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“HOJE EM DIA, SER BRASILEIRO AQUI DÁ MORAL PRO CARA”

2.5 Morando com romenos, fazendo etnografia em casa

Cheguei à Roma em 13 de novembro de 2010 e fiquei lá até 12 de abril de 2011. Durante este período, eu morei no Istituto Madonna del Carmine (IMC), um centro de hospedagem ligado de propriedade da Ordem religiosa Carmelita e da Arquidiocese de Roma e que fica na cidade de Ciampino, mais especificamente no bairro de Sassone, a 15 minutos de trem do centro da capital italiana. Durante todo o ano, o IMC recebe grupos de peregrinos católicos de todo o mundo (principalmente europeus e latino- americanos; brasileiros em particular) já que fica praticamente no “meio de caminho” entre Roma e Castel Gandolfo, cidade de veraneio papal e onde se encontra o importante “Centro Mariapolis”, ligado aos Focolares132. No IMC moravam, no período

131 Essa ideia, de perceber o lado “positivo” dos conflitos sociais não é nova. O próprio Grossi

(2008: 08-09) comenta que a institucionalização dos conflitos que caracterizaram a sociedade europeia após a II Guerra Mundial fez com que autores como Chantal Mouffe argumentassem, nos primeiros anos do século XXI, que foi este potencial dos conflitos um dos principais responsáveis pelo desenvolvimento de regimes democráticos pela Europa. Além disso, Georg Simmel (apud Grossi, 2008:09-10) em seu clássico texto “Der Streit” (a disputa) trata o conflito como um fator de construção de laços sociais, no sentido de que “em disputa”, os elementos antagônicos (uns contra os “outros”) se transformam em uniões de opostos (uns com os outros). Ou seja, Simmel se referiu não apenas ao fenômeno óbvio dos laços que se criam e se reforçam no interior de cada um dos grupos que se contrapõem, mas principalmente aos laços entre estes grupos.

132 Fundado em 1943 por Chiara Lubich na cidade italiana de Trento (capital da região Trentino-

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em que residi lá, três famílias de romenos – parte deles como funcionários regulares e contratados deste Instituto e outros como hóspedes (parentes destes funcionários) que conseguiram a permissão para lá residirem sem pagar em troca de um regular “contributo” (contribuição) nos serviços de limpeza e de atendimento aos peregrinos.

Durante as pesquisas de campo na Itália, escutei inúmeras vezes italianos/as se referirem à entrada da Romênia e da Bulgária na UE em 2007 como uma “desgraça” ou como um “grande erro”. O fato é que devido à normativa comunitária da livre circulação e permanência na UE dos cidadãos dos países membros, depois daquele ano os milhares de imigrantes romenos que estavam irregulares e/ou que passavam temporadas de três meses na Itália e depois eram obrigados à retornar à Romênia (devido à duração do tempo que era permitido para um cidadão deste país permanecer sem algum tipo de visto no território italiano) passaram a poder ficar na Itália o tempo que quisessem. Em virtude disso, houve milhares de reunificações familiares, retornos e chegadas de romenos à Itália, fazendo com que esta coletividade imigrante ultrapassasse todas as demais e se tornasse a maior em termos numéricos no território italiano.

Baseado no recenseamento realizado pelo Istat sobre a presença romena na Itália no período de 2000 até 2010, Mauro Albani (2010) comenta que é possível falar de uma verdadeira “explosão” desta presença: de cerca de 42 mil residentes regulares em 1 de janeiro de 2000 para aproximadamente 888 mil (isto é, 21 vezes mais) dez anos depois. Talvez por isso, seja recorrente em parte da mídia italiana o fato de diversos jornalistas se referirem a este vertiginoso crescimento como uma “invasão”. Albani (2010: 85) também comenta que a princípio concentrada na área metropolitana de Roma, esta disseminação de imigrantes romenos se deu em praticamente todo o território italiano, e cresceu, principalmente, em regiões como o Lácio, a Lombardia e o Piemonte.

