• Nenhum resultado encontrado

2 POLÍTICAS PÚBLICAS E GESTÃO DE RESÍDUOS URBANOS

2.4 MODELOS DE GESTÃO DE RESÍDUOS NO BRASIL

Em um contexto de crescimento demográfico acompanhando a elevação na taxa de urbanização, principalmente nas grandes cidades, vem agravando a situação da geração de resíduos urbanos. Segundo Pereira, as principais causas da elevação de

resíduos sólidos urbanos são – o crescimento econômico e populacional, o aumento do poder aquisitivo, sendo que esta elevação leva ao aumento da geração de resíduos sólidos urbanos (PEREIRA et al., 2013).

Outro fator que contribuiu para esta elevação na produção de resíduos sólidos urbanos foi o modelo de desenvolvimento, baseado em um padrão de consumo e estilo de vida adotado pelo sistema capitalista (MELO, 2009).

A partir da Revolução Industrial houve um acentuado crescimento dos resíduos e no consumo de recursos naturais para atender a demanda por bens industrializados, fomentado por uma ideologia de que o avanço tecnológico estava atrelado ao consumo de bens industrializados e vice-versa e que este consumo geraria mais empregos e, por conseguinte elevação da produção e riqueza de um país (PERERA et al., 2013).

Os grandes centros urbanos apresentam um maior volume de resíduos urbanos como consequência do poder aquisitivo da população aliado a proximidade das indústrias e do comercio (PERERA et al., 2013).

A elevação da população mundial a partir do século XVIII, associado ao aumento da produção promovida pela Revolução Industrial em decorrência da mudança nos padrões de consumo levou a um desequilíbrio ecológico gerado a partir da exploração insustentável dos recursos naturais trazendo como consequência, ainda a elevação da geração de resíduos sólidos urbanos (FREIRE, 2013).

Como consequência da elevação de resíduos sólidos urbanos aliado ao desemprego e busca por renda ocasionou a necessidade de sobrevivência das populações em condições de miséria extrema as quais buscaram nos “lixões” a alternativa por meio da coleta de resíduos recicláveis para posterior venda, esta atividade dos chamados “catadores” em meio a lixões é extremamente insalubre trazendo consequências danosas a sua saúde. Como forma de atender a esta situação buscou-se modelos de gestão de resíduos que atendam tanto a demanda crescente de ações que minimizem a geração de resíduos sólidos urbanos que serão descartados em aterros sanitários como venham a retirar dos lixões a população que busca por uma fonte de renda (PEREIRA et al., 2013).

Segundo estudo da ABRELPE o Brasil gerou 78,4 milhões de tonelada de Resíduos Sólidos Urbanos RSU no ano de 2014 deste total 58,4% são depositados de forma adequada segunda a Lei n.º 12305/2010, ou seja, em aterros sanitários (ABRAPEL, 2015).

A Gestão de Resíduos Sólidos municipais no Brasil é de responsabilidade das prefeituras segundo a Constituição Federal em seu artigo 30 incisos I e V (BRASIL, 1988), que estabelece que é de competência do poder municipal a prestação de serviços públicos de interesse local.

Tendo em conta a dimensão geográfica do Brasil (8,5 milhões de Km²) e com 5.570 municípios os quais possuem disparidades socioeconômicas e ambientais relevantes, a exemplo o município de Serra da Saudade MG, o qual conta com uma população de 825 habitantes (2013), que não possui um PGIRS - Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos, e conta com um aterro sanitário, já o município de Fraiburgo SC, qual possui uma população de 35.618 habitantes (2013), possui um PGIRS próprio, e o maior município em termos populacionais – São Paulo SP o maior da América, contando com uma população de 11,8 milhões de habitantes (CENSO, 2010). São Paulo conta com uma gestão que deve atender a esta demanda, para tanto, possui 03 aterros sanitários somente para a coleta de Resíduos domiciliares e de varrição.

O Brasil possui 5.570 municípios nas mais diversas situações − cidades litorâneas ou turísticas que apresentam uma elevação na produção de resíduos sólidos urbanos sazonal em períodos de férias e feriado o volume se eleva significativamente; cidades como as já relatadas anteriormente com 825 habitantes que mesmo com uma pequena população não possui um PMIGRS instituído; cidades cortada por vários rios como é o caso de Recife, dada a cultura de se depositar lixo na beira dos rios, trazendo como consequência a necessidade de que o PMGIRS atenda a essa demanda e a preocupação de contaminação da água; entre outras realidades encontradas ao se analisar a realidade de cada município brasileiro.

Segundo a Lei n.º 12.305 de 2010 o modelo de gerenciamento e gestão de resíduos sólidos urbanos deve trazer como prioridade nesta ordem – a não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos urbanos e disposição

final ambientalmente adequada. Para tanto se faz necessário um modelo que atenda a esta exigência.

Até os anos 70 as questões ambientais não eram vistas como prioridade ao se tratar dos resíduos gerados pelos centros urbanos, eram depositados de forma precária em áreas afastadas dos centros urbanos e depositadas a céu aberto. Porém a partir da Conferência da ONU em Estocolmo em 1972 trouxe a preocupação com as consequências dos danos ambientais as futuras gerações, já em 1975 a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) traz como prioridade estas preocupações a deposição dos resíduos de forma adequada para que não agridam o meio ambiente. A partir deste momento faz-se necessário um novo modelo de gestão de resíduos que venha a minimizar seu impacto ao meio ambiente.

Posteriormente (em meados dos anos 1990) outra prioridade toma conta da pauta tanto dos ambientalistas como da saúde da população que busca por renda nos “Lixões” – os catadores: assim torna-se necessário introduzir na pauta governamental o atendimento aos trabalhadores/catadores de resíduos recicláveis (PEREIRA et al., 2013).

