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Dissidência e fragmentação da luta pela terra na zona da cana nordestina: o estudo da questão em Alagoas, Paraíba e Pernambuco

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Academic year: 2021

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(2) Vojwfstjebef!Gfefsbm!ef!Qfsobncvdp! Dfousp!ef!Gjmptpgjb!f!Djëodjbt!Ivnbobt! Qsphsbnb!ef!Qôt.Hsbevbèäp!fn!Hfphsbgjb!. Ejttjeëodjb!f!Gsbhnfoubèäp!eb!mvub!qfmb! ufssb!ob!ȸ[pob!eb!Dbobȹ!opseftujob;!p! ftubep!eb!rvftuäp!fn!Bmbhpbt-!Qbsbîcb!f! Qfsobncvdp!. Uftf!ef!Epvupsbep! ! ! ! Fewbmep!Dbsmpt!ef!Mjnb!. ! ! ! ! ! ! Sfdjgf0QF! Bcsjm!ef!3122!.

(3) EDVALDO CARLOS DE LIMA. Dissidência e Fragmentação da luta pela terra na “Zona da Cana” nordestina: o estado da questão em Alagoas, Paraíba e Pernambuco.. Tese elaborada junto ao Programa Pós-Graduação em Geografia para obtenção do titulo de Doutor em Geografia. Área de Concentração do Curso de Doutorado: Regionalização e Análise Regional. Orientador: Prof. Dr. Caio Augusto Maciel Amorim Linha de Pesquisa do Curso de Doutorado: Organização e Dinâmicas Espaciais: teorias aplicações regionais. e. Aprovado em 08 de Abril de 2011. BANCA EXAMINADORA. Orientador: Prof. Dr. Caio Augusto Amorim Maciel/UFPE. ______________________________________________________ 2º Titular externo: Prof. Dr. Antonio Thomaz Júnior (UNESP) Universidade Estadual Paulista – Campus de Presidente Prudente – SP.. ______________________________________________________ 3° Titular externo: Prof. Dr. Francisco Fabio Dantas da Costa (UEPB) Universidade Estadual da Paraíba – Campus de Guarabira – PB.. ______________________________________________________ 4ª Titular interno: Profa. Dra. Maria do Socorro Ferraz Barbosa (UFPE) Universidade Federal de Pernambuco – Campus de Recife – PE.. ______________________________________________________ 5º Titular interno: Prof. Dr. Claudio Ubiratan Gonçalves (UFPE) Universidade Federal de Pernambuco – Campus de Recife - PE.

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(5) Catalogação na fonte Bibliotecária, Divonete Tenório Ferraz Gominho, CRB4-985 L732d. Lima, Edvaldo Carlos de “Dissidência e fragmentação da luta pela terra na “zona da cana” nordestina: o estudo da questão em Alagoas, Paraíba e Pernambuco” / Edvaldo Carlos de Lima. – Recife: O autor, 2011. 255f. : il. ; 30 cm. Orientador: Prof. Dr. Caio Augusto Amorim Maciel. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Geografia, 2011. Inclui bibliografia, apêndices e anexos. 1. Geografia. 2. Reforma agrária. 3. Movimentos sociais. 3. Política pública. I. Maciel, Caio Augusto Amorim. (Orientador). II. Título.. 910 CDD (22.ed.). (BCFCH2011-29).

(6) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... DEDICATÓRIA. Ao meu pai Elizeu Lima Santos (in Memorian) que não conseguiu ver esse trabalho concluído e à minha mãe Maria Aurora Carlos que sempre me animou para seguir estudando.. Aos acampados e acampadas, trabalhadores rurais e camponeses no permanente embate de luta pela terra e na busca constante pela Reforma Agrária no Brasil, que... Zanza daqui Zanza pra acolá Fim de feira, periferia a fora A cidade não mora mais em mim Francisco, Serafim Vamos embora Ver o capim Ver o baobá Vamos ver a campina quando flora A piracema, rios contravim Binho, Bel, Bia, Quim Vamos embora Quando eu morrer Cansado de guerra Morro de bem Com a minha terra: Cana, caqui Inhame, abóbora Onde só vento se semeava outrora Amplidão, nação, sertão sem fim Oh Manuel, Miguilim Vamos embora. (Assentamento, Chico Buarque, 1997).  III.

(7) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... AGRADECIMENTOS. Agradeço aos meus pais por terem conseguido com êxito enfrentar o processo de segregação e preconceito, chegarem a São Paulo e matricularemme numa escola pública já aos doze anos de idade para ser alfabetizado. Agradeço também a todos os meus irmãos e irmãs que de alguma forma acreditam em mim, mesmo acreditando em deus. Ao grande mestre professor Manuel Correia de Andrade (In Memorian) pela inspiração e orientações durante a reestruturação do projeto de pesquisa para ingressar na Pós-Graduação. Ao grande professor, orientador e amigo Caio Augusto Maciel Amorim, por indicar-me as várias leituras geográficas dos fenômenos e aceitar os desafios dessa caminhada até o momento da defesa. À Maria Franco (Galega) que um dia me disse que o máximo que podemos conseguir, seja o que for, é alegria. Com muita sabedoria foi tranqüila nos meus piores momentos. E, sem ela, esse trabalho não seria concluído. Aos meus filhos Caio Vinicius de Lima e Pedro Fuzeto de Lima que, com certeza conhecerão esse trabalho no futuro. Ao órgão de fomento (Propesq) Pró-Reitoria de Pesquisa e PósGraduação que junto ao esforço dos Professores Caio Augusto e Jan Bitoun foi possível o financiamento dessa pesquisa. A todos os meus amigos e amigas do CEGeT/Presidente Prudente/SP. Não me atrevo a escrever os nomes pra não correr o risco de esquecer alguém. Ao CEGeT/João Pessoa/PB. Sob coordenação da professora María Franco. Ao CEGeT/Guarabira/PB. Nosso Grupo de estudos e pesquisa. A todos os meus colegas de trabalho do Departamento de Geo-História da Universidade Estadual da Paraíba – Campus III, onde leciono. Segue aqui um agradecimento especial ao meu orientador “Grande” Caio Amorim pela sua disposição em me orientar diante dos desafios geográficos da pesquisa, ao Thomaizão, amigo e eterno orientador, Maria do Socorro Ferraz e Alcindo José de Sá pelas dicas substanciais durante a minha qualificação. Agradeço a proeminência dos membros dessa Banca de Defesa por se disporem a lerem, discutirem e argüirem esse trabalho. E finalmente aos alunos e alunas que me ajudaram a dar sentido concreto a esta pesquisa quando confinados/as nos “sertões” em busca de entendimento/diálogo com e sobre o objeto..  IV.

(8) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... EPÍGRAFE. Monopolista sobre o espaço geográfico, o capital controla os homens e a natureza, para o capital. Mediando a relação homem-meio e crescendo sobre ela, o capital tece a “geografia dos homens concretos”. E essa geografia da alienação degrada o homem e a natureza, exprimindo-se como crise ecológica, crise energética, crise alimentar, crise. moral,. segregação,. ditaduras,. obsoletismo. planejado. Fomenta a escassez para forjar necessidades velhas, subordinando a existência dos homens e os movimentos da natureza ao circuito das mercadorias.. Ruy Moreira..  V.

(9) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... LISTA DE FIGURAS Figura 00 – Mapa de localização da área de pesquisa.............................................................. 72. Figura 01 - Fragmentação do Movimento de luta pela terra na Zona Da Cana dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba - 2011................................................................................ 114. Figura 02 - Mapa da Territorialização da luta pela terra e Assentamentos Rurais no estado da Paraíba – Assentamentos - 2010........................................................................................... 117. Figura 03 - Mapa da Territorialização da luta pela terra e Assentamentos Rurais na Zona da Mata do estado de Pernambuco – Assentamentos - 2010......................................................... 134. Figura 04 - Mapa da Territorialização da luta pela terra e Assentamentos Rurais no estado de Alagoas – Assentamentos, 2010............................................................................................ 144.  VI.