Com base nas experiências que vivenciei durante a pesquisa de campo no território italiano, posso dizer que uma impressão muito forte que ficou em mim foi a de que os romenos constituíam o grupo imigrante que mais sofre preconceitos e discriminações e que isso ocorre, sobretudo, devido a duas associações muito frequentes que os meios de comunicação de uma forma geral costumam fazer: a primeira entre o aumento da presença romena e o aumento da criminalidade em todo o país e a segunda entre ser “romeno” e ser “Rom” ou “zingari” (cigano), termos que foram muitas vezes utilizados por vários(as)

promove a unidade e a fraternidade universal com uma forte vocação ao ecumenismo e ao diálogo com pessoas de diversas convicções.

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italianos(as) com os quais convivi como se fossem sinônimos133. Esta impressão adquire o

respaldo científico de diversos estudos que foram realizados sobre este fenômeno (Cingolani, 2009; Marinaro e Pittau, 2010, Natale, 2006). É comum parte significativa da mídia e da esfera política italiana incentivar a atribuição automática de culpas individuais para coletividades étnicas inteiras e isso influencia substancialmente no temor e na desconfiança generalizada que os romenos sofrem na Itália, já que certas ações criminosas e/ou violentas isoladas que foram cometidas por alguns romenos foram alardeadas pela imprensa sensacionalista do país e contribuíram substancialmente para a estigmatização de toda aquela coletividade (Vulpiani, 2010; Licata, 2010) 134.

Como já comentei na introdução, na Itália e na Espanha/Catalunha os brasileiros se inserem em um novo sistema de relações sociais no qual a noção de alteridade se refere não apenas aos italianos e aos espanhóis/catalães, mas também a outros grupos imigrantes, em especial os romenos, que devido a fatores demográficos, correspondem a cerca de um quinto dos imigrantes na Itália e um dos maiores grupos imigrantes no território da Espanha. Nesse sentido, ter podido conviver, enquanto um brasileiro, com aqueles romenos no dia a dia das pesquisas no território romano, presenciar suas relações cotidianas com os/as italianos/as e outros estrangeiros (alguns destes, peregrinos brasileiros), tornar-me amigo de alguns daqueles romenos e poder de alguma forma participar das suas vidas familiares, foi certamente uma das experiências mais enriquecedoras que tive durante a pesquisa de campo na Itália.

Já que o cerne desta tese são as estratégias de sobrevivência e integração social que são desenvolvidas por imigrantes brasileiros nas cidades de Roma e Barcelona para lidar

133 A problemática dos zingari em geral e dos Rom em particular no território italiano é

extremamente complexa. De acordo com o respeitado estudo de Marco Impagliazzo (2008), os Rom (a maior das etnias de povos nômades que podem ser encontrados na Itália, principalmente nas regiões centrais deste país) e os Sinti (etnia de povos nômades mais presentes nas regiões norte da Itália) estão presentes no território italiano desde meados do século XIV e na atualidade, representam os grupos que sofrem mais exclusão social e que mais encontram dificuldades para ter acesso aos serviços de welfare

state. Ainda segundo Impagliazzo, a maioria dos indivíduos que se identificam como Rom ou zingari (mais de 70%) possuem a cidadania italiana, embora na maioria dos casos seja tratada como estrangeiros ou “invasores” até mesmo pelas autoridades. Um caso que evidencia isso foi a notícia publicada em 20/10/2010 sobre um italiano que por conta da sua afiliação étnica como Rom foi obrigado a ser registrado no Ofício de estrangeiros durante a desocupação de um campo nômade na província de Roma. Fonte:http://www.repubblica.it/solidarieta/immigrazione/2010/11/20/news/abusivi_e_regolari_a_confront o_le_due_facce_del_mondo_rom-9315854/ . Acesso em 21/11/2010.

134 Por conta destes fatores, Vulpiani (2010) salienta que os romenos integram, em termos

proporcionais à sua presença demográfica na Itália, a coletividade imigrante que, apesar de apresentarem significativas taxas de casamentos mistos com os italianos/as, encontra mais dificuldades para se integrar à sociedade italiana e ter acesso aos serviços de welfare state e que embora sejam predominantemente brancos, sofrem mais racismo até mesmo do que os imigrantes africanos. Não por acaso, a maioria dos romenos que são Rom ou Sinti constitui na atualidade o grupo social mais marginalizado do território italiano, com mais de 80% dos seus membros vivendo em campos nômades e abaixo da linha da pobreza.

