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TABELA 10 – INCIDÊNCIA DA POBREZA NOS MUNICÍPIOS

2.2. O trabalho no eito

A condição de vida do trabalhador rural brasileiro, historicamente, tem sido extremamente precária. Partimos da ideia de que as condições de vida, incluindo a sua saúde, são fortemente influenciadas pela forma de organização da produção agrícola e, em consequência, do espaço agrário. Quando focamos para o trabalho e a vida no espaço agroindustrial da cana-de-açúcar, desde a perspectiva do trabalhador no corte da cana, a precariedade das condições de existência chegam a limites desumanos. Para Moreira; Leno et alli (1999), a modernização tecnológica da agricultura brasileira realizada no bojo do processo de subordinação real da agricultura ao capital, tem contribuído para:

(...) agravar as condições de vida da classe trabalhadora, como para multiplicar as situações de risco à saúde. Isto, seja através das novas situações criadas pelas mudanças levadas a efeito na organização e no processo de trabalho, seja pelos impactos promovidos sobre o meio ambiente que rebatem sobre a saúde do trabalhador (p. 3)

Na escala internacional, o debate sobre os impactos do monocultivo de cana-de- açucar e/ou oleaginosas destinadas à produção de combustíveis, sobre o meio ambiente é uma constante. Na busca permanente de energia renovável, a comunidade internacional não omite denunciar situações, nos mais diversos lugares, de descumprimento de leis ambientais que afetam a humanidade como um todo. No caso brasileiro, a comunidade internacional colocou restrições comerciais aos seus agrocombustíveis caso estes fossem procedentes do uso irracional da terra, principalmente se atentasse para áreas de grande biodiversidade. Deputados europeus chegaram a denunciar no seu Parlamento que, devido à produção de etanol na região Nordeste do Brasil, escasseia a terra para produzir

alimentos, o que levava aos agricultores a migrar e desmatar a Amazonas44. O que

queremos destacar com isso é que a degradação ambiental, que afeta à vida de

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trabalhadores e não trabalhadores acaba ocupando um papel importante no combate ao modelo de desenvolvimento agrário pautado nas monoculturas, porém a exploração do trabalhador e a precarização das relações cada vez mais perversas acostumam a ser entendidas como “mazelas” próprias do desenvolvimento.

No Brasil, a Norma Reguladora do Trabalho no Campo (NR 31) agrega em seu conteúdo jurídico: as relações de trabalho no processo de assalariamento e saúde do trabalhador rural; a democratização do acesso à terra aos trabalhadores rurais; e a autonomia e fiscalização no processo de produção no corte da cana (principalmente no momento da pesagem); entre outros pontos. Teoricamente, a segurança na atividade laboral dos trabalhadores no campo é responsabilidade dos empregadores, no caso da cana-de-açúcar dos usineiros, todavia isso não acontece.

Em trabalho de campo, constatamos na área de plantio da Usina São João, no município de Santa Rita no estado da Paraíba, trabalhadores no corte totalmente desprotegidos correndo riscos para a própria saúde e descumprindo a NR 31, como ilustra a Fotografia 01:

Fotografia 01 – Trabalhador no corte da cana sem as devidas proteções exigidas

pela NR 31. Usina São João – Santa Rita/PB.

Fonte:Trabalho de campo, 2008.

O descaso da Usina com os seus trabalhadores é evidente. Cabe destacar que, em muitas ocasiões, são as usinas que descumprem a NR 31, não fornecendo os materiais e

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suas atividades com segurança, preservando a saúde no ambiente de trabalho. Os principais riscos que um cortador de cana corre no eito são os decorrentes da presença de animais peçonhentos, do manuseio de instrumentos de trabalho cortantes e do trato com agrotóxicos. Outro risco presente no dia a dia é a insegurança e improvisação dos transportes utilizados nos seus deslocamentos.

Durante as entrevistas realizadas nos nossos trabalhos de campo, tanto com os representantes das unidades produtoras, como com os próprios trabalhadores, constatamos que ambas as partes conhecem a legislação, mas no caso dos trabalhadores, por falta de equipamentos adequados, submetem-se à precarização e arriscam o seu corpo cortando a cana sem luvas, caneleiras e máscaras específicas após as queimadas.