(10) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... LISTA DE FOTOGRAFIAS Fotografia 01 - Trabalhador no corte da cana sem as devidas proteções exigidas pela NR 31. Usina São João, Santa Rita, Paraíba............................................................................... 98. Fotografia 02 - Trecho do Rio Paraíba nas proximidades do limite administrativo dos municípios de Santa Rita e Cruz do Espírito Santo, Paraíba...................................................... 105. Fotografia 03 - Vista parcial do acampamento do Movimento Brasil Terra da Gente, no município de Cruz do Espírito Santo, Paraíba.......................................................................... 118. Fotografia 04 - Trabalhadores rurais e lideranças do Movimento BTG no momento da nossa entrevista, no município de Cruz do Espírito Santo, Paraíba......................................... 118. Fotografia 05 - Bandeira do Movimento Brasil Terra da Gente, Paraíba................................. 120. Fotografia 06 - Acampamento do Movimento da Paz, Cruz do Espírito Santo, Paraíba.......... 121. Fotografia 07 - Bandeira do Movimento da Paz, Cruz do Espírito Santo, Paraíba................... 122. Fotografia 08 - Sede da Nação Africana Pretinha do Congo da Comunidade Pretinha do Congo, Goiana, Pernambuco................................................................................................... 124. Fotografia 09 - Disposição das moradias das famílias acampadas da comunidade quilombola Pretinha do Congo/Goiana/PE.................................................................................. 125. Fotografia 10 - Disposição das moradias mais antigas da Comunidade Pretinha do Congo, acompanhando o curso do Rio Goiana, Goiana, Pernambuco................................................... 125. Fotografia 11 - Corte de cana manual na Usina Maravilhas, Goiana, Pernambuco.................. 127. Fotografia 12 - Vista parcial do Acampamento Chico Mendes/São Lourenço da Mata/PE...... 130. Fotografia 13 - Trabalhador sem terra acampado com o seu instrumento de trabalho, “o facão” para cortar cana, no acampamento Chico Mendes......................................................... 130. Fotografia 14 – Acampamento do Movimento Via/Murici/AL.................................................... 135. Fotografia 15 - Instalações da Usina Reunidas Seresta/Teotônio Vilela.................................. 137. Fotografia 16 - Potencial hídrico da Usina Seresta/Teotônio Vilela em Alagoas. Em um espaço de 12 mil hectares de canaviais a usina possui 14 barragens....................................... 137. Fotografia 17 - Estrutura e Escola do Acampamento São Sebastião/Atalaia/AL...................... 140. Fotografia 18 - Estrutura e Escola do Acampamento São Sebastião/Atalaia/AL...................... 140. Fotografia 19 - Estrutura e Escola do Acampamento São Sebastião/Atalaia/AL...................... 140. Fotografia 20 - Centro de Formação Política Patativa do Assaré, Patos/PB......................................... 161. Fotografia 21 - Centro de Formação Política Paulo Freire, Caruaru/PE................................... 161.  VII.

(11) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... Fotografia 22 - Comunidade Povoado Tabacaria, Palmeira dos Índios/Alagoas...................... 167. Fotografia 23 - Acampamento na “Fazenda Buenos Aires”, Palmeira dos Índios, Alagoas...... 168. LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 – Toneladas de cana de açúcar processada pelas usinas na região nordeste no Ano Safra 2008/09...................................................................................................................... 83. Gráfico 02 – Unidades de veículos flex vendidos no Brasil, 2003 – 2009................................. 86. Gráfico 03 - Evolução da produção de etanol nos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, 2003/04-2008/09......................................................................................................... 88. Gráfico 04 - Produção de etanol no Nordeste no Ano Safra 2008/09....................................... 88. Gráfico 05 - Evolução da produção de açúcar nos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, 2003/04-2008/09......................................................................................................... 90. Gráfico 06 - Produção de açúcar no Nordeste no Ano Safra 2008/09...................................... 90. Gráfico 07 – Exportação de açúcar na região Norte - Nordeste no Ano Safra 2008/09........... 92. Gráfico 08 – Metros cúbicos de etanol exportadas no Ano Safra 2008/09............................... 93. Gráfico 09 – Exportações de açúcar e etanol no Ano/Safra 2008/09 escoadas nos portos de Alagoas, Pernambuco e Paraíba........................................................................................... 94. Gráfico 10 – Incidência da pobreza em AL, PB, PE e região NE, 2010.................................... 95.  VIII.

(12) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... LISTA DE TABELAS Tabela 01 – Grupos empresariais do Agronegócio canavieiro em Alagoas, Pernambuco e Paraíba, 2010............................................................................................................................. 74. Tabela 02 – Unidades produtoras de Açúcar e Etanol no Nordeste, 2010................................ 77. Tabela 03 – Cana de Açúcar processada no Brasil por região produtora segundo Ano Safra, 2002 – 2009.................................................................................................................... 81. Tabela 04 – Cana de Açúcar processada pelas Usinas na região Nordeste por Ano Safra, 2002 – 2009................................................................................................................................ 82. Tabela 05 – Unidades de veículos flex vendidos no Brasil, 2003 – 2009.................................. 85. Tabela 06 - Evolução da produção de Etanol no Nordeste, 2003/04-2008/09.......................... 87. Tabela 07 - Evolução da produção de Açúcar no Nordeste, 2003/04-2008/09......................... 89. Tabela 08 – Milhares de toneladas exportadas de Açúcar por Ano Safra segundo região produtora no Brasil, 2002/03 – 2008/09..................................................................................... 91. Tabela 09 – Metros cúbicos de Etanol exportados por Ano Safra 2002/03 – 2008/09.............. 92. Tabela 10 – Incidência da pobreza nos municípios da Zona da Cana selecionados, 2010............................................................................................................................................ 96. Tabela 11 - Índice de concentração de Gini segundo os estados do Nordeste, 1970-2006..... 111. Tabela 12 - Conflitos por terra na Região Nordeste, 2009........................................................ 112. .  IX.

(13) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... LISTA DE SIGLAS ANFAVEA – Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores ABEIVA – Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veiculas Automotivos BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento BM – Banco Mundial BTG – Brasil Terra da Gente CBTE – Central Brasileira dos Trabalhadores e Empreendedores CEB´s – Comunidades Eclesiais de Base CEGeT- Centro de Estudos de Geográfica do Trabalho CEMOSI – Centro de Documentação e Hemeroteca Sindical “Florestan Fernandes” CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil CPRH – Agencia Estadual de Meio Ambiente COCAMP – Cooperativa de Comercialização e Prestação de Serviços dos Assentados de Reforma Agrária do Pontal CONAB - Companhia Nacional de Abastecimento CPT – Comissão Pastoral da Terra CUT – Central Única de Trabalhadores DAF – Departamento de Assuntos Fundiários FETAPE - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco GEE - Grau de Eficiência de Exploração da Terra GUT - Grau de Utilização da Terra IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INDA - Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrícola ITERPA – Instituto de Terras da Paraíba LECgeo - Laboratório de Estudos sobre Espaço e Cultura MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens MAST – Movimentos dos Agricultores Sem Terra MCL – Movimento de Comissões de Luta MPF – Ministério Público Federal MT – Movimento da Terra MC – Movimento Central MEB´s – Movimentos de Educação de Base MOSLUTRA – Movimento Social de Luta Pela Terra e Pela Reforma Agrária MP – Movimento da Paz MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra NERA – Núcleo de Estudos, Projetos e Pesquisa Sobre Reforma Agrária NR – Norma Reguladora do Trabalho no Campo PA – Projeto de Assentamento PCB – Partido Comunista Brasileiro PC do B – Partido Comunista do Brasil PSDB – Partido da Social Democracia Brasileiro PT – Partido dos Trabalhadores SDS – Social Democracia Sindical UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura USC – Universidade de Santiago de Compostela UDR – União Democrática Ruralista UFPB – Universidade Federal da Paraiba UFPE – Universidade Federal de Pernambuco UEPB – Universidade Estadual da Paraíba ÚNICA - União da Indústria de Cana-de-açúcar.  X.

