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O Dividido associacionismo brasileiro e a mobilização política transnacional

“HOJE EM DIA, SER BRASILEIRO AQUI DÁ MORAL PRO CARA”

2.3 O Dividido associacionismo brasileiro e a mobilização política transnacional

Falando sobre o segundo domínio de transformações que envolvem o transnacionalismo imigrante, o político, Steven Vertovec (2007) comenta que as associações de imigrantes representam bem os processos recentes que circundam a extensiva institucionalização dos seus laços transnacionais. Para este autor, as alianças e os compromissos que são fomentados por tais associações repousam sobre reconfigurações da tríade identidades-fronteiras-ordens: tanto que, de modo crescente, pessoas de uma ou outra localidade particular consideram a si próprias como membros legítimos da identidade coletiva e da ordem social desta localidade, mesmo que eles morem fora de suas fronteiras. Em termos reflexivos, é crucial considerar que retóricas políticas contemporâneas de vários países (dentre eles o Brasil e a Itália) sobre suas “nações estendidas no exterior” (extended nations abroad) baseiam-se e ao mesmo tempo reforçam o sentido de bifocalidade dos imigrantes (Vertovec, 2007: 162) e que o direito do “voto all’estero” (voto no exterior) aos italianos que vivem fora e a criação do CRBE e do Portal “Brasileiros no Mundo” pelo Ministério das Relações Exteriores do governo brasileiro são alguns bons exemplos disso108. Tais retóricas, segundo Vertovec, ajudam a explicar o fato de que comunidades imigrantes estão cada vez mais se engajando nas vidas econômicas, sociais e políticas dos seus países de origem e os discursos políticos voltados para tais comunidades, usualmente, visam encorajar um sentido de pertencimento (mas não retorno) dentre estes “nacionais no estrangeiro” (nationals abroad).

normalmente apresentam maior preconceito e tendem a culpabilizar os próprios imigrantes pelas suas não-integrações na sociedade italiana.

108 Segundo o website do Ministério das Relações Exteriores (MRE) brasileiro, o Portal “Brasileiros

no Mundo” foi criado com o objetivo de “instrumentar e ampliar o diálogo entre o Ministério das Relações Exteriores e as comunidades brasileiras no exterior, e destas entre si”.

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Durante o período das minhas pesquisas de campo em Roma, havia quatro associações brasileiras nesta cidade: a Bramondo, a ADBI – Associazione delle Donne Brasiliane in Itália (Associação de Mulheres Brasileiras na Itália), a ACBI (Associação da comunidade brasileira na Itália) e a Libellula, todas as quatro são organizações não- governamentais. A Bramondo foi criada pela brasileira Luana Diniz e outros voluntários brasileiros e italianos em 2008 e segundo os seus estatutos, as ações que desenvolve se centram em ajudar os brasileiros que vivem em Roma, principalmente em questões jurídicas, de trabalho e de aprendizagem da língua italiana. Desde maio de 2011 ela é presidida por Enrico Angelino, italiano que como ele próprio costuma dizer, “possui sangue brasileiro” já que sua avó materna era brasileira. Durante o mês de março/2011 eu fui convidado por Denise (então secretária da Bramondo) para atuar como voluntário desta Associação, dando aulas de português para alunos adultos italianos.

Figura 22: Entrada da sede da Bramondo no bairro de Monte Mario Foto: Marcos de Araújo Silva

Presidida desde a sua fundação pela mediadora cultural brasileira Rosa Mendes, a ADBI tem o apoio à inserção laboral das mulheres brasileiras como enfoque central de sua atuação. Fundada em 1989, a ACBI em seu início tinha funções semelhantes às que atualmente são desenvolvidas pela Bramondo, mas segundo o brasileiro Carlo Palanti (que participou da sua fundação e que é o seu presidente desde 2004), por falta de incentivos governamentais, agora a ACBI se focaliza na educação e mediação intercultural e dos conflitos no ambiente escolar. Criada em 2001 por Leila Daianis –

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transexual MTF brasileira que desde 1980 trabalha como dramaturga, produtora teatral e mediadora cultural em Roma – a Libellula trabalha principalmente com os problemas específicos de saúde, inserção laboral e de moradia que sofrem as transexuais brasileiras e sul-americanas na Itália, sejam MTF ou FTM. Com base no contato que tive com os presidentes destas associações, posso dizer que o associacionismo brasileiro em Roma é bastante dividido, principalmente pelo fato de que tais presidentes e colaboradores compartilham de visões políticas diferenciadas e, além disso, muitas vezes competem entre si na luta pelo reconhecimento e apoio financeiro que às vezes é fornecido pelas esferas governativas da cidade de Roma e da região do Lácio às organizações de imigrantes em geral.

