• Nenhum resultado encontrado

Baseado na revisão da literatura apresentada sobre governo móvel, bem como a partir das evidências levantadas durante a realização dos grupos de foco, propõe- se a seguir ajustes nas hipóteses e no modelo de pesquisa.

Em relação ao construto de expectativa de performance, percebeu-se durante a discussão das questões com os grupos que o nome do construto não estaria adequado ao que ele representa. Embora a sua definição, conforme Quadro 4, de Venkatesh et al. (2003) seja similar à de Davis (1989) o nome do construto como

utilidade percebida utilizado por Davis demonstra ser mais adequado ao contexto

brasileiro. Para Davis (1989), utilidade percebida pode ser definida como o grau em que o uso de um sistema iria melhorar o desempenho do usuário na execução de seu trabalho e das suas atividades diárias, ou seja, o usuário é capaz de utilizar o sistema e obter certas vantagens.

Evidências para o ajuste deste construto surgiram em diversas ocorrências. Como por exemplo, a partir do momento que o indivíduo tem a percepção de utilidade do serviço de governo móvel ele passará a utilizá-lo. Ou seja, se o indivíduo perceber que aquele serviço disponibilizado pelo governo está aderente ao seu estilo de vida e que se ele utilizar será vantajoso, pode ser significante para sua aceitação. Algumas destas vantagens citadas pelos grupos foram a possibilidade de consultar a localização e o horário do transporte público com precisão; poupar dinheiro, poupar recursos; e acessar as informações e serviços de forma rápida. Desta forma, baseado nas evidências e discussões realizadas a primeira hipótese foi reformulada, utilizando- se o termo utilidade percebida ao invés de expectativa de performance:

H1: A utilidade percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

No que se refere à facilidade de uso percebida notou-se que este construto foi bastante discutido no grupo durante todas as perguntas, bem como que a sua definição é clara e objetiva. Diversas evidências surgiram durante os questionamentos ao grupo, como por exemplo o fato de que em geral os aplicativos são mais fáceis e menos burocráticos de utilizar sendo geralmente mais objetivos, práticos e pontuais, do que sistemas acessados via computador. Desta forma é mantida a segunda hipótese:

H2: A facilidade de uso percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

A influência social, apesar de não ter surgido de forma evidente durante os questionamentos, se apresentou como importante quando foram discutidos os construtos teóricos com os grupos. Estes manifestaram situações como por exemplo, em que a influência de outras pessoas pode ser significativa para que o indivíduo faça o primeiro uso, espera-se ainda que a pessoa que está recomendando tenha mais conhecimento ou seja reconhecida socialmente por aquele indivíduo. Desta forma, a terceira hipótese também será mantida na pesquisa:

H3: A influência social tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

No que se refere às condições facilitadoras, algumas evidências surgiram durante a discussão com os grupos, contudo, ao apresentar os construtos teóricos aos participantes é que este foi considerado influente na aceitação dos serviços de governo móvel. A definição do construto também se apresentou aderente à definição proposta na pesquisa. Alguns exemplos citados pelos grupos trataram principalmente da percepção do indivíduo de que se houver uma estrutura disponível para ajudá-lo durante o uso, caso surjam dúvidas ou problemas, possivelmente o motivaria a aceitar o serviço de governo móvel. Assim sendo, fica mantida a quarta hipótese:

H4: As condições facilitadoras têm influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Já em relação aos construtos de confiança no governo e confiança na

tecnologia, a partir das discussões realizadas com os grupos percebeu-se que não

há uma clara separação entre eles.