(14) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... SUMARIO Dedicatória ................................................................................................................................... III. Agradecimentos............................................................................................................................. IV. Epígrafe......................................................................................................................................... V. Lista de Figuras............................................................................................................................. VI. Lista de Fotografias....................................................................................................................... VII. Lista de Gráficos............................................................................................................................ VIII. Lista de Tabelas............................................................................................................................ IX. Lista de Siglas............................................................................................................................... X. Resumo........................................................................................................................................ XI. Abstract........................................................................................................................................ XII. Introdução.................................................................................................................................... 15. Capítulo 1 – Espaço, território e conflitos no campo: o Movimento de luta pela terra........ 31. 1.1 - A luta de classes no campo e a emergência dos movimentos sociais rurais no Brasil................................................................................................................................. 33. 1.2 - O espaço do capital sucroalcooleiro da “Zona da Cana” e os territórios da luta de classe................................................................................................................................ 54. 1.3 - Polissemia de uma ação: a Reforma Agrária no aguardo.............................................. 66. Capítulo 2 – Na Zona da Cana das Alagoas, Pernambuco e Paraíba..................................... 71. 2.1 - A produção no espaço do capital sucroalcooleiro da Zona da Cana............................. 83. 2.2. O trabalho no eito............................................................................................................ 100. Capitulo 3 – Dissidências e Fragmentação da Luta pela Terra na Zona da Cana................. 108. 3.1 - Territórios e bandeiras de luta pela terra....................................................................... 119. 3.1.1 - Na beira da pista: os Acampamentos de trabalhadores sem terra do Movimento Brasil Terra da Gente na Paraíba.......................................................................................... 121. 3.1.2 - No canavial: a Comunidade Quilombola Pretinha do Congo em Pernambuco.......... 128. 3.1.3 - Nas áreas de Reforma Agrária: o Assentamento do MST Chico Mendes em Pernambuco........................................................................................................................... 133. 3.1.4 - Na usina: os trabalhadores da Usina Seresta em Alagoas........................................ 137.  XI.

(15) LIMA, E. C. de.. Dissidência e Fragmentação da Luta pela Terra.... Capitulo 4 – Fragmentação do trabalho, da luta e do território: limites ou possibilidades.............................................................................................................................. 146. 4.1 - Cisão, dissidência e fragmentação do movimento de luta pela terra: antecedentes.......................................................................................................................... 152. 4.2 – Movimentos sociais e a fragmentação da luta por terra e pela Reforma Agrária......... 159. 4.3 – A fragmentação da classe trabalhadora e a geração de identidades na luta pela terra......................................................................................................................................... 167. Considerações Finais................................................................................................................. 177. Referências Bibliográficas......................................................................................................... 178. Iconografia................................................................................................................................... 196. Anexos.......................................................................................................................................... 216. Anexos - Tabelas Apêndices: Quadro 01: Unidades produtoras no estado da Paraíba - 2008/2009 Quadro 02: Unidades produtoras no estado de Alagoas - 2008/09 Quadro 03: Unidades produtoras no estado de Pernambuco - 2008/2009 Quadro 04 – Acampamentos rurais no Nordeste - 2007 Quadro 05 – Acampamentos rurais no Nordeste - 2008 Quadro 06 – Acampamentos rurais no Nordeste - 2009 Tabela 12 - Classificação do índice de Gini para concentração da posse da terra.  XII.

(16) LIMA, E. C. de.. Resumo. SFTVNP! A questão agrária brasileira continua sem ser resolvida na agenda política do país. Ademais, as disputas e conflitos territoriais, só vêm intensificando-se nos últimos anos (CPT, 2009). Foi a partir da década de 1980 que os movimentos de luta por Reforma Agrária, em especial o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), incorporaram como principal ferramenta de luta uma ação política radical, tais como: a ocupação de terras improdutivas, devolutas e griladas; e a formação de acampamentos. Ocupar terras devolutas e grandes latifúndios improdutivos configurou, e continua configurando, novos arranjos territoriais nos espaços em disputa. O embate de classe coloca mais uma vez na formação do espaço agrário brasileiro, os trabalhadores sem terra, os quilombolas, os indígenas e os camponeses frente a latifundiários e capitalistas. Por um lado, a aliança latifundiários/usineiros/grandes grupos empresariais do agronegócio canavieiro, instigados pelo mercado internacional e os incentivos do Estado, conquistou, na segunda metade da década de 2000, altos índices de produtividade e desempenho na produção, principalmente, de etanol (álcool etílico). A geografia do agronegócio da cana de açúcar mudou, territorializando-se em novas áreas e monopolizando territórios que escapavam á sua lógica nas regiões tradicionais do seu cultivo, como na Zona da Mata dos estados de Alagoas, Pernambuco e Paraíba - recorte territorial da nossa pesquisa. Todavia, essa dinâmica se concretizou a custa de uma crescente degradação da natureza e de, cada vez, maior controle, intensificação e exploração do trabalho. Contudo, no conflito entre as classes, além da mobilização e solidariedade dos trabalhadores surgem também às desavenças dentro da classe. Apreender as decorrências para a Reforma Agrária desse processo faz parte da preocupação principal desta tese. No nosso percurso analítico, constatamos que os desacordos intra-classe se originam de atritos internos ao “movimento camponês rebelde”1, desencadeando dissidências políticoideológicas e a fragmentação dos movimentos sociais no campo que lutam por terra. Devido a essa fragmentação surge a necessidade de entender as contradições e potencialidades da dinâmica social e espacial em curso. Isto posto, entende-se que ao tempo que acontece a fragmentação dos trabalhadores por dissidências políticas, torna-se real a proliferação de novos movimentos sociais de luta por terra, reforçando e dotando de sentido a necessidade da Reforma Agrária no país. Entretanto, observamos também que tais desdobramentos refletem ao mesmo tempo a fragmentação do próprio trabalho, conduzindo uma parte significativa dos trabalhadores acampados e/ou assentados, outrora mobilizados sob diferentes bandeiras de combate e resistência, à precarização do seu trabalho e à desvalorização da sua luta inserindo-se, como trabalhadores temporarios e/ou bóias-frias, no perverso e abusivo negócio do corte da cana de açúcar nas regiões pesquisadas. Entendemos a luta pela terra vista por dentro da luta de classes e definimos o território dominado pela cana nos estados estudados como “Zona da Cana Nordestina”, outrora “Zona da Mata”, apelando propositalmente para o fenomênico de um processo em curso: a desaparição da natureza originária e a produção capitalista desigual, combinada e contraditória do espaço agrário. De tal modo, colocar para debate até que ponto o complexo processo de fragmentação da/e luta pela terra no Nordeste (Alagoas, Pernambuco e Paraíba) pode representar uma das frentes de oposição ao desenvolvimento desigual do capitalismo no campo é o desafio desta tese. Palavras-chave: Movimentos sociais no campo. Fragmentação. Território. Capital sucroalcooleiro. Reforma agrária. Nordeste.. 1. Esse termo é usado por Feliciano (2003)..