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com as diferentes manifestações das políticas de welfare state nestas cidades a partir da análise de algumas trajetórias de vida, neste tópico irei refletir um pouco sobre as estratégias etnográficas que eu – enquanto pesquisador – tive que desenvolver e considero isso válido para evidenciar um pouco as condições através das quais vivi e desenvolvi as pesquisas de campo. Já que “trajetórias de vida” constituem um dos principais elementos analíticos desta tese, refletirei brevemente aqui sobre a minha própria trajetória enquanto um antropólogo brasileiro estudando outros brasileiros na Europa. Afinal de contas, enquanto estive na Itália e na Espanha, também fui de certa forma um imigrante, assim como meus principais interlocutores. Em Barcelona, morei numa casa “normal” ligada à Igreja Católica Romana e na qual moravam seis religiosos catalães. Por isso, refletirei aqui um pouco sobre o meu cotidiano na Itália, que considero mais rico em termos etnográficos.

Durante as refeições e nos momentos de sociabilidade no IMC, eu sempre procurava saber mais detalhes sobre as trajetórias de vida e relações familiares de seis dos onze romenos que viviam lá e com os quais eu tinha mais intimidade: Mariana Constantinovic, nascida em 1976, e seu marido, Nicola Constantinovic, nascido em 1967, ambos provenientes da cidade de Focșani, Nicolino, nascido em 1982, sua esposa Catarina, nascida em 1983 e seus dois irmãos: Tereza, nascida em 1973 anos e Ioan, nascido em 1978 (todos oriundos do distrito de Cluj, região da Transilvânia). Sempre procurando justificar que meu interesse em procurar saber mais detalhes sobre suas vidas tinha a ver com minha pesquisa, algumas vezes eu notava que embora fossem pessoas bastante generosas, eles – assim como fizeram alguns outros interlocutores brasileiros em Roma e Barcelona – duvidavam destas minhas justificativas e achavam que eu era, na realidade, uma pessoa muito “curiosa”, como certa vez Nicolino me falou abertamente.

Logo no primeiro almoço que fizemos juntos em novembro de 2010, Nicolino (que trabalha como mecânico) me contou que embora seus dois filhos, um com três e outro com um ano, tenham nascido no território italiano, ambos sempre eram tratados como estrangeiros e isso o incomodava bastante. Ele acrescentou que o fato de ser católico ortodoxo (como é a maioria dos romenos) também influencia no tratamento diferenciado que recebe dos italianos e que desde que chegou à Itália em 2001, já sofreu tantas discriminações que perdeu as esperanças de um dia ver sua família receber dos italianos o mesmo bom tratamento que eles concedem aos filipinos, “os imigrantes mais benquistos”

135. Quando me despedi de Nicolino em 11 de abri de 2011, ele me disse que sua vida seria

135 O estudo de Romulo Salvador (2010) confirma que os filipinos constituem, de fato, a

coletividade imigrante mais benquista e que menos sofre discriminação da sociedade italiana. A forte religiosidade católica romana e as difundidas percepções de que os filipinos “respeitam a família” (nos

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bem melhor se a maioria dos italianos com os quais convive fosse como eu: uma pessoa que “não o olha torto, de cima pra baixo”, que nunca o discriminou e que também não o tratou diferente pelo fato dele ser romeno. Nicolino conclui dizendo: “Di cuore te dico una cosa:

conoscevo poco del Brasile e dei brasiliani, pero adesso ho amore per questo paese” (De coração de digo uma coisa: conhecia pouco do Brasil e dos brasileiros, mas agora tenho amor por este país).