Os participantes apresentaram evidências durante as discussões de que a confiança pode ser considerada como um fator significativo para a aceitação dos serviços de governo móvel. Principalmente no que se refere à tecnologia, manter as informações dispostas de forma precisa, organizada e atualizada é importante, bem como garantir que o serviço será mantido funcionando adequadamente. Portanto, com base nas discussões realizadas nos grupos de foco, optou-se pela manutenção de um único construto, unindo a confiança no governo e na tecnologia, e que é consistente com o adotado por outros autores (SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012; SHAREEF et al., 2016), este construto foi chamado de confiabilidade percebida. Desta forma, é apresentada a quinta hipótese:

H5: A confiabilidade percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Um novo construto surgiu de forma evidente nas discussões dos grupos de foco, a segurança percebida. Isso ocorreu devido a alguns exemplos citados pelos participantes dos grupos tratam da necessidade dos aplicativos serem seguros para que eles possam informar seus dados pessoais e realizar transações financeiras com tranquilidade, seja pela segurança percebida no uso do serviço de governo móvel ou ainda em relação ao local onde este está sendo realizado o acesso. Situações de insegurança também foram relatadas pelos participantes, como por exemplo, quando o aplicativo solicita muitas permissões (acesso aos contatos, fotos, localização, etc.) ou ainda possuem extensas políticas de privacidade e termos de uso, nestes casos inibindo o seu uso.

Conforme apresentado anteriormente, na literatura a segurança percebida refere-se ao grau com que os usuários acreditam que usando os serviços de governo móvel sua privacidade estará resguardada e as informações prestadas não serão compartilhadas indevidamente ou interceptadas por terceiros não autorizados. (SHAREEF et al., 2016; SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012; WANG, 2014). Sendo assim, acredita-se que a segurança percebida terá influência positiva na aceitação de governo móvel, desta forma, é apresentada uma nova hipótese:

H6: A segurança percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Outro construto que ficou evidenciado durante as discussões nos grupos de foco foi a conveniência de acesso. Algumas das evidências da importância da conveniência de acesso citadas pelos grupos de foco foram a expansão no horário de atendimento; a facilidade de acesso ao celular pois ele é utilizado como um acessório pessoal; e poupar tempo por não precisar ficar esperando em filas e não precisar se deslocar até o órgão público.

Embora este construto não tenha sido proposto ou validado empiricamente nos estudos sobre governo móvel apresentados na revisão da literatura, propõe-se adicionar este construto ao modelo. Outros estudos (EASTIN, 2002) apresentaram a conveniência como altamente significativa para predizer o uso de serviços na Internet, como para pagamentos, serviços bancários, comércio eletrônico e investimentos. Bem como, outros estudos destacam a conveniência como um dos principais benefícios do governo móvel (ZHANG, 2013; HOBOLOLO; MAWELA, 2017).

Para Yale e Venkatesh (1986) a conveniência tem relação com economia de tempo, portabilidade e acessibilidade de produtos ou serviços. Contudo, os autores ressaltam que a percepção de conveniência pode variar conforme as restrições existentes, o que condiz com as discussões realizadas no grupo de foco. Por exemplo, foi citado por participantes dos dois grupos que trabalhadores que precisam acessar os serviços de governo tendem a perceber de forma mais intensa a conveniência de acessar via dispositivo móvel do que as pessoas aposentadas, que supostamente teriam mais tempo. O conceito de portabilidade refere-se ao usuário ter a possibilidade de consumir o produto ou usar o serviço em qualquer lugar. Por sua vez, acessibilidade refere-se à disponibilidade do produto ou serviço ao usuário quando ele desejar, bem como que tem relação com a percepção de facilidade na entrega do produto ou prestação do serviço. (YALE; VENKATESH, 1986).

Seiders et al. (2007) conceituam conveniência como reflexo da percepção de tempo e esforço despendidos para acessar produtos ou serviços. Os autores discutem dimensões de economia de tempo, facilidade de acesso em virtude da localização e a flexibilidade no horário de atendimento.

