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Moldura teórico-metodológica da análise textual

III. ASPETOS PROCEDIMENTAIS DE ANÁLISE

4. Moldura teórico-metodológica da análise textual

A análise textual que desenvolvo enquadra-se nos pressupostos teórico-metodológicos do Interacionismo Sociodiscursivo e a metodologia de análise dos dados explora o modelo de análise de textos (Bronckart, [1997]1999; Machado & Bronckart, 2009), prevendo a análise das condições de produção dos textos (modelo de ação de linguagem) e a análise da arquitetura interna. Assim, para analisar o modo como as mulheres (e os homens) se implicam nos discursos que produzem configurando um possível modelo de liderança, assumo como objeto de estudo textos empíricos considerando o género de texto em que ocorrem: o corpus de análise é constituído por 12 intervenções públicas, 6 produzidas por mulheres pioneiras na ocupação de posições de liderança em Portugal e, comparativamente, 6 de autoria masculina. Para além disso, opto por uma abordagem descendente de análise, articulando a análise qualitativa com a análise quantitativa, que a seguir pormenorizo.

No que respeita à opção por uma abordagem descendente de análise, assumo o ponto de vista preconizado por Voloshinov ([1929]1977), já anteriormente referido, de que também se aproxima Rastier (2001: 13), quando preconiza a orientação do global para o local, e que Bronckart (2008b: 39) viabiliza nos seguintes termos e ordem de análise: i) da análise das formas e tipos de interação verbal em conexão com as suas condições concretas (i.e. contextos sociais de comunicação); ii) para as formas/produtos pré-construídos (i.e.

géneros); e, a partir daí, iii) para o reexame das formas linguísticas na sua apresentação linguística habitual (i.e. língua). Neste seguimento, desenvolvo quatro procedimentos gerais de análise, partindo das instâncias supraordenadas, i.e., atividades e géneros, para os aspetos linguísticos, i.e., processos e unidades microlinguísticas: ou seja, parto da análise das situações de produção dos objetos linguísticos (contexto de produção) para a observação das características composicionais dos textos (componente genológica e singular dos textos) e, daí, para o exame das propriedades linguístico-discursivas (marcas linguísticas e enunciativas – tipos de discurso) e das propriedades do agir (figuras de ação) nos textos.

Num viés descendente, estes quatro procedimentos gerais correspondem a quatro etapas principais de análise – a análise dos aspetos situacionais, a análise dos aspetos temático-composicionais, a análise dos aspetos linguístico-discursivos e a análise dos aspetos semiológico-interpretativos:

Figura 20. Etapas procedimentais da análise textual

O primeiro procedimento (análise dos aspetos situacionais) integra-se no modelo de análise das condições de produção dos textos (ou modelo de ação de linguagem) e os três restantes (análise dos aspetos temático-composicionais, dos aspetos linguístico-discursivos e dos aspetos semiológico-interpretativos) no modelo da arquitetura interna. Estas etapas de análise empreendem-se elencando os quatro níveis/planos do modelo de análise de textos do Interacionismo Sociodiscursivo (Machado & Bronckart, 2009): o contexto sociointeracional de produção; o nível organizacional; o nível enunciativo; e o nível da semiologia do agir.

Análise textual

Análise dos aspetos situacionais

Análise dos aspetos temático-composicionais

Análise dos aspetos linguístico-discursivos

Análise dos aspetos semiológico-interpretativos

Assim, a análise dos aspetos situacionais enquadra o nível contexto sociointeracional de produção, a análise dos aspetos temático-composicionais enquadra o nível organizacional, a análise dos aspetos linguístico-discursivos enquadra o nível organizacional e enunciativo, e os aspetos semiológico-interpretativos o nível da semiologia do agir que se relaciona com os outros níveis mencionados.