(17) LIMA, E. C. de.. ABSTRACT. BCTUSBDU! The agrarian issue in Brazil still remains unsolved on the agenda of the country. Besides, the struggle and conflicts for territory has become more and more intense throughout the years. Starting from de decade of 1980, the movement for the land occupation, especially the Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) –Landless Workers’ Movement, incorporated a radical political measure as the main tool for the struggle, such as: the occupation of uncultivated, desolated and griladas (nonproductive) land; and the foundation of camping sites. The occupation of desolated land and uncultivated latifundium configured, and has been configuring, new territorial arrangements in the sites under conflicts. The class struggling puts the landless workers, the quilombolas (black slaves remaining people), and the indigenous people, face to face to the landowners and capitalists on the agenda of Brazilian agrarian space formation. On the other hand, the alliance among landowners/sugar cane mill owners/great entrepreneurs of the sugar cane agricultural business conquered high variables of productivity and production performance of ethanol (ethyl alcohol), as a result of the favorable international trade and the tax incentive of the Brazilian Estate in the late decade of 2000. The geography of the sugar cane agricultural business has changed and has been territorializing itself into new areas and has been monopolizing territories where once were considered out of the geographic discussion. Such territories are located in the region of traditional sugar cane crops, for instance: the Atlantic Forest Zone (known as Woods Region) sited at the states of Alagoas, Pernambuco and Paraíba – these states are regarded to be the territorial cut-off for this research. However, this dynamic has come true due to an increasing degradation of the environment, as well as a greater control, intensifying and exploitation of the work force. Nevertheless, the conflict between different classes, besides the sympathy and mobilization among the rural workers, there are also the dissension within the different groups under conflict. Thus, the aim of this treatise is to apprehend the currents for the Agrarian Reform of this process. According to one’s analysis, one perceived that the internal class disagreements begin with the internal conflicts in the so called “rebel peasants’ movement”1 which convey political ideological divergences and the fragmentation of rural social movements by dealing with land rights. Due to this fragmentation, one intends to understand the contradictions and potentialities of both social and spatial dynamic in process. As stated before, one comprehends that, as the fragmentation of rural workers happens due to political divergences, the proliferation of new rural social movements becomes real. It is to say that the Agrarian Reform in Brazil is urgent and meaningful. Therefore, one also observed that such unrollments reflect the fragmentation of the same work force, which lead a great part of the camping holders and/or land takeovers, who were once mobilized under different ideals of combat and resistance, to the precariousness of their work and to the devaluation of their fight. On being so, this group is inserted into the mean and abusive sugar cane cut business as temporary workers and/or bóias-frias (workers who eat cold food in a metal pan) in the so referred region under analysis. This research comes to understand that the fight for land is analyzed under the class conflicts point of view. This treatise also comprehend that the territory occupied by the sugar cane crops located in the states mentioned above is regarded as “the Northeast Sugar Cane Region” instead of Atlantic Forest Zone. This term is used due to a geographical economical phenomenon: the disappearing of the original vegetation, as well as the unbalanced, combined and contradictorial capitalist production in the agrarian space. In short, this treatise raises the challenging debate: the complex process of fragmentation of/of the fight for land in the Northeast of Brazil (Alagoas, Pernambuco and Paraíba) is likely to represent one of the oppositional front for the unbalanced development of the capitalism in the rural area. KEYWORDS: Rural social movements. Fragmentation. Territory. Sugar-alcohol capital. Agrarian reform. Northeast of Brazil.. 1. This term is used by Feliciano (2003)..

(18) ! ! ! ! ! ! ! JOUSPEVÈÄP!.

(19) LIMA, E. C. de.. Introdução. ! JOUSPEVÈÄP O primeiro estímulo para estudar a questão agrária e especificamente a ação dos movimentos de trabalhadores rurais sem terra surgiu ainda na minha graduação no Curso de Geografia na Universidade Estadual Paulista, UNESP, de Presidente Prudente, São Paulo. Foi durante as aulas de geografia agrária e os trabalhos de campo do professor Bernardo Mançano Fernandes na região do Pontal da Paranapanema (interior de São Paulo e uma das principais áreas de conflitos por terra do Brasil) e da leitura dos textos do professor Antonio Thomaz Jr. (1999; 2001) que percebi a possibilidade de entender, a partir do estudo das contradições no espaço agrário, a história e os percursos da minha família, e os meus próprios. Ao mesmo tempo, surgiram questionamentos e dúvidas que me instigaram para o exercício da pesquisa na geografia agrária. Durante as primeiras aulas e no contato com os primeiros textos sobre a formação do espaço agrário brasileiro tive, por fim, a oportunidade de entender os processos e as determinações históricas, do desenvolvimento, do modo de produção capitalista no campo. Da experiência de expulsão, expropriação, exploração, exclusão e precarização das condições de vida nas quais cresci e as quais experimentei como criança e adolescente trabalhador rural, migrante e nordestino vivendo no interior de São Paulo passava, naquele momento dentro da universidade pública a questionar a ordem posta, as injustiças do modelo de. 15.

(20) LIMA, E. C. de.. Introdução. desenvolvimento que inclui precariamente1 à maioria, que mantém e amplia as desigualdades sociais e que nega o campo como lócus de vida e autonomia. O desencanto e a indignação foram também estímulos para a pesquisa e, graças ao professor Thomaz quem teve a coragem de “encarar” o trabalho conjunto e ao Centro de Estudos de Geografia do Trabalho - CEGeT/Unesp, desenvolvemos a nossa monografia de Bacharelado2. Nós estávamos interessados em entender o processo de organização e luta dos trabalhadores rurais na região do Pontal do Paranapanema sob diferentes bandeiras. Perguntávamo-nos o que levava essas famílias de trabalhadores a se unirem nas fileiras dos movimentos sociais que atuavam na região? Instigava-nos ainda a possibilidade de compreender as especificidades das diferentes concepções de luta pela terra e do processo de Reforma Agrária que cada movimento defendia. Além do mais, queríamos saber que mecanismos táticoestratégicos para a ocupação de terras cada bandeira utilizava. Para dar conta destas questões focamos a nossa análise sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (MAST). O MAST, movimento dissidente do MST, não utilizava a ocupação como ação política de luta. Apenas seus acampamentos se localizavam nas áreas. após. a. negociação. com. latifundiários. e,. principalmente,. nas. proximidades de rodovias e trevos, portanto, em terras da União. Nessa monografia de bacharelato, outros elementos começaram a se apresentar como fundamentais na composição do quadro que procurávamos entender: o MAST surgia como uma dissidência político-ideológica que discordava das ações de luta do MST considerado-as violentas. Esses mesmos trabalhadores disputavam, apoiados pelo Sindicato de Trabalhadores Rurais de Rosana (município do Pontal do Paranapanema) e a Central Social Democrata, denominada Social Democracia Sindical ligada ao Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), espaço de luta pela terra com o MST na região.. 1. Referimo-nos às formas perversas de sobrevivência impostas pela sociedade de classes capitalista que abandona, parafraseando a José de Souza Martins (2000), multidões, indevidamente chamados de excluídos, pois foram inclusos nas funções residuais do sistema econômico em curso.. 2. LIMA, E. C. de. Os movimentos sociais de luta pela terra e a reforma agrária no Pontal do Paranapanema: trama social e dinâmica territorial. Monografia. (Geografia). UNESP, Presidente Prudente, 2002. 16.

