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IV. ANÁLISE TEXTUAL E COMPARATIVA

1. As quatro etapas de análise

1.2. Análise dos aspetos temático-composicionais

1.2.2. Nos textos de homens

de abertura (introdução no plano geral do texto) e, em todos os casos, por um momento de fechamento (conclusão no plano geral do texto). No meio dessa delimitação do corpo textual coabita o momento de exposição-argumentação, que corresponde ao desenvolvimento no plano geral do texto. No seio deste mesmo desenvolvimento coexiste, ainda, uma disposição ternária que prevê os lugares retóricos da introdução, desenvolvimento e conclusão, com a disposição e organização que a seguir particularizo.

O movimento de abertura é suprimido em quase todos os textos, à exceção de TH1 e TH4, que é assinalado sob a forma do organizador textual intertítulo, que coincide com a identificação do papel sociossubjetivo destinatários.

O momento de encerramento pontua o fim do discurso e é linguisticamente marcado por estratégias discursivas que sugerem o término, e delimitado por parágrafos finais, oscilando entre um e dois parágrafos curtos: em TH1 corresponde aos dois últimos parágrafos do texto, compostos por duas frases curtas interpelativas (por vocativo e frase declarativa); em TH2 constitui a última frase do texto, e o fecho surge integrado na parte da conclusão da exposição-argumentação e indiciado por modalização epistémica (Estou certo de que); em TH3 é assinalado pelo último parágrafo (e linguisticamente fixado pela forma verbal termino seguido de pedido do foro religioso E peço a Deus...); em TH4 conforma o último parágrafo constituído, apenas, pela forma de agradecimento Muito Obrigado; em TH5 compreende os três últimos parágrafos que se constituem por três frases não declarativas, construídas em paralelismo anafórico, sem núcleo verbal, com função apelativa assumida pela interjeição Viva (...)!; e em TH6 conforma o último parágrafo que se identifica por frase não declarativa, sinalizando um apelo efetivado pela forma verbal fixemos.

Também à semelhança do observado nos textos de mulheres, a exposição-argumentação ocupa a maior parte do corpo textual, delimitado pelo fecho em todos os casos e pela abertura apenas nos TH1 e TH4. O corpo da exposição-argumentação surge com uma segmentação tripartida, retórica, delimitada por parágrafos e que, tal como nos textos de mulheres, permite identificar as informações que acionam o conteúdo temático, a partir da atividade discursiva que permeia esses segmentos, recuperando-se os segmentos temáticos pela leitura e que codifico num resumo.

Assim, a introdução da exposição-argumentação comporta em TH1 os três primeiros parágrafos; em TH2 os cinco primeiros parágrafos, marcados graficamente por elemento peritextual; em TH3 o primeiro parágrafo; nos TH4 e TH5 os dois primeiros parágrafos; e no

TH6 os oito parágrafos iniciais, sinalizados por intertítulo; e introduz o tema central (segmento temático 1) correspondente ao propósito da ação comunicativa. Recuperado pela leitura, o segmento temático central expõe as razões que levam os agentes a produzirem os seus textos, no papel social (enunciador) que assumem: apresentar o programa do governo (TH1); tomar posse e assumir funções de um cargo público de relevo (TH2, TH3 e TH4); e declarar-se candidato ao cargo presidencial (TH5 e TH6). Este segmento temático principal é ampliado e desenvolvido nos parágrafos que precedem a introdução, no desenvolvimento da exposição-argumentação, igualmente recuperado pela leitura e conformando o segmento temático 2.

Conforme assumi relativamente aos textos de mulheres, também nos textos de homens o desenvolvimento da parte expositiva-argumentativa se estrutura e organiza heterogeneamente. Os textos apresentam uma singularidade composicional que se prevê influenciada pelas escolhas agentivas, já que genologicamente não altera os seus padrões convencionais; e os textos assumem, ainda que com disposições distintas, os mesmos objetivos: expor as motivações, intenções, objetivos e ações futuras no âmbito do compromisso assumido ou a assumir e do papel em que os agentes de produção foram investidos (segmento temático 2). A singularidade de cada texto reside na organização composicional e temática que a seguir evidencio, mostrando, por um lado, a partir de organizadores textuais a composição da exposição-argumentação e, por outro lado, codificando num resumo as informações que acionam o conteúdo temático.