Embora o percurso das análises obedeça à configuração sequencial descendente de análise das etapas acima mencionadas, os quatro níveis mobilizados apresentam-se em interação e interpenetram-se: ou seja, a análise dos aspetos situacionais convoca o contexto sociointeracional de produção; a análise dos aspetos temático-composicionais engaja o nível organizacional, da mesma forma que esta dimensão é requisitada, a par da dimensão enunciativa, na análise dos aspetos linguístico-discursivos; e a análise dos aspetos semiológico-interpretativos convoca obrigatoriamente os dados das análise dos aspetos contextuais, dos genológicos e dos linguístico-discursivos, pois permitem compreender as representações do agir dos agentes de produção mobilizadas sobre a sua situação de produção, sobre a escolha do género e sobre as suas opções linguísticas na produção do texto, auxiliando na descrição do agir.

No que respeita aos elementos que compõem os diferentes níveis do modelo de análise de textos do Interacionismo Sociodiscursivo, a análise dos aspetos situacionais mobiliza o contexto sociointeracional de produção, a análise dos aspetos temático-composicionais convoca o plano geral do género textual, a análise dos aspetos linguístico-discursivos requisita os tipos de discurso (marcas linguísticas e enunciativas) que, consequentemente, enquadram as marcas de implicação; e a análise dos aspetos semiológico-interpretativos prevê as figuras de ação. Estas etapas e respetivas noções como recurso de análise relacionam-se com quatro finalidades amplas do trabalho analítico, respetivamente, a saber: a análise do contexto; a análise do género textual; a análise da implicação; e a análise do agir.

Assim, de uma forma geral, na primeira etapa, com o objetivo de analisar o contexto, procedo à identificação os parâmetros objetivos e sociossubjetivos das condições de produção dos textos. Na segunda etapa, com o objetivo de caracterizar o género textual, procedo à observação da componente genológica e composicional dos textos, identificando as unidades que organizam o espaço textual e que permitem a caracterização global dos textos. Na terceira etapa, com o objetivo de analisar a implicação, procedo à identificação das marcas linguísticas e enunciativas em ocorrência nos textos e que configuram os tipos

discursivos. A partir dessas marcas linguísticas e enunciativas, destaco as que designo como marcas de implicação, que permitem atestar graus distintos da implicação e, dessa forma, verificar se as mulheres têm tendência, ou não, para um discurso mais implicado do que os homens. Na quarta e última etapa, a análise dos tipos de discurso e, em particular, das marcas de implicação articula-se posteriormente com o conteúdo temático, de forma a identificar as figuras de ação que emergem, enquanto interpretações do agir.

A cada etapa da análise textual que acabou de ser exposta procede, ainda, um movimento comparativo, colocando de um lado, na sua globalidade, os dados observados nos textos de mulheres e, de outro, os dados observados nos textos de homens, no sentido de perceber se as representações mobilizadas na enunciação dos agentes de produção são coincidentes ou, pelo contrário, se a configuração linguística de mulheres e homens é díspar.

Antes de proceder à particularização do trabalho de análise previsto em cada etapa, apresento a moldura teórico-metodológica que orienta a análise textual:

Figura 21. Moldura teórico-metodológica da análise textual

Etapas Noções Procedimentos Objetivos

Aspetos situacionais

Contexto de produção

- Identificar a “história” dos textos, a partir de informações externas ao texto que constroem os conhecimentos sobre a situação de produção (hipóteses sobre as representações iniciais dos agentes de produção acerca dos aspetos contextuais)

Análise do contexto

Contexto físico - Identificar as informações sobre o espaço físico, o tempo e os sujeitos (emissor/recetor) da situação de produção

Contexto

sociossubjetivo - Identificar as representações sociais acerca do quadro social de interação, dos papéis sociais dos agentes (enunciador/destinatário) e dos objetivos da interação

Aspetos temático- composicionais Plano geral do texto

- Dar conta da formatação genológica dos textos - Depreender o conteúdo temático mobilizado - Conhecer parcialmente o agir construído nos textos

