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MODALIDADES 1 Cheque visado

No documento Direito Comercial II - Otávio Augustus (páginas 107-111)

LETRA DE CÂMBIO: ACEITE

7. MODALIDADES 1 Cheque visado

É aquele que recebeu visto do banco ou da instituição financeira indicada como sacado. Essa figura jurídica nasceu de uma prática comercial – o costume de o sacador solicitar ao sacado uma declaração de provisão efetiva de fundos, que garanta contratualmente o pagamento do cheque. Essa declaração é diferente do aceite, pois este é impossível no cheque, por se tratar de título à vista.

Hoje, o cheque visado está positivado na lei do cheque, mas, antes dela, sua concepção já havia sido assentada pela Junta Comercial. É importante notar que, mesmo sendo o cheque um título causal, e podendo conter o visto, não é o banco (ou instituição financeira) obrigado cambiariamente a pagá-lo. Dessarte, não há como se mover ação cambial contra o sacado, ainda que tenha visado o título. Esse fato não obsta a propositura de ação com base em inadimplemento contratual do banco em detrimento do correntista, mas não se incidirão os princípios basilares do Direito Cambiário.

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DIREITO COMERCIAL II

Aula n.º 18

14 de junho de 2008

A garantia (contratual) de pagamento dada pelo sacado perdura até o final do prazo de apresentação – trinta dias, se o cheque for sacado na mesma praça de pagamento, sessenta dias, se for em praça diversa (ex.: saque em Ilhéus e agência em Itabuna). Findo o prazo, o visto  perde o efeito. Na prática bancária, para se evitarem inconvenientes, quando um cheque é visado, imediatamente é indisponibilizado para movimentação o valor do título dentre a quantia previamente depositada, ou é bloqueada uma fração do limite de crédito do correntista, em caso de contrato de abertura de crédito. Se o cheque não for apresentado, a quantia ou a fração do limite de crédito bloqueados são disponibilizados novamente.

7.2. Cheque pré-datado

Cambiariamente, o cheque pré-datado (ou pós-datado153) não existe; ainda que contenha a inscrição “bom para 25 de abril de 2093”, caso o título seja apresentado antes desse termo – e haja fundos –, o banco deverá pagar o seu valor. Embora o Direito Cambiário desconheça o cheque pré-datado, não significa que este não possua valor jurídico contratual – e, portanto, extracambiário. Caso o cheque seja visado, e, posteriormente, seja sacado como pré-datado, o que ocorrerá é que o visto poderá perder sua eficácia antes de se findar o prazo de apresentação, que começará a correr somente a partir da data pré-fixada.

7.3. Cheque administrativo

É o cheque em que o próprio sacador é o sacado. O banco cria o título em favor de terceiro – não necessariamente correntista – contra si mesmo. Essa modalidade é mais uma que visa a dar maior segurança ao beneficiário quanto à existência de fundos.

7.4. Cheque cruzado

O cheque, quando cruzado (com duas linhas paralelas transversais), só pode ser pago a instituição financeira. Assim, o portador do título não pode receber o valor correspondente em dinheiro de maneira imediata, podendo apenas depositá-lo – uma vez que somente o banco poderá descontá-lo. Otávio Augustus explica que não é necessário o depósito, já que quem não é correntista do banco credor pode contratar os seus serviços simplesmente para a apresentação daquele cheque. Porém, no campo prático, há uma coincidência entre cheque cruzado e depósito, que não deve ser considerada em termos conceituais, para que não se confunda com a próxima modalidade.

Cruzamento em branco

O cheque só pode ser pago a um banco ou a um cliente do sacado mediante crédito em conta; lembre-se que, no último caso, o credor do cheque continua a ser o banco do correntista.

Cruzamento em preto

Entre os traços, figura o nome de um banco específico. Isso significa que o cheque somente poderá ser pago ao banco cujo nome conste do cruzamento ou, sendo este também o sacado, a um cliente seu, mediante depósito em conta.

153 Eu não entendo esse negócio de cheque “pós-datado”. Se no dicionário datar é precisar ou definir uma data,

não tem como se considerar correto o pensamento de quem acha que essa demarcação ocorre posteriormente ao saque. Quando o cheque é criado, se fixa antecipadamente uma data em que o cheque se tornará contratualmente exigível, ou seja, há uma pré-datação, e não pós-datação.

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14 de junho

de 2008

OTÁVIO AUGUSTUS CARMO

7.5. Cheque para ser levado em conta

É aquele que o sacado não pode pagar em dinheiro, por expressa proibição colocada no anverso do título pelo sacador, consistente na expressão “para ser creditado em conta” ou da menção ao número da conta do beneficiário entre os traços do cruzamento. O banco procederá o pagamento por meio de lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação)154.

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154 RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Curso de direito empresarial. 2. ed. Salvador: JusPodivm, 2008. O professor

teve que cortar a aula antes de chegar nesse assunto, em virtude da maldita antecipação da prova de Josevandro. Mas eu também acho que isso não é para ser levado em conta.

DIREITO COMERCIAL II

Aula n.º 19

11 de julho de 2008

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DUPLICATA

SUMÁRIO: 1. Conceito. 2. Histórico. 3. Conceito. 4. Caráter facultativo e exclusivo. 5. Livro de registro. 6. Remessa e devolução. 7. A duplicata virtual.

