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Movimentos sociais e a fragmentação da luta por terra e pela Reforma Agrária

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4.2. Movimentos sociais e a fragmentação da luta por terra e pela Reforma Agrária

As Ligas Camponesas são parte, portanto, do fio condutor da história das lutas sociais no Brasil. Como apresentamos, tratou-se de um poderoso movimento de massas com enorme capacidade de mobilização, especialmente no Nordeste nos estados de Pernambuco e Paraíba. A sua luta foi por mudanças no campo e a sua bandeira, a Reforma Agrária. As Ligas se articularam politicamente recebendo apoio de partidos políticos de esquerda que tinham objetivos de transformação social para além da extinção do latifúndio no Brasil. Mas, também foram combatidas pelas forças de representação da direita fundiária, inimiga da classe trabalhadora, quanto pelos setores reformistas do PCB e pela Igreja católica conservadora. Sem dúvida, as Ligas foram, no seu conjunto, uma ação política feita com determinação e coragem no decurso de 10 anos, fundamentada na união solidária na luta de milhares de camponeses pobres. Todavia, ficou expressa a imensa dificuldade de levar adiante o movimento, cindindo internamente, começando pelas suas lideranças. No decorrer da luta, sob tensões internas e embates externos, se desencadearam conflitos, dissidências político-ideológicas, discordâncias no que se refere às estratégias de condução das reivindicações, cisões entre grupos e rachas de lideranças, que foram minando o movimento e fragmentando a luta dos trabalhadores sem terra até que as Ligas foram extintas.

Todavia, guardando as devidas proporções relativas ao contexto histórico - político nacional e internacional no que as Ligas surgiram, hoje a pluralidade de movimentos sociais no campo não disputa diretamente no campo da mobilização de massas, espaço com partidos políticos, como foi o caso das Ligas com o PCB.

Na região do Nordeste que recortamos para a nossa análise (ver Figura 00, p. 75) os movimentos sociais cuja territorialização no campo é mais expressiva, devido ao número de ocupações de terras, acampamentos, ações

contra o agronegócio, famílias implicadas e conquista de assentamentos rurais de Reforma Agrária são a CPT e o MST (CPT, 2010; DataLuta, 2010). Cabe destacar que ação da CPT II – Nordeste, que atua nos estados de Paraíba, Pernambuco e Alagoas se perfilou, na história desta Pastoral, como uma ação radical de combate, ocupação e resistência dentro da terra. O MST, nos três estados mencionados, aglutinou massas de trabalhadores sem terra um pouco depois do início dos trabalhos de mobilização da CPT. Como também já foi colocado, as lideranças deste movimento surgem no bojo da CPT e seu espaço de construção de consciência política e de luta criado durante a ditadura. Portanto, entendemos este movimento originariamente como uma dissidência da CPT que ganha fôlego na luta por terra e pela Reforma Agrária no país, especialmente nas décadas de 1980 e 1990. Assim posto, o MST é um desdobramento da luta da CPT que sem perder seu elo místico, se desvincula da estrutura eclesiástica à qual a CPT está ligada, pois, ainda atuando no campo como um movimento social ela não é apenas movimento, ela é Igreja.

Colocando o foco na fragmentação e nas dissidências do MST que conseguimos identificar durante os nossos trabalhos de campo na Zona da Cana, movimentos como o MSP, BTG e MPaz na Paraíba; o MLT, MT em Pernambuco e; Mvia, MCL em Alagoas (ver Figura 01, p. 120) aglutinam sob a suas siglas trabalhadores canavieiros sem terra, porém sem uma estrutura orgânica previamente estabelecida. Os movimentos se cristalizam em entorno de lideranças, muitas delas carismáticas e politicamente formadas na militância do MST. Essas lideranças conseguem mobilizar algumas famílias acampadas que, logo depois, reconhecem-nas como coordenadoras dos grupos. Um dos limites desta prática, observado no processo de dissidência do BTG do MST – Paraíba e da posterior fragmentação interna do BTG e criação do MPaz, é o surgimento de tendências dos “novos movimentos” ao caciquismo personalista. A centralização das decisões em torno de uma única liderança, ou pequeno grupo de lideranças, vai de à criação e manutenção dos mais elementares princípios de organização coletiva que um movimento de maior magnitude exigiria.

