfectivo, e tanto o ponto do evento (E) como o de referência (R) coincidem, sendo anteriores ao momento da enunciação (S).

Ainda estabelecendo as diferenças entre tempo e aspecto, García Fernández (2000), baseado em Klein (1992) define o aspecto como a relação entre o tempo da Situação e o tempo do Foco. O tempo da Situação seria o tempo durante o qual tem lugar o evento denotado pela parte léxica do verbo. E o tempo do Foco é o período no qual é válida uma determinada afirmação em uma dada ocasião. O autor afirma que essa seria, ao contrário do que é expresso pelo tempo, uma relação não dêitica.

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tempo.

Tendo em vista, os conceitos apresentados pelos autores citados, assumo nesta dissertação que, de fato, tempo e aspectos são categorias que estão sempre relacionadas e de alguma forma têm como base o tempo físico. Entretanto, quando falo de tempo, trato de uma categoria dêitica, que se relaciona com as noções de presente, passado e futuro. E aspecto está relacionado ao tempo interno do evento.

Deve-se observar, também, que embora tempo e aspecto representem conceitos diferentes, muitas vezes eles são representados morfologicamente através de um mesmo morfema verbal nas línguas. Entretanto, isso não quer dizer que percam seus valores. Na língua portuguesa, por exemplo, nos verbos conjugados no Pretérito Imperfeito, a desinência --va (caminhava) acumula a noção de tempo (passado) e de aspecto (imperfectivo).

Em relação ao aspecto, faz-se necessário citar que esse pode estar expresso de duas formas, na semântica do verbo (aspecto lexical) ou em sua morfologia (aspecto gramatical26, esse já exposto acima segundo a visão de diferentes pesquisadores). O aspecto lexical (aspecto de situação27; Aktionsart, tipo de situação28) diz respeito à característica semântica expressa em verbos como ser, estar e ter, que, por si só, representariam um caráter transitório ou permanente do sintagma. Já o aspecto gramatical refere-se ao modo como o falante apresenta um evento ou uma situação através da escolha de tempos verbais. Smith (1991) afirma que essas duas formas existem devido à natureza composta do aspecto.

O aspecto lexical se entende como as qualidades temporais próprias da situação designada por um verbo ou uma predicação. Normalmente é considerado como uma característica inerente dos lexemas verbais. Aristóteles foi quem começou a estudar o aspecto como um elemento da gramática das línguas naturais inerentes a itens lexicais. Ele estabeleceu dois tipos diferentes de fenômenos relacionados a verbos: movimentos e realizações. Vendler (1967), na linguística moderna, é quem reestrutura a ideia de Aristóteles e apresenta um esquema de tempo pressuposto por vários verbos. Muitos trabalhos linguísticos seguem a classificação de Vendler (ibidem), que separa os verbos em quatros tipos de aspectos lexicais: estados, atividades, processos culminados (accomplishment) e culminação (achievement).

Neste trabalho, também seguiremos a classificação proposta por Vendler (ibidem) e, para tanto, detalharemos seu trabalho a seguir. Pode-se dizer que sua classificação se baseia

26 Pode-se dizer aspecto verbal ou gramatical. 27 De Miguel (1999).

28 Smith (1991) denomina dessa forma, pois defende que esse tipo aspecto refere-se às propriedades aspectuais

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em três oposições que permitem definir cada tipo de aspecto como um conjunto de traços: 1- A dinamicidade opõe os estados ([ - dinâmico]) aos demais tipos ([ + dinâmicos]); 2- Ser pontual opõe as culminação ([ + pontual ]) aos demais ([ - pontual], ou seja, durativos);

3- A telicidade que opõe processos culminados ([ + télico]) às atividades ([- télico]). Uma situação é télica se existe um final inerente a mesma, que deve ser alcançado para que se possa dizer que tal situação aconteceu (Escreveu um livro).

Uma situação é atélica quando não possui um fim inerente, tem lugar desde o momento que começa e a partir daí pode prolongar-se indefinidamente (Ele escreve livros).

Os verbos de atividade são aqueles que descrevem processos dinâmicos e atélicos, ou seja, o final da ação não é intrínseco ao verbo, e a ação, em si, pode durar para sempre; a atividade não termina, mas cessa (o ponto final é decidido por alguém ou alguma coisa, portanto, arbitrário).

Esses verbos admitem pequenos intervalos na atividade sem que isso ponha em causa o próprio processo. Numa frase como: Ela estudou o dia todo, a existência de pequenos lapsos de tempo em que ela não estudou não impede a leitura de estudar como um processo. Portanto, pode-se dizer que as atividades terminam, se completam ou param com a possibilidade de voltar e seguir fazendo-as.

