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4. O MUNICÍPIO DE ARACAJU

4.1 Mobilidade Urbana em Aracaju

Aracaju foi a segunda cidade planejada do Brasil, com o formato de um tabuleiro de xadrez (VASCONCELOS, 2014). Localizada no leste sergipano, ela limita-se ao norte com o município de Nossa Senhora do Socorro, a leste com Barra dos Coqueiros e o Oceano Atlântico, ao sul com Itaporanga d’Ajuda e ao oeste com São Cristóvão (ARACAJU, 2014).

Sua Região Metropolitana é composta pelos municípios de Aracaju, Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão. Ela foi criada pela Lei Complementar Estadual nº 25, de 29 de dezembro de 1995 com o intuito de realizar, forma integrada, as ações de organização, de planejamento e de execução de funções públicas de interesse comum, tendo sua sede no município de Aracaju (SERGIPE, 1995).

Como foi dito, assim como a maioria dos municípios brasileiros, Aracaju também apresenta problemas relacionados à mobilidade urbana. As causas, colocadas anteriormente em termos gerais, não variam muito. Entre elas, o baixo investimento no transporte público coletivo, com uma estrutura viária que prioriza a utilização de veículos particulares, incentivos de aquisição dos mesmos através de uma política de redução de impostos realizados pelo governo federal e o aumento das distâncias também contribuíram para o agravamento dessa situação na capital sergipana.

A cidade de Aracaju apresenta, ainda, uma dispersão considerada intensa. Isso dificulta ainda mais a implantação de uma infraestrutura adequada que atenda toda a zona urbana do território municipal. Outra questão é a

organização da cidade em forma de quadras retangulares com ruas relativamente estreitas para a grande quantidade de veículos que circulam atualmente (ARACAJU, 2014).

O fato é que os problemas da maioria das grandes cidades brasileiras somadas a algumas particularidades do município de Aracaju dificulta o alcance do objetivo de se conseguir uma mobilidade urbana de qualidade.

Aracaju recebe um fluxo muito grande de pessoas procedentes dos demais municípios sergipanos e da área de influência, intensificando a utilização de suas funções econômicas. Acaba ocorrendo um sobre carregamento dos principais eixos de ligação dos diversos pontos da cidade, provocando engarrafamentos. Isso acaba comprometendo a mobilidade urbana e a qualidade de vida da população, que perde mais tempo com deslocamentos (ARACAJU, 2014).

O órgão responsável por gerir a mobilidade urbana em Aracaju é a Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito – SMTT. Ela tem como função gerenciar o transporte público e o trânsito com o objetivo de garantir maior fluidez no sistema viário, criando novas soluções para a Mobilidade Urbana, além de garantir a segurança nas vias e melhorar os serviços e a vida dos usuários do transporte urbano, sempre de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro (ARACAJU, 2017).

De acordo com a estrutura organizacional do município de Aracaju a SMTT é vinculada, mas não subordinada, à Secretaria Municipal da Defesa Social e da Cidadania – SEMDEC. Abaixo, segue a estrutura administrativa do município de Aracaju retirada de seu site de transparência no dia 17 de outubro de 2017:

Meirelles (2009) distingue bem subordinação de vinculação administrativa. Subordinação decorre do Poder Hierárquico, permitindo todos os meios de controle do superior sobre o inferior. Já a vinculação administrativa, resulta do poder de supervisão ministerial e é exercida nos limites que a lei estabelecer, sem suprimir a autonomia ao ente supervisionado. A SMTT, antiga SMTU (Superintendência Municipal de Transportes Urbanos), foi criada em 1998 mediante a lei ordinária 2.576 daquele mesmo ano. A Superintendência é um órgão autárquico, com personalidade jurídica, patrimônio e receita próprios e tem como finalidade administrar os serviços públicos de transporte público e de trânsito no Município de Aracaju, com uma gestão administrativa e financeira descentralizada. Compete à SMTT planejar, organizar, dirigir, executar, delegar, e controlar a prestação de serviços públicos relativos a transporte coletivo e individual de passageiros, tráfego, trânsito e sistema viário (ARACAJU, 1998).