O processo de fragmentação da luta, na maioria dos casos, dá-se pelas dissidências políticas e ideológicas dessas novas lideranças no interior do MST, embora não se trate apenas de rachas entre a coordenação do

movimento e as suas bases, estas fendas acontecem também por intermédio de relações político-partidárias às que os novos grupos se aliam. Todavia, nos acampamentos, os movimentos dissidentes do MST na Zona da Cana essa relação não foi identificada. Via de regra, os trabalhadores sem terra, acampados inicialmente sob a coordenação do MST, que criaram dissidências internas e acabaram se organizando em novos acampamentos “autônomos”, o fizeram já na condição de líderes. Eles levaram na sua bagagem lições de luta e organização da classe trabalhadora no campo, e isso se reflete na organização dos acampamentos, nas estratégias de revezamento das famílias na ocupação das áreas, na divisão das atividades em grupos de famílias e coletivos de trabalho. Nesse primeiro momento, as lideranças organizaram os acampamentos, após a ocupação das áreas, dando início ao processo de territorialização da sua luta. Apesar do tempo que esses movimentos vão resistir na terra, não depende apenas da “garra” das suas lideranças e sim da clareza e formação política das suas bases. Porém, durante os nossos trabalhos de campo não constatamos em nenhum dos acampamentos visitados e nem nas nossas entrevistas com os seus dirigentes, a preocupação com o processo de formação política das suas bases.

Outra diferença dos movimentos dissidentes do MST analisados é que eles não têm nenhum programa agrário definido nem idéias claras de como a Reforma Agrária deve ser conduzida no Brasil. Eles apenas, tem certeza do seu direito legítimo de lutar por terra e da existência de terras “ociosas” ou devolutas nas proximidades das áreas às margens das BR que ocupam. A natureza desses movimentos é eminentemente funcionalista, seu objetivo maior é conquistar um pedaço de terra para cada uma das famílias. Diferentemente do MST, por exemplo, que não tem este como o passo final no processo da luta. Sendo assim entende-se que o movimento tem “vida curta”, já que o seu sentido e objeto da sua existência não é a mudança ou transformação social para além dos limites dos seus barracos, e sim a terra como trunfo. Portanto, uma vez assentados pelo INCRA, a mobilização e a luta perdem o sentido.

Em relação ao processo de mobilização de camponeses sem terra e trabalhadores canavieiros precarizados pelo agronegócio na Zona da Cana os movimentos dissidentes também apresentam mecanismos diferentes daqueles

utilizados pelo MST. Pois para eles não se trata de espacializar o movimento, procurando a consolidação das suas lutas, e sim resistir com um número de famílias suficiente para permanecer na ocupação da terra, pressionando o Estado, por meio do INCRA, para efetivar a desapropriação das áreas em litígio. Portanto, o trabalho de mobilização de trabalhadores sem terra, desempregados sazonais nas periferias das cidades e vilas do agronegócio da cana, ou dos posseiros nas grandes propriedades griladas e ou improdutivas, realizado pelo MST para a formação e ampliação dos seus quadros, não é um dos seus objetivos. Suas bases são famílias de trabalhadores sem terra que, geralmente, já formavam parte de acampamentos de outras bandeiras que desistiram pela morosidade na resolução do conflito, ou bem familiares que acabaram se unindo à luta.

O MST apresenta em relação aos movimentos dissidentes identificados na pesquisa, um elemento diferencial importante, que tivemos a oportunidade de constatar durante os nossos trabalhos de campo e frequentes visitas aos Centros de Formação Política do Movimento em Pernambuco, Paraíba e Alagoas. Este diferencial é a centralidade que o processo de formação e qualificação política dos seus quadros representa para a continuidade da luta.

