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Muitos caminhos, uma só busca – A vida reconectada e feliz numa nova

É necessário abordar a remontar a trajetória de Milanez enquanto militante da causa ambiental de forma a reconstruir e ressaltar suas disposições orientadas à Sustentabilidade. Esses aspectos da sua vida estão intrinsecamente conectados, sendo assim, não é possível abordar o primeiro sem o segundo. A análise centrar-se-á no papel da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan) na sua biografia, mas embora ela tenha centralidade, não é exequível analisar o patrimônio disposicional de Milanez a partir apenas dela, pois como um ator plural (LAHIRE, 2008), Milanez transita em outros espaços organizacionais que agregam distintas socializações a sua trajetória. Tais socializações, como visto até agora, amalgamam pessoas, lugares, organizações, campos e quadros contextuais no sentido que é preciso expô-los na sua complexidade e heterogenia.

Nessa perspectiva, a Agapan enquanto organização surge com forte influência na vida de Milanez junto com a figura do ativista ambiental histórico José Lutzenberger, e é a conjunção das vivências que Mila teve com esses atores sociais que o fazem constatar que a entrada na Agapan foi um marco simbólico na sua militância. Apesar da influência central da socialização familiar nas trajetórias individuais, fica patente o impacto de outros indivíduos na vida social das pessoas, como é observado na trajetória de Milanez. Ele afirma sobre a importância da Agapan e de Lutzenberger que: “Eu era, totalmente, meio

ambiente, né? Até conhecer a Agapan. E tudo que eu possa ter feito antes, assim, coisinhas de defender animais, coisa assim, era mais um animalismo, né? Do que um ambientalismo, acho que eu te contei, no dia que eu o conheci, eu devo ao Lutzenberger ter me provocado a reflexão sobre lutar pelas pequenas coisas, eu nunca gostei muito do tarefismo, assim. Mas ele me fez compreender que não resolvia nada, mas era indispensável”.

No que pesa o quadro contextual histórico na entrada de Francisco na Agapan, é preciso trazer à luz que foi a convergência desse quadro com seu patrimônio disposicional que impulsionaram sua adesão quase imediata à Agapan. Essa cumplicidade ontológica foi habilitada também pela maneira mais branda que a luta ambiental era abordada pela repressão do regime militar vigente à época. Os ambientalistas e suas manifestações não

159 eram vistos com o mesmo grau de subversão de outras pautas. Essa observação é relevante para análise, pois sinaliza que um conjunto disposicional pôde ser melhor ativado e reforçado desde que houvesse condições objetivas para isso ocorresse.

Em outras palavras, os indivíduos não vivem apartados das determinações do mundo social, logo, as disposições de Francisco para a Sustentabilidade puderam ganhar força na militância mediada na Agapan também por conta de um cenário social e histórico razoavelmente favorável. Um relato que ilustra esse argumento analítico surge quando Mila diz que: “Com certeza, começou em 1971, no segundo semestre de 1971, quando eu

conheci e, de imediato, aderi à Agapan. Na época se fazia alguma passeata de rua, era uma época horrível pra fazer passeata, mas as nossas escaparam, como eu disse, até 1975, as nossas eram bonitinhas e toleradas, a gente só veio entender isso melhor depois, né, mas eu, na época, eu estou falando do ativismo ambiental, específico, né? É quase indissociável”.

Entretanto, apesar dos relatos do próprio Milanez conferirem centralidade a Agapan na sua militância ambiental mais propriamente dita, é preciso contextualizar que sua disposição ao engajamento político vem de antes e segue para além da Agapan. Na medida que ele adentra a vida universitária, passa também a transitar e participar em outros espaços de organização (e agitação) política que contribuíram para a ativação e reforço das suas disposições, competências a apetências ligadas não apenas a Sustentabilidade, mas também ao engajamento político em um sentido mais ampliado. Ele exemplifica isso falando que: “Um ano antes de entrar na UFRGS eu já andava nas atividades do CEUE, que era o

centro estudantil da Engenharia, alguma coisa no CAAR, que era o diretório acadêmico do Direito da UFRGS, e alguma coisa no DAFA, que era o diretório acadêmico da Arquitetura, que eram muito ativos na época”.

Um aspecto de aproximação entre a forma organizativa da Agapan, dos movimentos estudantis que fazia parte e dele próprio, era a descentralização no sentido de que esses movimentos não estavam ancorados ou orbitavam em torno de autoridades centrais. Isso quer dizer que esses movimentos, tais como o próprio Milanez, tinham uma determinada liberdade que os dinamizava e, por conseguinte (no caso dos movimentos), capilaridade e adesão no estado do Rio Grande do Sul. Essa liberdade para a circulação de ideias fez com que a Agapan especialmente conseguisse se irradiar num período consideravelmente curto pelo resto do estado gaúcho. Esse sucesso em se prolongar pelo restante do estado é expressado por Milanez com a seguinte narrativa que, ao mesmo tempo, dá conta tanto do êxito da Associação quanto do esforço para criar outras entidades igualmente

160 independentes e protagonistas: “A Agapan, rapidamente, tomou o estado inteiro,

começaram a abrir a Agapan em tudo quanto é cidade e nós, acho que foi, agora não lembro se foi 1974 ou 1976, mas nós fizemos uma reunião histórica e mandamos todo mundo catar coquinho. Que cada um falasse no seu nome e botasse, por isso que o Rio Grande do Sul virou essa panzeira, que é tudo as antigas Agapan”.

