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1. Caracterização dos domínios batimétricos

1.3. Plataforma continental externa

A plataforma continental externa é delimitada superiormente pelo limite inferior da plataforma continental média e inferiormente pelo bordo da plataforma continental, conforme se pode observar no MDT (Fig. IV.3), mapa de pendores (Fig. IV.13) e nos perfis batimétricos B1 a B10 (Fig. IV.6). Estes perfis confirmam que, à excepção daqueles situados ao largo do Cabo Carvoeiro (Fig. IV.6; perfil B1) e Cabo Raso (Fig. IV.6; perfil B10), os demais certificam que o

bordo da plataforma se define a profundidades abaixo de -200 m. A maior profundidade a que o bordo da plataforma se estabelece é aos -440 m, no extremo ocidental do Vale Submarino da Ericeira (Fig. IV.7). Exceptuando este caso particular, ao longo de toda a frente da vertente ocidental, o bordo da plataforma situa-se entre os -390 m e os -250 m (Tab. IV.2).

Devido ao acentuado entalhe por vales e ravinas de que é alvo, o contorno do bordo da plataforma continental apresenta-se, regra geral, muito irregular em toda a sua extensão. O intenso ravinamento sugere-nos uma morfologia regradante. Contudo, na vertente norte, entre os meridianos 9º 48’ W e 9º 55’ W, observa-se uma passagem suave do bordo da plataforma para o Terraço Fleury (Fig. IV.6; B2), o que nos leva a caracterizar a morfologia do bordo da plataforma continental neste sector particular como progradante.

No limite ocidental da plataforma, centrada no paralelo 39º 10’ N, observa-se uma reentrância notável de aproximadamente 18 km e um recuo do bordo da plataforma estimado em cerca de 6.5 km, assumindo uma geometria arqueado do mesmo. A passagem à vertente continental dá-se através de um escarpado com um comando máximo de 830 m. Os limites desta reentrância encontram-se na continuação do lineamento do Vale Submarino da Ericeira, a sul, e de uma depressão associada a um ligeiro entalhe da plataforma externa, a norte (Fig. IV.3). Notar que são sectores imediatamente a norte e a sul dos lineamento referidos anteriormente que apresentam o bordo da plataforma a maiores profundidades (Fig. IV.6; B3 e B7), exceptuando, como já foi referido anteriormente, a profundidade a que o bordo se encontra no limite ocidental do Vale Submarino da Ericeira (Fig. IV.7).

Fig. IV. 6 – Perfis batimétricos do bordo da plataforma continental. A linha azul tracejado pretende mostrar a

variação da profundidade a que se estabelece o bordo em função da localização do mesmo. Os perfis evoluem da vertente norte para a vertente sul, conforme localização na Fig. IV.3.

Individualizam-se as seguintes entidades morfológicas na plataforma continental externa do Esporão da Estremadura:

• Vale Submarino da Ericeira • Planalto Diogo Gomes • Pico Gonçalves Zarco • Monoclinal da Lourinhã • Bacia-Alta

• Conjunto de pequenos relevos circunscritos

O Vale Submarino da Ericeira é a entidade morfológica mais notável da plataforma continental externa do Esporão da Estremadura. Trata-se de um vale submarino rectilíneo

profundamente encaixado, de fraca sinuosidade (Is = 1.15), que se estabelece sensivelmente a partir dos -260 m de profundidade, entalhando toda a plataforma continental externa até ao bordo (Fig. IV.7). Sobre o seu talvegue observam-se quatro depressões de formas grosseiramente elípticas, cujo comando aumenta de montante (6 m) para jusante (53 m), conforme se pode observar na Fig. IV.7. As duas depressões mais proeminentes desenham vales em “V” pronunciados em que os interflúvios se apresentam escalonados, respectivamente aos -315 m e - 340 m.

Com uma orientação geral WNW-ESE (azimute geral 300), o VSE segmenta a plataforma externa em dois domínios de características morfológicas distintas. Esta dissemelhança está bem patente em ambas as margens do vale, constituindo a margem sul um escarpado de pendor forte e comando superior a 250 m, enquanto que a margem norte apresenta uma rampa suave e aplanada de fraco pendor, exibindo por vezes pendores médios nos bordos dos relevos Pico Focinho, Planalto Queixada e Planalto Diogo Gomes (Fig. IV.13).

Fig. IV. 7 – Perfil batimétrico longitudinal ao talvegue do Vale Submarino da Ericeira. A localização do perfil

encontra-se na Fig. IV.3.