Por se tratar de uma autarquia, a SMTT possui personalidade jurídica própria, capacidade de auto administração, patrimônio próprio, competência limitada à execução do serviço público que lhe foi conferido e certa margem de independência em relação ao ente instituidor, sendo controlada nos limites da lei (DI PIETRO, 2017). Devido a essas características, pode-se dizer que ela tem autonomia para realizar suas competências estabelecidas por lei, visando uma gestão eficiente da mobilidade urbana.

No parágrafo único do artigo 5º da Lei Orgânica do Município de Aracaju, são definidos seus objetivos prioritários, além de outros previstos. Dentre eles está o atendimento das demandas sociais de educação, saúde, transporte, moradia, abastecimento, lazer e assistência social. Também, em seu artigo 7º, assegura a todo habitante do Município o direito ao transporte, entre outros, conforme preconiza a legislação federal (ARACAJU, 1990).

Além disso, define como competência do município, entre outras atribuições, organizar, conforme estabelece a Constituição Federal e prestar diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, entre outros, os serviços de transporte coletivo urbano e intra-municipal (ARACAJU, 1990).

Para tanto, é dedicado uma seção de sua Lei Orgânica exclusivamente para tratar sobre os transportes públicos, intitulada “Dos

Transportes Urbanos”, onde são definidas diversas regras que os gestores municipais devem seguir, além de outras fora dessa seção (ARACAJU, 1990).

Aracaju possui também o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, instituído pela Lei Complementar nº 42 de 2000. O Plano Diretor é o instrumento estratégico da Política de Desenvolvimento Urbano Sustentável do município que tem por objetivo o direito à cidade, ao cumprimento da função social da propriedade, à justa distribuição dos serviços públicos, da infraestrutura e dos equipamentos urbanos, a ordenação do uso e ocupação do solo e da produção do espaço urbano, inclusive das áreas de expansão, e a preservação do patrimônio ambiental e cultural (ARACAJU, 2000).

Dentre os objetivos gerais dessa lei, estão o de estabelecer mecanismos para atuação conjunta dos setores públicos e privados em empreendimentos de interesse público que promovam transformações urbanísticas na cidade, especialmente relativas ao transporte coletivo, dentre outros e o de estabelecer diretrizes para políticas setoriais de transporte e melhorar a eficiência da rede viária e dos serviços de transporte, com prevalência do uso público sobre o privado, assegurando acesso satisfatório a todos os núcleos adensados (ARACAJU, 2000).

O Plano Diretor Municipal é importante, pois deve servir de base para a elaboração do Plano de Mobilidade Urbana do Município, obrigatório no município de Aracaju. Nele, deverão estar presentes todos os princípios e as diretrizes definidas no Plano Diretor Municipal.

Nesse ponto a capital sergipana apresenta dois problemas. O primeiro deles é que o Plano Diretor vigente até o momento é do ano 2000. Essa situação descumpre o Estatuto da Cidade (2001), já que ele rege que sua revisão deve se dar pelo menos a cada dez anos. Portanto, um Plano de Mobilidade Urbana embasado em um Plano Diretor tão antigo é um aspecto negativo para o município.

O segundo refere-se à inexistência de um Plano Diretor de Mobilidade Urbana em Aracaju. Há apenas um projeto de lei que definirá a Política Municipal de Mobilidade Urbana, fundamentando e instituindo tal Plano, porém, ainda sem aprovação. Vale salientar também que o Plano Diretor de 2000 também aparece como um de seus fundamentos (ARACAJU, 2015).

Nesse projeto de lei elaborado em 2015 são definidos os princípios norteadores, as diretrizes gerais e os objetivos específicos do Plano Diretor de Mobilidade Urbana do Município de Aracaju. Os indicadores propostos, como já foram argumentados, terão que estar em conformidade com o que rege a Política Nacional de Mobilidade Urbana. Os princípios norteadores são:

I – que o Plano Diretor de Mobilidade Urbana se constitua em um instrumento de orientação da política urbana, vinculado ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, reconhece o espaço público como bem de uso comum;

II – a estruturação da mobilidade urbana; III – a mobilidade urbana sustentável; IV – a acessibilidade universal;

V – a equidade no acesso e uso do espaço público de circulação; VI – a justiça social na mobilidade urbana, como prioridade do transporte não motorizado sobre o transporte motorizado;

VII – a prioridade no transporte público coletivo sobre o transporte individual;

VIII – a estruturação da logística da circulação e abastecimento de bens, mercadorias e serviços; e

IX – a gestão democrática da mobilidade urbana (ARACAJU, 2015).

