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3 METODOLOGIAS DE ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO COMO

3.1 EIXOS DE REPRESENTAÇÃO: A REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA

3.1.1 MODELOS DE REPRESENTAÇÃO DESCRITIVA: AACR2r, ISBD, FRBR,

A International Standard Bibliographic Description (ISDB), ou Descrição Bibliográfica Internacional Normalizada, surgiu como sendo uma série de regras produzida pela International Federadion of Library Associations and Institutions (IFLA), dividindo as informações descritivas em oito áreas (nove, se contarmos a Área 0) como forma de gerar um padrão à representação bibliográfica, para ser usado especialmente em uma bibliografia ou na catalogação dentro das bibliotecas. Sua edição consolidada foi publicada em 2011. A estrutura básica proposta pela ISDB tem as seguintes áreas:

Área 0: forma do conteúdo e tipo de mídia Área 1: do título e da responsabilidade; Área 2: da edição;

Área 3: dos detalhes específicos do material; Área 4: dos dados de publicação;

Área 5: da descrição física; Área 6: da série

Área 7: das notas

Área 8: do número internacional normalizado.

Através de guia elaborado pela própria IFLA, é possível extrair exemplo de um livro:

jogo de videogame, ao passo que nos fornece quais informações extrair. Exemplos disso serão elaborados com mais atenção adiante.

Já o código de catalogação AACR2, cuja a primeira versão código surgiu em 1967, foi desenhado para a construção de catálogos e listas para bibliotecas de todos os tamanhos. É um guia que indica a descrição de um item de forma extremamente técnica.

Em estreita consonância com a ISBD, o AACR2, em sua parte 1, voltada à descrição bibliográfica, traz 13 capítulos, dentre os quais o primeiro abrange vários tipos de materiais, correspondendo à ISBD, e os demais são dedicados a suportes informacionais diversos (monografias, materiais cartográficos, obras manuscritas, música impressa, gravação sonora, filmes e vídeos, materiais gráficos, recursos eletrônicos, artefatos tridimensionais, microformas, publicações seriadas, analíticas – correspondendo a Guidelines). Ele não traz diretrizes para a catalogação de jogos de videogame especificamente. Infere-se que para tal realização seria preciso mesclar diferentes conceitos, por se tratar de um material audiovisual interativo.

O AACR2 trata também da escolha dos pontos de acesso, onde elenca que o ponto de acesso principal de uma obra está ligado ao seu autor ou criador e título da obra. Os pontos de acesso secundários também compreendem o título, quando não for o ponto de acesso ou principal, outros autores, coordenadores, organizadores ou editores e para os assuntos, uma área ilimitada.

O ACCR2 ainda aborda temas como cabeçalhos para pessoas; nomes geográficos; cabeçalhos para entidades coletivas; títulos uniformes e remissivas e serve como referência.

Atualmente o que mais se discute no âmbito da catalogação é o uso do Functional

Requirements for Bibliographic Records, (Requisitos Funcionais para Registros

Bibliográficos), FRBR. Trata-se de um modelo conceitual do tipo entidade-relacionamento (E-R), e não um código de catalogação, um formato, uma norma, um padrão, um código, ou um princípio de catalogação.

A partir do modelo de análise E-R o FRBR estabeleceu modelos de análise para banco de dados: as entidades dos registros bibliográficos, os atributos de cada uma das entidades e as relações entre as entidades. O mais importante são as entidades: elas abrem um novo tipo de abordagem dos registros bibliográficos. Entidade é uma coisa, conjunto de artefatos, ser ou algo do mundo real com características comuns que permitem identificá-la em outras entidades. Ou seja, um objeto no mundo real que pode ser identificado em relação a outros objetos. Os atributos são características das entidades. As relações, fundamentos dos catálogos

e dos bancos de dados, se fazem entre as entidades, isto é, a associação entre uma ou várias entidades (MEY; SILVEIRA, 2009).

São dez as entidades definidas no FRBR, divididas em três grupos. O grupo 1 engloba a obra (criação intelectual ou artística independente do suporte ou de sua forma), a expressão (realização intelectual ou artística de uma obra, ou a forma como se expressa) a manifestação (materialização de uma expressão de uma obra, ou seja, a representação de todos os objetos físicos que possuem as mesmas características) e o item (exemplificação única de uma manifestação, ou seja, o objeto físico que permite ao usuário acessar o conteúdo intelectual ou artístico de uma expressão e de uma obra).

O grupo 2 engloba a pessoa (indivíduo relacionado à criação ou realização de uma obra ou expressão, ou também o responsável pela produção de manifestação) e a entidade coletiva (uma organização ou grupo de indivíduos de caráter permanente ou temporário que age unificadamente e se identifica por um nome).

