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7 PRODUTO EDUCATIVO: PERCURSOS FORMATIVOS COM

7.3 ENCONTROS

7.3.6 Sexto Encontro

Nosso foco para esse dia foi a realização de uma experiência de campo em encontro com participantes do Congo e da Folia de Reis em Nova Almeida, para uma escuta sensível de suas narrativas, almejando conhecer “mais de perto” sobre as historicidades e peculiaridades desses movimentos culturais. Inserimos nas ações desse dia, uma roda de partilha para apresentação dos memoriais com ações educativas desenvolvidas pelas professoras cursistas e a avaliação de nosso produto educativo. Tivemos também uma visita educativa ao monumento Reis Magos, que contou com um compartilhamento sobre a história de Nova Almeida. O momento ressaltou as principais características do monumento, e suas implicações para as culturas que ocorrem no bairro, esta ação foi direcionada pela importante colaboração do Professor Henrique Sepulchro furtado, que desenvolveu pesquisa de mestrado com essa temática pelo PPGEH/IFES.

O encontro ocorreu em um espaço do monumento Reis Magos em Nova Almeida, o ar bucólico e calmo do local, que é composto de uma enorme beleza natural, tornou prazeroso o nosso ambiente formativo. Como tínhamos uma pauta extensa, no período matutino fizemos a avaliação do nosso produto educativo, vamos expor os detalhes deste momento no próximo tópico. Após este início, realizamos a roda de conversa com participantes do Congo e da Folia

de Reis. Em nossa roda de conversa, tivemos a relevante colaboração de moradores do bairro participantes do Congo e da Folia de Reis. Foi uma ocasião valiosa, com desvelamentos dos percursos dessas culturas, dos enfrentamentos que os sujeitos empreendem para manter essas produções. Além disso, aproximou os diálogos entre os produtores dessas culturas, dos contextos escolares, que emergiram pelas narrativas das professoras presentes. As professoras expuseram os desafios encontrados no contexto escolar como: os distanciamentos, preconceitos e estereótipos para com as produções culturais de origem popular. Entretanto, também expuseram a relevância da temática para formação dos professores e dos educandos, e a necessidade de enfrentamento desses desafios para transformação dessas práticas.

Nesse movimento dialógico, tivemos outras percepções como, a característica híbrida do Congo e da Folia de Reis, que resguardam elementos da diversidade étnica local, mesclando elementos da cultura portuguesa, e, sobretudo, ameríndia e afro-brasileira. Esses elementos integram a investigação teórica que apresentamos no texto, em Nestor Canclini (2006, p.326) que assim nos afirma: “A hibridez tem um longo trajeto nas culturas latino-americanas”. Destacamos também, a importância da memória e do pertencimento desses sujeitos, que têm sustentado essas produções culturais em suas localidades. Como já apontamos, vivemos um período de “apagamento” e descaracterização das memórias, por isso, Pierre Nora (1993, p.17) ratificou que: “O dever de memória faz de cada um historiador de si mesmo”. Outra apreensão foi a persistência dos preconceitos que essas produções em seus sujeitos sofrem, por possuírem inúmeros elementos da cultura afro-brasileira, e dos escassos apoios para preservação dessas culturas.

Fechamos a manhã com a visita educativa ao monumento Reis Magos. Nesse outro instante fluido e valioso, refletimos de forma crítica sobre o patrimônio cultural, compartilhando conhecimentos que transcenderam ao belíssimo patrimônio material a nossa vista. Nosso “olhar” voltou-se para as diversidades étnicas, memórias e histórias que atravessaram a construção, e as implicações desses movimentos para composição do Congo e da Folia de Reis na localidade.

No período vespertino as professoras realizaram o compartilhamento de seus memoriais, encerramos o dia com as apresentações. Os memoriais abarcavam uma ação educativa dentro da temática da educação para as relações étnico raciais, realizada pelas docentes nas escolas,

além de algumas de suas memórias pessoais e profissionais. Das apresentações emergiram muitas vozes, vejamos algumas delas:

“Fizemos a dinâmica do espelho para eles refletirem e falarem sobre os traços deles, quando comecei a dinâmica o aluno disse: tia eu não vou falar! O outro disse: tia eu sou negro!” Princesa

“Nada que fale sobre mim ou sobre minha infância, retratará sobre a temática trabalhada nesse curso. Sou uma mulher branca dos cabelos e olhos claros, jamais poderia falar que recebi alguma injuria [...] eu nunca fui impedida de frequentar um lugar por ser branca dos cabelos e olhos claros”.

Coroa

“Um dos grupos de escreveu assim: ser negro é, você se aceitar como é, é ter direitos igual as outras pessoas. Já outro grupo escreveu: ser negro é sofrer racismo, é ter pele escura, ter cabelo castanho, ser negro é não se sentir inferior as outras pessoas, lutar capoeira. Ser negro é ter seus direitos, ter respeito. Ser negro é ser aceito do seu jeito”.

Ginga

“Ela falou um pouquinho sobre o Congo, sobre a África [...] eles se apresentaram, fizeram trilha sonora do desfile com seus diferentes cantos. Muitos professores não foram, mas o que me deixou mais feliz, foi que eu consegui de certa forma alcançar meus objetivos, conseguimos apresentar a turma do Congo”.

Cantoria

“Ela me ofereceu trabalhar com os instrumentos [...] minha aula foi uma verdadeira festa, quase virou um Congo na minha sala de aula, foi um sucesso!”

Coroa

“Eu usei “O cabelo de Lelê” como literatura, peguei “gancho” nas minhas tranças. [...] foi excelente, eles amaram”.

“Foi o primeiro trabalho que eu fiz na minha vida, que eu senti tanta gratificação em estar fazendo! Eu estou saindo com uma outra postura, pessoal e profissional, uma postura que eu quero que minhas filhas tenham acesso”.

Cantoria

A apresentação dos memoriais nos ofereceu uma oportunidade ímpar, preciosa e bonita. Notou-se pelos discursos, que as práticas educativas relacionadas á temática diversidade étnico-racial, ainda encontram vários entraves na escola, como a falta de colaboração de parte do corpo pedagógico das escolas, o que demonstra a persistência de preconceitos. O problema confirma a necessidade de se construir enfrentamentos, como a realização processos formativos com professores (GOMES, 2003). A emoção foi constante, sorrisos e lágrimas marcaram o momento, também percebemos nas narrativas, práxis transformadoras em via de mão dupla, onde educador e educando buscaram desatar os “nós sociais” impostos.

Fotografia 21 - Roda de Conversa entre docentes e participantes do Congo e Folia de Reis em Nova Almeida, em 07 de dezembro 2019

Fotografia 22 - Vista do bairro Nova Almeida pela janela do monumento Reis Magos em 07 de dezembro de 2019

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).

Fotografia 23 - Visita educativa ao monumento Reis Magos com professor Henrique Sepulchro em 07 de dezembro 2019

Fotografia 24 - Visita educativa ao monumento Reis Magos em 07 de dezembro 2019

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).

Fotografia 25 - Visita educativa ao monumento Reis Magos em 07 de dezembro 2019

Fonte: Arquivo pessoal da autora (2019).