Segundo Milanez, isso ocorreria graças a uma inspiração anarquista velada na qual o reforço seria mais às identidades do que a hierarquização ou as estruturas mais rígidas de poder. É baseado nesses aspectos que Milanez enfatiza que: “Então, isso era um espírito

que movimentou o nosso movimento desde o início, sempre teve uma base anarquista. Não era anarquista, mas tinha uma filosofia, não só aqui, em outros lugares do mundo também, teve muito americano de base anarquista. Libertário de uma forma voltada ao respeito às identidades e diferenças, né? E, sobretudo, a não hierarquização e uma certa descrença do poder, né?”.

Essa descentralização e deshierarquização representam fortemente o patrimônio disposicional de Milanez e se alinham com outros aspectos que ele nomeia como “generalista” também da sua formação acadêmica, por exemplo. Ele não aspirava por uma militância específica e especializada tal qual não queria o mesmo para sua formação acadêmica, sendo assim, a Agapan também serviu como plataforma para outros ativismos, pois ela própria não era uma entidade que levantava uma única bandeira.

Em outras palavras, por meio da Agapan, Francisco podia debater e participar de outras questões políticas circunscritas no movimento ambientalista. Mais especificamente sobre a Agapan, ele afirma que: “Então, é o que eu ia te dizer, a minha característica já

clara, em 1975, quando eu entro na universidade, eu queria ser um generalista e as minhas lutas assim foram. E a Agapan, também em grande parte me ganhou, porque a Agapan é a única entidade que eu conheço, a única que eu conheço no Brasil que abraçou todo tipo de coisa!”. De certa maneira, isso está alinhado com o que vem sendo exposto também

sobre a visão de mundo ecológica e holística de Milanez, na qual não é possível compartimentar os ativismos assim como os conhecimentos sobre o meio ambiente.

Além disso, outro aspecto para a permanência de Milanez na Agapan foi que suas competências e disposições orientadas ao pragmatismo sempre foram reconhecidas e tidas como elementos valorosos no trabalho realizado. A Associação tinha membros com diferentes habilidades que se conciliavam por intermédio dos ideais que orbitavam a luta pela preservação do ambiente natural nas suas mais distintas frentes. Esses elementos relativos ao reconhecimento das suas qualidades e, simultaneamente, de valorização das

161 diferenças que se estabeleciam entre os membros da Associação fica claro quando Milanez expõe determinadas diferenças entre Lutzenberger e ele. Nesse sentido, ele explica que: “Eu sou um dos também representantes da Agapan que o pessoal gosta porque é prático,

né? Porque eu posso não ter coisa inteligente pra dizer de todas as áreas, mas tenho coisas pra dizer em todas as áreas, porque me interesso, não é por nenhum mérito. O Lutz era sempre assim, mas ele tinha um acento sempre muito agrônomo, sobre cidade eu pouco via ele falar, mas ele falava e tinha ideias, só que ele tinha uma predominância de formação, embora ele lesse muita ciência, muita, em várias línguas, a visão dele, predominantemente, era técnica”.

Retomando a importância das mudanças nas dinâmicas sociais e históricas objetivas nas organizações nas quais eles participam e nas vidas dos próprios indivíduos. No âmbito do que ocorria com a luta ambiental, ela se amplia após a redemocratização do Brasil na década de 80, pois uma série de marcos legais passam a existir ou ser melhor sistematizados. Instituições começaram a ser estruturadas de acordo com esses marcos legais, tal qual uma série de leis e normativas acessórias começaram a ser sistematizadas para habilitar a existência do estado democrático, que possui uma formatação bem mais complexa do que aquela de um regime ditatorial.

Além disso, outros avanços foram conquistados no que tangia às liberdades democráticas e esses avanços permitiram que uma série de movimentos e processos fossem engendrados, expandindo (e unindo) o horizonte dos ativismos ambientais. Francisco explica melhor essa dinâmica: “A luta foi se transformando, até os anos 1980, a luta era

muito errática, era jornal, era coisa, com a nova Constituição, se ampliou... Não que nós nunca tivéssemos entrado com ação, nós já tínhamos entrado com ações, mas se ampliou muito o lado judiciário, porque algumas coisas foram garantidas, né, os direitos...e também a ação civil pública, outras coisas que foram surgindo e se estruturando, né?”.

Entretanto, é relevante remontar que as lutas ambientais embora tenham se fortalecido na década de 80, já vinham se articulando antes disso, e as narrativas de Milanez até aqui deixam isso claro. Em Porto Alegre, por exemplo, outras questões já haviam entrado em pauta e avançado anteriormente. Milanez expõe que: “Nos anos 1970, na

segunda metade, foram lutas interessantes, começou a coleta de lixo, nós conseguimos, acabou com a poda em Porto Alegre, e começamos a investir em áreas mais estranhas como Arquitetura Biológica”.