A orientação ideológica do MST expressa claramente a defesa dos valores socialistas e a teoria revolucionária exerce, também, um importante poder de determinação na constituição da natureza política e social do movimento, é daí que comparece um dos seus elementos marcantes, qual seja, a ênfase na formação política das suas bases. Esta concepção levou ao movimento a prover os seus quadros da alfabetização, educação básica e ensino superior que historicamente lhes tinham sido negada.

O desenvolvimento do MST durante os quase 30 últimos anos permitiu- lhe a construção de uma estrutura organizativa que vai além dos interesses imediatos que observamos em outros grupos. A organização política construída dentro do movimento ampliou o debate do que inicialmente poderiam ser reivindicações econômicas e sociais para a esfera ética – política. Queremos destacar que, a diferença de outros movimentos de trabalhadores identificados nos acampamentos espalhados e isolados nas margens da BR – 101 durante a pesquisa, o MST sintetiza um corpo de reivindicações concernentes à toda sociedade. Por isso, apresenta um projeto nacional que não atinge apenas aos

trabalhadores rurais, mas a própria forma de organização social. A pauta de luta é uma pauta política com pretensões universalizantes, nem pontuais nem funcionais, totalizantes. Para Stedile (1997), o MST ao abraçar uma bandeira que ultrapassa o corporativismo, se diferencia de outros movimentos sociais no campo.

As Fotografias 20 e 21 mostram momentos distintos do processo de formação política e social dos militantes do MST nos Centros de Formação Estaduais da Paraíba e Pernambuco, nos que participamos como convidados. Destaca a importância da mística da luta, da simbologia da unidade em torno de um ideal, na hora de fortalecer a identidade coletiva dos sem terra.

Fotografia 20: Centro de Formação Política Patativa do

Assaré, Patos, PB. Momento de realização da mística.

Fonte: Trabalho de Campo, 2008.

Fotografia 21: Centro de Formação Política Paulo Freire,

Caruaru, PE. Momento de realização da mística. Normalmente ocorre a partir das 6 horas da manhã.

Todavia, quando questionamos os militantes do MST sobre os motivos que levaram os trabalhadores sem terra, que passaram pelas suas fileiras a criar dissidências e constituir movimentos autônomos na região, as contradições internas a toda organização coletiva comparecem. Para os nossos interlocutores, as falhas no processo de construção de consciência política durante a luta e nos cursos de formação são responsáveis em parte por essas fissuras internas.

Um dos militantes coloca a sua preocupação com o retorno dos companheiros, que estão se formando em instituições de nível superior, para o campo e a luta. Já que para ele a contrapartida da possibilidade de ampliar a formação da militância, se qualificando, seja a continuidade da luta. Segundo este:

(os cursos de formação) podem ser um investimento perdido que se faz na companheirada. Esses 60 que estão se formando agora tem que ter um compromisso político e não só pensar numa visão financeira, terminar o curso e arranjar um emprego e tal como tem ocorrido (...) e perder o objetivo central dessa conquista. A universidade pra mim é aprender lá e se voltar para a realidade dos trabalhadores do movimento.

(Militante do MST, Centro de Formacão Política Patativa de Assaré, Patos, Paraíba, 2007).

No entanto, o MST não apenas difere dos movimentos gerados a partir de dissidências internas. Ainda que a CPT nos três estados pesquisados apresentasse historicamente um perfil de Igreja combativa e de ações radicais, hoje as diferenças entre esta Pastoral e o MST são claras na hora de conduzir as lutas. A CPT discorda da ocupação de terras, isso acontece apenas em casos muito específicos, ligados à irmãos e padres bem carismáticos isso acontece. Segundo uma das trabalhadoras rurais acampadas pela CPT na região do Sertão na Paraíba7:

Aqui a gente usa a forma de que não pode quebrar a cerca. A ordem da CPT é sempre essa quando a gente chega numa ocupação, a gente só ameaça. A forma de ocupação é diferente da do MST. O MST quebra logo. Quer quebrar logo. A gente não quer a experiência deles para a gente. Porque

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Ainda que o Sertão não fosse o nosso recorte de pesquisa, durante os quatro anos que durou este trabalho, acompanhamos os diferentes movimentos que fazem parte do processo de luta e conflitos no campo nos três estados.