Como vimos acima, destas quatro associações que representam os brasileiros em Roma três trabalham diretamente na questão da inserção laboral e a ACBI (atualmente focada na esfera educacional) no passado já atuou nesta esfera da vida, tão crucial na vida das coletividades imigrantes de uma forma geral, que quando entrevistei em 03/02/2011 a sindicalista chilena Pilar Saravia, 42 anos, em resposta à minha pergunta: “Quais são os principais problemas que os imigrantes de uma forma geral enfrentam para viver na Itália?”, ela disse prontamente: “Il nodo è il lavoro”109. Concordo com esta interlocutora. Em parte significativa dos casos, a vinculação a um determinado segmento laboral e suas respectivas particularidades econômicas e socioculturais influencia, amplia e/ou restringe substancialmente nas possibilidades de acesso e permanência dos imigrantes brasileiros em geral a outras esferas sociais tais como a moradia, a saúde e a educação formal dos filhos. Certamente por isso, diversos/as interlocutores/as tenham comentado sobre a importância de “redes de contatos” (em especial aquelas compostas por amigos e familiares) e salientado que nos casos de ausências, “enfraquecimentos” ou até mesmo no intuito de fortalecer tais redes, o associacionismo imigrante se torne relevante para suas vidas.

Em Barcelona, conheci o cotidiano das principais associações de imigrantes brasileiros/as e pude perceber alguns pontos de similaridade e diferença entre o associacionismo brasileiro que é praticado naquela cidade e em Roma. Como já salientei na introdução a principal diferença que percebi é que a maioria das associações

109 A tradução literal desta frase seria “o nó é o trabalho”. Entretanto, na língua italiana, é uma

expressão idiomática dizer que alguma coisa constitui o “nó” de um grande problema no sentido de que tal coisa representa a questão crucial, a mais relevante para compreender o problema ao qual se refere em um dado contexto de conversação.

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de brasileiros em Roma se originou a partir das iniciativas dos próprios imigrantes e em boa parte, do diálogo com as esferas sindicais desta cidade. Já em Barcelona, as associações imigrantes brasileiras mais proeminentes nasceram, majoritariamente, de iniciativas particulares de alguns brasileiros/as, do incentivo da esfera diplomática brasileira, do diálogo dos seus representantes com tal esfera ou das iniciativas de catalães que moraram no Brasil. Esta minha hipótese encontra respaldo nas pesquisas de Leonardo Cavalcanti (2004, 2005), as primeiras de cunho socioantropológico sobre a comunidade brasileira em Barcelona e também nos diálogos que tive com este sociólogo brasileiro que mora na capital catalã.

Adriana Lopes é uma das principais representantes e articuladoras sociais da coletividade brasileira na região metropolitana de Barcelona, tendo fundado em 2007 e em parceria com outras duas brasileiras, a Can Brasil (Casa Brasil) – uma associação cultural focada na difusão da cultura brasileira na Catalunha, especialmente através da música, da literatura e das artes plásticas. Esta interlocutora comentou que os brasileiros não constituem uma “comunidade” na capital catalã em virtude do seu acentuado caráter “desunido e fragmentado”. Para ela, uma das principais razões para tais características é a falta de mediação de organismos como o Consulado Brasileiro e a Generalitat de Catalunya, o que faz com as associações encontrem dificuldades para dialogar efetivamente com a esfera estatal barcelonesa e/ou diplomática do Brasil em Barcelona. Adriana também apontou para as particularidades históricas e políticas (em particular a questão do nacionalismo catalão) da Catalunha que se refletiram na consolidação da presença brasileira naquela região e nas dificuldades que ela, como imigrante, encontrou na tentativa de estruturar tal presença e representá-la em termos associativos.