Como forma de atender a esta responsabilidade o Brasil apresenta alguns modelos institucionais a serem adotados pelo poder público dos municípios, sendo que desde a instituição da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei n.º 12.305 de 2010 em que fica estabelecido a obrigatoriedade dos municípios em instituírem seu PMGIRS, pode-se adotar entre três modelos de gestão de resíduos – i) Concessão; ii) Terceirização; e iii) Consórcio (PEREIRA, 2013).

Concessão – A modalidade estabelece que a concessionária será

responsável por todo o processo de gestão dos resíduos gerados, ou seja, responderá desde o planejamento, execução e coordenação de todo o processo desde a coleta até a deposição no espaço adequado, podendo inclusive cobrar diretamente dos munícipes valores referentes ao serviço prestado, tendo a possibilidade de terceirizar serviços necessários. Esta modalidade normalmente é adotada para contratos de longo prazo.

Terceirização – esta modalidade estabelece ao terceirizado a execução do

serviço, ou seja, coleta de resíduos, limpeza das áreas públicas. Fica sobe responsabilidade do poder público o planejamento, coordenação e fiscalização dos serviços prestados pela terceirizada.

Consórcio – esta modalidade estabelece acordo entre municípios para a

gestão de seus resíduos urbanos (neste caso), forma-se um comitê para a gestão com a participação (financeira e de pessoal) de todos os municípios envolvidos, culminando na criação de uma entidade jurídica para a execução do projeto. (MONTEIRO, 2001).

Além dos modelos institucionais Pereira apresenta dois outros modelos de Gestão/Gerenciamento de Resíduos Sólidos:

Modelo de gestão Convencional, o qual estabelece que a gestão será realizada sob a responsabilidade do poder municipal, que pode contratar empresas terceirizadas no processo de gestão dos Resíduos Sólidos Urbanos, neste tipo de gestão a população não é consultada durante as fases do processo de gestão.

Já o modelo de Gestão Participativa estabelece que os cidadãos participem do planejamento da gestão durante a construção do orçamento do município, podendo ser durante Plano Plurianual ou no orçamento anual, esta participação se dará sob a forma de representação (sociedade civil organizada, podendo ser em cooperativas ou associações de catadores, bem como associações de bairros) ou durante as audiências públicas, este modelo permite compartilhar o planejamento e a ação, sendo de responsabilidade dos gestores municipais e da sociedade denominado gerenciamento compartilhado (PEREIRA et al., 2013).

A gestão integrada de resíduos sólidos urbanos pode ser entendida como “a seleção e aplicação de técnicas, tecnologias e programas de gestão adequados, que busquem específicos objetivos e metas” (SILVA et al., 2014).

Com relação ao gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos buscando um menor impacto no meio ambiente e que venha a reduzir os custos de gestão dos mesmos o poder público estabelece como objetivo fim o princípio dos 3 Rs (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), proposta esta estabelecida junto a UNITED. Para tanto e sob a luz teórica de Thomas e Mcdougall, este gerenciamento deve estar estabelecido na coleta de lixo e métodos de tratamento e disposição final. (FUGII, 2014).

Como objeto de estudo estabelece o modelo segundo Puna e Baptista (PUNA, 2008), que estabelece como Sistema de Gestão Integrada de Resíduos Urbanos que atenda em dois momentos: COLETA – processo que se inicia com a ação que vise à redução de resíduos já na geração dos resíduos, ou seja,

domicílios, empresas e população, que atuaria na forma de educação para a não produção de resíduos, seguindo pela coleta que estabelece que a partir do efetivo descarte, segunda etapa o tratamento da deposição final, que ele venha a ser reutilizado, pela reciclagem, diante da coleta, podendo transformar em outro produto ou energia, ou mesmo o descarte dos resíduos que não mais pode ser reutilizado ou reciclado, buscando sempre a diminuição dos resíduos gerados, como pode ser observado no esquema apresentado por Fugii na figura 3 (FUGII, 2014).

Figura 3 - Hierarquia das Etapas para o Gerenciamento de Resíduos Sólidos Fonte: Fugii (2014).

Os modelos a serem adotados pelos municípios no Brasil devem ser apresentados nos PMGIRS conforme consta na PNRS.

É apresentado o modelo de gestão integrada de resíduos sólidos urbanos segundo SILVA et al. 2014 o qual apresenta uma alternativa de gestão de resíduos sólidos conforme pode ser observado na figura 4.

Figura 4 - Alternativas de Gestão de Resíduos Sólidos

Fonte: Revista Brasileira de Ciências Ambientais, n.33, p.122, 2014.

A figura 4 apresenta o ciclo dos resíduos e suas alternativas de gestão e aproveitamento do material coletado, podendo ser transformado em outros materiais a partir da reciclagem/reaproveitamento, como também produzir energia a partir da decomposição dos materiais descartados em aterros sanitários apropriados para este fim (SILVA, et al. 2014).

O esquema apresenta de forma clara o ciclo dos resíduos sólidos urbanos observa-se que este modelo apresenta diversas formas de aproveitamento dos resíduos em vários momentos do ciclo − reciclagem, incineração, biodigestão, compostagem orgânica, combustível, estabelecendo assim uma alternativa financeira a partir do descarte dos resíduos sólidos urbanos, os quais ao longo do tempo vem sendo tratados como um custo elevado ao poder público.

Para se instituir os modelos de gerenciamento de resíduos sólidos urbanos faz- se necessário o aporte de recursos e bem como a legislação que estabeleça os critérios e recursos disponibilizados pela lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), conforme será apresentado no próximo item.

Documentos relacionados