Mariana várias vezes me disse que só estava na Itália pra que seus dois filhos, Ionutz, nascido em 1995, e Valentin, nascido em 1991, pudessem viver e estudar “bem” na Romênia: o primeiro em uma escola particular de ensino médio, e o segundo, em uma Faculdade privada de Medicina. Ionutz e Valentin visitavam seus pais na Itália duas vezes ao ano: em agosto e nas festas de final de ano, assim eu tive a oportunidade de conhecê-los pessoalmente durante o mês de dezembro de 2010. Certo dia, Marina me relatou que sua vida sempre foi e continua sendo muito difícil, principalmente porque ela é uma imigrante romena na Itália. Eu então lhe fiz uma pergunta: se morando há mais de quatro anos de forma regular na Itália, se de alguma maneira ela se sentia “integrada” àquele país. Mariana respondeu prontamente: “Mai, questo non è possibile per una persona come io. Forse, se io

fossi venuta dal Brasile come te” (Jamais, isso não é possível pra uma pessoa como eu. Talvez, se eu tivesse vindo do Brasil como você) e acrescentou que vive isolada dentro do IMC, que a única alegria que tem durante o dia é conversar com seus filhos via Skype e que evita ao máximo sair de casa.

Quando lhe perguntei a razão disso, Mariana desabafou que quando abre a boca fora do IMC, os italianos prontamente costumam notar que ela é romena pelo seu forte sotaque e em virtude disso, comumente a tratam de maneira diferente. Se for ao comércio de Roma, por exemplo, Mariana disse que em lojas “populares”, os italianos, em geral, a olham e a tratam como se ela fosse prostituta e em lojas “requintadas”, os funcionários a vigiam e a seguem com a certeza de que, por ser romena, ela é uma ladra em potencial. Eu fiquei emocionado no dia em que Mariana me contou que não vê a hora de voltar de vez pra Romênia, assim que Ionutz e Valentin estiverem formados e viver lá com eles para o resto

sentidos mais tradicionais que a maioria da sociedade italiana atribui a este termo) constituem fatores cruciais neste processo, segundo Salvador. Um ponto interessante é que segundo Nicolino e outros interlocutores romenos e brasileiros, os norte-americanos são o grupo estrangeiro mais “fechado” na Itália, mas que por serem “endinheirados”, não sofrem preconceitos dos italianos. De acordo com algumas experiências e observações que fiz na Itália, concordo com Nicolino e esta opinião foi respaldada por sete italianos/as de idades variadas, que também acham que os norte-americanos, em sua maioria, são os estrangeiros que mais vivem “isolados” em Roma: em condomínios fechados, sem falar italiano, estudando em escolas e Universidades próprias e convivendo em ambientes bastante específicos, elitizados e nos quais só entram poucos italianos e outros imigrantes também “endinheirados”.

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de sua vida. Infelizmente, parece que haverá no futuro um desencontro entre Mariana e seus dois filhos: já que Ionutz e Valentin comentaram comigo que não suportam mais viver na Romênia e que após se formarem na Universidade, pretendem “ganhar o mundo” e tentar a vida na Inglaterra ou na Noruega.

Esse episódio particular deixou claro para mim que a possível experiência de “fazer etnografia em casa”, com pessoas com as quais podemos conviver cotidianamente e estreitar laços de amizade e afeto, pode ser uma estratégia muito produtiva em termos acadêmicos para a coleta de dados, mas também bastante desgastante em termos pessoais, no sentido do acentuado grau de envolvimento com os problemas particulares destas pessoas; problemas estes os quais somos propensos a nos identificar quando nos sentimos afetivamente próximos destes interlocutores.

De maneiras específicas e condizentes com a minha trajetória de vida, para efetivar as pesquisas desta tese eu tive que desenvolver, estratégias etnográficas através de formas

de subjetivação produzidas a partir do apoio emocional vinculado às lógicas de redistribuição e reciprocidade produzidas pela noção de dádiva (Mauss, 1974) e também a partir do sentimento de Communitas (Turner, 1974). Como veremos nos próximos capítulos, boa parte dos meus interlocutores desenvolveram estratégias de sobrevivência e integração social também a partir destas duas categorias analíticas. O que diferencia o que chamo de “estratégias etnográficas” que desenvolvi das de “sobrevivência e integração social” feitas pelos interlocutores, são, principalmente, as motivações e os objetivos de cada uma destas duas modalidades. Tomar consciência destes fatores ainda durante as primeiras semanas de pesquisa na Itália fizeram com que meus intentos de escrever este trabalho a partir de efetivos diálogos com os interlocutores deixassem de ser ideais e passassem a fazer parte do cotidiano etnográfico e dos imponderáveis que marcam a trajetória de qualquer imigrante, ainda que temporário, como eu fui.