muitas vezes eles colocam a vida dos próprios companheiros em risco. Dizem que matam dentro dos acampamentos. É o que eu vejo dizer. Eu sei que eles quebram as coisas onde eles vão. Eu já vi reportagem que eles quebram vidro de carro. A gente foi no INCRA, mas de outro jeito. O máximo que fizemos lá foi pinchar um pouquinho as paredes, mas a gente não quebrou nada. A gente tem sempre cuidado. Eles (MST) quando vão querem quebrar as portas. Agora eu não sei de hoje em diante como é que a gente vai agir numa manifestação. (sic).

(Trabalhadora Rural do Acampamento Vida Nova I da CPT, Aparecida, Paraíba, 2008).

Todavia, como já destacamos, existem na história da luta da CPT nos três estados mostras da sua contestação ao poder do latifúndio e o grande capital no campo, longe do conformismo que parece repassar a nossa entrevistada.

Queremos destacar, diante do exposto que a fragmentação do Movimento de luta pela terra, a partir de processos de dissidência político- ideológica internos ao próprio movimento, desemboca na emergência de uma multidão de siglas sob as quais os trabalhadores sem terra se organizam e geram a sua representação política. Entendemos que a fragmentação em diferentes movimentos sociais da luta não implica, diretamente, na sua fragilização ou na fragilização da classe trabalhadora. O fato de que existam diferentes frentes que organizadamente lutam contra um objetivo comum, não enfraquece a estratégia, apenas muda a tática. Mas, quando falamos de fragmentação da luta, nos referimos a um processo que vai além da forma como esses movimentos se apresentam. Referimo-nos à fragmentação, não do movimento em si, e sim das suas bandeiras de luta. Ou seja, quando a ideologia que permeia a luta se perde: pois a construção de consciência de classe deixa de ser prioritária para a manutenção da luta e a constituição da identidade sem terra e o projeto de Reforma Agrária não passa da necessidade imediata de possuir uma terra onde produzir. Podemos afirmar que estamos diante de um processo que, não apenas segmenta o Movimento de Luta pela terra, senão que o fragiliza, ao ponto de aniquilá-lo. Quando a proposta das diferentes frentes nas que se divide o Movimento de Luta pela terra não confluem para o embate de classe, em um projeto único de desmonte da sociedade do capital na sua forma alienada de trabalho abstrato, a

fragmentação e as dissidências podem vir a reproduzir hoje o que a dissidência no interior das Ligas criou: as condições para a sua desaparição.

Por isso, acreditamos que enquanto as tensões e conflitos protagonizados pelos diferentes movimentos nos que se fragmenta a luta pela terra e a Reforma Agrária no Brasil, não se constituirem em resistências ao desenvolvimento desigual do capitalismo no campo, estaremos diante de um processo que reforça, no lugar de combater, o próprio capital.

Se esse processo pode ser definido a partir dos limites internos dos diferentes movimentos, ou seja, da sua proposta, sua ideologia e sua ação, também é determinado pelas transformações que o capitalismo, na sua natureza expansionista, desenvolve. Submetendo tudo sob o seu controle, se apropriando, portanto, tanto do trabalho como da sua subjetividade.

4.3. – A fragmentação da classe trabalhadora e a geração de identidades na luta pela terra

A fragmentação da classe trabalhadora e camponesa na luta pela terra, passa hoje pelo processo de geração de identidades de base territorial, que pulveriza o conflito fundiário em disputas atomizadas, de varias formas: pela retomada e demarcação de terras indígenas; pelo reconhecimento de comunidades remanescentes e territórios quilombolas; pelo acesso à terra dos camponeses e trabalhadores sem terra; pelo acesso à crédito dos assentados de Reforma Agrária entre outras. Esta fragmentação repercute diretamente, não apenas nas condições materiais, objetivas do trabalho, senão na sua subjetividade, na ideologia e, como vimos, nas formas de representação e organização da classe, como são os movimentos sociais no campo. Assistimos hoje à fragmentação da luta por terra em lutas identitárias, que acabam colocando os trabalhadores sem terra e camponeses em conflito entre eles, sejam eles indígenas, quilombolas, quebradeiras de coco ou assentados de Reforma Agrária. Este mecanismo é utilizado pelo capital e promovido pelo Estado para sufocar as resistências dos movimentos sociais que lutam, não apenas por terra, senão por outro modelo de desenvolvimento para o campo, onde a mercantilização da força de trabalho não seja a sua centralidade. Um modelo fundamentado em relações não capitalistas de produção de base agroecológica.