A duplicata é um título importantíssimo para o Direito Cambiário e para a prática empresarial – afinal, ela só pode ser sacada por um empresário, ao contrário dos demais títulos de crédito, que podem ser criados independentemente da qualidade do sujeito. Em se tratando de títulos causais, quando a relação jurídica subjacente está ligada a uma atividade

empresarial, somente um empresário pode criá-los. 1. CONCEITO

É um título sacado para representar um crédito havido em face de uma compra e venda mercantil155 ou de um contrato de prestação de serviço, quando o prestador de serviço é um empresário156. É, pois, um título causal, pois só pode nascer desses dois contratos.

2. HISTÓRICO

A duplicata é um título genuinamente brasileiro, que foi copiado – com muita semelhança em alguns países e grandes diferenças em outros – mundo afora (em especial nos países da América do Sul, além de Portugal, França e outros países da Europa Continental). Tem como documento originário a fatura da compra e venda mercantil. Nesse contrato, o vendedor era obrigado a tirar a fatura dos bens vendidos, que consistia numa mera lista dos produtos alienados. Dessa lista, dever-se-ia tirar, também, uma duplicata, a ser assinada pelo comprador; era um documento importante nas vendas a crédito, em que havia prova dos bens vendidos e de seus respectivos preços, representando o direito do vendedor de receber a quantia determinada. Entre presentes, não havia problema; o indivíduo comprava a crédito, assinava a fatura das coisas compradas, comprovava-se a entrega do produto e constituía-se o crédito do vendedor. O documento representava esse crédito e possibilitava o giro comercial, porque o comerciante, por meio de cessão do documento que representava a obrigação, fazia caixa e retornava com seu capital para reinvestimento no tráfico mercantil157. A existência de um documento representativo da compra e venda tem, assim, dupla dimensão: a) prova do crédito

155Devendo esse contrato ser entendido como “compra e venda empresarial” – realizada no exercício da empresa. 156 É importante notar que, hoje, há uma redução sistemática de duplicatas em papel, sendo substituídas,

gradativamente, por duplicatas virtuais – seguindo o fenômeno de “despapelização dos títulos de crédito”, que acaba por pôr em xeque o princípio da incorporação. Viu-se, nas aulas anteriores, como a cartularidade é útil ao regramento jurídico do Direito Cambiário – na transferência dos títulos ao portador e na segurança jurídica, entre outros aspectos. Já que os papéis estão sendo substituídos pelos registros eletrônicos, magnéticos e virtuais, como ficaria o Direito Cambiário? A tendência é se entender que os títulos de crédito subsistirão sem a incorporação, pois o único atributo ou princípio realmente indispensável é o da autonomia (o caráter autônomo do direito de quem recebe o título, manifestado, especialmente, pela inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa- fé). A própria lei das duplicatas permite que se trabalhe com títulos virtuais, inexistentes materialmente. A duplicata é sacada e protestada sem que se manifeste sua existência enquanto “papel” – que será necessário apenas no processo de execução, por exigência do Código de Processo Civil.

11 de julho

de 2008

OTÁVIO AUGUSTUS CARMO

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em si; b) instrumento de realização do crédito – por meio de transferência, que possibilita a incorporação imediata da quantia ao patrimônio do vendedor. A fatura, pura e simples, sem assinatura do devedor, é incorporada, atualmente, em documentos para efeito de tributação – as notas fiscais, que relacionam em seu corpo as mercadorias vendidas, mas não provam a existência de qualquer crédito.

Entre ausentes (comprador e vendedor em praças diferentes), surge a necessidade de se ter esse documento, disciplinado no Código Comercial de 1850 como fatura. As práticas comerciais do início do século levaram à criação de um título – numa negociação entre a Associação Comercial de São Paulo e o Ministério da Fazenda158 – que, quando criado pelo credor, e pondo-se selos comprobatórios do recolhimento de tributos, seria hábil para a representação do crédito. Assim, os comerciantes, interessados no expediente desse documento, e o Fisco, preocupado em arrecadar, juntaram a fome com a vontade de comer, dando ensejo a uma lei, que regulava tal documento com essa mecânica. Todavia, a finalidade almejada pelos comerciantes não se concretizou, por diversas razões jurídicas e operacionais, a despeito do sucesso relativo à tributação.

Em 1968, com a lei anteriormente mencionada já revogada, nascia a lei das duplicatas (Lei n.º 5.474/68, alterada pela Lei n.º 6.478/77) com a previsão desse título, que tem lá sua inspiração no documento tratado anteriormente (fatura e “duplicata”).

3. REQUISITOS

Estão elencados no artigo 2º da Lei n.º 5.474/68:

Art. 2º. No ato da emissão da fatura, dela poderá ser extraída uma duplicata para circulação como efeito comercial, não sendo admitida qualquer outra espécie de título de crédito para documentar o saque do vendedor pela importância faturada ao comprador.

§ 1º A duplicata conterá:

I – a denominação “duplicata”, a data de sua emissão e o número de ordem; II – o número da fatura;

III – a data certa do vencimento ou a declaração de ser a duplicata à vista; IV – o nome o domicílio do vendedor e do comprador;

V – a importância a pagar, em algarismos e por extenso; VI – a praça de pagamento;

VII – a cláusula à ordem;

VIII – a declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser assinada pelo comprador, como aceite cambial;

IX – a assinatura do emitente.

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