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1. Caracterização dos domínios batimétricos

1.2. Plataforma continental média

A plataforma continental média é delimitada superiormente pelo limite inferior da plataforma continental interna e inferiormente pelo intervalo batimétrico -130/-150 m, conforme se pode observar nos perfis batimétricos da Fig. IV.4. Este limite caracteriza a passagem de um domínio superior onde as batimétricas exibem um contorno sinuoso e irregular, definindo relevos de maior ou menor expressão morfológica, a um domínio inferior de batimétricas equidistantes e de contornos suavizados.

Na maioria dos casos (Pm2 a Pm5; Fig. IV.4) este limite está marcado por uma aplanação de pequena largura (<100 m). No caso do Pm5, essa aplanação apresenta uma largura maior porque o perfil escolhido pretende caracterizar o perfil longitudinal da parte vestibular do Mar da Ericeira, tendo o mesmo sido marcado sobre o talvegue da linha de drenagem submarina.

Fig. IV. 4 – Perfis batimétricos que caracterizam a plataforma continental média e seu limite inferior. As linhas a

vermelho tracejado assinalam a gama de profundidades a que se dá a ruptura de pendor e a passagem à plataforma continental externa. A localização dos perfis encontra-se na Fig. IV.3.

Individualizam-se as seguintes entidades morfológicas na plataforma continental média do Esporão da Estremadura:

• Mar da Ericeira

• Aplanação Marginal da Plataforma Média

• Relevos Marginais da Plataforma Média (Serro do Sudoeste e Serro do Centro)

• Costeiras Pêro da Covilhã • Bacia da Lourinhã

• Colina Nuno Tristão • Montanha de Camões • Enseada de Lisboa

O Mar da Ericeira é, talvez, a entidade morfológica mais notável da plataforma média. Trata- se de uma depressão alongada na direcção E-W, centrada ao paralelo da Ericeira, que apresenta uma forma de cogumelo, mais larga no seu sector montante (c.a. 27 m) e mais estreita no seu sector vestibular (c.a. 3.5 km). Enquadrado a norte e a sul por relevos submarinos, o ME é delimitado interiormente pelo limite inferior da plataforma interna (-90/-100 m), onde define um arco de convexidade virada para leste. Até fundos de -125 m, o contorno concêntrico das batimétricas mantém-se, mas para ocidente, sensivelmente sobre o meridiano do Serro do Centro (39º42’W) a depressão sub-circular passa a apresentar uma morfologia de vale aberto e pouco encaixado (comando não superior a 30 m), primeiro segundo uma direcção WNW-ESE e depois segundo ENE-WSW, à passagem do meridiano 9º50’W. Esta direcção mantém-se até ao limite inferior da plataforma média. Os perfis dos dois sectores desta depressão podem ser conferidos na Fig. IV.8 (perfis L2 e L3).

A Aplanação Marginal da Plataforma Média define uma plataforma de superfície irregular e pendor muito fraco (< 1.5º), que evolui aproximadamente entre os -120 m e os -150 m de profundidade. Esta aplanação, ou plataforma, está limitada a leste pelos relevos alongados marginais, designadamente o Serro do Sudoeste (a norte) e Serro Central (a sul). Na dependência do primeiro a aplanação atinge uma largura de 2 km, mas na dependência do segundo, a largura passa a 8 km.

A norte do paralelo da Ponta da Lamparoeira e a leste da Aplanação Marginal da Plataforma Média, como referido no parágrafo anterior, individualizam-se dois relevos submarinos alongados, dissimétricos e de vertentes íngremes. O Serro do Sudoeste, de orientação NE-SW, cujo ponto culminante se define no Serro do Sudoeste (-33 m) situa-se mais a norte. O Serro do Centro, de orientação N-S, com ponto culminante definido aos -75 m, situa-se mais a sul. No seu conjunto, estes relevos constituem Relevos Marginais da Plataforma Média.

Ao longo da vertente leste destes relevos estabelecer-se uma depressão que os delineia de forma indelével. No Serro do Sudoeste encontra-se instalado um vale em caixa com uma largura média de 1.4 km e comando máximo de 36 m (Fig. IV.7-A). No Serro do Sul observa-se um vale em “V”, de vertentes assimétricas e comando máximo de 29 m (Fig. IV.7-A). O talvegue do vale em caixa exibe um colo sensivelmente a meio do seu talvegue (Rm1; Fig. IV.7-B), o que leva ao estabelecimento de duas vertentes onde esta entalhada uma rede de drenagem submarina com sentidos de drenagem opostos.

Para leste dos Relevos Marginais da Plataforma Média define-se um relevo submarino difuso, designado por Costeiras de Pêro da Covilhã. Esta entidade morfológica é constituída por vários pontos conspícuos, alongados (comprimento médio de 4 km), cuja orientação varia entre NNE-

SSW e ENE-WSW. Por toda a área das CPC a profundidade varia entre -60 m e -90 m, mas o ponto culminante deste conjunto de relevos estabelece-se aos -42 m.

Fig. IV. 5 – (A) Perfis batimétricos transversais sobre os Relevos Marginais da Plataforma Média (Rm2). (B) Perfil

longitudinal do talvegue do vale em caixa que se estabelece paralelamente ao alinhamento do Serro do Sudoeste (Rm1). A localização dos perfis encontra-se na Fig. IV.3.

A leste das Costeiras de Pêro da Covilhã instala-se uma ligeira depressão em forma de um crescente, com a convexidade apontada para leste, centrada ao paralelo da Lourinhã, designada por Bacia da Lourinhã. Esta depressão encontra-se limitada internamente pela própria rampa da plataforma interna e externamente pelos relevos constituintes das Costeiras de Pêro da Covilhã. O comando é subtil, não ultrapassando os 10 m relativamente ao terreno circundante.

Imediatamente a sul do paralelo da Ponta da Lamparoeira, sobre o limite externo da plataforma média estabelece-se outro relevo difuso cujo ponto culminante se situa aos -96 m – Colina Nuno Tristão. O contorno deste relevo é, em geral, irregular, mas sobre o flanco sul podem observar-se duas vertentes abruptas e rectilíneas, as quais moldam o curso da parte vestibular do Mar da Ericeira.

Ao paralelo da Serra de Sintra, a toda a largura da plataforma continental média, ocorre outra entidade morfológica notável – a Montanha de Camões. Trata-se de um relevo submarino de forma grosseiramente pentagonal, orientado segundo WNW-ESE cujo ponto culminante se situa aos -37 m. Este relevo submarino encontra-se segmentado por um pequeno vale de direcção NNE-WSW que, não tendo comunicação para o ME, porque drena directamente para a vertente continental, forma um lineamento morfológico que separa a Montanha de Camões em dois domínio batimétricos. Para este-sudeste deste vale as profundidades menores definem-se situam- se no intervalo -40/-60 m, ao passo que a oeste-noroeste os relevos passam a estabelecer-se a uma profundidade entre -80 e -100 m. A morfologia deste conjunto de relevos pode ser observada na Fig. IV.9-C (perfil T3).

Por último, referência para uma rampa que se estabelece a sul da Montanha de Camões e a leste pelo limite inferior da plataforma interna aos Cabo da Roca e Cabo Raso. Esta rampa de pendor muito fraco (< 1.5º) e gradiente constante constitui o flanco norte da Enseada de Lisboa, cuja entidade morfológica é maior do que o segmento que neste trabalho se exibe.