O papel do Estado é fundamental neste processo, pois é ele quem promove programas e políticas públicas de reordenamento territorial, baseadas nas identidades culturais dos povos do campo, como é a política de ordenamento dos “territórios rurais”, “territórios quilombolas” e “territórios indígenas”, ofuscando a situação de classe historicamente ocupada por esses sujeitos na formação territorial do Brasil, e fragmentando a luta da classe trabalhadora no campo.

Todavia, na Zona da Cana, o capital, na figura do agronegócio da cana- de-açúcar, cria constantemente estratégias para dominar esses territórios, monopolizando-os com o seu monocultivo, e para controlar as subjetividades do trabalho, sujeitando-as aos seus interesses de reprodução ampliada, como apresentamos no capítulo dois.

Está claro para nós que quando falamos de capital o seu domínio é absoluto. Para ele não há dicotomias: se indígena ou camponês, se trabalhador rural ou quilombola. Ao contrário, como coloca Ikuta (2008), para impor seu domínio total é preciso abranger tanto a esfera da produção como da reprodução, mas disseminando a fragmentação.

O Estado, como colocamos, joga um papel fundamental nesse contexto. Ao tempo que cria programas de apoio e financiamento para a agricultura familiar em áreas de Reforma Agrária, programas de crédito específicos para quilombolas ou projetos para desenvolvimento econômico de áreas de exploração coletiva em terras indígenas, contraditoriamente cria inúmeros empecilhos legais para que esses mecanismos de ordenamento territorial se concretizem e beneficiem as famílias trabalhadoras que os demandam. Assim, o capital atrelado ao Estado consegue, por meio de mecanismos institucionais, fragmentar a luta, adiar a pressão maciça por Reforma Agrária e burocratizar o acesso à terra pelos trabalhadores indígenas, quilombolas ou ribeirinhos. Além de, como foi colocado, criar cisões, enfrentamentos e conflitos internos à classe devido à superposição de interesses sobre determinados territórios.8

Queremos destacar que o Estado, sob modo de produção capitalista, age integralmente para cumprir os requisitos necessários à reprodução do

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Referimo-nos aqui aos conflitos gerados entre índios Tabajara no litoral sul da Paraíba e comunidades de remanescentes quilombolas que se declaram os donos históricos do mesmo território.

capital. Isso significa que o Estado serve como resguardo das pressões exercidas pelas classes sociais oprimidas, ao tempo que lança mão da prerrogativa que lhe cabe, intervindo na economia, planejamento territorial, a fim de promover os meios para uma acumulação sempre crescente do capital (HARVEY, 2005). Por isso, as ações do Estado se inscrevem num contexto de propriedade capitalista, onde devem por um lado assegurar a garantia da propriedade privada e a acumulação de capital; e por outro lado, garantir o “clima” social necessário para que aconteça essa acumulação. Todavia, o Estado capitalista precisa aparentar neutralidade, como coloca Offe (1984):

(...) daí resulta como problema estrutural do Estado capitalista, que ele precisa simultaneamente praticar e tornar invisível o seu caráter de classe. As operações de seleção e direcionamento de caráter coordenador e repressor que constituem conteúdo de seu caráter classista, precisam ser desmentidas por uma terceira categoria de operações seletivas de caráter ocultador: as operações divergentes, isto é, as que seguem direções opostas. Somente a preservação da aparência de neutralidade de classe permite o exercício da dominação de classe (p. 163).

Voltando às razões da fragmentação do trabalho na luta pela terra, como foi mostrado no item anterior, elas provêm também da fraca identidade de