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3. Formas de acupunctura

3.2. Moxabustão

A moxabustão consiste no aquecimento dos acupontos queimando ervas (Artemisia vulgaris ou

Artemisia sinensis) na pele ou acima da pele. O objectivo é introduzir calor no organismo de

modo a corrigir o equilíbrio Yang-Yin e a promover a circulação do Qi e do Xue (Cassidy, 2002). Geralmente chama-se moxa ao preparado de ervas secas e prontas a queimar, seja na forma de cones ou de cilindros enrolados semelhantes a charutos (Figura 7).

Figura 7. Cilindro de moxa para moxabustão indirecta. Figura 8. Moxabustão indirecta.

Figura 6. Agulhas de acupunctura esterilizadas descartáveis de aço inoxidável. Estas agulhas têm guia (tubo de plástico) que facilita a sua colocação. São indicadas para acupunctura com agulha seca e para electroacupunctura.

A moxabustão pode ser directa, quando os cones de moxa são queimados directamente sobre a pele ou indirecta utilizado-se cilindros de moxa acesos e mantidos a 2 ou 3 cm acima da pele sobre o ponto de acupunctura (Figura 8). A moxabustão indirecta é mais usada em veterinária pois é mais prática e menos traumática. É aplicada durante 3 a 15 minutos, movendo a moxa em círculos ou na vertical, até que a pele fique vermelha no ponto estimulado (Altman, 2001).

3.3. Aquapunctura e farmacopunctura

Aquapunctura é a injecção de soluções em pontos de acupunctura. É uma forma fácil e rápida de estimular os pontos. O estímulo dura o tempo necessário para que a solução injectada seja absorvida. A aquapunctura evita a contenção do animal durante um período longo, utiliza soluções que estão usualmente disponíveis em qualquer clínica e é facilmente aceite pelo proprietário (Altman, 2001). A farmacoacupuntura é a injecção de fármacos em determinados acupontos, em doses muito inferiores às usadas normalmente, mas com o objectivo de obter um efeito equipotente. Por exemplo, a injecção de um décimo da dose normal de acepromazina, é eficaz na sedação (Figura 9) (Cantwell, 2010).

As soluções a injectar podem ser água destilada, soluções electrolíticas (solução salina a 0.9%), vitaminas (principalmente B12 e C), antibióticos, extractos de plantas (desde que aprovados no país), anestésicos locais, analgésicos e anti- inflamatórios esteróides ou não-esteróides. Em animais de companhia utilizam-se agulhas hipodérmicas de 25 gauge e dependendo do tamanho do paciente e do local da injecção, aplicam-se 0.25 ml a 2 ml em cada acuponto (Altman, 2001). Por exemplo, num cão com 15 kg a

20 kg de peso pode injectar-se 1 ml de solução de vitamina B12, num ponto localizado numa massa muscular grande, com agulha de 25 a 27 gauge (Ferguson, 2007).

Outra forma de aquapunctura é a injecção de sangue do próprio animal. É usada em doenças autoimunes ou inflamatórias, e geralmente aplicada em pontos de acção local, como por exemplo o BL1 para tratar a queratoconjuntivite seca. O sangue é retirado de um grande vaso e injectado sem aditivos (em menos de um minuto) num acuponto à escolha (Ferguson, 2007).

3.4. Pneumoacupunctura

Pneumoacupunctura é uma técnica semelhante à aquapunctura, na qual é injectado ar em acupontos ou em áreas específicas de maior dimensão. A técnica é mais usada em grandes Figura 9. Sedação por farmacopunctura com acepromazina no ponto Yin Tang.

animais, especialmente equinos, pois são injectados volumes relativamente grandes de ar (100 ml no tecido subcutâneo). O procedimento requer cuidados para evitar embolismo gasoso e o animal tratado deve ser mantido em repouso alguns dias, para que o ar se difunda sem causar pressão sobre os vasos e nervos circundantes. Este método é utilizado para tonificação, em padrões de Deficiência como paresia do nervo supraescapular (Ferguson, 2007).

3.5. Acupressão

Acupressão é a aplicação de pressão na superfície corporal, num padrão geral (massagem) ou em pontos específicos. É provavelmente uma das formas mais antigas de estimulação de pontos de acupunctura e pode ser feita com os dedos, polegares e cotovelos (Kayne, 2009). A acupressão não é muito utilizada em medicina veterinária, mas pode instruir-se os proprietários para massajar pontos específicos, de modo a ampliar em casa o efeito dos tratamentos de acupunctura, nomeadamente para alívio da dor e espasmos musculares (Altman, 2001).

3.6. Implantes

A aplicação de implantes de vários materiais permite uma estimulação de longa duração. Pode usar-se catgut, aço inoxidável ou material de sutura, mas é mais frequente utilizar-se contas esterilizadas de ouro, aço ou prata. A colocação dos implantes requer anestesia geral e a preparação normal de uma intervenção cirúrgica invasiva. Coloca-se uma agulha hipodérmica de 14 gauge nos pontos de acupunctura seleccionados e através do lúmen da agulha introduzem-se as contas metálicas até aos tecidos profundos. Faz-se passar um estilete através da agulha, que mantém as contas no sítio, enquanto a agulha hipodérmica é retirada, seguida do estilete (Altman, 2001).

Os implantes são utilizados para tratar dor crónica provocada por artrite coxofemoral (Figura 10), eliminação inapropriada e epilepsia (Altman, 2001).

Pensa-se que o mecanismo de acção dos implantes de ouro seja, em parte, anti-inflamatório. A cianida, libertada das células inflamatórias, forma complexos com o ouro formando aurocianida. Este composto inibe as enzimas lisossomais das células inflamatórias e inibe o processamento de antigénio. A actividade de ligação do factor !-B-nuclear e a activação da interleucina

produção das citocinas pró-inflamatórias (Cantwell, 2010). No entanto, esta hipótese não explica o efeito dos implantes compostos por outros materiais.

