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Para análise do objeto de estudo, nos valemos principalmente do método de Pesquisa Participante, por nos oferecer a possibilidade de reconhecer os sujeitos da pesquisa em suas experiências com o mundo, e como colaboradores da produção coletiva de conhecimento. O uso dessa metodologia pressupõe um compromisso da pesquisa com a transformação social. Sendo assim, acreditamos que o método se constituiu como uma ferramenta valiosa em nossa investigação.

O estudo que teve por objetos de análise, a cultura imaterial local através das expressões da Folia de Reis e do Congo, junto aos processos formativos com os professores, foi amparada por dois principais autores em sua metodologia. Paulo Freire que possui uma valiosa contribuição na frente educacional e Carlos Rodrigues Brandão (1977), dentro de uma perspectiva antropológica nos estudos da cultura popular, ambos foram pioneiros no uso do modelo de Pesquisa Participante no Brasil (SILVA, 1986). Para melhor explicitar as posições dos autores em relação à Pesquisa Participante, trazemos as palavras de Maria Ozanira da Silva (1986, p.125):

Paulo Freire aponta uma nova alternativa de pesquisa, que se coloca como primeiro momento de sua proposta pedagógica de educação libertadora, destacando a reciprocidade sujeito-objeto e integração teoria e prática, como suas características fundamentais, sendo que os pesquisadores e a população se constituem sujeito da pesquisa e o objeto é a realidade a ser desvendada. Essa modalidade de pesquisa para Freire, cria possibilidades para pensar um mundo crítico da realidade, isto é, situa-se no processo de conscientização da população envolvida e dos pesquisadores, como condição para transformação das relações de opressão por ser um instrumento crítico de transformação da realidade. Carlos Brandão percebe a pesquisa participante como política de compromisso popular, permitindo a construção do conhecimento coletivo que desvela o mundo e as condições de vida das pessoas, grupos e classes populares, onde verifica-se o papel ativo da população ao lado do pesquisador [...]

Brandão e Borges (2007, p.55) nos orientam que esse modo de investigação, deve iniciar seu processo a partir das experiências individuais e coletivas dos atores participantes da pesquisa, unindo e refletindo sobre a teoria e a prática, em uma perspectiva de transformação social. Dessa forma, nossa orientação constitui-se pela escuta sensível individual e coletiva, percebendo no diálogo com cada docente a repercussão dos seus percursos formativos na escola, em seus diferentes movimentos, sentidos e dizeres.

6.1 O COMPASSO DA PESQUISA

Nossa perscruta de campo foi se perfazendo com professores dos Anos Iniciais da Serra, no Centro de Formação do município, Prof. Pedro Valadão Perez, além desse campo, analisamos a cultura imaterial serrana, por meio de elementos do Congo e da Folia de Reis no bairro Nova Almeida. Dessa forma, tecemos alguns diálogos com participantes dessas culturas.

6.2 DIÁLOGOS COM OS SUJEITOS

Estabelecemos um diálogo contínuo desde o início do ano 2019, com professores atuantes no Centro de Formação da Serra, local onde atuei pontualmente em algumas formações enquanto professora de História do município. Dialogamos com professores componentes da Coordenação dos Estudos Étnico-Raciais da Serra (CEER), onde fomos muito bem acolhidos. O grupo demonstrou interesse no projeto formativo que apresentamos, o que nos possibilitou a troca de algumas informações e experiências, e o estabelecimento de alguns planos para o pretenso Curso de Extensão.