No TH1, após o momento de abertura, o primeiro parágrafo introduz o segmento temático central – apresentar o programa do governo –, ampliado nos dois parágrafos imediatos da introdução. Os parágrafos seguintes, que constituem o desenvolvimento do texto, particularizam o programa do governo, e identificam-se por elementos peritextuais, sob a forma de intertítulos. O texto comporta quatro intertítulos que se constituem por construções oracionais: o primeiro precede o intertítulo correspondente ao momento de abertura e que refere o parâmetro sociossubjetivo destinatários, e apresenta a importância do programa do Governo; o segundo intertítulo conforma a constituição do Governo; o terceiro, na mesma linha que o primeiro, precedido de outro intertítulo que remete para o parâmetro sociossubjetivo destinatários, tece considerações sobre a democracia; e, por fim, o quarto intertítulo, constituindo-se em paralelismo anafórico com o fecho do texto, pontua as considerações finais do agente de produção.

No TH2, os cinco primeiros parágrafos da introdução aludem aos destinatários intratextualmente (três primeiros parágrafos) e ao segmento temático central (4º parágrafo) – presidir ao Parlamento. A introdução surge seccionada por elemento peritextual sob a forma de numeração cardinal (1) e o restante texto também: o desenvolvimento da exposição-argumentação desdobra-se em sete pontos, segmentados pelos elementos peritextuais numéricos de 2 a 8, remetendo para os modos de atuação governativa propostos. A conclusão da exposição-argumentação integra-se no ponto 8.

No TH3, o primeiro parágrafo apresenta o segmento temático central – assumir funções como reitor. Os parágrafos seguintes assinalam o desenvolvimento da exposição-argumentação, em que a instância enunciativa expõe as suas considerações pessoais, profissionais e institucionais acerca do ato/compromisso social que assume. A estrutura retórica introdução-desenvolvimento-conclusão não surge sementada por intertítulos (as ideias surgem de forma sucessiva, apenas paragrafadas), pelo que só é codificada na leitura.

No TH4, após o movimento de abertura, expõe-se, nos dois primeiros parágrafos (introdução), o segmento temático central – a aceitação do cargo de presidente da Fundação Calouste Gulbenkian. À semelhança do TH3, os lugares retóricos introdução e desenvolvimento não surgem sementadas por intertítulos, sugerindo um texto “corrido”, codificado na leitura: situando na introdução os propósitos comunicativos (segmento temático 1) e no desenvolvimento o desdobramento em intenções, motivações e modos de atuação futura (segmento temático 2). Já a conclusão da exposição-argumentação é seccionada por intertítulo que remete para a categoria sociossubjetiva destinatários.

No TH5, verifica-se uma organização composicional mais complexa, e com recurso a distintos elementos peritextuais: a introdução não é seccionada graficamente, subentende-se, contudo, ser a primeira parte, pois o texto prossegue com intertítulo iniciado em II. Nessa primeira parte, apresenta-se o segmento temático central nos dois primeiros parágrafos - candidatura à presidência da República – desenrolando-se, nos seguintes parágrafos, os propósitos da candidatura, ou seja, a apresentação da tese/ponto de vista central que pretende veicular e a respeito do qual pretende convencer o destinatário a aderir à sua tese (segmento temático 2). Findo este momento, o texto é, então, linguisticamente segmento em partes, por intermédio de numeração romana (II a VI) seguida de construções oracionais organizadas em intertítulos que oscilam entre interrogações retóricas (II, III e IV) e construções sem núcleo verbal (V e VI): nas três primeiras partes com o intuito de responder às questões que assentam na proposta de atuação da instância enunciativa no papel de candidato a Presidente da

República e, nas duas últimas, com o objetivo de expor o papel do Presidente da República (V) e as suas linhas de atuação fundamentais (VI). Nesta última, as linhas de atuação seguem uma divisão própria e complementar, assinalada por numeração de 1 a 10 com respetivos intertítulos, marcados linguisticamente por construções iniciadas por infinitivo verbal. A conclusão surge textual e graficamente espaçada da exposição-argumentação.