Segundo a legislação é competência dos empregadores (usineiros) do campo garantir as condições de trabalho adequadas, a higiene e o conforto para todos os trabalhadores do campo e da base industrial da usina, sendo garantias específicas para cada atividade e cada setor da empresa. Além disso, é obrigado por lei que a própria empresa realize avaliações permanentes de riscos para a segurança dos trabalhadores nas suas instalações. Caso seja necessário, a empresa deve tomar as medidas de prevenção e proteção cabíveis para garantir que todas as atividades, lugares de trabalho, máquinas, equipamentos, ferramentas e processos produtivos sejam seguros e estejam em conformidade com as normas de segurança e saúde. Dentro desse conjunto, subentende-se o uso de vestimentas e equipamentos de proteção pessoal, com a garantia de isenção de ônus para os trabalhadores. Entretanto, segundo depoimentos dos trabalhadores entrevistados, durante os nossos trabalhos de campo, as usinas e destilarias, de maneira geral, fornecem o primeiro facão. Caso este venha a se extraviar ou a se estragar pelo uso, a usina cobra o valor de R$ 15,00 reais por um novo, que é descontado na “folha de pagamento”. Também é comum que cada trabalhador receba uma garrafa térmica de 5 a 9 litros para armazenar água, da mesma forma que o segundo facão esta garrafa é descontada do salário. O salário é quinzenal e depende da produção individual da cada trabalhador, no contra-cheque especifica-se o valor produzido cada dia.

De acordo com a pesquisa de campo, constatamos que os trabalhadores contratados pelas usinas da região têm suas carteiras assinadas apenas durante o período da safra, o que significa que tem um contrato de seis meses. Nas Usinas de São

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João e Miriri na Paraíba, o trabalho é realizado no regime de “5 por 1”, ou seja, trabalha- se cinco dias seguidos e se folga 1, de modo que o dia de folga varia a cada 5 dias.

É comum que os trabalhadores no corte sejam arregimentados pelos chamados recrutadores, todavia o contrato e o pagamento são feitos diretamente na usina. O salário do trabalhador possui um valor fixado por produção. De maneira geral, para receber um salário mínimo (R$ 380,00) os trabalhadores têm que cortar 2,5 toneladas de cana por dia. Todavia, na mesma usina nos deflagramos com cortadores no eito sem cumprir as normas básicas de segurança no trabalho, a Usina São João, a meta diária estabelecida pelos empregadores, no período de realização desta pesquisa, era de 8 toneladas ao dia. Já no mesmo município, na Usina Japungu, a meta diária é de 6 toneladas. O que ficou claro nas entrevistas com os representantes das usinas foi que não estão interessados em trabalhadores que cortem menos cana do que a meta estipulada, independente de o limite assegurado ser de 2,5 toneladas.

Nessas usinas o pagamento dos trabalhadores é feito a partir da quantidade de cana cortada por dia de trabalho, portanto, é um pagamento por produção. Esta é uma das formas de trabalho, já denunciada por Marx no século XIX, mais desumanas e perversas, pois o trabalhador tem o seu ganho atrelado à força de trabalho despendida por ele por dia. Todavia, no corte da cana a perversidade e desumanidade são mais intensas, pois, o trabalhador não controla o seu processo de trabalho e, ao final do dia, não tem conhecimento do valor ganho, ou seja, desconhece o valor do trabalho executado. O valor do preço da cana cortada varia com o grau de dificuldade no corte a depender do tipo de cana e do terreno, assim como outras variáveis como a fertilidade do solo, o sombreamento etc. No entanto, nas usinas visitadas em trabalho de campo em Alagoas, usina Seresta no município de Teotônio Vilela (Mata Sul do Estado); usina São João, localizada no município de Santa Rita na Paraíba (Mata Central do Estado); e usina Maravilhas, localizada em Goiana em Pernambuco (Mata Norte do Estado), no período da nossa pesquisa, não se considerava a qualidade da cana que o trabalhador cortava, assim como também não se permitia que este cortador de cana acompanhasse e fiscalizasse o seu processo de trabalho completo, desde o corte até a pesagem da cana cortada. Esses trabalhadores, portanto, só sabem quantos metros de cana cortaram num dia, mas não sabem, a priori, o valor do metro de cana para aquele eito cortado. O desconhecimento se deve ao valor do metro de cana do eito que depende do peso da cana e varia em função da qualidade da cana, dependendo, pois, das variáveis já mencionadas. Nestas