(21) LIMA, E. C. de.. Introdução. Começava assim a surgir a preocupação com um processo decisivo: a proliferação de bandeiras de luta e a pulverização dos trabalhadores em siglas que nem sempre concebiam da mesma forma a Reforma Agrária para o Brasil. Os MOSLUTRA - Movimentos Sociais de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária – como foram definidos já na nossa dissertação de mestrado, surgem principalmente. por. divergências. político-ideológicas. entre. a. base. de. trabalhadores e as próprias lideranças. Essas divergências engendram novos movimentos com concepções de luta e de Reforma Agrária díspares e até antagônicas. A Reforma Agrária, enquanto política pública territorial de caráter estrutural promovida pelo Estado3 foi suprida, no decorrer da história agrária brasileira, por políticas paliativas de conflitos sociais como o próprio assentamento de população no campo, as reformas de mercado do Banco Mundial e/ou as Células da Terra. Com base nessas apreciações, a morosidade do Estado na resolução da questão agrária se apresentava para nós como um ponto crucial no processo de dissidência dos MOSLUTRA. Ou seja, o próprio Estado, na sua opção de classe, favorecia o grande capital e o poder do latifúndio não atingindo na raiz o processo inabalável de concentração de terras no país, perpetuando assim a miséria no campo e favorecendo a divisão dos trabalhadores, a cooptação dos movimentos e a fragmentação da luta. Foram, por tanto, estas questões que conformaram a problemática da nossa dissertação de mestrado4. Contudo, as questões que estávamos apontando exigiam um avanço no entendimento da nossa temática. A Geografia do Trabalho nos ofereceu elementos capazes de contribuir para uma análise voltada para a compreensão 3. A compreensão de Reforma Agrária que apresentamos remete à política pública capaz de transformar o regime de propriedade (privada) da terra e de possibilitar a permanência das famílias trabalhadoras rurais na terra, disponibilizando os recursos necessários para a viabilização econômica das pequenas propriedades rurais. Política, portanto, capaz de superar, dialeticamente, as relações tradicionais de poder de forma a modificar as regras do judiciário no que tange ao favorecimento de apenas uma classe no bojo da questão agrária brasileira. Esta concepção está arraigada nas idéias genuínas de José Gomes da Silva apresentadas em 1971, em plena ditadura militar, em A reforma agrária no Brasil. Frustração camponesa ou instrumento de desenvolvimento? Nesta obra, o autor refere-se à Reforma Agrária estrutural como um processo amplo, imediato e drástico de redistribuição de direitos sobre a propriedade privada da terra produtiva agricultável, promovido pelo Governo, com ativa participação dos próprios camponeses e trabalhadores rurais organizados.. 4. LIMA, E.C.de. Os Movimentos Sociais de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária no Pontal do Paranapanema (SP): Dissidências e Dinâmica Territorial. Dissertação de Mestrado. (Geografia). UNESP/Presidente Prudente, 2006. 17.

(22) LIMA, E. C. de.. Introdução. da totalidade social. O desafio posto foi então o de entender a dissidência e fragmentação da luta pela terra travadas pelo mundo do trabalho. A partir da análise da situação jurídica das terras do Pontal do Paranapanema e a quantidade de projetos de assentamentos implantados, segundo dados levantados no Instituto de Terras de São Paulo (ITESP), constatamos nessa pesquisa a existência de uma expressiva e abusiva quantidade de terras improdutivas na região, frente a uma imensa quantidade de trabalhadores pobres e desempregados. Compreender a composição da classe trabalhadora que se fazia realidade nos campos e nas cidades, as contradições expressas em seu interior, requalificando constantemente a plasticidade5 e as diferentes formas de existência do trabalho se transformou em um dos caminhos necessários para a apreensão da nossa problemática de pesquisa. Graças à experiência junto à heterogeneidade de movimentos atuantes na região do Pontal, elaboramos um amplo acervo de entrevistas com lideranças, trabalhadores e intelectuais, que constitui a base de referência nos três anos que durou a pesquisa. Enxergamos, então, que no universo da luta pela terra, permeado de conflitos de classe e intra-classe pela posse da terra, a ocupação, como bandeira de luta política, fazia a diferença na vida e no cotidiano dos trabalhadores rurais organizados, incomodando assim a burguesia rural. A discussão do mundo do trabalho e da luta de classes nos introduziu na compreensão. do. processo. de. dominação. do. capital. e. dos. seus. desdobramentos espaciais e territoriais. O caminho percorrido desde a monografia de bacharelato, passando pelos desdobramentos da dissertação de 5. Apropriamo-nos deste termo para nos referir, de acordo com Thomaz Jr. (2006, 2010), às diferentes formas de expressão que o trabalho assume contemporaneamente – assalariados, camponeses, sem-terras, informais, desempregados - o que nos permite quebrar com as fronteiras teóricas, políticas, sindicais pré-estabelecidas com base na divisão técnica do trabalho. O interesse radica em captar os nexos entre as diferentes formas de existência que se tornam explícitos em conteúdos territoriais diversos, possibilitando assim compreender a geografia da luta de classes. Esta idéia se fundamenta na noção da “nova morfologia do trabalho” cunhada por Antunes (2005) que atenta para o caráter multifacetado do trabalho hoje. Segundo este autor, para compreendermos a nova forma de ser do trabalho e da classe trabalhadora hoje, é preciso partir de uma concepção ampliada de trabalho, para além do proletariado industrial produtivo dos séculos XIX e XX. A classe trabalhadora hoje tem, portanto, uma conformação mais fragmentada, mais heterogênea e mais complexificada.. 18.

(23) LIMA, E. C. de.. Introdução. mestrado até a formulação da tese era esse: do estudo do processo de fragmentação da luta pela terra a partir das fendas político-ideológicas no interior dos movimentos sociais ao estudo da fragmentação, não apenas como resultado do controle social do capital sobre a subjetividade do trabalho, mas como um amálgama de experiências plausíveis de construir embates ao capital, tendo na ocupação e apropriação do espaço o seu diferencial. Analisar até que ponto o complexo processo de territorialização e fragmentação da luta pela terra no Nordeste pode representar uma das frentes de oposição ao desenvolvimento desigual do capitalismo no campo se transformou no nosso desafio de pesquisa no projeto de doutorado. Cientes de termos como foco as contradições internas á luta de classes, a partir da luta pela terra na sua expressão, agora, nesse recorte territorial do Brasil. Da mesma forma que o Pontal do Paranapanema continua sendo uma das áreas de maior número de conflitos por terra da região Sudeste (CPT, 2010) o Nordeste destaca-se pela histórica mobilização e organização de trabalhadores rurais e sem terra contra a grande propriedade, como analisaram entre outros Andrade (1980), Freyre (2004), Prado Jr. (2000), Medeiros (1988), Moreira e Targino (1998), Novaes (2000), Stedile (1994). Para Maciel (2004) a realidade do Nordeste brasileiro foi marcada secularmente pelo: (...) discurso trágico e onipresente das secas, bem como pela sua mais perfeita antítese, a homilia do moderno paradigma hidráulico, onde a irrigação, as barragens e as transposições de bacias hidrográficas ocupam lugar de destaque (p.01) Já para Correia (2007), esta região é uma das mais discutidas e menos conhecidas do Brasil, assim: (...) o Nordeste é apontado, ora como área das secas, que desde a época colonial faz convergir para região, no momento da crise, as atenções e as verbas dos governos; ora como área de grandes canaviais que enriquece meia dúzia em detrimento da maioria da população; ora como área essencialmente subdesenvolvida devido à baixa renda per capta dos seus habitantes ou como a região das revoluções libertarias de que fala o poeta Manuel Bandeira em seu poema, Evocação do Recife (p.23).. 19.