No TH6, o texto é todo segmentado com recurso a elementos peritextuais sob a forma de numeração romana (I a VII): a parte I apresenta o segmento temático central nos dois primeiros parágrafos – a candidatura ao cargo de Presidente da República – e desdobra-se em mais seis parágrafos que constituem um apelo aos destinatários, linguisticamente marcado pela forma verbal apelar. As partes II a VI correspondem ao desenvolvimento e apresentam as considerações da instância produtiva sobre o ato que protagoniza (segmento temático 2). A conclusão é marcada por intermédio do elemento numérico VII, num intertítulo.

No que respeita à conclusão da parte expositiva-argumentativa, antecede o fecho do discurso e é estruturada da seguinte forma: no TH1 corresponde aos quatro parágrafos que antecedem o fecho, introduzida por intertítulo; no TH2 conforma o último parágrafo do texto que condensa o fecho; no TH3 remete para o último parágrafo anterior ao momento de encerramento; no TH4 para os quatro parágrafos que antecedem o fecho, sinalizados por intertítulo; no TH5 constitui-se por três parágrafos antecedidos do fecho, graficamente dividido da argumentação-exposição; e no TH6 enforma três parágrafos, linguisticamente seccionados por intertítulo. A conclusão assume a particularidade de se focar na pessoa que produz o texto e no papel que assume, sublinhando e respaldando as motivações, os objetivos do compromisso assumido ou a assumir, e as capacidades dos agentes de produção na ou para a ocupação do cargo público que os constituem como os representantes ideais (segmento temático 3).

Importa mencionar, ainda, apesar de não alterar a formatação composicional dos textos acima elencada, que coexistem nos textos outros elemento paratextuais, fruto de uma contingência agentiva (escolhas pessoais) ou institucional: no TH3, as informações acerca das categorias físicas espaço e tempo surgem como complemento do título, remetidas para nota de rodapé; no TH6, identifica-se a categoria física tempo em forma de assinatura, no fim do texto; e no TH4, a paratextualidade comporta, igualmente sob a forma de assinatura no fim do texto, os dados sociossubjetivos relativos ao quadro social de interação (início de mandato como Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian).

Em suma, pelo exposto, e de acordo com as mesma conclusões aferidos na análise dos aspetos temático-composicionais nos textos de mulheres, assumo que, no que respeita à composicionalidade, as oscilações composicionais constituem os padrões singulares dos textos, que decorrem de uma contingência agentiva ou devido ao enquadramento institucional dos textos, todavia, não alteram a formatação genológica que se entende padronizada e convencional das intervenções públicas. Nessa medida, projeto, nos textos de homens, a mesma disposição e organização do plano de texto da intervenção pública que esquematizei na Figura 30 para os textos de mulheres (cf. secção 1.2.1., Figura 30). Da mesma forma, relativamente às informações que acionam o conteúdo temático, concluo que todos os textos de homens apresentam uma disposição e distribuição idênticas dos segmentos temáticos centrais, recuperados pela leitura na parte expositiva-argumentativa e que podem ser codificados num resumo: o segmento temático central (segmento temático 1) é manifestado na introdução, amplificado no desenvolvimento (segmento temático 2) e respaldado na conclusão (segmento temático 3). Para além disso, verifico, igualmente, que nos segmentos temáticos, o agir comunicativo é quase sempre captado sob a forma de construção praxiológica, em que a relação temporal surge linguisticamente marcada por formas que atestam o momento presente da situação de produção; e a agentividade é dada a conhecer ora por intermédio da perspetiva individual, ora diluindo-se num coletivo de que o agente de produção faz parte. Também os temas centrais coincidem com o domínio institucional em que os agentes atuam e a partir do qual produzem os seus textos: a atividade política (TH1, TH2, TH5 e TH6), a atividade académica (TH3) e a atividade cultural (TH4). Ainda assim, os textos apresentam uma configuração temática comum, disposta e estruturada de forma idêntica, pelo que considero ser uma componente genológica prototípica das intervenções públicas. Nesse sentido, aplico aos textos de homens a mesma configuração temática da intervenção pública que esquematizei na Figura 31 para os textos de mulheres (cf. secção 1.2.1., Figura 31).

Concluindo, a figura abaixo sistematiza os dados observados, no seu conjunto, na análise dos aspetos temático-composicionais nos textos de autoria masculina:

Figura 32. Os aspetos temático-composicionais nos textos de homens

De seguida, reúno os dados temático-composicionais evidenciados e, à luz de uma perspetiva comparativa, enuncio as conclusões mais significativas.