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4. Trajetória metodológica

4.2. Movimento das RMS no Ceará

A primeira turma de RMSF do Estado teve início em 1999, no Município de Sobral, como parte do movimento de municipalização da saúde. Composta apenas por médicos e enfermeiros da ESF do município, era conduzida pela Secretaria Municipal de Saúde através da Escola de Formação em Saúde da Família Visconde de Sabóia (EFSFVS), em parceria com a Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA) para a certificação dos residentes. A datar da segunda turma, em 2001, houve a inclusão de outras categorias profissionais, dentre elas, a psicologia. As duas primeiras turmas foram financiadas com recursos próprios do referido município, apontando a importância dada aos processos de formação de profissionais para a efetivação de uma modelo de atenção baseado na APS.

Em 2002, a terceira turma contou com incentivo federal de 25 bolsas para residentes e houve um processo seletivo amplo, que proporcionou a vinda de profissionais de outros Estados. Esse momento marca não só o reconhecimento do Programa pelo MS por meio de incentivo (bolsas), mas também um reconhecimento na região (Martins, Parente, Sousa & Sousa, 2008; Parente, Dias, Chagas & Craveiro, 2006). A quarta turma foi financiada com recursos municipais, com o objetivo de qualificar seu quadro profissional (Martins et al., 2008) e foi o último grupo com a participação integrada da categoria médica. Segundo Souza (2012), até a quarta turma, predominou um modelo pedagógico com forte componente

conteudista, centrado na formação em serviço e no aprofundamento teórico por meio de módulos ministrados por especialistas.

A contar da quinta turma (2005-2007), a residência contou com incentivo federal para bolsas, inicialmente, para residentes e docentes e, posteriormente, apenas para residentes. Também adotou um modelo pedagógico inovador amparado na educação permanente, na educação popular, na educação por competências e na promoção da saúde (Souza, 2012). O objetivo geral do Programa era construir competências técnicas, humanas, sociais e políticas orientadas para a promoção da saúde. Para tal, as atividades eram organizadas em quatro eixos: 1) vivências teórico-conceituais, nas quais os conteúdos eram abordados conforme a concepção de educação permanente e por meio de metodologias participativas; 2) vivências nos territórios, segundo a inserção nos territórios da ESF; 3) vivências de extensão, nas quais o residente tinha a oportunidade de vivenciar a realidade de outros programas ou serviços; e 4) vivência de produção científica, que consistia na construção de um trabalho de final de curso para obter a certificação.

A sexta e sétima turmas (2008-2010) ocorreram simultaneamente em decorrência de atraso no repasse do financiamento do governo federal. A proposta pedagógica foi mantida, incluindo maior clareza no papel do tutor (como articulador no território) e de preceptor (responsável pela problematização dos saberes e práticas da categoria). Na oitava turma (2010-2012), houve consideráveis mudanças na proposta pedagógica com a organização das atividades por ciclos de aprendizagem, incluindo novos campos de saberes como a clínica ampliada, a abordagem coletiva e a organização dos serviços, e adotando como eixos transversais a ética e a interdisciplinaridade.

A nona (2012-2014) e décima (2014-2016) turmas foram as finalizadas mais recentemente. No contexto atual, a décima primeira turma (2018-2020) está em andamento.

Ao considerar as turmas de RMSF que ocorreram no período 2001 a 2016, desde a sua origem até a turma mais recente em funcionamento, há vinte e três (23) psicólogos egressos.

Com base na experiência de quase vinte anos com a RMSF, a EFSFVS implantou o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental (RMSM), em 2012, com estrutura organizativa e pedagógica semelhantes. O programa funciona em articulação com a Residência Médica em Psiquiatria e a Residência Multiprofissional em Saúde da Família. O diferencial é que os cenários de prática fazem parte da Rede de Atenção Integral à Saúde Mental (RAISM), que se propõe realizar uma atenção à saúde mental humanizada, de qualidade e de base comunitária, com formação voltada para a perspectiva antimanicomial. Foram formados dois (02) psicólogos na primeira turma, três (03) na segunda e, atualmente, a terceira e quarta turma estão ocorrendo simultaneamente.

O primeiro Programa de RMSF da capital foi proposto em 2009, pela Prefeitura Municipal de Fortaleza, em 2009, com o objetivo de proporcionar uma formação profissional que apoiasse o processo de ampliação da cobertura da ESF. Em sua organização didático- pedagógica, o Programa de RMSF propõe vivências de aprendizagem pelo trabalho, denominadas “Vivência de ser o profissional do território”, que corresponde a 80% da carga horária; aprendizagem teórico-prática, que engloba as Rodas de Categoria, Estudo de Caso e Fórum de residentes, caracterizados por espaços dialógicos e problematizadores dos/nos territórios; e aprendizagem teórico-conceitual, em que os referenciais teóricos são abordados por meio de métodos dialógicos e participativos. Além da primeira, ocorreram mais duas turmas (em 2011 e 2012). Porém, após mudanças de gestão, saída de corpo docente e redução das bolsas financiadas pelo MS, esse programa de residência deixou de funcionar. Dentre os egressos, identificamos nove (09) psicólogos.

Em 2013, a primeira turma da Residência Integrada em Saúde (RIS-ESP/CE) teve início com a articulação entre instituição formadora (ESP/CE) e instituições executoras

(Secretaria Estadual de Saúde e Prefeituras Municipais). A RIS é desenvolvida na capital e em municípios do interior, integrando dez programas de residência multiprofissional em saúde e um programa de residência em área profissional, tendo um componente comunitário e um componente hospitalar, com 11 ênfases (saúde da família e comunidade, saúde mental coletiva e saúde coletiva, enfermagem obstétrica, neonatologia, pediatria, infectologia, neurologia e neurocirurgia de alta complexidade, cuidado cardiopulmonar, urgência e emergência e cancerologia).

Tendo como desafio a interiorização da qualificação profissional para dar suporte à expansão da rede de saúde do Estado, a primeira turma da RIS ofertou 222 vagas. Dentre elas, 26 vagas para psicologia nos programas de saúde da família e saúde mental; e 26 para ampla concorrência em saúde coletiva (Gadelha, 2016). A segunda e terceiras turmas ofertaram respectivamente 212 e 198 vagas para a componente comunitária, somando 57 vagas para psicologia e 52 para ampla concorrência nos dois editais (ESP/CE, 2014a, 2014b).

Em relação aos egressos, foram formados 30 psicólogos(as) nas ênfases de Saúde da Família, Saúde Mental e Saúde Coletiva na primeira turma; 33 na segunda turma e 21 na terceira turma. Assim, esse programa possui 84 psicólogos(as) egressos(as). Vale destacar que a terceira turma concluiu após o processo de coleta de dados, não contabilizando para o total de egressos da pesquisa.

A proposta pedagógica está organizada em 1) aprendizagem pelo trabalho (imersão em serviço, plantões e estágios); 2) teórico-conceitual (aulas teóricas, rodas tutoriais e estudo individual na modalidade de educação à distância); e 3) aprendizagem teórico-práticas (Roda de Núcleo e Roda de Campo).

Atualmente, há 25 PRMS que lançaram editais para turmas em 2019, sendo 19 no ambiente hospitalar e 06 no âmbito comunitário (Apêndice C)12. Em relação às vagas, estão sendo ofertadas 84 para psicólogos, já incluindo as de ampla concorrência em saúde coletiva (26 vagas). É possível observar que estão distribuídas nas três grandes regiões do Estado, como maior expressão na capital, principalmente na componente hospitalar; e na região norte.