Antes mesmo de chegar a Barcelona eu já sabia que Maria Badet Souza era uma das principais representantes da coletividade brasileira na Catalunha, atuando em questões ligadas às esferas políticas, diplomáticas e culturais. Conhecê-la pessoalmente me fez perceber que além destas sua atividades, a sua trajetória de vida revela interessantes aspectos das estratégias que a heterogênea coletividade brasileira presente na capital catalã desenvolve dinamicamente para tentar sobreviver e/ou se integrar socialmente. Maria nasceu em 1981 na cidade de Belo Horizonte e veio para Barcelona em abril de 2007 com seu marido, Rafael Oliveira Caiafa, já com um projeto migratório bem definido: o de estabelecer-se na cidade, conhecer melhor a história da sua família – sua mãe era catalã e trabalhar como jornalista em projetos que pudessem beneficiar a

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coletividade imigrante brasileira presente na cidade. Maria possui a dupla nacionalidade – brasileira e espanhola – desde pequena e no Brasil, antes de emigrar para a Catalunha, atuava como assessora de imprensa do então prefeito da capital mineira. Ao chegar em Barcelona, trabalhou como vendedora em lojas e aos poucos, começou a participar de grupos de pesquisa na Universidade Autônoma de Barcelona (onde fez mestrado e doutorado) e também de algumas associações que ajudam imigrantes brasileiros ou que lhes representam, em particular o Coletivo Brasil/Catalunya e a APEC – Associação de Estudantes e Pesquisadores Brasileiros na Catalunha – fundada em 1992 e que foi presidida por Maria de 2009 até 2010.

Maria falou sobre o preconceito que as mulheres brasileiras sofrem na Catalunya com base em algumas experiências que ela sofreu desde que chegou a Barcelona, especialmente ofensas xenófobas de uma vizinha que ela denuncia à policia em fevereiro de 2012110. Esta interlocutora considera “perigosa” a ideia de que a “afinidade cultural” entre brasileiros e catalães explicariam o fato de muitos brasileiros, aos olhos dos catalães, serem vistos como pessoas “de casa” e não como sudacas. Para ela, tudo depende do contexto sociocultural em que cada pessoa se insere e das várias relações que são construídas a partir de questões afetivas e da inserção em algum segmento laboral. Segundo Maria, muitos brasileiros em Barcelona não têm respeito pela Catalunha e nem procuram compreender as razões que subjazem aos sentimentos de secessão em relação à Espanha e tais fatores, na opinião dela, explicam parcialmente o fato dos brasileiros constituírem uma das coletividades imigrantes mais desarticuladas do território catalão. Maria, assim como Flávio Carvalho e outros interlocutores, concorda que existe um protagonismo dos argentinos e equatorianos no que podemos chamar de “associacionismo latino-americano” em Barcelona. Para Maria, um dos principais fatores que explicam o caráter “dividido e fragmentado” da coletividade brasileira na Catalunha é que muitos brasileiros possuem um pensamento muito imediatista e não pensam em termos coletivos. Segundo ela, “a comunidade brasileira

na Espanha é amadora, muito amadora em termos associativos”.

Maria é independentista, defende a criação de um Estado que seja separado da Espanha e acredita que isso melhoraria a vida de todos catalães, principalmente nas políticas de bem-estar social, que não sofreriam tantos recortes em virtude do “déficit

110 Nos anexos, encontra-se a carta que Maria Badet divulgou em redes sociais e na qual ela relata

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fiscal”. Ao falar sobre as razões que lhe fazem sentir-se uma “cidadã do mundo” catalã e brasileira, Maria apontou para um elemento histórico: seu avô materno lutou na resistência anti-franquista na Guerra Civil Espanhola, foi para o Brasil com menos de 30 anos, passou a maior parte de sua vida como um imigrante que manteve sua identidade catalã, mas que ao mesmo tempo, se integrou bem à sociedade brasileira. Este exemplo familiar fez com que a noção de bifocalidade (Vertovec, 2007) tivesse, de certa forma, sempre circunscrita a trajetória de vida de Maria e por essa razão, tenha sido “natural” que ela tenha construído, assim como seu avô, um forte sentido de duplo pertencimento e a percepção de que possui uma identidade transnacional. Para Maria, as principais estratégias de sobrevivência e integração social que ela desenvolveu foram participar de diferentes espaços associativos e de mobilização social, não apenas de ONGs, mas também formais de participação social que a Generalitat de Catalunya e o Ajuntament de Barcelona proporcionam através do chamado “presupuesto

participativo” (orçamento participativo).