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metro, através da relação entre peso da cana, valor da cana e metros que foram cortados. Tudo isto é feito nas usinas, onde estão localizadas as balanças, sem controle o controle dos trabalhadores. Mesmo cortando muitos metros, os trabalhadores podem ter um ganho pequeno, já que o valor do metro depende da conversão (peso da cana x valor da cana) que não é controlada por eles e sim pelos usineiros e os seus departamentos técnicos nas bases industriais.

Diante disto, podemos afirmar que, sem dúvidas, o pagamento por produção presente no século XXI no mundo do trabalho na cana, além de ser uma forma de salário perversa, desgasta os trabalhadores até a exaustão, já que a sua produção e salário dependem diretamente do seu esforço físico e destreza. Entretanto, se os trabalhadores adquirissem o controle do processo de trabalho e o controle do seu pagamento, as usinas perderiam o principal meio de pressão de que as empresas dispõem para aumentar a produtividade do trabalho. Isto porque o processo de trabalho no corte de cana depende única e exclusivamente da destreza do trabalhador, como colocamos. Depende de um conjunto de atividades manuais, exercido pelos trabalhadores, independente da administração do processo.

Na Zona da Cana dos estados visitados, o corte manual da cana é o majoritário nas usinas, e ele é um trabalho duro. Todavia, no corte manual, os trabalhadores têm o controle da atividade. Eles recebem o eito de cana definido pelo supervisor da turma e realizam as atividades exigidas: começam a cortar pela linha central, a linha na que será depositada a cana. Tem seguida, cortam as duas linhas laterais à central, de forma que todas as linhas do eito sejam cortadas simultaneamente, sem deixar linhas sem cortar. O corte é feito no nível do chão, as folhas verdes do topo são atiradas e depois os talos são amontoados. O procedimento no corte deve seguir algumas indicações: a cana deve ser cortada ao nível do solo sem deixar pedaços e a ponta da cana deve ser cortada tão próxima do ponto natural de quebra quanto possível. Isto porque é no pé da cana que se concentra a sacarose, mas corte rente ao chão não pode atingir a raiz para não prejudicar a rebrota. Dependendo da usina, o trabalhador pode amontoar as canas em feixes na fileira central, distando os montes um metro um do outro, ou pode fazer uma esteira de canas amontoadas sem necessidade dos montes. Esse procedimento evidencia, já no eito, que a quantidade de cana cortada por dia por trabalhador depende, para ganhar mais, da sua resistência física diante de uma atividade repetitiva, extenuante, realizada a

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céu aberto sob o sol, na presença de fuligem, poeira e fumaça e num período de trabalho que varia de 8 a 12 horas/dia. Resistência esta que leva a consequências dramáticas como as denunciadas no município de Ribeirão Preto, estado de São Paulo, nos anos de 2004 a 2008 quando faleceram por exaustão 21 trabalhadores rurais no corte da cana45.

De acordo com pesquisas realizadas junto ao Ministério Publico Federal “a vida útil de um cortador de cana é em media de 15 anos. Depois desse período, se ele estiver vivo, torna-se invalido nas suas atividades físicas” (2008, s/p) 46.

É importante lembrar que, no espaço canavieiro, o processo de precarização e exploração do trabalho fundamenta-se nos baixos salários e no voraz processo de corrupção na contagem da produção do trabalhador.

Contudo, as ações promovidas pelo Estado para proibir aos usineiros continuar pagando aos seus trabalhadores por produção, inexistem. Em principio, para os Sindicatos de Canavieiros (trabalhadores) e do Ministério Público Federal do Trabalho, o que está posto é a intensificação da fiscalização do trabalho no corte e na pesagem da cana. Porém, para que isso se leve a efeito seria necessário o aumento significativo tanto do contingente efetivo dos Sindicatos Rurais como do MPFT.