(24) LIMA, E. C. de.. Introdução. Embora o Nordeste sempre tenha sido visto como região das secas e como a região açucareira, é vista também como região problema porém fornecedora de mão-de-obra para as áreas mais dinâmicas economicamente do país. Para Costa (2010), de maneira geral, os recursos públicos que foram destinados ao Nordeste acabaram beneficiando apenas a elite regional, em detrimento da grande parcela da população empobrecida que sofria cada vez mais com os efeitos das longas estiagens. Segundo este autor, essa prática clientelista conduziu políticos inescrupulosos ao poder, aumentou a concentração das terras e da renda, estagnou a economia local, promoveu a morte de milhares de pessoas vitimadas pelas doenças e pela fome e agravou a questão migratória (a região tornou-se uma área de repulsão). Na atualidade, a mobilidade do trabalho. continua, especialmente, para as áreas canavieiras do Centro-Sul e do Sudeste. Em maio de 2006 retornei para o Nordeste após 34 anos de Sul e Sudeste6 e em maio de 2007 ingressei no Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco, UFPE, no Recife. Isso me possibilitou participar da Cátedra Gilberto Freyre, então sob a coordenação Prof. Dr. Manuel Correia de Andrade orientador inicial desta pesquisa. Embora a nossa relação acabasse sendo, infelizmente, breve, as reuniões de orientação e as discussões realizadas no âmbito do Grupo de Pesquisa permitiram reforçar a linha de investigação que desde a graduação vínhamos construindo, e que de certa maneira, encontrou tantos subsídios nas formulações teóricas da geografia agrária construída pelo Professor Manuel. Ainda, sob a sua orientação, discutimos a proposição metodológica da pesquisa, fundamentada no continuado e detalhado trabalho de campo nas áreas de conflito à luz das transformações do mundo do trabalho hoje. Dessa maneira, poderíamos construir a nossa porta de entrada à realidade vivida pelas famílias trabalhadoras sem terra acampadas na região, recolocando na centralidade do discurso da Geografia Agrária ao seu verdadeiro protagonista: o trabalhador rural.. 6. Em 1974 Dona Maria Aurora Carlos e Seu Elizeu Lima (Seu Bigode de Ouro) junto a 10 dos meus irmãos saíram do Sitio do Pé Leve, no município de Arapiraca, Alagoas, no “trem de migração” rumo a São Paulo. Todos eles, com exceção o meu pai que faleceu em 2004, continuam construindo suas vidas junto a seus familiares neste estado. 20.

(25) LIMA, E. C. de.. Introdução. Depois do falecimento do Professor Manuel o Professor Caio Augusto Maciel Amorim assumiu a orientação deste projeto, aceitando como um dos desafios, dar continuidade à linha teórico-metodológica pertinente à Geografia Critica, entendendo que o estudo geográfico dos movimentos sociais no campo e seus desdobramentos organizativos, poderia vir a contribuir com a luta pela superação de diferenças e injustiças sociais que relegaram uma parcela significativa da classe trabalhadora brasileira à marginalidade e à precarização social e econômica. Após dois anos de pesquisa, em março de 2009, e muito empenho do Prof. Caio, nosso projeto foi aprovado e fomos contemplados com uma bolsa de estudos pela Pró-Reitoria para Assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesq) da UFPE. Desta maneira a tese de doutorado que na continuação apresentamos intitulada “Fragmentação da Luta pela Terra na Zona da Cana Nordestina: o estado da questão em Alagoas, Pernambuco e Paraíba” está fundamentada na análise do processo de dissidência das famílias de trabalhadores rurais que reivindicam novos territórios e autonomia político-decisória para construir novas bandeiras de luta pela terra e pela Reforma Agrária na região tradicionalmente conhecida como Zona da Mata, e re-conhecida neste estudo como Zona da Cana, dos três estados em questão. Contraditória e dialeticamente esse processo ao tempo que fragiliza “o movimento” dos trabalhadores rurais sem terra, inserindo fissuras e conflitos entre os trabalhadores rurais organizados, cooptando os próprios movimentos 7 e iludindo o alargamento das diferenças entre as classes, divulga a bandeira da Reforma Agrária para o Estado e a sociedade. 7. Marleide Maria Santos (2008) na sua tese de doutorado constatou como, no Alto Sertão Sergipano, a proposta de desenvolvimento local com enfoque no território, faz parte de uma estratégia multifacetada, formulada pelo Estado neoliberal e por seus cooperadores e aliados internacionais, para conter a insurreição dos trabalhadores rurais sem terra. Para esta autora, o desenvolvimento territorial, engendrado no bojo das políticas de desenvolvimento para alívio da pobreza rural, é organizado para neutralizar as táticas de ações diretas dos movimentos populares, tais como o MST, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB). O território, por tanto, é apresentado como instrumento de planejamento, no qual, ilusoriamente são encontradas as soluções para os problemas da população local. Segundo Santos os movimentos sociais tem enfrentado o desafio de fazerem parte dessa arquitetura de legitimação do caráter ideológico da classe dominante, que se traveste no discurso da gestão de participação coletiva. Tal perspectiva objetiva neutralizar os conflitos, garantir a conciliação e justificar os conflitos como ações de criminalização dos próprios movimentos sociais.. 21.

(26) LIMA, E. C. de.. Introdução. Um dos desdobramentos dessa dinâmica é a absorção de um contingente significativo de trabalhadores, acampados sem terra e assentados de Reforma Agrária, pelo trabalho precário e exaustivo no corte da cana, como possibilidade de existência, seja no campo, seja nas cidades e vilas próximas às áreas de exploração da cana. Contingente este que se soma às famílias de trabalhadores rurais, assalariados temporariamente nas usinas e destilarias da Paraíba, Pernambuco e Alagoas, oriundos de processos históricos de expropriação e expulsão da terra e do desemprego originado pelas crises econômicas e financeiras do setor, fundamentalmente a partir da segunda metade da década de 1980 e inicio dos anos 1990, época de declínio do PROÁLCOOL8. Todavia, o inicio do século XXI marca um novo momento de ascensão da produção canavieira, agora voltada para a produção de etanol. Para Carvalho, S.D e Carrijo, E.L.O. (2007) dentre os fatores externos e internos que contribuem para impulsionar a nova expansão da produção de álcool, destacam: a) as oscilações e aumento dos preços do petróleo motivado por uma ambiente de tensão na região de Oriente Médio; b) à busca por fontes de energéticas renováveis; c) o domínio a tecnologia para a produção de álcool e aproveitamento de subprodutos da produção como o bagaço na energia e o vinhoto para fertirrigação; d) o crescimento na demanda de álcool motivadas pela produção de veículos flex e do aumento do consumo de países como China e Índia; e) questões ambientais que colocam a necessidade de substituição de derivados de petróleo para evitar as emissões de CO2 e; f) necessidade de gerar emprego. 8. Para Moreira e Targino (1997) o Programa Nacional do Álcool - PROÁLCOOL, iniciativa do governo brasileiro que visava intensificar a produção de álcool combustível para substituir a gasolina criado em 1975, propiciou a expansão canavieira, especificamente na Paraíba, tanto do ponto de vista do plantio como da produtividade, gerando mudanças sociais e espaciais nessa ampliação produtiva. O PROALCOOL concedeu créditos e financiamentos aos empresários canavieiros com juros reais abaixo da inflação, três anos de carência e 16 para o pagamento do principal (SOARES, A.M. 2009). O forte apoio do Estado nesse momento, com políticas de apoio ao avanço tecnológico e concessão de créditos e financiamentos, propiciou a expansão do setor. Entretanto, em 1993, a grande seca da região Nordeste, contribuiu significativamente para a redução da produção e da produtividade, direcionando o setor agroindustrial deste estado apenas à produção de álcool e levando á falência algumas das unidades produtivas. A década de 1990, segundo estes autores, foi marcada por crises econômicas e pelo desemprego de grande quantidade de trabalhadores no Nordeste, provocados pela conjuntura econômica adversa e pela quebra do PROÁLCOOL, quando o Estado saiu de cena adotando uma postura neoliberal. 22.