No caso das minhas experiências no IMC, o melhor de tudo isso foi que eu passei a me entender melhor a minha própria identidade a partir destas relações e experiências etnográficas íntimas que pude desenvolver com esta alteridade que era composta por tais romenos, pessoas pelas quais tenho afeto, respeito e amizade até o final de minha existência. No que concerne aos objetivos desta tese, espero que tais descrições ajudem os leitores a compreenderem porque, na opinião destes imigrantes romenos com os quais convivi no IMC, os brasileiros são imigrantes “privilegiados” na Itália. De fato, apesar dos problemas específicos que acometem alguns segmentos da heterogênea coletividade brasileira, em comparação com os romenos, a coletividade brasileira – tanto no território

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italiano, quanto no catalão – pode ser classificada como “privilegiada” no sentido de que é percebida, pela maioria da sociedade italiana e da catalã, como menos “ameaçadora” e mais “aberta” e “próxima” em termos culturais do que outros grupos imigrantes; o que faz com que para os brasileiros, em termos gerais, sejam oferecidas oportunidades laborais e de moradia que costumam ser poucas vezes concedidas para membros de outras coletividades imigrantes.

É interessante, pois diversos brasileiros que eu conheci em Roma disseram que se sentem tendo alguns “privilégios” apenas em relação aos romenos e aos africanos pobres, mas que, em geral, não se sentiam “privilegiados” enquanto imigrantes. Para eles, tal adjetivação merece ser atribuída apenas a certas coletividades, como a filipina. Diferentemente dos brasileiros, os imigrantes filipinos possuem representantes na esfera política romana e não são associados à prostituição, segundo tais interlocutores.

Pe. Mimmo Meloni, italiano natural da Sardenha e responsável pelo IMC, certa vez sintetizou bem essa percepção relacional sobre os imigrantes para mim: “Io vedo la

maggioranza dei brasiliani come persone vicine da me, oneste, che parlano una lingua che io capisco, che sono catolici, cioè, gente di casa”136. Os outros dois italianos que estavam

presentes naquele momento concordaram com Mimmo e isso parece que corrobora a perspectiva que eu já havia salientado anteriormente: a de que no particular sistema de relações no qual a coletividade brasileira está inserida na capital italiana, a noção de alteridade influencia não apenas nas relações interpessoais entre nacionais e imigrantes, mas também nas particulares estratégias de sobrevivência e nos respectivos processos de integração social e de acesso ao welfare state que circunscrevem o cotidiano dos grupos que integram cada coletividade estrangeira137.

Esta acentuada estigmatização que os grupos dos romenos sofrem na Itália e na Espanha dificulta, de uma maneira geral, o acesso deles a uma moradia própria e, além disso, revela uma interessante faceta da UE enquanto entidade governativa supranacional: o fato de que uma coletividade comunitária (como é a romena) possa, no contexto de imigração em dois outros países do bloco como a Itália e a Espanha, incorporar uma alteridade mais radical do que uma coletividade imigrante como a brasileira – cuja origem,

136 Eu vejo a maioria dos brasileiros como pessoas próximas a mim, honestas, que falam uma língua

que eu entendo, que são católicas, ou seja, gente de casa.

137 Por exemplo: Delfina Licata (2010) comenta sobre a taxa de “risco étnico” que é cobrada nas

apólices de seguro e de aluguel de apartamentos para as pessoas de nacionalidade romena. Devido a esta citada taxa, os romenos devem pagar 250 euros a mais do que pessoas de outras nacionalidades para realizar o seguro de um imóvel ou alugar legalmente uma moradia e por essa razão, eles são, dentre os grupos imigrantes, aqueles que mais sofrem com problemas que derivam da necessidade de viver em coabitações irregulares e nas áreas mais degradadas das cidades italianas.

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em termos políticos, é extracomunitária, mas que em virtude de fatores como “afinidade cultural”, particularidades históricas, casamentos mistos e famílias transnacionais (dentre outros fatores) pode ser considerada, por parte expressiva dos nacionais italianos e