Um grande aliado à naturalização desta forma de barbárie é a grande mídia. Concordamos com Gadotti (2003), quando afirma que ela é:

(...) hoje uma grande indústria de vendas associadas ao capital monopolista. Ao lado dessa função principal que é uma função econômica, a grande mídia por ser também uma indústria cultural, exerce a função de difundir, reproduzir e legitimar as idéias da cultura dominante. (...) É nessa ordem de coisas que é programada a educação, a cultura e o lazer para a classe trabalhadora. É por essa razão que o controle político da grande mídia é muito mais ostensivo do que o controle da escola. (...) A mídia ganha em atualidade e extensão geográfica (principalmente a televisão) e em quantidade de indivíduos atingidos ao mesmo tempo. (GADOTTI, 2003, p.140, grifo nosso).

Gadotti nos chama a atenção para a influência da televisão e da mídia impressa na formação política da classe trabalhadora. Nas pesquisas realizadas nos principais jornais

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Para maiores informações sobre essa temática consultar site http://www.ecodebate.com.br/2008/08/15/relatorio-denuncia-mortes-de-trabalhadores-de-canaviais-por-

exaustao/ e mais o relatório encaminhado pela Plataforma Brasileira de Direitos Humanos Econômicos, Sociais, Culturais e Ambientais (DHESCA) para discussão na Organização das Nações Unidas.

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Maiores informações, vide Anexo II - “Ministério Público Federal e o trabalho precário no setor sucroalcooleiro”.

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produção canavieira na região Nordeste e no Brasil. As notícias sobre geração de emprego nos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, a criação de cooperativas para o processamento de cana-de-açúcar; o aumento da produtividade nas áreas canavieiras nos estados em questão e a mais nova proposta de produzir diesel com o caldo da cana48, ofuscam as denúncias que movimentos sociais e comissões pastorais (da terra, do migrante) fazem cotidianamente das condições de trabalho que essas “benfeitorias” provocam.

Os Jornais e a televisão têm divulgado massivamente as metas que deverão ser atingidas pela indústria sucroalcooleira para o Brasil até 2012 com o montante de 1 bilhão

de litros durante esse período49. No caso do estado de Pernambuco é público para a

sociedade que os programas relacionados ao processamento de biombustíveis têm inclusive ressuscitado várias usinas e engenhos que foram à falência nas décadas de 1980 e 199050 com a crise do Pro-Álcool.

De maneira geral, o conteúdo midiático constrói a visão de grande parte da sociedade, até mesmo da classe trabalhadora, sobre as vantagens da produção exponencial de cana-de-açúcar no Brasil, apontando positivamente o papel das usinas nos estados do Nordeste onde os índices de desenvolvimento humano (IDH) são os mais baixos do país. Todavia, como mostramos, pouco tem a ver os rankings de produção e exportação de produtos da cana-de-açúcar com a redução da miséria e o aumento da qualidade de vida dos trabalhadores na cana.

Conforme Soares (2010), a mídia reforça a importância do agronegócio: “pois ao divulgar os resultados das safras anuais, credita-os a este modelo” (p.54). O discurso frequente nas matérias sobre esse segmento produtivo, que são veiculadas na mídia televisiva, na mídia impressa ou em sites especializados, é sempre de valorização desse 47

Correio da Paraíba, Gazeta de Alagoas e Diário de Pernambuco.

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A produção de diesel com caldo de cana é, até certo ponto, um fato curioso porque o caldo da cana já é utilizado em larga escala no Brasil para a produção de álcool combustível e, segundo as expectativas dos pesquisadores, o caldo deve servir também de matéria-prima para a produção do diesel. A tecnologia foi desenvolvida pela empresa norte americana Amirys em sociedade com a Votorantim brasileira e a Usina Santa Elisa localizada no município de Sertãozinho/SP.

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Vide Anexos: III, IV, V, VI, VII e VIII.

