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PRINCÍPIOS OU ATRIBUTOS ESSENCIAIS

No documento Direito Comercial II - Otávio Augustus (páginas 70-72)

TÍTULOS DE CRÉDITO

6. PRINCÍPIOS OU ATRIBUTOS ESSENCIAIS

Observando-se as características mencionadas no conceito anterior, percebe-se que dele decorrem alguns princípios ou atributos, sem os quais um documento não é considerado um título de crédito e regulado pelo Direito Cambiário.

6.1. Incorporação81ou cartularidade

É atributo que permite que o documento constitua o direito, e não apenas o represente, como ocorre no direito comum – no qual o documento é simplesmente probatório. Há uma vinculação ontológica entre direito e título, posto que não é possível se falar de um sem o outro.

6.2. Literalidade

Os direitos inerentes ao título, expressos em seus termos, devem ser interpretados literalmente. O Direito cambiário possui essa característica em razão de sua finalidade de circulação rápida e segura (conforme explicitado anteriormente). Como as declarações cambiárias são simples, não-solenes, são, também, em contrapartida, estritamente formais e extremamente rigorosas quanto a esse aspecto. Qualquer inscrição indevida no título ou é tida como inexistente ou invalida o documento.

A literalidade, dessa forma, estabelece três regras: a) o título deve ser interpretado

ipsis litteris; b) nem mais nem menos: só produz efeito aquilo que está no título ou decorre

de norma cogente (ex.: juros de mora); c) podem constar no título somente as declarações

 previstas em lei – as declarações cambiárias (endosso, aval, aceite, emissão etc.) são atos unilaterais típicos. As leis específicas de cada título prevêem como primeiro requisito, sempre, que, no documento esteja estampado o seu nome82 (letra de câmbio, cheque, duplicata v.g.), como modo de advertir ao emitente que, caso ele resolva adimplir sua obrigação por meio de um título de crédito, estará se submetendo ao regime peculiar e autônomo que impede a oposição de exceções pessoais.

Os requisitos formais, para que dêem eficácia ao documento, necessitam de um suporte material (decorrente do princípio da incorporação), que não precisa ser um modelo pronto, e nem mesmo papel – pode ser confeccionada uma letra de câmbio, no clássico (e tosco) exemplo de Otávio Augustus, a partir do tecido de uma jaqueta de soldado em campo de batalha, na qual estariam as declarações cambiárias escritas com sangue83.

81 Não sabia que Otávio Augustus era espírita... 82 É o que o professor chama de .

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11 e 12 de

abril de 2008

OTÁVIO AUGUSTUS CARMO

6.3. Autonomia

Os atributos anteriores possuem função importante no Direito Cambiário, mas são apenas instrumentais, garantindo meios eficazes de operacionalização das relações jurídicas baseadas em títulos de crédito. Já a autonomia lhes é essencial verdadeiramente, pois é ela quem confere a característica especial do Direito Cambiário84. Manifesta-se em duas formas: a) pela transferência de direito autônomo por meio da translação da propriedade do título –o direito do cessionário não guarda ligação com o negócio jurídico que gerou o direito do cedente, ou seja, se configura a inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa- fé . Numa relação contratual entre A e B (compra e venda de um carro roubado sem cláusula

de exoneração da garantia da evicção85), em não havendo circulação do título emitido por A como pagamento do preço, há coincidência entre os sujeitos da relação cambiária, cabendo aí a exceção de inadimplemento contratual. Porém, se o título circulou (B endossou o documento a C), a situação muda, pois o direito do terceiro adquirente é autônomo. A, assim, não pode opor a exceção que tinha contra a pessoa de B.

a1 ) É importante ressaltar que a má-fé do adquirente do título quebra a autonomia

do direito, igualando sua condição à do proprietário anterior – ou seja, sujeito às

mesmas exceções pessoais que este poderia sofrer. A má-fé não se apresenta quando o adquirente do título toma ciência das exceções que o devedor do proprietário anterior poderia opor a este (ou seja, se quem recebeu o cheque diretamente credor do preço do carro roubado sabia dessa circunstância), mas sim quando o terceiro age em detrimento do devedor; é o que ocorre quando a transferência do título é realizada para impedir que o devedor oponha suas exceções pessoais ao credor do título (que, com a circulação, não será mais o credor da relação obrigacional de direito comum, mas o novo proprietário do título)86.

a 2 ) Em caso de o emitente de um cheque, ou o seu endossatário, declarar, no título, que o documento foi transmitido como pagamento de uma obrigação definida (compra e venda de material elétrico, v.g.), nada do que foi escrito afetará terceiros de boa-fé. Logo, quem se recusar a pagar ao credor o valor do título, se o mesmo tiver circulado, não poderá alegar vícios redibitórios por conta de virtual vinculação do título ao contrato87. As declarações cambiais são típicas ( princípio da literalidade), e, por conseqüência, o que não está previsto em lei é considerado como não-escrito. b) pela intangibilidade das nulidades das obrigações cambiárias – as obrigações

cambiárias são autônomas; a nulidade de uma não toca, tange ou contamina a outra. Por exemplo, imagine-se uma nota promissória emitida por uma criança de cinco anos de idade –

84 A qual compõe os 95% de seu conteúdo. Já enjoei de ouvir esse número. 85 Ninguém se lembrou disso, mas Paola sim.

86 O nosso querido professor, mais uma vez, em sua visão arcaico-positivista, criticou o STJ em suas decisões de

declarar a nulidade do título quando a relação de direito comum também é nula. Segundo Otávio Barroco Augustus, que lê a Revista de Direito Mercantil como se fosse uma Bíblia, há uma má aplicação do Direito Cambiário no Brasil, pois aquela interpretação deveria se fundar em norma específica – “quer dizer, então, que o mundo está errado e o STJ é que está certo?”. Nem ouse falar em interpretação principiológica, postulado da proporcionalidade ou qualquer ou elemento de Direito Constitucional que possa ser invocado para justificar a  jurisprudência, pois a modernidade ainda não chegou ao Direito Comercial – quer dizer, só por meio de iPhones,

EEPCs, e outras babaquices eletrônicas. E Marinoni chora...

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DIREITO COMERCIAL II

Aulas n.º 09 e 10

11 e 12 de abril de 2008 alfabetizada precocemente – a Pedro. Este, capaz, endossa a nota a Manoel. Na data de vencimento do título, Manoel não pode cobrar do emitente (como ocorre normalmente, pois as obrigações se superpõem; o surgimento de um novo obrigado não desconstitui o anterior, ou seja, quanto maior a circulação, mais obrigados se formam em cadeia88), porém Pedro continuará devedor da quantia correspondente à nota, não podendo alegar nulidade do título em função da incapacidade do emitente. A nulidade da obrigação de qualquer sujeito da cadeia de regresso89 não contamina as demais, caso contrário, o entrave à circulação seria enorme: Manoel, para aceitar a nota teria que investigar se o emitente ou os sucessivos endossantes cumpriram os requisitos legais para a transferência do crédito.

No documento Direito Comercial II - Otávio Augustus (páginas 70-72)