Maria foi uma das doze pessoas eleitas para o Conselho de Cidadania do Brasil em Barcelona, que foi formado em março de 2012111 e ficou responsável pelo setor de Comunicação deste Conselho. A tese de Doutorado em Comunicação que Maria Badet defendeu em 2011 foi sobre a construção social do imaginário sobre a mulher brasileira nas cidades de Barcelona, Sabadell e Sitges (Badet Souza, 2011) e uma das personalidades brasileiras que ela analisou neste seu trabalho foi a ex-vedete Regina dos Santos – um dos mais famosos referenciais da mulher brasileira na Espanha, com significativa participação no mundo midiático em geral e televisivo em particular do país. Dentre os projetos e iniciativas de que participou desde que mora em Barcelona, Maria considera especial aquele que procurava ajudar a população carcerária brasileira na Espanha, país que segundo divulgados em 30 de 2012 fornecidos pelo Ministério das Relações Exteriores (MRE) brasileiro, contava com o maior número de brasileiros/as presos/as fora do Brasil: 950 pessoas112.

Conscientes destes fatores que circunscrevem a maioria das iniciativas de associacionismo dos imigrantes brasileiros na Europa em geral e que foram citado por Maria a partir da realidade catalã, alguns interlocutores que conheci em Roma e em

111 Convidado por Flávio Carvalho, eu participei como voluntário da Comissão Eleitoral que elegeu

este Conselho.

112 Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/noticias/0,,OI5868576-EI306,00-

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Barcelona apresentaram novas modalidades de articulação e mobilização para tentar conseguirem seus objetivos e interesses, sejam estes particulares ou inerentes ao segmento ao qual pertencem. João Carlos Navarrete, Flávio Carvalho e Leila Daianis são três interlocutores cujas trajetórias de vida evidenciam bem como as práticas de mobilização política transnacional constituem importantes estratégias de sobrevivência e integração social que ajudam diversos segmentos das coletividades de imigrantes brasileiros presentes nas cidades de Roma e Barcelona a lidar com as dinâmicas sociais que passaram a fazer parte dos seus cotidianos, em especial a partir da crise econômica iniciada em 2008.

Flávio Carvalho nasceu em 1971 na cidade de Olinda e é graduado em Ciências Sociais pela UFPE. Ele mora em Barcelona desde 2005 e desde então, desenvolveu diversas atividades: foi um dos fundadores da Rede de Brasileiros na Europa (coordenando a área da Espanha), organizou as atividades do Centro Cultural Brasileiro em Barcelona de 2009 até 2011, trabalhou como consultor da FAO/ONU e da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), fundou com outros brasileiros e catalães o Coletivo Brasil Catalunya em 2007 – que passou a ser a primeira organização específica de cooperação internacional entre o Brasil e esta Comunidade Autônoma Espanhola – e em 2010 foi eleito um dos representantes do CRBE. Em abril de 2011, Flávio deixou este cargo no CRBE para assumir o posto de auxiliar administrativo no Consulado do Brasil em Barcelona – cargo que ele conseguiu após ser aprovado em uma seleção pública simplificada.

Flávio veio para Barcelona já casado com Laura, uma catalã com quem ele teve dois filhos: João, nascido em 2008 e Eloi, nascido em 2007. Em 7 de setembro de 2011, este interlocutor conseguiu a nacionalidade espanhola e achou interessante quando recebeu o seu NIE (Número de Identificação de Estrangeiros): atrás deste documento, não consta o nome dos seus pais, e sim da sua mulher. Falando sobre as estratégias de sobrevivência e integração social que teve que desenvolver desde que chegou à Catalunha, Flávio disse a transnacionalidade foi uma esfera que ele sempre soube explorar bem e a seu favor e como exemplo disso, comentou que a sua eleição para o CRBE foi reflexo de um trabalho transnacional, que contou com uma acentuada articulação e mobilização através da internet dos seus familiares em Pernambuco e também de pessoas de outros países da Europa (que participavam da Rede de Brasileiros da qual ele fazia parte). O resultado foi que dos 92 votos que Flávio recebeu