Análise do género

Composicionalidade

- Identificar as unidades externas que estruturam e organizam o espaço textual (por exemplo, organizadores textuais como títulos, subtítulos, intertítulos, entre outros)

- Levantar as informações que atestam padrões composicionais convencionais e/ou padrões singulares (dimensão singular face a traços específicos)

Conteúdo temático - Identificar as informações que acionam o conteúdo temático - Identificar os segmentos temáticos centrais

Aspetos linguístico-discursivos

Tipos discursivos

- Compreender as escolhas psicolinguísticas que os agentes produtores fazem no momento de produção textual

- Identificar os mundos discursivos criados e que traduzem as escolhas psicolinguísticas do agente de produção

- Identificar as marcas linguísticas e enunciativas que semiotizam e concretizam os mundos discursivos - Identificar os tipos discursivos mobilizados

- Fazer o levantamento e a contagem dos tipos de discurso em ocorrência nos textos Análise da implicão Marcas linguísticas

e enunciativas

- Compreender como se constrói o posicionamento enunciativo nos textos: proximidade ou distanciamento - Identificar a presença e/ou ausência das marcas linguísticas e enunciativas (unidades deíticas pessoais, temporais e espaciais; outras unidades deíticas que remetem para a interação verbal; formas verbais;

anáforas, auxiliares de modo, organizadores textuais, frases não declarativas, modalizações)

- Identificar os respetivos tipos discursivos constituintes das marcas linguísticas e enunciativas em ocorrência nos textos

Marcas de implicação

- Mostrar como os agentes produtores se implicam nos textos que produzem

- Isolar, a partir das marcas linguísticas e enunciativas, as marcas de implicação em ocorrência nos textos, fazer o seu levantamento e contagem (marcas linguísticas e enunciativas deíticas, nomeadamente nomes, formas pronominais pessoais e possessivas, determinantes possessivos e desinências número-pessoais das formas verbais)

- Determinar o grau de implicação dos agentes produtores nos textos - Auxiliar na descrição do agir

Aspetos semiogico-interpretativos

Figuras de ação

(Figura de ação liderança)

- Observar e identificar as representações textualmente construídas sobre um agir específico: o agir-liderança

- Elaborar a configuração da representação discursiva da liderança, a partir da reinterpretação dos dados obtidos na análise do plano organizacional (tipos discursivos) e do plano enunciativo (marcas enunciativas) e sua articulação com a análise do plano semântico (figuras de ação)

- Identificar as figuras de ação em ocorrência nos textos

- Relacionar e articular os tipos de discurso com as figuras de ação quando o agir surge sob a forma de liderança

- Perceber que que relação(ões) se estabelece(m) entre figuras de ação e a representação discursiva da liderança

- Observar a possível emergência, a partir da análise textual, de figuras de ação novas que tomem em consideração um agir-referente que se relaciona com as questões de liderança – figura de ação liderança.

- Fazer o levantamento e a contagem das figuras de ação liderança em ocorrência nos textos

Análise do agir

Dimensões do agir - Identificar as dimensões do agir tematizadas nos textos: dimensão motivacional (razões/motivos), dimensão da intencionalidade (finalidades/intenções) e dimensão dos recursos para o agir (instrumentos/capacidades)

Tipos de agir - Identificar os tipos de agir configurados nos textos (modo como o agir é representado): individual ou coletivo

Especificamente, desenvolvo a análise textual combinando a abordagem qualitativa e a abordagem quantitativa. A opção pela abordagem qualitativa relaciona-se com a própria conceção de texto adotada: o texto como unidade comunicativa, construído em situação, admitindo-se como um sistema complexo e dinâmico e caracterizado pelas interações situadas entre sujeitos. A abordagem qualitativa permite mostrar as (ir)regularidades, ou traçar um perfil que advém da análise dos dados, no sentido de as compreender, explicar ou predizer, permitindo controlar variáveis sem as tornar redutíveis ou, até, evitáveis (Coutinho, 2012b: 32-33). Por seu turno, a abordagem quantitativa resulta da necessidade de evidenciar e sustentar os resultados obtidos da análise qualitativa, procedendo à contagem de alguns dados em ocorrência, como mais à frente pormenorizo (terceira e quarta etapas de análise).