(27) LIMA, E. C. de.. Introdução. No entanto, como defende Soares, A.M. (2009), estaríamos diante de uma nova estratégia do agronegócio incentivado pela política de Estado enquanto modelo econômico agroindustrial, aliás, modelo ideológico poderoso o suficiente para maquiar a imagem da agricultura capitalista, historicamente exploradora do trabalho do homem e concentradora de terra, renda e capital, à medida que se apresenta como gerador de empregos para re-arranjar espaços produtivos da cana. Conforme esta autora: A conjuntura política e econômica favorável ao mercado de etanol a partir de 2005, desencadeou um forte movimento do agronegócio canavieiro em diferentes frentes de expansão no território nacional, fazendo emergir novas (re)configurações geográficas e espaciais, tanto no âmbito do capital como trabalho, tendo como grande aliado o Estado (...) Essa é a lógica do sistema metabólico do capital, que na busca da acumulação evidencia seu caráter expansionista e incorporador, diluindo fronteiras e desestabilizando as relações e as formas de organização espacial anteriormente construídas, ao mesmo tempo em que cria outras relações para viabilizar a hegemonia do novo segmento produtivo (2009, pág. 39).. O impulso dado ao setor canavieiro nos anos 2000 deveu-se, segundo a autora, ao fato do Estado encampar o discurso da energia limpa e renovável, promovendo o etanol no mercado internacional, como alternativa de combustível aos derivados do petróleo9. O destaque foi o desenvolvimento da tecnologia flex e a consequente criação do mercado interno para os veículos Bicombustível a partir de 2003.. 9. Thomaz, Jr. (2010) na sua Tese de Livre Docência denuncia a manipulação ideológica que sustenta a boa aceitação da expansão dos agrocombustíveis, e especificamente do etanol, como sustentação de uma matriz energética renovável, segura, limpa e distante de conflitos que envolvem os produtores (países) de petróleo e “capaz” de contribuir com a diminuição do aquecimento global. Para este autor, é importante levar em conta que, a mistura de etanol á gasolina que poderia, em principio, diminuir a demanda de combustíveis fósseis e equilibrar o aumento decorrente da expansão do cultivo de cana-de-açúcar e da produção do próprio etanol, pode ser anulada diante do possível e esperado aumento da frota de automóveis. A polêmica se situa então, entre aqueles que confundem (propositalmente?) a melhoria das condições de vida e bem estar social com apenas o crescimento do PIB. Aliás, Thomaz Jr. revela que a maneira de produzir, tanto na fase agrícola quanto na fase de processamento industrial, causa danos ambientais, à saúde dos trabalhadores diretamente envolvidos e as populações próximas e, de forma inequívoca, graves problemas trabalhistas. Este autor nos adverte que argumentar tecnicamente que o etanol é um combustível limpo, estaríamos colocando muita sujeira debaixo do tapete.. 23.

(28) LIMA, E. C. de.. Introdução. Tanto o incremento de empregos sazonais/assalariamento temporal nas usinas e destilarias da Zona da Cana em análise, como o arrendamento de terras para o plantio de cana em áreas de assentamentos rurais de Reforma Agraria e terras indígenas10 são estratégias territoriais do agronegócio no seu processo de intensificação produtiva nessa região. Contudo, como aponta Soares, A.M. (2009), a histórica concentração fundiária da atividade canavieira permanece, mesmo tendo ocorrido transformações do ponto de vista tecnológico não houve qualquer modificação na estrutura agrária. Logo, a dinâmica geográfica em curso admite tratar esses espaços como as novas territorialidades do capital sucroalcooleiro na sua investida produtiva, visando ao aumento da produção ampliando as áreas de cultivo da cana-deaçúcar e/ou intensificando a produtividade por meio de arranjos tecnológicos e da ampliação da exploração do trabalho. Este re-arranjo territorial e produtivo do capital sucroalcooleiro nos permite refletir sobre as “novas” formas do trabalho e as suas relações no mundo dos canaviais. Se por um lado na Zona da Cana de Alagoas, Pernambuco e Paraíba atualmente o que se propaga é a riqueza do açúcar e do álcool para o mercado internacional, utilizando-se de novos termos para expressar o sujeito dessa tal riqueza, como: etanol, bio-combustível, agronegócio sucroalcooleiro e ainda agro-bio-combustível; por outro a problemática social e os conflitos por terra e pela Reforma Agrária nesta mesma região não cessam, todavia eles se ampliam. Numerosos movimentos sociais e entidades de classe foram se constituindo no decorrer do tempo, contestando a sujeição dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Já que, como aponta Oliveira (1996): (...) os conflitos no campo, no Brasil, não são uma exclusividade de nossos tempos. São, isto sim, uma das marcas do desenvolvimento e do processo de ocupação do campo no país (p.11).. Os principais movimentos sociais de luta pela terra, comissões combativas da Igreja e articulações de trabalhadores identificados durante os nossos trabalhos de campo, territorializados em forma de acampamentos rurais 10. Sobre este processo no estado da Paraíba consultar, entre outros trabalhos, Peixoto e Franco (2006) e Moreira e Targino (2009), no estado de Pernambuco Miceli e Sousa (2008) e no estado de Alagoas Silva, Maria Ester (2010). 24.

(29) LIMA, E. C. de.. Introdução. nas regiões pesquisadas em Alagoas, Paraíba e Pernambuco são: Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Brasil Terra da Gente (BTG), Movimento dos Sem Posse (MSP), Movimento da Paz (MP), Movimento da Luta pela Terra (MLT), Movimento Via (VIA), Movimento de Comissões de Luta (MCL), Movimento da Terra (MT), Via Campesina (VC),. a Federação dos. Trabalhadores do Estado de Pernambuco (FETAPE), Comissão Pastoral da Terra (CPT), Movimento da Libertação dos Sem Terra (MLST) e Movimento dos Camponeses Pobres (MCP). Alguns desses movimentos, reconhecidos durante a pesquisa, são oriundos de conflitos internos a outros movimentos sociais mais organizados ou de longa data, como é o próprio MST, que lutam por terra no espaço dominado pelo agronegócio da cana-de-açúcar. Consideramos, diante dessa constatação que o estudo das dissidências político-ideológicas no interior dos movimentos sociais no campo é importante para a Geografia Agrária, com vistas a produzir novas reflexões e referenciais interpretados pela Geografia do Trabalho. Entendemos que o vínculo que media os trabalhadores organizados ou dissidentes com o re-ordenamento territorial e produtivo do agronegócio canavieiro, nas áreas pesquisadas dos três estados foco de análise, é o processo de trabalho no que estão inseridos, que os impele, cotidianamente, a vender a sua força como única mercadoria de sobrevivência. Fato que nos coloca diante da necessidade de analisar a fragmentação da luta e do trabalho à luz das mudanças no regime de trabalho no corte da cana e no desenvolvimento de novas tecnologias para/no campo. O estudo das dissidências e formação de novas frentes de luta pela terra e a Reforma Agrária especificamente nos estados de Alagoas, Paraíba e Pernambuco, deve-se ao papel de liderança que os três estados exercem na exploração de cana destinada à produção de etanol no Nordeste. Os municípios selecionados para a pesquisa de campo na tradicional Zona da Mata foram: Santa Rita e Cruz de Espírito Santo em Paraíba; Amaraji e Goiania em Pernambuco; e Teotônio Vilela e Atalaia em Alagoas. Durante o período de realização desta tese conciliamos o tempo com a docência, inicialmente na UFPB em João Pessoa, como professor substituto e posteriormente, e até a data, na UEPB de Guarabira, no Brejo Paraibano. O contato com os alunos do Curso de Geografia de ambas as Instituições, além 25.