Já as diretrizes gerais são:

I – fundamentação da ação pública em mobilidade urbana;

II – delimitação dos espaços da mobilidade urbana segundo o uso público e os modos de transporte;

III – regulamentação da relação com os agentes públicos e com os privados, provedores de serviços de mobilidade urbana;

IV – adequação às diretrizes fixadas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de forma sequencial e harmônica;

V – implantação adequada de infraestrutura da circulação; VI – priorização da funcionalidade na circulação viária;

VII – integração com a política de desenvolvimento urbano, promovendo a integração metropolitana, visando a mobilidade urbana sustentável e acessibilidade universal, com segurança e qualidade de vida, com redução dos custos urbanos afetos à mobilidade urbana; VIII – prioridade ao transporte não motorizado, especialmente à circulação de pedestres e ciclistas em condições seguras e humanizadas;

IX – prioridade do transporte motorizado público coletivo em relação ao transporte individual, garantindo eficiência operacional, segurança, conforto e qualidade ambiental;

X – equacionamento e estruturação da logística do abastecimento e circulação de bens, mercadorias e serviços; e

XI – gestão integrada dos componentes da mobilidade urbana do trânsito, do transporte público coletivo e do transporte de bens, mercadorias, e serviços, com revisão dos instrumentos normativos pertinentes, com a promoção do desenvolvimento técnico, da participação da sociedade, visando a mitigação dos custos ambientais e sociais (ARACAJU, 2015).

E, por fim, os objetivos específicos são:

I – promover o desenvolvimento sustentável;

II – requalificar o espaço urbano, de forma adequada ao perfeito desenvolvimento da vida urbana;

III – contribuir na redução das desigualdades sociais;

IV – promover a melhoria da qualidade de vida, através das condições de conforto, da segurança e da rapidez dos deslocamentos;

V – melhorar a mobilidade urbana, proporcionando deslocamentos intra e interurbanos, que atendam às necessidades da população, vinculadas às diretrizes de planejamento contidas no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano;

VI – promover o acesso aos serviços básicos de mobilidade;

VII – incentivar a utilização de modos não motorizados, implementando o ambiente urbano adequado;

VIII – promover a acessibilidade universal em todos os componentes da mobilidade urbana;

IX – racionalizar o uso do sistema viário, com a valorização dos deslocamentos de pedestres e ciclistas;

X – planejar a infraestrutura do transporte do transporte não motorizados;

XI – ampliar o uso do transporte motorizado público coletivo na matriz de transporte da cidade, o abastecimento e o escoamento da produção local e metropolitana;

XII – aperfeiçoar a logística do transporte de bens, mercadorias e serviços, o abastecimento e o escoamento da produção local e metropolitana;

XIII – aperfeiçoar o padrão de comportamento dos usuários dos vários modais nos sistemas de circulação para a redução de acidentes, vítimas e mortes no trânsito;

XIV – reduzir a emissão de poluentes;

XV – consolidar a gestão democrática no aprimoramento da mobilidade urbana; e

XVI – preservar o patrimônio ambiental, arquitetônico, cultural, histórico, paisagístico e urbanístico da cidade (ARACAJU, Projeto de Lei de 2015).

A legislação proposta é rica em princípios, diretrizes e objetivos, porém é necessário pô-los em prática. Para isso, a utilização de mecanismos de monitoramento e controle com o objetivo de acompanhar os serviços relacionados à mobilidade urbana é essencial.

Fato que corrobora essa importância é o fato de o projeto de lei prever a implantação de mecanismos de monitoramento e de avaliação através de indicadores de desempenho e do estabelecimento de objetivos e metas a fim de tornar o transporte público coletivo mais atrativo frente ao transporte individual (ARACAJU, 2015). Essa previsão segue o que preconiza o novo modelo de administração pública e ressalta ainda mais a importância deste

trabalho, principalmente pelo fato de vincular o transporte público coletivo com os indicadores de desempenho.

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