Assim, para dar conta do funcionamento social dos textos e das suas propriedades linguísticas, numa articulação entre análise qualitativa e quantitativa, apresento, de seguida, com pormenor, os procedimentos mobilizados.

Etapa 1. Aspetos situacionais:

Contemplando apenas a análise qualitativa nesta etapa, identifico as representações do agente de produção sobre o contexto físico e o contexto sociossubjetivo da sua situação de produção, e que exercem influência sobre a forma do texto. Essas representações distribuem-se por oito parâmetros objetivos e sociossubjetivos: os sujeitos - emissor e recetor, o espaço da produção textual, o momento, os papéis sociais assumidos pelos sujeitos - enunciador e destinatário, o lugar social e o objetivo da produção textual.

Especificamente, no que respeita ao contexto físico, identifico os dados dos parâmetros objetivos da situação de ação de linguagem: o lugar físico da produção (espaço), o momento da produção (tempo), e os agentes físicos/sujeitos (emissor e recetor). De seguida, procedo à identificação das representações dos parâmetros sociossubjetivos (representações sociais) mobilizados nos textos: o quadro social da interação (i.e. o tipo de interação), os papéis sociais dos agentes que interagem (emissor e recetor desempenham os papéis sociais de enunciador e destinatário, respetivamente), e os objetivos (comunicativos) que decorrem da interação.

O aparelho analítico9 dos aspetos situacionais apresenta a seguinte configuração:

Figura 22. Aparelho analítico dos aspetos situacionais

Etapa 2. Aspetos temático-composicionais:

A partir de uma abordagem qualitativa, procedo à observação da componente genológica, composicional e temática dos textos, levantando, por um lado, as informações que estruturam e organizam os textos (composicionalidade), e, por outro lado, levantando as informações que acionam o conteúdo temático. A identificação das informações que organizam o espaço textual permite ter uma visão geral do texto e das suas partes, no que respeita à sua composição e disposição, e identificar as representações construídas pelo agente de produção sobre o género textual que melhor se enquadre no ato comunicativo que produz, toldando as suas escolhas. Para este procedimento, recorro a marcadores linguísticos que atestam padrões composicionais convencionais e/ou singulares fixados pelo género textual, considerando, sobretudo, organizadores textuais de ordem paratextual, como, por exemplo, os

9 A designação aparelho analítico refere-se aos elementos recuperados da moldura teórico-metodológica da análise textual (cf. Figura 21), no que respeita à etapa visada e às respetivas noções gerais mobilizadas, particularizando e desdobrando essas noções em outros elementos que serão objeto de análise. Assim, cada etapa de análise integra um aparelho analítico (cf. Figuras 22, 23, 24 e 26), encontrando-se nessa designação uma forma de diferenciar os elementos gerais da análise textual (moldura teórico-metodológica da análise textual) e os elementos, que enquadram aqueles, a aplicar em cada etapa da análise textual (aparelho analítico).

ASPETOS SITUACIONAIS

Contexto sociointeracional de produção

Parâmetros objetivos (contexto físico)

Sujeitos Emissor

Recetor Espaço

Temporalidade

Parâmetros sociossubjetivos (contexto sociossubjetivo)

Papéis sociais Enunciador Destinatário Instituição social

Objetivo(s)

títulos, os subtítulos, os intertítulos, as mudanças de partes ou de capítulos, os parágrafos introdutórios apresentando as divisões do texto, entre outros. No que respeita às informações que acionam o conteúdo temático, reúno o conjunto de dados contidos nos textos que remetem para os mundos físico e sociossubjetivo, e identifico os segmentos temáticos centrais que podem ser recuperados pela leitura e codificados num resumo. A partir dos dados extraídos na observação das componentes composicionais e temáticas dos textos, apresento o desenho do padrão composicional e da configuração temática do género textual em questão – a intervenção pública.