Os verbos cujo aspecto lexical é de processo culminado, são verbos com duração intrínseca, com estágios sucessivos e um ponto de culminância, que representa a finalização do processo com uma mudança de estado, como por exemplo: Maria cozinhou um bolo.

Os verbos de culminação são os que descrevem eventos instantâneos e não possuem estágios. Opõem-se aos de processo culminado por referirem-se ao fim da ação e não ao processo inteiro. Exemplo: Encontrei Maria.

E finalmente os verbos de estado são os que não possuem mudança durante o período de tempo em que representam uma verdade. No exemplo, João ama Maria, em qualquer subdivisão temporal possível dessa oração, será verdade que João ama Maria.

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Portanto, nota-se que a cardinalidade do sintagma determinante do complemento verbal é um elemento que influencia na leitura do aspecto lexical de um verbo. Segundo Slabakova (2000), a cardinalidade é determinada pela mensurabilidade do sintagma determinante. Se o objeto denotado puder ser exaustivamente contado ou mensurado será classificado como de cardinalidade especificada (Vender um livro). Caso contrário, se o objeto denotado não puder ser mensurado ou contado com exatidão será de cardinalidade não especificada (Vender livros). Artigos, definidos ou indefinidos, pronomes e numerais são classificados como sintagmas determinantes de cardinalidade especificada. Por outro lado, quando o complemento verbal é um nome no singular ou plural e não apresenta um artigo, o complemento é caracterizado como um sintagma determinante de cardinalidade não especificada.

A cardinalidade dos argumentos nominais, segundo Verkuyl (1993), determina a interpretação de um evento como télico ou atélico. Dessa forma, um complemento verbal que tenha um sintagma determinante de cardinalidade especificada implica em uma leitura télica do evento, já se o complemento verbal tiver um sintagma determinante de cardinalidade não especificada implicará uma leitura atélica do evento. Para que se possa observar essa questão, observe os exemplos abaixo:

a) “escrever” – Como não há um complemento, tem-se a leitura de um evento atélico que demonstra uma atividade.

b) “escrever carta” – Observa-se que há um complemento com sintagma determinante de cardinalidade não especificada (palavra no singular sem artigo) tem-se a leitura de um evento atélico que demonstra uma atividade.

c) “escrever cartas” – Um complemento com sintagma determinante de cardinalidade não especificada (palavra no plural sem artigo), tem-se a leitura de um evento atélico que demonstra uma atividade.

d) “escrever uma carta” – Nesse caso, tem-se um complemento com sintagma determinante de cardinalidade especificada e por isso há a leitura de um evento télico que demonstra um processo culminado.

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seja, a possibilidade do verbo poder ser modificado pelas informações contidas em outros elementos da frase – sujeito, complementos, modificadores adverbiais de tempo e lugar, a negação e a própria informação temporal-aspectual da forma na qual a raiz do verbo aparece flexionada. Abaixo podemos observar o esquema proposto pela autora para ilustrar as possibilidades de expressão das distintas informações contidas na aspectualidade.

Esquema de aspectualidade (DE MIGUEL 1999, p. 2993)

Como é possível observar, De Miguel (ibidem) apresenta o aspecto flexivo, o aspecto léxico e o aspecto léxico-semântico (relação entre o aspecto lexical e outros elementos da frase que traz informações aspectuais). Após assumir que admite que os significados aspectuais podem ser expressos no interior do verbo ou em estruturas mais amplas, a autora enumera os diferentes elementos que influenciam na especificação aspectual de um predicado. A seguir, pode-se observar, resumidamente, como os elementos citados pela autora trazem informações aspectuais.

Imagem

Tabela 1- Tipo de aspecto gramatical  Perfeito Continuativo 105
Tabela 3- Tipo de Perfeito X Pessoa Gramatical   Continuativo  (porcentagem / n o  de oco)  Experiencial ou resultativo (porcentagem / no de oco)  1 a  pessoa  74% (60)  26% (14)  2 a  pessoa   100% (7)   0% (0)  3 a  pessoa  81,1% (54)  18,9% (19)
Tabela 5 - Tipo de Perfeito X Marcador Temporal  Continuativo
Tabela 6 - Tipo de Perfeito X Gênero   Continuativo  (porcentagem / n o  de oco)  Experiencial ou resultativo (porcentagem / no de oco)  Masculino  74,7% (59)   25,3% (20)  Feminino   82,7% (62)   17,3% (13)

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