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De seguida apresenta-se o modelo conceptual de evolução geológica para a plataforma continental do Esporão da Estremadura desde o final do Paleogénico. A Fig. VII.11 pretende sintetizar essa evolução.

4.1. Exposição sub-aérea generalizada

À passagem do Paleogénico ao Neogénico (Chatiano?) a plataforma continental apresentaria 2/3 da sua área exposta, designadamente a totalidade daquilo que neste trabalho é reconhecido como plataforma interna e média e ainda alguns relevos onde actualmente está instalado o bordo da plataforma, tais como o Pico Gonçalves Zarco e o Planalto Diogo Gomes (Fig. VII.11).

Por força da exposição sub-aérea, e de uma fisiografia arrasada, em parte proporcionada pelo levantamento crustal induzido pelos movimentos tectónicos do final da orogenia pirenaica de que o levantamento da Montanha de Camões é disso exemplo (Mougenot, 1976), um mar de baixa profundidade terá se instalado sobre as regiões mais deprimidas. A persistência deste mar, de características epicontinentais, associado a um período climático mais húmido (Antunes et al; 1999), terá proporcionado as condições necessárias para se dar o ravinamento do soco mesozóico actualmente situado sobre o bordo da plataforma, conforme testemunha um vale incisivo, de perfil em “V”, que se estabelece sobre o Planalto Diogo Gomes (Fig. VI.2), o próprio talvegue do Vale Submarino da Ericeira e outros vales (gullies) proeminentes que entalham a vertente

continental superior do Esporão da Estremadura (Fig. III.29; Fig. IV.3). É possível que no final do Oligocénico, o actual bordo da plataforma continental funcionasse como uma plataforma insular, em que para leste se situava o continente, parcialmente emerso, banhado por um mar de baixa profundidade, enquanto que a ocidente o mar teria características oceânicas profundas.

O aperfeiçoamento das superfícies de aplanação também deverá ter tido lugar neste período transitório, mercê de eventuais flutuações eustáticas em torno dos valores médios que terão levado à exposição sub-aérea de cerca de 2/3 da actual plataforma continental do Esporão da Estremadura. Nesse sentido, a plataforma de abrasão marinha generalizada que se estabeleceu a ocidente do limite entre a actual plataforma média e a plataforma externa é disso exemplo (Fig. VI.17).

4.2. Transgressão e abatimento da plataforma externa

Supõe-se que deverá ter sido na transição do Chatiano para o Aquitaniano (ou já no Aquitaniano) que dois acontecimentos preponderantes para a evolução paleogeográfica da plataforma continental do Esporão da Estremadura terão ocorrido: 1) subida do nível do mar; e 2) colapso da plataforma externa (Fig. VII.11).

Em primeiro lugar, o abandono do nível médio do mar de cotas tão baixas para passar a banhar terrenos da plataforma média e interna, terá levado ao estabelecimento de dois grandes golfos (Bacia da Lourinhã e Mar da Ericeira). A delimitarem estes golfos estariam, de sul para norte, a Montanha de Camões, a plataforma submersa da Ponta da Lamparoeira de que as Costeiras Pêro da Covilhã fazem parte, e eventualmente alguns relevos do Serro do Sudoeste. Tendo por base a análise geomorfológica e estrutural e de acordo com o registo sismostratigráfico disponível para este trabalho (Fig. VI.5; Fig. VI.6; Fig. VI.12) foi possível propor-se uma linha de costa para o período Langhiano (Fig. VII.11).

O abatimento da plataforma externa deverá ter ocorrido neste período, pois como foi anteriormente referido, à excepção do sector noroeste do Serro do Sudoeste, o Miocénico tal qual foi identificado nos perfis de reflexão sísmica não foi reconhecido a ocidente do limite da plataforma média. Este limite é sensivelmente coincidente com a presença de falhas sub- aflorantes que abateram os terrenos mesozóicos, estima-se que em 36 m, tendo por isso proporcionado condições para a posterior deposição da série Plio-Quaternária.