No domínio norte, o relevo é em geral aplanado, por vezes ondulado, de pendor fraco a muito fraco, donde sobressaem dois relevos submarinos muito bem circunscritos: Pico Focinho e Planalto Diogo Gomes. O primeiro apresenta uma forma alongada, sub-elíptica, com o eixo maior orientado segundo NNW-SSE e o ponto culminante definido aos -142 m de profundidade; localiza-se sobre o meridiano 9 º 57’ W e encontra-se separado da Aplanação Marginal da Plataforma Média por uma pronunciada reentrância. O segundo, o Planalto Diogo Gomes, localiza-se junto ao bordo da plataforma continental sobre o meridiano 10 º 05’ W e denota uma forma menos bem definida, embora o seu topo aplanado, que se estabelece aos -245 m de profundidade, defina uma forma alongada, sub-elíptica, com o eixo maior orientado segundo NE-SW; a sua vertente sueste, com aproximadamente 10 km de extensão é marcada por um importante escarpado com um comando médio de 43 m (Fig. IV.9-B; perfil T2).

Um aspecto morfológico que merece destaque no domínio norte da plataforma continental externa é a ruptura de fraco pendor (máx. 1.82º; gradiente ~1º/km) que se observa no Monoclinal da Lourinhã, centrada sensivelmente aos -200 m (Fig. IV.4; Pm1, Pm2 e Pm3) e que

mimetiza o lineamento definido pelos Relevos Marginais da Plataforma Média, mantendo-se paralela com estes a um distância aproximada de 10.5 km. Esta ruptura de pendor segmenta o Monoclinal da Lourinhã em dois sectores: um proximal e outro distal (perfil T1 da Fig. IV.9-A). No sector proximal, as batimétricas apresentam uma orientação geral segundo NE-SW, mas de geometria convexa (convexidade virada para oeste); o contorno é geralmente suave. No sector distal, o traçado das batimétricas é um pouco mais complexo uma vez que as batimétricas mudam de orientação com bastante frequência, mas a partir de fundos superiores a -320 m de profundidades, as batimétricas tendem a estabelecer-se segundo a direcção E-W (Fig. IV.1).

No domínio sul do Vale Submarino da Ericeira o relevo é mais acidentado comparativamente com o domínio norte (Fig. IV.1; Fig. IV.3), destacando-se alguns relevos submarinos proeminentes, enquadrados por pequenas plataformas e bacias. Segundo a direcção WNW-ESE, assinala-se o estabelecimento de um alinhamento de três relevos submarinos circunscritos, de contornos tendencialmente rectilíneos e forma rectangular, cujo eixo maior se orienta segundo NE-SW. O relevo do extremo sudeste e o relevo central apresentam os seus pontos culminantes aproximadamente aos -150 m, enquanto que o relevo do extremo nordeste se estabelece aos - 182 m de profundidade. Este alinhamento de relevos culmina próximo do bordo da plataforma continental no Pico Gonçalves Zarco que, ao invés dos relevos anteriores, apresenta uma forma irregular e situa-se a um profundidade menor (-121 m), conforme se pode observar no perfil T3 da Fig. IV.9-C. A ruptura de pendor que assinala a vertente sul do Pico Gonçalves Zarco apresenta um gradiente superior a 5º/km (Fig. IV.13). Salienta-se ainda a existência de algumas rampas de contorno batimétrico suave a levemente irregular que se estabelecem sobre a vertente sul deste alinhamento de relevos.

Fig. IV. 8 – Perfis batimétricos transversais ao alinhamento de entidades morfológicas submarinas definido pelo Vale

Submarino da Ericeira e o Mar da Ericeira, terminando próximo do Cabo da Roca. A localização dos perfis encontra- se na Fig. IV.3.

Na adjacência do limite da plataforma continental média que lhe fica a leste, limitada a oeste pelo relevo central do alinhamento de relevos anteriormente descrito e a norte pela cabeceira do VSE, forma-se uma reentrância pronunciada – Bacia-Alta – cujo eixo se alinha na direcção NNE- SSW, embora este denote um arqueamento no sentido do Vale Submarino da Ericeira (Fig. IV.1). Esta depressão é uma continuação do sector vestibular do Mar da Ericeira e o seu ponto de maior profundidade situa-se aos -226 m.

Fig. IV. 9 – Perfis batimétricos perpendiculares a toda a plataforma continental em estudo. A localização dos perfis