Desta forma, define-se conveniência como o grau em que um indivíduo percebe que a utilização de serviços de governo móvel irá lhe poupar tempo e poderá ser acessado no local e no horário mais adequado ao seu estilo de vida. (YALE; VENKATESH, 1986; SEIDERS et al., 2007). Sendo assim, acredita-se que a conveniência de acesso terá influência positiva na aceitação de governo móvel, desta forma, é apresentada a seguinte hipótese:

H7: A conveniência de acesso tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Por fim, para o construto dependente de aceitação de governo móvel não houve evidências dos grupos focais que sugerissem sua alteração. O Quadro 7 apresenta um resumo das hipóteses propostas após as adequações realizadas com base nos grupos de foco.

Quadro 7 – Resumo das hipóteses propostas ajustadas

Hipóteses

H1: A utilidade percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

H2: A facilidade de uso percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H3: A influência social tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

H4: As condições facilitadoras têm influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H5: A confiabilidade percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H6: A segurança percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H7: A conveniência de acesso tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Fonte: Elaborado pelo autor.

No Quadro 8 é apresentada uma síntese da definição de cada um destes construtos propostos ajustados após os grupos de foco, bem como estão relacionadas as referências utilizadas.

Quadro 8 – Síntese dos construtos teóricos propostos ajustados

Construto Definição Referência

Utilidade percebida Grau em que um indivíduo percebe que o uso de serviços de governo móvel irá melhorar seu desempenho na execução do seu trabalho ou atividades diárias.

DAVIS, 1989 WANG, 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 Facilidade de uso

percebida Grau em que um indivíduo percebe que os serviços de governo móvel não necessitam de esforço para serem

utilizados.

DAVIS, 1989 DAVIS et al., 1989 LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016

ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014

Influência Social Grau em que um indivíduo percebe que outras pessoas influentes acreditam que ele ou ela deve usar serviços de governo móvel.

VENKATESH et al., 2003 LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

AHMAD; KHALID, 2017 Condições

Facilitadoras Grau em que um indivíduo acredita que existe uma infraestrutura organizacional e técnica para apoiar o uso dos serviços de governo móvel.

VENKATESH et al., 2003 HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

WANG, 2014 Confiabilidade

percebida Grau de confiança do indivíduo que o serviço de governo móvel manterá seu funcionamento adequado e que irá dispor de informações precisas, organizadas e atualizadas.

LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016 AHMAD; KHALID, 2017 Segurança

percebida Grau com que os usuários acreditam que usando os serviços de governo móvel sua privacidade estará resguardada e as informações prestadas não serão compartilhadas

indevidamente ou interceptadas por terceiros não autorizados.

SHAREEF et al., 2016

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 WANG, 2014

Conveniência de

acesso Grau em que um indivíduo percebe que a utilização de serviços de governo móvel irá lhe poupar tempo e poderá ser acessado no local e no horário mais adequado ao seu estilo de vida. YALE; VENKATESH, 1986 SEIDERS et al., 2007 EASTIN, 2002 Aceitação de governo móvel Grau de propensão de um usuário a adotar serviços de governo móvel.

FISHBEIN; AJZEN, 1975 VENKATESH et al., 2003 DAVIS et al., 1989 Fonte: Elaborado pelo autor.

As variáveis de controle em relação ao gênero, idade e experiência foram mantidas. Contudo, devido às discussões realizadas nos grupos de foco em relação à frequência de uso de serviços de governo móvel, propõe-se adicionar esta variável de controle ao modelo. Assim, na Figura 7 é apresentado graficamente o modelo unificado proposto, que será testado por meio da survey.

Figura 7 – Modelo unificado de pesquisa ajustado após os grupos de foco

Fonte: Elaborado pelo autor, baseado na revisão da literatura e nos grupos de foco. No capítulo a seguir serão detalhados os procedimentos adotados após a realização dos grupos de foco para a elaboração do questionário da pesquisa survey.

5 ELABORAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Neste capítulo são detalhados os procedimentos adotados para a elaboração do questionário da pesquisa survey. Esta construção envolve a etapa de adequação das escalas e das questões sociodemográficas, back translation, revisão por especialistas e pré-teste.