Importa referir, no entanto, que o abatimento não se deu de forma generalizada, tendo apenas como referência a linha mimetizada pelo limite da plataforma média. Em virtude da orientação preferencial do campo de tensões no Aquitaniano, o qual começava a rodar para o quadrante nordeste, proveniente de uma direcção N-S (Mougenot, 1989), a orientação favorável dos acidentes tardi-hercínicos (NNE-SSW) que estruturam a plataforma externa sofreran tracção secundária. Deste modo, pensa-se que o abatimento da plataforma externa não foi generalizado, tendo antes havido lugar à individualização das sub-bacias do Monoclinal da Lourinhã, a leste do Pico Focinho, Bacia-Alta, Vale Submarino da Ericeira (ou melhor, do seu paleo-vale) e a sul e sueste do Pico Gonçalves Zarco.

4.3. Inversão tectónica miocénica

Com o auge da compressão bética a ocorrer no Tortoniano, assiste-se ao rejogo dos acidentes favoravelmente orientados à direcção de compressão máxima NNW-SSE sob a forma de cavalgamentos e falhas inversas, nomeadamente os acidentes tardi-hercínicos de orientação NNE-SSW. Destes, os que mostram evidencias de terem sofrido reactivação são aqueles que

segmentam as formações mesozóicas da plataforma média a norte do paralelo da Lamparoeira (Costeiras Pêro da Covilhã, Serro do Sudoeste e Relevos Marginais da Plataforma Média).

O rejuvenescimento morfológico deste sector da plataforma continental do Esporão da Estremadura é disso consequência. Pode-se observar-se cavalgamentos de terrenos paleozóicos sobre terrenos cretácicos (Fig. VI.2), edificação de horts e grabens como o que ocorre no Serro do Sudoeste e do vale em caixa lhe sucede contiguamente sobre o flanco leste (Fig. III.32; Fig. IV.5- A; Fig. IV.8), e formação de dobras com eixos orientados segundo NE-SW, com planos axiais tendencialmente vergentes para sudeste (Fig. III.29; Fig. V.16). Outro sector que deverá ter sofrido de igual rejuvenescimento morfológico foi o Pico Gonçalves Zarco e Planalto Diogo Gomes, mercê do seu enquadramento tectónico, particularmente devido às falhas que compartimentam o primeiro (Fig. VII.8) e que delimitam a vertente sueste do segundo (Fig. VI.15).

Na sequência deste forte impulso tectónico ter-se-á dado um retrocesso da linha de costa a nível regional (regressão forçada), admitindo-se como provável que os sectores ocupados pela plataforma média e interna tenham sido sujeitados a exposição sub-aérea parcial (Fig. VII.12).

4.4. Sedimentação Plio-Quaternária

Finalmente assiste-se à sedimentação proeminentemente clástica após o evento tectónico ocorrido no Tortoniano. Decorrente do ajuste das estruturas ao campo de tensões subsequente, ter-se-á assistido a movimentos de colapso ao longo da Falha do Esporão da Estremadura, possivelmente na transição Miocénico – Pliocénico (Fig. VII.11). Estes abatimentos, diferenciados consoante se esteja a considerar o bloco vestibular do Mar da Ericeira, ou o Vale Submarino da Ericeira, deverão ter tido um papel fundamental na potenciação da erosão vertical e consequente estruturação do depositório a sul do alinhamento de relevos Pico Focinho – Planalto Queixada. Sobretudo no Pliocénico geram-se depósitos de preenchimento de vales, progradantes.

A norte, no Monoclinal da Lourinhã, não tendo havido lugar a reactivação de uma falha de direcção idêntica (falha inferida que se especula terá separado o Serro do Sudoeste dos Relevos Marginais da Plataforma Média e condicionado a evolução do Miocénico naquele sector), a sedimentação deu-se sobretudo sob a forma de músculos progradantes de génese infralitoral e, ao largo, depósitos coetâneos ligados a sedimentação fina remanescente do aporte e/ou desmantelamento dos paleo-litorais.

Referir ainda que não foram reconhecidos movimentos tectónicos assinaláveis sobre os terrenos cartografados durante este período à luz dos dados de reflexão sísmica. Todavia, com as sonografias de sonar lateral foi possível constatar a ocorrência de desligamentos direitos em falhas NW-SE (Fig. V.15) e desligamentos esquerdos em falhas NNE-SSW (Fig. V.26).

Fig. VII. 11 – Esquema evolutivo da plataforma continental do Esporão da Estremadura desde o Chatiano até à

VIII. CONSIDERAÇÕES FINAIS