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APÊNDICE H – ESTRUTURA HIERÁQUICA DE VALOR

3.9 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS DADOS

3.9.2 Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão – Construtivista (MCDA-C)

De acordo com Ensslin et al. (2010) a consolidação da Metodologia MCDA-C como instrumento científico de gestão ocorre a partir da década de 1980. Os autores afirmam que as

Abordagem Singularidade dos Objetivos Identificação Mensuração Integração Gestão Análise

bases científicas da Metodologia MCDA-C surgem com a publicação dos trabalhos de Roy (1993) e Landry (1995) ao definirem os limites da objetividade para os processos de apoio à decisão; dos trabalhos de Skinner (1986) e Keeney (1992) ao reconhecerem que os atributos (objetivos / critérios) são específicos para cada contexto, a partir das percepções do gestor / decisor; e, também com o trabalho de Bana e Costa (1993) ao explicitar as convicções da MCDA-C.

O propósito da Metodologia MCDA-C é alcançado pela realização de três fases principais, a saber: (i) Fase de Estruturação; (ii) Fase de Avaliação; e, (iii) Fase de Elaboração de Recomendações. A Figura 13 demonstra essas fases e as principais atividades elaboradas em cada uma destas.

Figura 13 – Etapa Seleção do Banco de Artigos Brutos

Fonte: Adaptado de Ensslin, L; Dutra e Ensslin, S. (2000, p. 81).

A seguir, apresenta-se uma síntese de cada fase, fundamentada nos seguintes autores: Marafon et al. (2015); Dutra et al. (2014); Lacerda et al. (2014); Ensslin et al. (2014); Della Bruna Junior, Ensslin e Ensslin (2012); Marafon et al. (2013); Ensslin et al. (2013), Azevedo

Contextualização Estrutura Hierárquica de Valor

Formulação das Recomendações Construção dos Descritores Construção das Funções de Valor Análise de Independência Cardinal

Identificação das Taxas de Compensação Identificação do Perfil Atual

Análise de Sensibilidade Fase de Estruturação Fase de Avaliação Fase de Recomendação F orm ul aç ão da s Re com enda çõe s P roc es so Re curs ivo

et al. (2013); Rosa et al. (2012); Ensslin et al. (2012); Ensslin et al. (2001); Ensslin, Dutra e Ensslin (2000).

3.9.2.1 Fase de Estruturação

A Fase de Estruturação, centralmente, visa organizar, desenvolver e expandir o conhecimento do decisor a respeito do contexto decisional. A Figura 14 representa graficamente a Fase de Estruturação, suas etapas e principais atividades a desenvolver. As três etapas que necessitam ser realizadas para alcançar os objetivos são: (a) Contextualização, (b) Estruturação Hierárquica de Valor e (c) Construção dos Descritores.

Figura 14 – Atividades da Fase de Estruturação

Fonte: Adaptado de Ensslin et al. (2001).

Em cada etapa existe um conjunto de ações que geram entregas para auxiliar o facilitador na compreensão do problema, das preferências e valores do decisor. O produto desta fase é uma estrutura hierárquica de valor (EHV) apresentando os aspectos, segundo os quais o contexto investigado será avaliado, bem como a representação do que será considerado para avaliar cada um dos aspectos do modelo (ENSSLIN et al., 2001).

a) Contextualização

Nesta etapa a primeira atividade do pesquisador consiste em identificar o contexto decisório em que será realizada a pesquisa. A identificação do contexto necessita em primeiro lugar, a identificação dos atores envolvidos no processo decisório: decisor(es),

1. Fase de Estruturação (a) Contextualização

(i) Identificar

atores (ii) Identificar o problema (iii) Identificar o ambiente rótulo do trabalho (iv) Definir o Início

Fim (b) Estrutura Hierárquica de Valor

(i) Identificar

os EPAs (ii) Construir os Conceitos

(iii) Construir as Árvores de Pontos de

Vista Fundamental Início

Fim (a) Construir Descritores

(i) Construir Mapas meios e fins (ii) Construir os clusters e sub-clusters (iii) Construir árvores de valor (iv) Definir descritores Início Fim (v) Definir níveis de referência (vi) Identificar status quo

interveniente(s), agido(s) e facilitador(es). O decisor é aquele que decide ou representa essa pessoa, os intervenientes são outros atores que participam do processo decisório de alguma maneira, e o facilitador é aquele que constrói os modelos para apoio a decisão. Os agidos são aqueles que sofrem as consequências das decisões (ENSSLIN et al., 2001).

