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5. Marcas da pós-graduação: experiências na residência multiprofissional em saúde

5.1. Perfil dos(as) participantes

Foram entrevistados 17 psicólogos(as) egressos(as) das RMS do Ceará que tiveram experiência de docência. As idades variaram entre 28 a 39 anos. A maior parte pertence à categoria “acima de 35 anos” (8 participantes), enquanto as categorias “entre 30 e 35 anos” (5 participantes) e “menor de 30 anos” (4 participantes) tiveram quantidades muito próximas16

. Em sua maioria, os(as) investigados(as) têm mais de 10 anos de formados (8 participantes) e entre 5 a 10 anos (6 participantes). Somente três se formaram há menos de 5 anos. Pouco mais da metade graduou-se em IES pública (10 participantes) e os demais, em IES privadas (7 participantes). Grande parte cursou a graduação na capital (11 participantes), cinco (5) em cursos no interior e um (1) na capital de outro estado do Nordeste.

Em relação ao tipo de residência multiprofissional cursada, 16 fizeram em saúde da família e um (1) em saúde mental. Em relação às pós-graduações strictu sensu, a maioria cursou ou está cursando mestrado (5 participantes) e sete (7), doutorado. Os cursos de doutorado são nas áreas de saúde coletiva, saúde pública e psicologia, e os mestrados nas áreas de saúde da família e educação.

Quanto ao tempo de docência, os(as) participantes estão distribuídos igualitariamente em: mais de cinco (5) anos de experiência docente; entre cinco (5) e dois (2) anos; e com menos de dois (2) anos de experiência. Considerando as experiências de docência, grande parte havia exercido docência em PRMS (8 participantes). Outras experiências citadas foram em sala de aula, nas graduações e especializações em psicologia e em outros cursos das áreas da saúde e das humanidades. Estes ministraram disciplinas mais gerais (“psicologia”, “ciência e profissão”; “história da psicologia” e “psicologia do desenvolvimento”), diretamente da área da saúde (“saúde coletiva”, “saúde pública”, “psicologia da saúde”, “psicologia” e “APS”, “educação e saúde”, “estágio básico” e “supervisionado”) e disciplinas mais ligadas às abordagens teóricas (“psicanálise”, “psicologia histórico-cultural”, “psicoterapia breve”, “psicoterapia de grupo”). Em especializações e em outros cursos de graduação, ministraram disciplinas relacionadas à “psicologia da aprendizagem”, “psicologia do trabalho e organizacional”, “psicologia social” e “psicologia comunitária”, “saúde mental” e “saúde coletiva”.

É possível observar que são professores jovens e que ministram grande variedade de disciplinas, tanto na psicologia quanto em outros cursos da área da saúde. Apesar da grande maioria dos entrevistados ter mais de 10 anos de formada, o mercado tem absorvido psicólogos que terminaram a RMS há pouco tempo. Esse movimento pareceu-me incomum, principalmente no contexto de valorização da pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) como espaço de formação de docentes e como critério de avaliação de cursos superiores.

Chamou-me atenção a quantidade de entrevistados que terminaram a residência há menos de 2 anos (5 participantes) e que exercem atividade de docência. Desses, dois realizam atividade de preceptoria da RMS e os outros três realizam atividades de assistência à saúde (atenção secundária) e docência em sala de aula simultaneamente.

Quanto à atividade principal atual, os resultados estão apresentados na tabela a seguir:

Tabela 2

Perfil dos psicólogos egressos das RMS do Ceará: atividade principal atual (dados próprios)

Atividade principal atual Quantidade de

egressos Locais de atuação

Bolsistas de pós-graduação 03 IES públicas

Docência 04

IES privada

RMS/educação permanente IES pública (substituto/ efetivo)

Docência e Assistência 07

CAPS (04) Hospital (01)

NASF (01) Clínica particular (01) Assessoria técnica e docência 03 Órgãos públicos (03)

Total 17

Em relação às experiências de docência, grande parte havia exercido atividade docente na função de tutor ou preceptor nas RMS (8 participantes). Outras experiências citadas foram em sala de aula, nas graduações e especializações em psicologia e em outros cursos das áreas da saúde e das humanidades. Em relação ao tempo de docência, os participantes estão distribuídos igualitariamente entre as seguintes categorias: mais de cinco (5) anos de experiência docente (6 participantes), entre cinco (5) e dois (2) anos (5 participantes) e com menos de dois (2) anos de experiência (6 participantes).

É interessante destacar que a maior parte dos egressos cursou RMSF. Os Programas de residência em saúde mental chegaram recentemente no estado, destacando a APS como uma área de expansão para atividade do psicólogo, principalmente por meio do NASF. Em dois estudos sobre egressos de um mesmo programa de RMS no Ceará (Dias, Silva, Freitas & Moreira, 2008; Melo, Chagas, Feijão & Dias, 2012), foi apontado que mais da metade estava atuando diretamente nas ESF, sendo que os demais estavam distribuídos nos segmentos da atenção em outros níveis, gestão e formação. A residência é reconhecidamente uma formação

padrão ouro para assistência à saúde (Dallegrave & Kruse, 2009). Entretanto, é possível

pensar os fatores que levam os egressos por outros caminhos, como a docência, por exemplo. Em que medida a docência é atrativa ou não?

Vislumbrar a atividade atual permitiu-me observar que os psicólogos realizam várias atividades simultaneamente, dentre elas a docência. A maioria a exerce em cursos de graduação em psicologia (07) e em outros como educação e serviço social (02); seguido de outros espaços da saúde (05). É fundamental discutir o momento atual da profissão, em que se precisa desse profissional, entretanto, em condições de trabalho e remuneração precárias. Esse aspecto será melhor abordado a seguir, em articulação com o tema da inserção profissional.

Foi interessante perceber a inserção de profissionais que se formaram em IES do interior assumirem atividades de docência também no interior, fazendo-nos refletir acerca dos movimentos de interiorização dos cursos de psicologia por meio da expansão do Ensino Superior e de mudanças nos projetos pedagógicos desses cursos com as DCN.

Entretanto, vale destacar que uma questão que se coloca é a qualidade da formação em IES privadas e, principalmente, interiorizada, cujos parâmetros de qualidade nem sempre conseguem ser bem acompanhados em relação à deficiência nas atividades de pesquisa e extensão. Macedo e Dimenstein (2011) indicam os riscos desse processo:

Enfim, essa expansão e interiorização da profissão estão a serviço de quê? De quem? De romper com um certo programa normativo/normalizador de condutas que é definidor de nossas ações profissionais e da forma como nos constituímos psicólogos, ou de deflagrar na (e a partir) da profissão discursos/intervenções capazes de criar possibilidades e espaços para a produção de alteridades e de afirmação de direitos? (p. 303)

Esses são pontos que se ligam às discussões posteriores acerca da inserção profissional e de como os profissionais recém-formados vêm desenvolvendo suas atividades nas políticas públicas, orientados por quais parâmetros técnico e ético-políticos e em que condições de gestão do próprio processo de trabalho.