O aparelho analítico dos aspetos temático-composicionais apresenta a seguinte disposição dos seus elementos:

Figura 23. Aparelho analítico dos aspetos temático-composicionais

ASPETOS TEMÁTICO-COMPOSICIONAIS

Plano geral do texto

Composicionalidade Conteúdo temático

Unidades que organizam o espaço textual Organizadores textuais Segmentos temáticos centrais

(informações recuperadas pela leitura e que podem

ser codificadas num resumo)

Informões que acionam o conteúdo temático

(Ex.:

Títulos Subtítulos Intertítulos Mudanças de partes ou de

capítulo Parágrafos introdutórios ou

divisórios do texto Outros elementos

paratextuais)

Configuração composicional da intervenção pública

convencional e/ou singular

Configuração temática da intervenção pública

Identificação e disposição dos

Segmentos temáticos centrais Desenho do padrão

composicional

Etapa 3. Aspetos linguístico-discursivos:

A análise dos aspetos linguístico-discursivos tem como primeira finalidade perceber a posição do enunciador em relação ao seu agir (implicação), ou seja, se se coloca em posição de proximidade ou, pelo contrário, de distanciamento. As formas linguísticas que semiotizam estas relações de implicação e não implicação conformam marcas linguísticas e enunciativas, mobilizando elementos do plano organizacional e do plano enunciativo da arquitetura interna dos textos, e configuram os tipos de discurso. Essas formas linguísticas materializam as escolhas psicolinguísticas do agente de produção, traduzindo os mundos discursivos (ordem do expor ou narrar; ordem da implicação ou autonomia). A segunda finalidade é perceber se as mulheres têm tendência para um discurso mais implicado do que os homens. Nesta análise, articulo a análise qualitativa com a análise quantitativa. Assim, num primeiro momento, identifico as formas linguísticas e enunciativas configurativas dos tipos de discurso em ocorrência nos textos, e, de seguida, destaco as marcas de implicação que permitem atestar graus distintos da implicação. Num segundo momento, procedo à contagem do número de ocorrências dos tipos de discurso e das marcas de implicação, em cada texto.

Na observação das marcas linguísticas e enunciativas que configuram os tipos de discurso, identifico a presença e/ou ausência, com ou sem valor deítico, de unidades que remetem para a interação verbal, integrando aqui as marcas de pessoa (deixis pessoal); de outros fenómenos de ancoragem situacional (deixis espacial e temporal); de formas verbais e de verbo modal; de pronome indefinido se (e construções verbais com o clítico impessoal);

de frases não declarativas; de anáforas (nominais e pronominais) e/ou retomas anafóricas; de organizadores textuais, como por exemplo os lógico-argumentativos e os temporais; e de modalizações (epistémicas, deônticas, apreciativas e pragmáticas).

Quanto ao exame das marcas de implicação, estas permitem particularizar o processo de implicação do agente de produção na produção textual. As marcas de implicação constituem-se no eixo da agentividade e estão contempladas nas marcas linguísticas e enunciativas configurativas dos tipos discursivos. No trabalho, procedo ao destaque dessas marcas, designando-as marcas de implicação (cf., abaixo, Figura 25), que se constituem por deíticos pessoais, como, por exemplo, os nomes, as formas pronominais pessoais e possessivas, os determinantes possessivos e as desinências número-pessoais das formas verbais. De seguida, procedo à contagem da sua ocorrência em cada texto e verifico o grau de implicação que traduzem.