A próxima atividade concentra-se na identificação do problema que irá indicar o propósito a ser alcançado. O decisor é o ator entrevistado, pois seus valores, crenças e objetivos são únicos, e suas percepções tornam a interpretação do contexto diferenciado. A prévia identificação do ambiente pode auxiliar o facilitador no processo de comunicação com o decisor neste passo. Neste ponto define-se o rótulo do trabalho. O rótulo irá representar o enunciado do problema, ou seja, o que é, suas fronteiras, qual sua abrangência, quais recursos

serão utilizados e, por fim, quais resultados serão alcançados (ENSSLIN et al., 2001).

b) Estrutura Hierárquica de Valor

Nesta etapa tem-se por objetivo “traduzir” o problema delimitado na etapa anterior para uma representação gráfica hierárquica que expresse os aspectos que o decisor considera relevantes abordar. Para atingir esse objetivo alguns passos são desenvolvidos com a colaboração do decisor: identificação dos elementos primários de avaliação (EPAs), a construção dos conceitos e a construção dos pontos de vista fundamentais (PVFs) (ENSSLIN et al., 2001):

(i) Identificar os EPAs (Elemento Primário de Avaliação) – Os EPAs, segundo Bana e Costa (1992) devem constituir os objetivos, metas, valores dos decisores, ações, opções e alternativas. O facilitador deve utilizar-se de um conjunto de perguntas que estimulem o decisor a melhor detalhar qual sua visão a cerca do “rótulo” inicialmente apresentado. Como referência para estimular esse processo de interação Ensslin et al. (2001) sugerem algumas perguntas a serem realizadas: “Quais são os aspectos que você gostaria de levar em conta em seu problema? Quais características distinguem uma ação (potencial ou fictícia) boa de uma ruim? Quais são as maiores dificuldades com relação ao estado atual? Quais consequências das ações são boas / ruins /inaceitáveis? Quais são as metas / restrições / e linhas gerais adotadas por você? Quais os objetivos estratégicos neste contexto? Quais são para você, segundo a perspectiva de um outro decisor, os aspectos desejáveis / ações / dificuldades / etc?”; (ii) Construir os Conceitos – A construção dos conceitos é realizada a partir dos EPAs

lo junto ao decisor para uma ação. A dinâmica consiste em inserir um verbo no infinitivo para indicar qual ação necessária para alcançar o EPA. Neste ponto é fornecido o primeiro pólo do conceito, denominado pólo presente. (ENSSLIN et al., 2001). No segundo momento é identificado o pólo oposto, ou seja, senão atingir o pólo presente qual é a sua oposição. A relevância do pólo oposto está em dar significado para o conceito demonstrando o contraste entre os dois pólos (EDEN et al., 1988; ENSSLIN et al., 2001);

(iii) Construir as Árvores de Pontos de Vista Fundamental (PVFs) – Para a construção da Estrutura Hierárquica de Valor ainda cabe um passo final que é agrupar os EPAs (agora com os conceitos definidos) por áreas de afinidade, organizando-os de forma hierárquica. (BANA E COSTA; SILVA, 1994). Esta estrutura hierárquica no MCDA- C é denominada de Árvores de Pontos de Vista e sua congregação representa a Estrutura Hierárquica de Valor (EHV).

c) Construção dos Descritores

Os descritores são definidos segundo Bana e Costa et al. (1999) como um conjunto de níveis de impacto que descrevem o desempenho das ações potenciais para cada PVF. Ensslin et al. (2001) complementam esclarecendo que o conjunto de níveis de impacto que constituem um descritor devem ter um significado claro para os atores, sem gerar dúvidas quanto à sua interpretação. Os autores esclarecem que os níveis de impacto são ordenados em termos de preferências do gestor. O nível mais atrativo é aquele que corresponde ao melhor desempenho possível esperado pelo decisor, já o menos atrativo corresponde ao pior desempenho aceitável pelo decisor. Para Ensslin et al. (2001) os descritores tem por finalidade: “auxiliar na compreensão do que o decisor está considerando; tornar o ponto de vista mais inteligível; permitir a geração de ações de aperfeiçoamento; possibilitar a construção de escalas de preferências locais; permitir a mensuração do desempenho de ações em um critério; e permitir a construção de um modelo global de avaliação.”