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Vide Anexo IX. O Jornal “Sem Terra” faz uma análise crítica aos Programas de incentivo aos Agrocombustível no estado de Pernambuco. Este periódico não pertence à grande mídia. Trata-se de um meio de comunicação independente ligado ao MST.

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modelo:o agronegócio brasileiro é responsável por cerca de 1/3 de tudo que é produzido no país; o agronegócio é o setor mais importante da economia brasileira, e assim pela frente. Estrategicamente, o agronegócio se apropria dos resultados da agropecuária, como se o mérito da produção neste país fosse só seu, relegando à agricultura camponesa, que é responsável por grande parte da produção de alimentos básicos, o segundo plano. É importante dizer nesse sentido, que as lavouras temporárias (nas quais se inclui as de produção de alimentos básicos) apresentam maior volume de produção entre as pequenas e médias propriedades do que entre as grandes (CENSO Agropecuário, 2006).

Santa Rita na Paraíba, a “Rainha dos Canaviais”51 é o terceiro Pólo Industrial do estado da Paraíba. A vegetação do município é caracterizada (ironicamente) pelo IBGE como floresta sub-perenifólia (floresta tropical) com partes de florestas sub-caducifólia e vegetação própria do cerrado. O município domina, há muito tempo, o cultivo de cana-de- açúcar, tendo inclusive três usinas – São João, Japungú, Miriri - que produzem açúcar e etanol para exportação, como foi apresentado.

Durante os nossos trabalhos de campo neste município, e ao longo do baixo curso do rio Paraíba, constatamos que a vegetação que um dia foi uma floresta tropical característica da “Zona da Mata Atlântica” e que protegia o rio Paraíba ao longo das suas margens no município estudado, não existe mais. A cana-de-açúcar tomou conta de todas as áreas mais próximas ao rio, desmatando a vegetação/mata ciliar, descumprindo a legislação ambiental, como mostra a Figura 02:

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Fotografia 02: Trecho do Rio Paraíba nas proximidades do limite administrativo

dos municípios de Santa Rita e Cruz do Espírito Santo, no estado da Paraíba. Como podemos observar, a mata ciliar que protegia as encostas do rio foi substituída pelo cultivo de cana-de-açúcar. Não é raro encontrar pés de cana arrastados pelas águas quando estas erodem as encostas. Também é facilmente observável o assoreamento do leito.

Fonte: Trabalho de Campo, 2010.

Analisando esta imagem observamos que o monocultivo da cana na área de plantio da Usina São João se beneficia não apenas das margens do rio, senão até do interior do seu leito. Muito longe de cumprir com a legislação ambiental a Usina São João segue em seu ritmo avassalador com um montante na produção de açúcar de 58.688 toneladas só

em 2010, 388.005 toneladas de moagem de cana e 12.295 metros cúbicos de etanol52,

usufruindo das águas do rio Paraíba para a produção da cana irrigada.

Durante a pesquisa pudemos constatar tanto a degradação do trabalho e da vida dos cortadores de cana, como a degradação da natureza em nome da produção ampliada de açúcar e etanol, objetivando sustentar o mercado e o comércio internacional destes produtos. Todavia, os lucros desse comércio serão apenas revertidos em capital, controlados pela classe de proprietários agroindustriais do setor que reforçarão o sistema econômico e financeiro. Temos, então algumas questões que apontam contradições abrangentes no tocante ao desenvolvimento social promovido pelo agronegócio a partir desta realidade local: o que se está desenvolvendo? Onde está a mata da Zona da Mata? Por que um município tão rico em produção de açúcar e etanol apresenta índices de

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pobreza que atingem mais do 65% da sua população ? Por que essa riqueza não retorna para quem a produziu e para o próprio município? Por que se mantêm taxas de analfabetismo jovem e adulto que supera o 30%? Por que o 77,1% dos adultos trabalhadores no corte da cana tem menos de 8 anos de estudo?54

As contradições apontadas55 nos levam a questionar as contradições existentes entre as relações de produção, as relações entre as classes, e as forças produtivas que configuram o mesmo espaço: da riqueza do Agronegócio Sucroalcooleiro e da miséria dos