O aparelho analítico dos aspetos linguístico-discursivos apresenta a seguinte constituição e desdobramento dos seus elementos:

ASPETOS LINGUÍSTICO-DISCURSIVOS

Marcas linguísticas e enunciativas Tipos de discurso Implicação

presença/ausência e/ou com/sem valor deítico mundos discursivos modo

Unidades que remetem para os interactantes da ação verbal

Expor

implicado

Discurso interativo

IMPLICAÇÃO ou NÃO IMPLICAÇÃO Deixis pessoal

Outros fenómenos de ancoragem situacional

(deixis temporal e espacial) Misto

interativo-teórico

Formas verbais

aunomo

Discurso teórico

Verbo modal Anáforas

(nominais e pronominais) Pronome indefinido se

Narrar

implicado

Relato interativo

Frases não declarativas Organizadores textuais

(temporais e lógico-argumentativos) Modalizações

(epistémicas, deônticas, apreciativas e pragmáticas)

aunomo Narração

Marcas de indiciamento de pessoa (nomes próprios, formas pronominais pessoais e possessivas, determinantes possessivos, desinência número-pessoal das formas verbais)

Figura 24. Aparelho analítico dos aspetos linguístico-discursivos

Figura 25. Marcas de implicação Marcas de implicação

deíticos pessoais

Grau de implicação nomes próprios

(outros sintagmas nominais) pronomes pessoais pronomes possessivos determinantes possessivos

marcas de primeira pessoa do singular (1ª PS)

marcas de primeira pessoa do plural (1ª PPl)

marcas de terceira pessoa do singular (3ª PS)

(parafraseável por marcas de implicação atenuada)

implicação forte implicação atenuada

implicação fraca formas

verbais

desinência número-pessoal

Etapa 4. Aspetos semiológico-interpretativos:

Para a observação dos aspetos semiológico-interpretativos, parto dos dados obtidos na análise anterior (aspetos linguístico-discursivos), uma vez que reúnem o conjunto de informações/conhecimentos que constituem pistas para a compreensão e descrição do agir.

Embora o nível da semiologia do agir comporte elementos como as dimensões do agir, o tipo de agir e os papéis atribuídos aos protagonistas, dada a extensão dos textos e a dimensão das análises, esses aspetos não serão desenvolvidos, detendo-me, apenas, na noção de figuras de ação.

Assim, a partir de uma abordagem qualitativa, identifico as figuras de ação mobilizadas no trabalho interpretativo, no sentido de perceber que relações se estabelecem entre as figuras de ação e a representação discursiva do agir liderança. Parto do pressuposto que a noção de figuras de ação é passível de ser exportada e aplicada noutros textos, no quadro de outras atividades que não as que lhe deram origem.

Dessa observação, já assumida por Bulea (2010b), questiono se as figuras de ação são (in)suficientes, ou se a análise textual faz emergir outra figura de ação nova quando o agir surge sob a forma de liderança. A este questionamento associo a hipótese de um novo contributo, propondo a noção de figura de ação liderança.

O aparelho analítico dos aspetos semiológico-interpretativos configura-se do seguinte modo:

Figura 26. Aparelho analítico dos aspetos semiológico-interpretativos

A partir destes elementos teórico-metodológicos, num diálogo comparativo que coloca, de um lado, os textos de mulheres e, de outro, os textos de homens, procedo à análise textual com o fito de cotejar como se implicam mulheres e homens nos textos, como a representação do agir pode configurar (uma atitude específica/efetiva de) liderança e, subsequentemente, que modelo de liderança traduz um discurso implicado.

ASPETOS SEMIOLÓGICO-INTERPRETATIVOS

Figuras de ação

Ação ocorrência

(In)suficiência:

agir-referente LIDERANÇA

F I G U R A (S)

D E A Ç Ã O L I D E R A N Ç A

? Tipo de

discurso Ação

acontecimento passado

Ação experiência Conteúdo

temático

do agir Ação

canónica

Ação definição

Dimensões do agir

Motivacional

razões motivos

Intencional

finalidades intenções

Recursos para o agir

instrumentos capacidades

Tipos de agir

coletivo individual