Para atingir o objetivo final da Fase de Estruturação do MCDA-C e construir os descritores os seguintes passos devem ser observados:

(i) Construir os Mapas Meios e Fins (Cognitivos) – neste passo o propósito é representar os grupos de conceitos com uma mesma preocupação em forma gráfica, por meio de mapas (PETRI, 2005). A construção dos mapas cognitivos proporciona ao decisor explicitar seu sistema de valores – conceitos superiores – e de fornecer um conjunto de ações potenciais subordinados a esses valores. (MONTIBELLER, 2000). O

conjunto de conceitos definidos é o ponto de partida para esta ação, onde o facilitador questiona ao decisor quais os meios necessários para atingir os conceitos (fins) escolhidos. A estrutura formada no mapa é representada por conceitos meios e fins que se relacionam por ligações de influência;

(ii) Construir Clusters e Sub-clusters – Os clusters e sub-clusters formam o agrupamento das associações (ligações de influência) entre conceitos que convergem em uma das áreas de preocupação do decisor (LACERDA, 2012). A sua representação nos mapas meios e fins é feita por meio de áreas sombreadas sob esses grupos de conceitos agrupados;

(iii) Construir as Árvores de Valor – Após a identificação dos Clusters e sub-clusters estes agrupamentos são transportados para completar a EHV construída na etapa anterior, possibilitando visualizar os PVFs e os PVEs agrupados sob as áreas de preocupação elencadas pelo decisor (ENSSLIN et al., 2001);

(iv) Definir os Descritores – Os PVEs passíveis de mensuração são potenciais descritores e o facilitador passa a solicitar ao decisor identificar suas preferências por meio de escalas ordinais (ENSSLIN et al., 2001). Para Bana e Costa et al. (1999) entende-se por descritor como um conjunto de níveis de impacto que servem de referência para descrever desempenhos plausíveis de ações potenciais. Ensslin et al. (2001) afirmam que a construção dos descritores seguem aos seguintes propósitos: auxiliar na compreensão do que o decisor está considerando, tornar o PVF inteligível, viabilizar a geração de ações de aperfeiçoamento, possibilitar a criação de escalas de preferências locais, permitir mensuração da performance de ações em um critério e permitir a construção de um modelo global de avaliação;

(v) Definir os Níveis de Referência – Definidos os descritores, agora cabe, definir os níveis de impacto de referência, o Nível Bom e o Nível Neutro (GRECO, 1997; BANA E COSTA; VANSINCK, 1997). Esses níveis de Referência podem ser utilizados para reconhecer as ações com desempenho à nível de excelência, ou seja, acima do nível bom; desempenhos competitivos, entre o Neutro e Bom; e ações comprometedoras, abaixo do neutro. Todas segundo a percepção do decisor (ENSSLIN et al., 2001);

(vi) Identificar o status quo – Nesta atividade são levantados os valores encontrados em cada descritor definido. Os valores são inseridos nas escalas ordinais identificadas previamente na atividade (iv), representando assim, o estado atual de cada descritor segundo os níveis de referência definidos na atividade anterior (v).

3.9.2.2 Fase de Avaliação

A Fase de Avaliação visa traduzir o modelo qualitativo ordinal construído na Fase de Estruturação em um modelo matemático onde se pode identificar o desempenho quantitativo do contexto individual (em cada aspecto do modelo) ou globalmente (avaliação global do desempenho do contexto). Para tal, algumas etapas necessitam ser realizadas para alcançar esses objetivos: Construir as Funções de Valor; Construir as Taxas de Compensação; e Calcular a Avaliação do Desempenho do Contexto em Análise. O produto desta fase é um modelo multicritério matemático que permite o cálculo do desempenho do contexto global ou de suas partes constituintes (ENSSLIN et al., 2001). A Figura 15 apresenta a representação visual das ações da Fase de Avaliação.

Figura 15 – Atividades da Fase de Avaliação

Fonte: Adaptado de Ensslin et al. (2001).

(i) Construir as Funções Valor – A função de valor tem por objetivo ordenar as diferenças de atratividade entre os pares de níveis de impacto ou ações potenciais (DYER; SARIN, 1979; BEINAT, 1995), para cada descritor definido na fase anterior. Ensslin et al. (2001) destacam que “uma função de valor é uma ferramenta julgada adequada pelos decisores, para auxiliar a articulação de suas preferências, permitindo avaliar ações potenciais, segundo um determinado ponto de vista”. Dutra (2005) destaca entre os mais utilizadas, três métodos diferentes para se obter as funções de valor: (i) Pontuação Direta (VON WINTERFELDT; EDWARDS, 1986); (ii) Bissecção (BODILY, 1985; BEINAT, 1995); e o Método Macbeth (BANA e COSTA; VANISCK, 1995);

(ii) Construir as Taxas de Compensação – As Taxas de compensação ou substituição, segundo Dutra (2005) tem como objetivo obter qual a contribuição de cada um dos PVFs e PVEs na composição dos objetivos a serem alcançados. Novamente neste passo, entre outros, três métodos são destacados por Dutra (2005): (i) Trade-Off (BODILY, 1985; BEINAT, 1995); (ii) Método Swing Weights (BODILY, 1985;

2. Fase de Avaliação

(a) Traduzir o modelo Qualitativo Ordinal em um modelo matemático quantitativo (i) Construir as

funções de valor

(ii) Construir as taxas de compensação

(iii) Identificar o perfil atual Início

BEINAT, 1995); e o (iii) Método de Comparação Par a Par desenvolvido por meio do software Macbeth (BANA e COSTA; WANSNICK, 1995).