Os implantes de metal podem interferir com as técnicas de imagiologia magnética, nomeadamente Imagem por Ressonância Magnética (RM) e Tomografia Axial Computorizada (TC), facto que deve ser comunicado ao proprietário e aos colegas médicos veterinários (Ferguson, 2007).

3.7. Auriculopunctura

A auriculopunctura ou auriculoterapia é uma subdivisão da acupunctura, na qual são usados os pontos no pavilhão auricular, para fins diagnósticos e terapêuticos. Nesta modalidade, muito usada em medicina humana, considera-se que a orelha é um microssistema onde estão representados todos os órgãos e funções (Still, 2001). Em Medicina Veterinária, como a forma e tamanho das orelhas é muito variável (entre espécies e entre raças) não há consenso quanto à localização exacta dos acupontos. No entanto, à semelhança da acupunctura corporal, considera-se que os pontos sensíveis devem ser tratados e podem reflectir o estado do órgão ou da região correspondente (Ferguson, 2007).

Em humanos, a inserção de agulhas nos pontos do pavilhão auricular pode ser dolorosa e provavelmente nos animais também (Still, 2001). Por este motivo, as agulhas inseridas são deixadas no local sem manipulação ou usa-se acupressão. Para esse efeito existem agulhas próprias (micro-agulhas de pressão e agulhas semi-permanentes) e apetrechos de diferentes materiais (ímans, sementes e contas de ouro, prata ou aço), que são mantidos no local com adesivo durante vários dias, até serem retirados ou se soltarem (Figura 11).

3.8. Ventosa de vácuo

Esta técnica consiste na aplicação de pressão negativa nos pontos de acupunctura. É frequentemente utilizada em humanos, mas raramente em animais de companhia, pois requer tricotomia dos pontos a tratar. Utilizam-se taças de vidro com válvulas de borracha para criar vácuo, ou taças normais nas quais se introduz álcool, que se acende. A taça é aplicada firmemente sobre um ponto e à medida que o oxigénio no interior é consumido, forma-se vácuo de modo que a pressão negativa puxe a pele e o tecido subjacente (Altman, 2001).

Figura 11. Materiais disponíveis comercialmente para a prática de auriculoterapia. Da esquerda para a direita: micro-agulha de pressão, agulhas semi-permanentes, semente de Vaccaria com adesivo e ímans.

3.9. Hemoacupunctura

A hemoacupunctura envolve a utilização de agulha afiada tradicional ou uma agulha hipodérmica com bisel, utilizada para puncionar vasos sanguíneos de modo a causar intencionalmente o sangramento. Ao contrário dos antigos métodos de sangria, na hemoacupunctura o objectivo é retirar apenas uma pequena quantidade de sangue, dentro dos limites seguros de perdas de sangue. Num gato de 5 kg pode retirar-se uma a duas gotas da veia marginal da orelha. Num garanhão de 500 kg pode retirar-se 50 a 100 ml da veia safena medial. Este método é aplicado em pontos específicos e indicado em desarmonias de estagnação de Xue, Calor de Xue e Excesso de Calor em animais robustos (Ferguson, 2007).

3.10. Electroacupunctura

A electroacupunctura (EA) consiste na passagem de corrente eléctrica através de pontos de acupunctura. Geralmente acopla-se aparelhos electrónicos (Figura 12) a agulhas já inseridas nos acupontos (Figura 13). A EA foi desenvolvida na China na década de 30, do Séc. XX, e a técnica foi melhorada na década de 50 com a investigação da analgesia por acupunctura. Nos anos 70 tornou-se mais popular e actualmente é usada amplamente no tratamento da dor, doenças e na indução de analgesia para procedimentos cirúrgicos.

A EA tem vantagens relativamente à acupunctura com agulha seca. Permite que o acupuncturista realize outras tarefas enquanto as agulhas estão colocadas e produz um nível maior e mais contínuo de estimulação. Isto é particularmente útil na analgesia cirúrgica que requer um período de indução de 30 a 40 minutos. Para além disso, a quantidade e qualidade

Figura 12. Aparelho de electroacupunctura portátil, com

regulação da intensidade, frequência, modo e tipo de corrente. Figura 13. Ligação do aparelho de electroacupunctura à agulha através de pinça de crocodilo.

da estimulação é mais exacta, uniforme e objectiva, e pode ser medida e regulada consoante a amplitude e frequência da corrente. Este método é especialmente vantajoso nos ensaios de investigação ao permitir o registo exacto dos parâmetros de estimulação e a possibilidade de replicação da experiência, o que não acontece na manipulação manual (Altman, 2001).

3.11. Laser

Na laserterapia utilizam-se dispositivos de emissão de laser ou de neon-hélio, de baixa potência (5 mW a 30 mW), que operam a comprimentos de onda de 630 nm a 670 nm para estimular acupontos (Figura 14). A laserterapia tem-se revelado promotora da cicatrização, com efeitos anti-inflamatórios e analgésicos (Ferguson, 2007).

A luz laser é altamente coerente e refracta imediatamente nos tecidos vivos. Isto significa que um feixe de luz laser é refractado nos primeiros 1 mm a 15 mm de tecido e portanto é mais eficaz no tratamento de acupontos superficiais em áreas de pele fina. Os acupuncturistas de aves consideram o laser extremamente útil uma vez que é rápido de aplicar, não é invasivo, é indolor e a pele das aves geralmente é muito fina. As desvantagens são a limitação no tratamento de grandes áreas, especialmente em grandes animais e a falta de dados acerca dos parâmetros óptimos de emissão para cada efeito (Ferguson, 2007).