(30) LIMA, E. C. de.. Introdução. de propiciar grandes amigos/as colaboradores/as deste trabalho11, permitiu a realização dos trabalhos de campo nos três estados pesquisados e de discussões em sala de aula que cinzelaram parte das que são apresentadas no decorrer dos capítulos da tese. No período de 2008 a 2010 realizamos 15 saídas de trabalho de campo. Percorremos desde o litoral até os sertões destes estados na procura, não apenas de informações da fragmentação da luta na Zona da Cana hoje, mas também do resgate da memória histórica e territorial da mobilização dos trabalhadores e as suas lutas na região, especialmente da atuação e o legado das Ligas Camponesas, por serem referencias fundamentais para a classe trabalhadora e camponesa. Tivemos oportunidade também de ampliar a nossa pesquisa bibliográfica e documental no exterior, especificamente nas Universidades de Santiago de Compostela12 e Sevilha13 na Espanha. Este debate enriqueceu nossas reflexões em torno das propostas e projetos de Reforma e do processo revolucionário do campesinato na historia deste país. Já no item dissidências e esfacelamento da luta em novos movimentos sociais hoje, não conseguimos encontrar conteúdo bibliográfico sistematizado. Destacamos, no entanto, as principais obras consultadas: “Reforma Agraria e Revolución Campesina em La España Del Siglo XX” de Edward Malefakis, publicada pela Editora Ariel S. A de Barcelona, 1982; “La Reforma Agrária em Espera” de Fernando Sígler Silvera, publicada pela Editora Tréveris, Madrid, 2000 e; “Revolución Campesina y Contrarrevolucón Franquista em Andalucía” de autoria de Francisco Cobo Romero, publicada pela Universidade de Granada, 2004. 11. Sou grato e divido os resultados desta pesquisa com uma extensa “equipe de campo” composta por: a) os pesquisadores: Thiago Leite Brandão, Romina Barone Cecato, Thiago Borburema de Medeiros, Helen Nunes Fonseca da UFPB; Alexandre Farias Nogueira Peixoto, Marta Gomes da Silva, Maira Silva de Araújo, Thamires Moura Batista, Juliene Fernandes de Oliviera, Gisélio Marques Pequeno Filho e Marcilene Barbosa da Silva da UEPB; e b) os motoristas: Sr. Arimatea (Seu Ari) e Sr. Edson da UFPB, Sr. Florentino (motorista da Banda de Músicos da Policia Militar da Paraíba), Sr. Antonio (Toni) e Sr. Paulo de Guarabira e Campina Grande. 12. A visita à Universidade de Santiago de Compostela (USC) foi realizada no período de dezembro de 2008 a janeiro de 2009, convidado pela Cátedra UNESCO de MIGRAÇÃO na Faculdade de Xeografia ministrando a palestra “Migrações internas no Brasil: a mobilidade do trabalho na cana-de-açucar”. 13. A visita à Universidade de Sevilha (US) foi realizada no período de dezembro de 2009 a janeiro de 2010, no bojo das atividades do Projeto Centro de Estudos Integrados da Bacia do Rio Paraíba da Agencia de Cooperación Internacional de España (AECI), a US e a UFPB. 26.

(31) LIMA, E. C. de.. Introdução. No Brasil o contato com militantes e lideranças nos três estados estudados se deu por meio de visitas e reuniões nos Centros de Formação Política do MST em Caruaru – PE, Patativa do Assaré – Patos/PB e Centro de Formação Política “Zumbi dos Palmares - Atalaia/AL, Secretarias Estaduais do MST em João Pessoa, Recife e Maceió e junto aos representantes da CPT-NE. Foi necessário também conversar com membros do Instituto de Terras e Planejamento Agrícola da Paraíba – ITERPA, do Instituto de Terras e Reforma Agrária de Alagoas – ITERAL, Instituto de Terras e Reforma Agrária do Estado de Pernambuco - ITERPE e com representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária dos três estados. Nem sempre conseguimos entrevistar os representantes dos Institutos responsáveis por altos cargos, o que. Infelizmente. aconteceu. no. INTERPA/PB,. onde. nunca. fomos. correspondidos nos contatos estabelecidos no decorrer da pesquisa. Nas varias ocasiões que solicitamos agendamento de entrevista junto ao coordenador, isso nos foi negado. A base bibliográfica da pesquisa foi construída, prioritariamente, a partir dos acervos das Bibliotecas e Centros de Estudos da Universidade Federal de Pernambuco - Campus de Recife (UFPE), Universidade Federal de Paraíba Campus de João Pessoa (UFPB), Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Universidade Estadual da Paraíba, Campus de Guarabira (UEPB) Universidade Estadual Paulista, Campus de Presidente Prudente (UNESP), Centro de Estudos de Geografia do Trabalho (CEGeT), Laboratório de Estudos sobre Espaço e Cultura (LECgeo/UFPE), Centro de Formação Política “Paulo Freire” (MST-Caruarú, PE), Centro de Formação Política “Zumbi dos Palmares” (MST- Atalaia, AL), Biblioteca da Secretaria do MST- João Pessoa e Cátedra Gilberto Freyre, Recife/PE. Reforçamos, neste percorrido, o peso e a centralidade que o trabalho de campo teve, enquanto procedimento teórico–metodológico da pesquisa em Geografia, durante a construção das reflexões organizadas em forma de capítulos que apresentamos na continuação. Caminhar, literalmente falando, “por dentro” do mundo da cana e das suas tensões nos colocou diante do que os discursos, as tabelas e os números oficiais mascaram; do que as representações e os pontos comuns do Nordeste encobrem; do que a ideologia hegemônica burguesa aliena. Conhecer o Nordeste, podemos afirmar, 27.

(32) LIMA, E. C. de.. Introdução. recuperando as idéias do Prof. Manoel, não é apenas conseguir pensá-lo e, para nós, fundamentalmente poder experimentá-lo, vivenciá-lo, caminhá-lo. É, portanto, uma condição da própria existência. É nessa linha de entendimento que o homem e a terra se tornam unidade, totalidade dialética, movimento dos contrários. Para compreender os limites e possibilidades dos movimentos sociais que atuam no campo e que modificam sua geografia, no contexto das transformações do espaço agrário na sociedade do capital, metodologicamente procedemos, principalmente: por meio dos trabalhos de campo e visitas in loco, tanto dos territórios do capital sucroalcooleiro como nos acampamentos e ocupações dos movimentos de trabalhadores sem terra; da pesquisa bibliográfica que nos possibilitou o contato com outras áreas cientificas, como a história, sociologia e economia; da pesquisa documental em arquivos de instituições públicas como o INCRA e os Institutos de Terras dos estados da Paraíba, Pernambuco e Alagoas; do contato permanente com lideranças dos movimentos sociais em luta nos três estados, concretamente com as coordenações estaduais do MST e a CPT; da contínua participação em eventos de caráter político dos trabalhadores do campo organizados sob diferentes bandeiras e, acadêmicos da área temática de pesquisa; da interlocução e debate junto aos integrantes do Centro de Estudos de Geografia do Trabalho; CEGeT de todo o Brasil por meio das Jornadas do Trabalho, encontros de intercambio científico realizados anualmente; do estudo e pesquisa junto aos integrantes do CEGeT-Paraíba em João Pessoa e o CEGeTinho da UEPB em Guarabira/PB e dos encontros e debates com o orientador da pesquisa. Os movimentos de luta pela terra, com os que tivemos contato durante os anos de pesquisa, representam uma amostra da diversidade de grupos de trabalhadores sem terra em luta no meio dos canaviais da Zona da Cana estudada. Não significa que sejam todos os que hoje se encontram ocupando terras, até porque no mesmo tempo em que escrevemos estas palavras, acampamentos estão sendo despejados e desfeitos e novos movimentos estão se formando. O dinamismo da luta nos levou a utilizarmos de uma metodologia que privilegia a apresentação da diversidade sem desejar esgotá-la. Os movimentos foram aparecendo em forma de acampamentos à medida que 28.

Referências

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