(iii) Identificar o Perfil Atual – A construção das Funções de Valor associadas aos descritores define um critério de avaliação para cada um dos Pontos de Vista elencados pelo decisor. A construção das Taxas de Compensação para o modelo parametriza quais critérios os decisores julgam adequados agregar para uma visão de

performance global. O levantamento do status quo realizado na última atividade (vi)

da fase de estruturação contém os dados para a identificação do perfil atual. Para a conversão dos valores encontrados nas escalas ordinais em valores cardinais são utilizadas as funções de valor definidas na atividade (i) desta fase. Após estes cálculos o mesmo procedimento é realizado na aplicação das taxas de compensação para encontrar os resultados de cada PVF, Áreas de Preocupação e Rótulo do Trabalho. Definidas estas perspectivas o modelo multicritério está concluído, passa-se então para a avaliar as ações potenciais disponíveis, gerar novas ações e, ainda identificar oportunidades de aperfeiçoamento (ENSSLIN et al., 2001).

3.9.2.3 Fase de Recomendação

A Fase de Recomendação visa oferecer informações / ações que o decisor poderá fazer uso / colocar em prática para melhorar o desempenho do contexto analisado, com foco no aprimoramento do desempenho nos descritores contemplados no modelo. O conhecimento até aqui gerado permite ao decisor visualizar gráfica e numericamente em cada aspecto (indicador de desempenho) se a performance é “excelente”, “adequada”, ou “comprometedora”. Por sua vez, a escala cardinal / função de valor (gerada na Fase de Avaliação) lhe fornece informações sobre quais benefícios serão agregados caso o desempenho no aspecto analisado melhore. Esse conhecimento adicional do decisor oferecerá subsídio para que decida qual ação, ou estratégia, apresenta-se como a mais adequada (DUTRA, 1998).

Cumpre esclarecer que a atividade de apoio à decisão, nesta pesquisa voltada à gestão, se caracteriza como o diferencial central da Metodologia MCDA-C frente as outras metodologias multicritérios. Nesse contexto, fica implícito que: (i) o decisor constitui-se como o elemento central, sem o qual, a atividade, e a Metodologia MCDA, perdem sua razão de ser; (ii) que o objetivo central é possibilitar aos intervenientes, envolvidos no processo decisório, gerar aprendizagem propiciada pelo grau de entendimento gerado no decorrer do processo, informado tanto pelo sistema de valor quanto pelos objetivos do decisor; (iii) o foco

central da Metodologia MCDA-C é desenvolver um conjunto de condições e meios (“keys”) que sirvam de base para as decisões, em função daquilo que o decisor acredita ser o mais

adequado, dentro de um dado contexto (ROY, 1993; ENSSLIN, 2002). A Figura 16

representa graficamente a principais atividades da Fase de Recomendação.

Figura 16 – Atividades da Fase de Recomendação

Fonte: Adaptado de Ensslin et al. (2001).

(i) Avaliar Performance – A avaliação da performance parte dos resultados encontrados na Fase de Avaliação e pode ser organizada seguindo uma ordem de preferência: primeiro identificando os critérios cuja intervenção trará uma maior contribuição global no modelo; depois, selecionando os critérios com desempenho em nível comprometedor, ou contemplando os dois. (LACERDA; ENSSLIN; ENSSLIN, 2011); (ii) Identificar Potenciais de Melhoria – Com a organização dos critérios, agora cabe identificar aqueles critérios que merecem atenção do decisor para propor as ações de melhoria. Para Keeney (1992) a situação definida inicialmente como um “problema” é vista a partir de agora como uma oportunidade para o decisor aperfeiçoar o desempenho de seu contexto.

(iii) Elaborar Recomendações – A proposição das recomendações consiste em definir ações que busquem aprimorar o desempenho da situação atual dos descritores com performance comprometedora (TASCA; ENSSLIN; ENSSLIN, 2012); e, segundo o entendimento do decisor, pode conter àqueles com performance adequada.

(iv) Apresentar novo Perfil de Desempenho – Definido pelo decisor um intervalo de tempo que este julgue adequado, pode-se realizar uma nova avaliação do Perfil de desempenho, atividade (iii) da Fase de Avaliação para identificar os resultados obtidos com o Plano de Ações (recomendações) elaborado na atividade (iii).

3. Fase de Recomendações

(a) Avaliação dos resultados e elaboração de plano de ações (i) Avaliar performance (ii) Identificar potenciais de melhoria (iii) Elaborar recomendações (Plano de Ações) Início Fim (iv) Apresentar novo perfil de desempenho