Já o grupo 3 abriga o conceito (noção ou ideia abstrata), o objeto (coisa material, móvel ou imóvel) o evento (ação ou ocorrência, épocas e períodos de tempo) e o lugar (locais terrestres, extraterrestres, históricos, contemporâneos, características geográficas e geopolíticas, etc. (MEY; SILVEIRA, 2009). As entidades do grupo 3 são, portanto, os assuntos das obras. Estes podem ser, ainda, quaisquer das entidades do grupo 1 ou do grupo 2. Por exemplo, pode-se ter uma obra sobre outra obra ou uma obra sobre uma pessoa ou organização.

Alguns dos atributos definidos no FRBR são: título, forma e data da obra; forma, data e idioma da expressão; título, edição, local e data de publicação, publicador e suporte da manifestação; identificador e origem do item; nome, datas e títulos de uma pessoa; nome, locais e datas associadas a uma entidade coletiva; termos representando conceitos, objetos, eventos e lugares (ASSUMPÇÃO, 2012).

Existem ainda três tipos de relacionamentos descritos no FRBR. Os relacionamentos entre as entidades do grupo 1 dizem que uma obra é (ou pode ser) realizada por meio de várias expressões, uma expressão é materializada em várias manifestações e uma manifestação é exemplificada por vários itens. Os relacionamentos entre as entidades dos grupos 1 e 2 apontam que uma obra é criada por uma pessoa ou entidade coletiva, uma expressão é realizada por uma pessoa ou entidade coletiva, uma manifestação é produzida por uma pessoa ou entidade coletiva, e um item é guardado por uma pessoa ou entidade coletiva. E os relacionamentos de assunto apontam que uma obra pode ter como assunto outra obra,

uma expressão, uma manifestação, um item, uma pessoa, uma entidade coletiva, um conceito, um objeto, um evento ou um lugar. Existem ainda outros exemplos de relacionamentos, como determinada obra que é criada com base em outra obra, uma expressão realizada por meio de tradução de outra expressão, etc.

Há outra definição por parte do FRBR, que define as tarefas dos usuários: encontrar entidades que correspondem ao critério de busca do usuário; identificar uma identidade (confirmando que a entidade apontada corresponde àquela procurada pelo usuário, ou distinguir entre duas ou mais entidades com características similares), selecionar uma entidade apropriada às necessidades do usuário quanto ao conteúdo, formato físico, etc. e adquirir ou obter acesso à entidade descrita mediante compra, empréstimo, etc. (TILLETT, 2003).

Segundo Mey, Grau e Biar (2014),

Os FRBR significaram um avanço considerável nos aspectos teóricos da catalogação, uma vez que nos obrigaram a repensar o que fazíamos, por que o fazíamos e, mais importante, para quem o fazíamos. Ao mesmo tempo, os FRBR nos permitiriam trabalhar com sistemas computacionais entidade-relacionamento, sendo as relações o foco principal dos catálogos. Se não fossem as relações estabelecidas, os catálogos se tornariam meras listas, inventários. Vale lembrar que, originalmente, a palavra grega “catálogo” tinha significado semelhante à palavra latina “classificação” (p.46-47).

Já o Resource Description and Access (RDA) surge em 2010 como sucessor do AACR2, oferecendo instruções e linhas de direção sobre como criar registros bibliográficos. A primeira distinção entre o RDA e AACR2 é estrutural: o RDA tem sua organização baseada no FRBR. Esse princípio identifica tanto as tarefas do usuário quanto a hierarquia das relações entre dados bibliográficos. As descrições elaboradas em consonância com o RDA têm como intenção serem compatíveis com qualquer esquema de codificação, incluindo ambientes de dados usados por registros existentes criados sob as regras da AACR2.

Apesar de a ideia de mesclar um código consolidado como o ACCR2 às abrangências do FRBR soar bem, Mey, Grau e Biar (2014) levantam alguns problemas envolvendo a internacionalização, tradução e preço desse código, além de algumas características do RDA:

a) não se mostra tão próximo à família FRBR como se esperava, conservando uma abordagem mais descritiva em vez de maior compromisso com os modelos relacionais;

b) não se mostra tão apartado do AACR como se esperava, na medida em que conserva regras e exemplos para catalogar manifestações, em vez de uma abordagem em vários níveis (obra, expressão, manifestação e item, quando necessário);

c) por via de consequência, não utiliza todas as possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias computacionais.

O Functional Requirements for Authority Data (FRAD) surgiu em 2008, sob influência também do FRBR, assim como o Functional Requirements for Subject Authority

Data (FRSAD), em 2010. As tarefas dos usuários dos FRBR focam o registro bibliográfico,

ao passo que no FRAD e FRSAD focam os registros de identidade ou autoridade (isso será abordado, mesmo que de forma mais breve, no subcapítulo 3.3).