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O Projecto Infância nasceu de um projecto do Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho, onde o programa High – Scope e o seu currículo trata a questão da cultura como fonte curricular na sua contextualização.

Um processo de formação em contexto no âmbito de avaliação progride na intervenção com a aprendizagem de documentação pedagógica. Esta documentação é simultaneamente analisada como conteúdo - pressupõe registos diversificados fácil de perceber o que criança diz e faz e o que realiza, e como processo - pressupõe a utilização desses registos para reflexão sistemática do trabalho realizado e a realizar. A documentação efectuada constitui a base para análise, reflexão, e diálogo entre os intervenientes do processo possibilitando aprendizagens a vários níveis. Inclui o processo de planificação e na posse dessa documentação, a criança pode criar momentos de debate e discussão que favorecem “o desenvolvimento da criatividade, capacidade crítica, abertura, respeito pelo outro e pelas diferenças, capacidade de partilha e colegialidade, colaboração e cooperação”(Dahlberg, Moss e Pence, 2001, apud Oliveira - Formosinho e Azevedo, 2002,p.135).

Para a educadora esta documentação pode favorecer também oportunidades para “escutar de novo, para olhar de novo, para revisitar os acontecimentos e os processos dos quais indirecta e colaborativamente foram co-protagonistas” (Gandini e Forman, 1998; Helm e Katz, 2001; Whalley e Dennison, 2001 apud Oliveira - Formosinho e Azevedo, 2002,p.135). A informação recolhida é compilada em portfolios individuais das crianças, onde incluem uma diversificada colecção de itens que tornam possível construir de uma forma partilhada (educadores, crianças e pais) o processo de aprendizagem da criança – são a base do processo de avaliação da criança.

O acto educativo inserido no âmbito da educação, é um acto complexo e pretende que o aluno aprenda a pensar, tenha um pensamento autónomo, e aceda aos conteúdos do mundo cultural de pertença. Seguindo as linhas orientadoras do projecto “as suas finalidades da educação de infância residem

ao mesmo tempo na promoção da autonomia psicológica da criança e na sua inserção cultural” (Oliveira - Formosinho, 1998, p.82). As práticas educativas devem ser adequadas e alcançadas através da observação de cada criança com maior destaque para o aspecto cultural. Elas influenciam muitos programas de educação pré-escolar, nomeadamente o modelo High-Scope, Segundo os mesmos autores,

” O Projecto Infância optou por um currículo flexível que valoriza a socialização da criança no seu mundo de pertença, procura ajudar a criança a criar raízes, ajuda-a a entrar na experiência humana culturalmente organizada e, simultaneamente, cria-lhe as condições de autonomia intelectual e moral”.(Idem, p.82).

De facto, as crianças estão inseridas numa família, numa comunidade, numa sociedade e numa cultura. Nessa inserção - herança cultural, construíram-se crenças, costumes e valores, desenvolveram-se sentimentos e comportamentos associados a uma herança genética individual iniciada antes do nascimento. A criança entra, assim, na educação pré-escolar com uma riqueza cultural que necessariamente “ tem de ser aproveitada, desenvolvida e potenciada” (Ibidem).

O Projecto Infância assume, assim, a chave da qualidade da educação pré- escolar - a educadora

“ Só ela actualiza as potencialidades que qualquer currículo de qualidade tem para oferecer benefícios à criança. È todo o trabalho quotidiano, semanal, mensal da educadora e da equipa educativa que permite, ou não essa qualidade”

(Formosinho, 1998, p.85)

1.7.1 Fases do Projecto de Infância na formação – enquadramento histórico

Na evolução do Projecto de Infância distinguem-se duas fases com mudanças ao nível dos contextos sistémicos onde está inserido. A primeira fase (1991- 1995) promove-se a formação inicial e especializada numa perspectiva que entende ser a formação escolar como um projecto. Verifica-se um investimento na formação especializada de educadores de infância em modelos curriculares de qualidade e na construção e desenvolvimento de referenciais teóricos/práticos.

Após 1992/93 verifica-se a intervenção no terreno através da contextualização dos modelos curriculares High-Scope e MEM pelos educadores de Estudos Superiores e alunas da formação inicial. Mais tarde, desta ligação nasceu um

modelo ecológico de prática pedagógica final (estágio). A investigação sobre modelos pedagógicos, teoria de formação de professores, na especialização, nos modelos e processos de supervisão, esteve sempre presente no desenrolar desta etapa. Assim,

“ O Projecto Infância materializa-se na criação de uma rede de intervenção e de investigação na acção de reflexão e de formação, composta pela equipa universitária e pelas educadoras no terreno (…) uma rede de interacções pedagógicas centradas na partilha reflectida de um mesmo referencial teórico – o socioconstrutivismo e a perspectiva ecológica (Oliveira - Formosinho, 2001,p.20)

As fontes curriculares deste Projecto Infância consistem na forma de trabalhar a autonomia da criança (High-Scope) na construção do conhecimento inserida no contexto referencial da sua identidade geográfica e social. Assim, a finalidade da educação de infância reside na promoção da autonomia psicológica da criança e na sua inserção cultural.

O Projecto Infância assume

”… um currículo flexível que valoriza a socialização da criança no seu mundo de pertença, procura ajudar a criança a criar raízes, ajuda-a a entrar na experiência humana culturalmente organizada e, simultaneamente, cria-lhe as condições de autonomia intelectual e moral”. (Formosinho1998,p.82).

Existe um enorme destaque para “ a colaboração da criança na construção de conhecimento dando-lhe espaço para participar nas tomadas de decisões do fazer, pensar, reflectir, avaliar. Dois dos grandes pedagogos, com perspectivas diferentes, Piaget e Vygotsy contribuíram decisivamente para que a cultura educacional promovesse o processo educativo da criança, desde a aprendizagem à avaliação. Assim, o processo de ensino propícia que a criança atribua significados, construa conhecimentos desenvolva competências e valores, não esquecendo a cultura como ponto de referência. O ver e o ouvir leva a criança a utilizar essa competência como ponto máximo da actividade educacional. A avaliação, designada por este autor como avaliação alternativa “... É centrada nos processos, típicos ou individualizados, que a criança utiliza para estruturar a realidade, construir conhecimentos, desenvolver sentimentos, adquirir competências, sedimentar disposições e atitudes” (Gullo, 1994, apud Formosinho, 2002,p.147). As práticas características da avaliação alternativa tendem a atender à diversidade.

Dois investigadores das Universidades de Rhode Island e da Florida (U.S.A.) (Barton & Collin, 1993, apud Sá-Chaves, 2000,p.19) encontraram centenas de

artigos referenciando o uso de portfolios desde a Literatura e as Ciências até ás Artes, Design, Arquitectura a Pintura e/ou Música. Também são conhecidos desenvolvimentos nesta área, em Portugal, nomeadamente os projectos no âmbito da acção do Instituto de Inovação Educacional que tem sido coordenados por Fernandes, D.(s/d) e Cardoso. (1994) e outros. Estes projectos tem contribuído para o aprofundamento reflexivo das concepções de avaliação, pretendendo adquirir novas formas de a entender e assim partir para a construção e divulgação de novos instrumentos que melhor sirvam os objectivos.