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Baseada na revisão da literatura apresentada sobre governo móvel, esta pesquisa irá considerar os principais construtos teóricos que foram validados por pelo menos quatro estudos empíricos prévios sobre esta temática específica, propondo um modelo unificado para o estudo de aceitação de governo móvel, no qual será considerado que a expectativa de performance, facilidade de uso percebida, influência social, condições facilitadoras e confiança, de forma separada em confiança no governo e confiança na tecnologia, influenciam significativamente a aceitação de governo móvel.

Deve ser considerado, em relação à consistência do modelo ora proposto que, no que tange aos estudos de governo eletrônico apresentados no Quadro 2, os mesmos cinco construtos teóricos mais considerados e validados por outros autores condizem com os mesmos cinco construtos teóricos de governo móvel apresentados no Quadro 3.

Observa-se uma conformidade dos construtos teóricos selecionados com os construtos do UTAUT, e levando em conta que o UTAUT tem sido largamente utilizado, assim como TAM (DWIVEDI et al., 2010), este estudo utilizará como base o modelo UTAUT (VENKATESH et al., 2003) e serão adicionados ao modelo os construtos de confiança. Levando em consideração, ainda, que no caso do construto de facilidade de uso percebida, seis estudos adotaram o construto com esta nomenclatura, ele será mantido conforme adotado no TAM (DAVIS, 1989). Desta forma, a seguir, será feita a definição de cada construto e realizada a construção de cada uma das hipóteses.

Primeiramente, a definição de expectativa de performance pode ser considerada como o grau em que o indivíduo acredita que usando o sistema ele terá ganhos no desempenho na realização do seu trabalho (VENKATESH et al., 2003). No contexto do governo móvel acredita-se que este tipo de tecnologia ajudará o usuário nas suas relações com o governo, agilizando a requisição de serviços e o acesso à informação, e que esta percepção do usuário será positiva e significativa na aceitação de governo móvel (ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012; ALTHUNIBAT et al., 2011; SHAREEF et al., 2016; ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014; SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012), desta forma é lançada a primeira hipótese:

H1: A expectativa de performance tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

A facilidade de uso percebida está relacionada ao grau de facilidade associado ao uso do sistema (VENKATESH et al., 2003), ou seja, o grau de percepção de um indivíduo de que o sistema não necessita de esforço para ser utilizado (DAVIS, 1989; DAVIS et al., 1989), neste sentido acredita-se que a percepção dos usuários de que os serviços de governo móvel sejam fáceis de utilizar e fáceis de serem aprendidos terá influência positiva na aceitação da tecnologia (LIU et al., 2014; SHAREEF;

ARCHER; DWIVEDI, 2012; SHAREEF et al., 2016; ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014), desta forma é lançada a segunda hipótese:

H2: A facilidade de uso percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

A influência social é definida por Venkatesh et al. (2003) como a percepção do indivíduo em relação ao que outras pessoas influentes acreditam em relação ao uso deste sistema, ou seja, se ele deve ou não adotá-lo. Alguns exemplos citados pelos autores dizem respeito aos fatores sociais envolvidos como os incentivos recebidos de colegas de trabalho ou de superiores para utilizar determinado sistema, ou a perspectiva de prestígio social e reconhecimento dos colegas pela aceitação da tecnologia. Desta forma, no contexto de governo móvel acredita-se que a influência social terá influência positiva na aceitação de governo móvel (LIU et al., 2014; HUNG; CHANG; KUO, 2013; ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012; ALTHUNIBAT et al., 2011; AHMAD; KHALID, 2017), sendo lançada a terceira hipótese:

H3: A influência social tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Para Venkatesh et al. (2003) as condições facilitadoras são definidas em relação à percepção do usuário de que existe uma infraestrutura organizacional e técnica preparada para lhe auxiliar no uso da tecnologia, como por exemplo, o usuário acredita que haverá uma pessoa ou uma equipe capaz de lhe fornecer assistência quando houver dificuldades em relação ao uso do sistema. Outro exemplo trazido pelos autores é em relação à percepção do usuário de que ele terá à disposição um guia ou receberá uma instrução adequada quanto ao uso do sistema. (VENKATESH et al., 2003).

Para Venkatesh et al., (2003), as condições facilitadoras têm uma influência direta sobre o uso efetivo da tecnologia e não sobre a intenção comportamental (aceitação), contudo, estudos mais recentes no contexto de aceitação de serviços de governo móvel apresentam uma relação significativa sobre a intenção comportamental (HUNG; CHANG; KUO, 2013; SULTANA; AHLAN; HABIBULLAH, 2016), consoante com estudos contemporâneos sobre a aceitação de governo

eletrônico (LALLMAHOMED et al., 2017; DWIVEDI et al., 2017). Desta forma, acredita-se que as condições facilitadoras terão influência positiva e na aceitação governo móvel (HUNG; CHANG; KUO, 2013; ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012; ALTHUNIBAT et al., 2011; WANG, 2014), sendo lançada a quarta hipótese:

H4: As condições facilitadoras têm influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

No que se refere à definição de confiança no governo, pode ser descrita como a percepção dos usuários de que os órgãos de governo manterão o funcionamento adequado do sistema enquanto estiver sendo utilizado e que o serviço irá dispor de informações precisas, organizadas e atualizadas (LIU et al. 2014; SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012; HUNG; CHANG; KUO, 2013; ALTHUNIBAT et al., 2011). Sendo assim, acredita-se que a confiança no governo terá influência positiva na aceitação de governo móvel, desta forma, é apresentada a quinta hipótese:

H5: A confiança no governo tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

No que tange à confiança na tecnologia, pode ser definida como a percepção dos usuários de que a tecnologia (neste caso entende-se tecnologia como um serviço de governo móvel), manterá o funcionamento adequado enquanto estiver sendo utilizado e que o serviço irá dispor de informações precisas, organizadas e atualizadas (LIU et al. 2014; SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012; HUNG; CHANG; KUO, 2013; ALTHUNIBAT et al., 2011). Sendo assim, acredita-se também que a confiança na tecnologia terá influência positiva na aceitação de governo móvel, sendo apresentada a sexta hipótese:

H6: A confiança na tecnologia tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Consistente com pesquisas anteriores (VENKATESH et al., 2003) espera-se que a aceitação tenha influência positiva no comportamento efetivo de uso de governo móvel, contudo este construto não será medido, pois está além do escopo desta

pesquisa, o que é consistente com outros estudos (WANG, 2014; LIU et al., 2014; HUNG; CHANG; KUO, 2013; SHAREEF et al., 2016; AHMAD; KHALID, 2017). No Quadro 4 é apresentada uma síntese da definição de cada um destes construtos, bem como estão relacionadas as referências utilizadas na escolha de cada um deles.

Quadro 4 – Síntese dos construtos teóricos considerados

Construto Definição Referência

Expectativa de Performance

Grau em que um indivíduo acredita que usando o sistema irá ajudá-lo a obter ganhos no desempenho do trabalho.

VENKATESH et al., 2003 WANG, 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016

ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 Facilidade de uso

percebida

Grau em que um indivíduo percebe que o sistema não necessita de esforço para ser utilizado.

DAVIS, 1989 DAVIS et al., 1989 LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016

ALTHUNIBAT; ALRAWASHDEH; MUHAIRAT, 2014

Influência Social Grau em que um indivíduo percebe que outras pessoas influentes acreditam que ele ou ela deve usar o novo sistema.

VENKATESH et al., 2003 LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

AHMAD e KHALID, 2017 Condições

Facilitadoras

Grau em que um indivíduo acredita que existe uma infraestrutura organizacional e técnica para apoiar o uso do sistema.

VENKATESH et al., 2003 HUNG; CHANG; KUO, 2013 ABDELGHAFFAR; MAGDY, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

WANG, 2014 Confiança no

Governo Grau de confiança do indivíduo que o governo manterá o funcionamento adequado do sistema e que irá dispor de informações precisas, organizadas e atualizadas.

LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016 AHMAD; KHALID, 2017 Confiança na

Tecnologia Grau de confiança do indivíduo que a tecnologia manterá seu funcionamento adequado e que irá dispor de informações precisas, organizadas e atualizadas.

LIU et al., 2014

HUNG; CHANG; KUO, 2013

SHAREEF; ARCHER; DWIVEDI, 2012 ALTHUNIBAT et al., 2011

SHAREEF et al., 2016 AHMAD; KHALID, 2017 Aceitação Grau de propensão de um

usuário a adotar efetivamente uma tecnologia quando ela lhe é oferecida.

FISHBEIN; AJZEN, 1975 VENKATESH et al., 2003 DAVIS et al., 1989 Fonte: Elaborado pelo autor.

Deve ser considerado ainda que o modelo UTAUT (que embasa fortemente o modelo aqui proposto) possui variáveis moderadoras de gênero, idade, experiência e voluntarismo, porém, considerando o contexto dos sistemas de governo móvel o voluntarismo não será considerado no âmbito desta pesquisa. O voluntarismo apresentado pelo UTAUT define-se como uma variável moderadora na relação entre a influência social e a intenção comportamental de uso da tecnologia, sendo que as pesquisas em contextos de uso obrigatório e voluntário apresentam resultados distintos (VENKATESH et al., 2003). Considerando que os serviços de governo estão disponíveis em outros meios, como por exemplo, presencialmente, considera-se que o cidadão não é obrigado a utilizar os serviços de governo móvel, assim, o voluntarismo não será considerado, como ocorreu em estudos recentes de governo eletrônico (DWIVEDI et al., 2017). Já as variáveis moderadoras de gênero, idade e experiência serão exploradas durante a análise dos resultados da pesquisa, não sendo lançadas hipóteses prévias para cada uma delas. O Quadro 5 apresenta um resumo das hipóteses propostas para este estudo.

Quadro 5 – Resumo das hipóteses propostas

Hipóteses

H1: A expectativa de performance tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H2: A facilidade de uso percebida tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H3: A influência social tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

H4: As condições facilitadoras têm influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H5: A confiança no governo tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel. H6: A confiança na tecnologia tem influência positiva sobre a aceitação de governo móvel.

Fonte: Elaborado pelo autor.

Na Figura 5 é apresentado graficamente o modelo unificado proposto, que será testado por meio da pesquisa empírica, apresentando a relação entre os construtos e identificando numericamente cada uma das hipóteses.

Figura 5 – Modelo unificado de pesquisa proposto

Fonte: Elaborado pelo autor baseado na revisão da literatura.

Na próxima seção são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados para realização desta pesquisa.

3 METODOLOGIA

Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na pesquisa, envolvendo o método escolhido, as atividades realizadas para a construção do modelo unificado e hipóteses de pesquisa, bem como o processo de elaboração e validação questionário, coleta dos dados e análise dos resultados.