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para ser eleito, a maioria veio de fora do território espanhol, onde ele reside e é mais conhecido: “A minha eleição foi um claro reflexo da transnacionalidade que perpassa a

vida de muitos brasileiros aqui e que eu soube explorá-la a meu favor”, comentou. Em 2008, Flávio organizou um perfil sócio-demográfico da comunidade brasileira na Espanha e quando lhe perguntei sobre a questão da fragmentação da coletividade brasileira na Catalunha, que faz com que os/as brasileiros/as precisem desenvolver variadas estratégias de sobrevivência e integração social, ele comentou que para cada segmento de brasileiros/as costuma desenvolver estratégias específicas a partir das relações que têm com parte da sociedade catalã com a qual convive. É por isso que, para Flávio, é possível falar sobre “desigualdades transnacionais que se

reproduzem” e também sobre “capas sobrepostas”, isto é, preconceitos, estereótipos e consequentes falas de oportunidades que fazem parte das trajetórias de vida dos/as brasileiros/as antes e depois de adentrarem na Europa. Tais fatores, segundo Flávio, são potencializados por questões como o gênero, a situação jurídica, o perfil socioeconômico, a “bagagem intelectual” e os laços familiares que os “brasucas” mantêm ou com os que ficaram no Brasil, com os que estão retornando para lá e com os que permanecem na UE. Flávio acrescentou que muitos brasileiros, equivocadamente, acham que o processo de integração é unidirecional e não percebem o quanto isto afeta negativamente suas trajetórias de vida enquanto imigrantes.

João Carlos Navarrete nasceu na cidade de Mirassol (estado de São Paulo) em 1981, é formado em Administração e Finanças e atualmente trabalha como sócio majoritário de uma escola de idiomas em Barcelona e como supervisor técnico dos projetos de exportação e importação de um porto seco localizado na cidade paulista de São José do Rio Preto. Embora seus pais tenham nascido no Brasil, João Carlos é descendente de espanhóis tanto pelo lado materno, quanto pelo paterno, já que todos seus avós eram andaluzes. Por conta disso, toda a família de João Carlos (pai, mãe e os cinco irmãos) possui a cidadania espanhola (além da brasileira), embora apenas ele resida na Espanha. Este interlocutor vive na Europa desde 2000 e antes de se estabelecer em Barcelona em 2011, percorreu a seguinte trajetória migratória: de 2000 até 2005 em Madri, entre 2006 e 2007 em Londres, do final de 2007 até 2010 em Castilha e León, depois mais um ano e meio na capital inglesa até transladar-se para a capital catalã. Em todos estes seus anos como imigrante na Europa, João Carlos fez cursos superiores, trabalhou em variados setores (construção civil, hotelaria, restaurantes) e sempre visitou

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sua família no Brasil ao menos uma vez por ano. Estes contatos regulares com sua terra natal lhe permitiram se transformar em um “empresário e ativista transnacional”.

Explicando porque se considera um “imigrante ativista”, João Carlos falou da sua participação em projetos que se originaram de anseios dele e de outros brasileiros na Espanha e que acabaram se concretizando graças aos seus empenhos numa constante “mobilização política transnacional” através de redes sociais da internet. Dentre estes projetos de que participou e que obteve êxito, João Carlos fez referência àquele que se transformou no Decreto Legislativo 518/08 da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional. Aprovado em 17 de junho de 2008 pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ), este projeto – oriundo de uma iniciativa popular da qual João Carlos foi um dos idealizadores – ratificou um acordo entre Brasil e Espanha sobre reconhecimento recíproco de carteiras de habilitação de motorista (CNH).

Após a aprovação no Plenário da Câmara, este acordo bilateral pôde entrar em vigor e permitir que desde 7 de abril de 2009, brasileiros possam dirigir em território espanhol com CNH brasileira e, pelo princípio da reciprocidade, que cidadãos espanhóis também possam dirigir no Brasil com o documento emitido pelas autoridades espanholas. Este projeto foi aprovado na CCJ graças ao parecer favorável emitido pelo relator, o então deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), que afirmou que o acordo atende aos princípios da Convenção de Viena sobre Trânsito Viário (1968), da qual Brasil e Espanha são signatários. João Carlos e alguns outros brasileiros que viviam na Espanha e que estavam envolvidos neste projeto, tiveram a possibilidade de dialogar com Hugo