Nessa ocasião, fomos convidados a apresentar a disciplina “Relações Étnico-Raciais no município de Serra: Sítio Histórico de Queimados/Serra”, para professores participantes de um curso ofertado pela CEER/Serra, intitulado: “Relações Étnico-Raciais e de Gênero: Caminhos para Práticas de Educação e Promoção da Equidade na Escola”. O curso ocorreu no primeiro semestre de 2019. Nessa oportunidade, ministramos uma aula de campo no Sitio Histórico de Queimado, onde dialogamos com o grupo de professores fazendo um breve histórico, sobre o município da Serra e a Revolta de Queimado, focando nos patrimônios culturais do município. Sentamos em “roda” e distribuímos, imagens e trechos de relatos históricos daquele lugar. Esse movimento, que ocorreu dentro de um patrimônio histórico e cultural, em um espaço aberto e envolto a natureza, abriu passagem para uma rica partilha de diversas experiências com o coletivo de professores.

Fotografia 11 - Experiência de campo com professores no Sítio Histórico de Queimados, em abril de 2019

Fonte: CEER/Serra (2019).

Salientamos que esse momento foi muito produtivo e importante para nossa investigação. Oportunizou-nos conhecer mais de perto, as questões e anseios apresentados nos diálogos pelos professores cursistas (em sua maioria atuante nos anos iniciais). Esses levantaram questões como: pouco conhecimento de educadores e educandos sobre a história do município, distorção de imagem e historicidades dos povos negros, desvalorização do patrimônio afro-brasileiro etc. Essa experiência foi significativa, confirmando alguns pressupostos apresentados nesta pesquisa. Além disso, nos apontou algumas trilhas a serem consideradas, na constituição das disciplinas do Curso de Extensão.

Avançamos em nossa comunicação e apresentamos o projeto do Curso de Extensão: “Educação para as Relações Étnico-Raciais nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental: Literatura Infantil Afro-Brasileira e Patrimônio Cultural Imaterial”. Os propósitos do curso, se alinharam com os estudos e práticas da coordenação dos estudos étnico-raciais da Serra, nesse sentido, o projeto foi aceito. Sendo assim, dialogamos a partir do curso de extensão com outros sujeitos, no caso, docentes cursistas, atuantes nos anos iniciais nas escolas do município.

Outros diálogos foram forjados na comunidade de Nova Almeida, onde estabelecemos comunicações em momentos pontuais com alguns moradores, participantes do Congo e da Folia de Reis. Além disso, participamos enquanto observadores/pesquisadores da culminância

das apresentações do Congo e da Folia de Reis, entre 6 e 20 de janeiro 2019. Realizamos alguns registros, com um número de 5 moradores, não podemos deixar de citar aqui que, houve uma certa desconfiança quando estabelecemos os primeiros contatos, mas após esse momento inicial, fomos muito bem acolhidos por essas pessoas. Essa “desconfiança” inicial acontece porque, conforme constatamos, algumas pessoas, sobretudo as envolvidas com a política local, por vezes, se aproximam de participantes dessas culturas, com intenções propagandísticas aproveitando-se de suas histórias e imagens.

6.3 FORMATO DOS REGISTROS

As narrativas foram colhidas por meio de recurso de gravação de áudio, com o uso do smartphone, que também auxiliou na captação de imagens fotográficas. As conversas foram provocadas por meio de perguntas e questões pontuais, essas gravações foram revisitadas, descritas e analisadas ao longo da pesquisa. Salientamos que, realizamos esses percursos, tomando os devidos cuidados para não identificar os sujeitos que contribuíram para essa pesquisa, respeitando os parâmetros de ética da pesquisa, apresentando aos entrevistados o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE A).

Em relação aos sujeitos que colaboraram com essa pesquisa, oriento-me por Freire (1987, p. 46) quando afirma que: “Neste lugar de encontro, não há ignorantes absolutos, nem sábios absolutos: há homens que, em comunhão, buscam ser mais”. Nesse seguimento, interpreta-se que todos os sujeitos têm sua parcela de contribuição na transformação das realidades, não importa sua origem, classe social ou seu nível de conhecimento. Todos os sujeitos em suas vivências tiveram importância para essa pesquisa, que tem a finalidade de promover uma educação mais humanizada.

7 PRODUTO EDUCATIVO: PERCURSOS FORMATIVOS COM PROFESSORES