A década de 80, o restabelecimento da democracia e seus marcos regulatórios deram, todavia, um animo diferente para aquilo que se articulava com as lutas progressistas.

162 Por exemplo, a constituição de 1988 instituiu o Sistema Único de Saúde (SUS) que foi resultado de movimentos e processos bem anteriores a culminância que se objetivou com a constituição. Guardada as devidas idiossincrasias, o mesmo vale para as lutas ambientais, uma vez que várias delas começam a ganhar força ou visibilidade para o debate nos anos 80 com a abertura democrática. As condições objetivas gerais incentivaram o avanço de pautas progressistas que tinham sido cerceadas até então e, essas condições foram, por sua vez, seminais tanto para que algumas questões progredissem quanto que outras pudessem ser abertamente discutidas. Milanez narra uma delas: “Em 1982 foi inscrita dentro da

Agapan, e apresentada a Lei dos Agrotóxicos do Rio Grande do Sul, que foi pioneirona, de 1982 até 1989, que é a lei nacional, que é a nossa distorcida e empobrecida, a Federal... mas levou todos esses anos pra se criar uma lei brasileira de agrotóxicos, e o Rio Grande do Sul já tinha desde 1982, a lei de recursos hídricos é mais ou menos dessa época, a primeira lei”.

Esse contexto em rápida transformação da década de 80 em diante conduz a um novo cenário para as ONGs que encampavam questões ambientais. Os recursos mediados pela participação de editais e escrita de projetos começaram a abundar e, assim, as ONGs passaram a se encontrar em uma espécie de dilema sobre que modelo de gestão e captação de recursos seguir, uma vez que estes seriam essenciais para a própria manutenção das organizações apesar de conduzi-las, potencialmente, a um menor grau de autonomia. Conforme posto anteriormente, em termos analíticos, não é possível dissociar disposições subjetivas individuais de qualquer ordem das suas condições objetivas de ativação e reforço, assim como não é exequível separar essas condições dos seus impactos sobre as entidades dentro das quais os indivíduos organizam suas ações.

É nessa linha de argumentação que podemos sustentar a narrativa de Milanez sobre os desafios que surgem para a gestão da Agapan, a partir da década de 80, mas que se intensificam nos anos 90, com a expansão dos financiamentos a projetos. É imperativo sinalizar como a Agapan e seus membros resolvem essa questão que é escrutinada por Francisco da seguinte maneira: “Começou a surgir dinheiro pra meio ambiente, aí todo

mundo queria fazer projeto, e na Agapan nós tivemos longas discussões sobre isso e eu fui um dos que defendeu e que, de certa forma, ganhou... Porque a Agapan não podia fazer projetos, se nós fizéssemos projetos, nós teríamos que começar a cuidar dos projetos e ia ter dinheiro. Nós nunca tivemos! Só que nós íamos dever favores e entre uma coisa que dá dinheiro, que é montar projeto, e é barbada e não faz muitas coisas... E ficar fazendo a luta, que ninguém quer fazer, é desagradável, nós tínhamos que ser de luta. Aí começaram

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a surgir e todas a ganhar muito e a Agapan continuou pobre. Só que a Agapan pode bater em quem quiser, porque não tem verba de ninguém. E isso foi um divisor de águas”.

Resgatando a heterogenia e pluralidade das socializações que Milanez estabelece em sua trajetória, conforme posto em outros momentos, seu ativismo não fica restrito a Agapan no âmbito organizativo. Ele passa a fundar e/ ou participar de outras organizações que engendravam a luta pela preservação do ambiente natural associada à preocupação com o bem-estar das pessoas e com a expansão das competências delas de melhorar suas condições de vida. É pertinente ressaltar que aí se interseccionam suas disposições sustentáveis com aquelas relativas ao cuidado com outrem. Na verdade, seria mais correto pôr que essas disposições não apenas se interseccionam, mas também seriam constitutivas e constituintes umas das outras. Além disso, a fundação e participação em outras entidades possibilitavam a Milanez aprender e interagir com outros modelos organizativos, permitiam também que ele conseguisse recursos para sustentar a si e a sua família e o proporcionavam a oportunidade de ampliar suas redes contatos. É lastreado nesses propósitos que é possível teorizar sobre a seguinte narrativa: “E aí criamos, pode ver que

isso foi em 1989, bem precocemente, a Fundação para o Desenvolvimento Ecologicamente Sustentado, a EcoFund, que pra dizer algumas coisas que nós fizemos nesse período, nós conseguimos um projeto que foi sofridíssimo, nós conseguimos com o Fundo Nacional de Meio Ambiente, pra criar um Centro de Educação em Agroecologia para pequenos produtores”.

Em outras palavras, ele ativava, reforçava, adquiria novas disposições e, concomitantemente, gerava e ampliava seus capitais cultural, social e econômico por meio do convívio e aprendizado com outras socializações. Milanez narra um projeto no qual participou ativamente a partir de 1989 que ajuda a entender essas proposições teóricas sob o ponto de vista empírico: “Nós criamos [a partir da EcoFund] desde associações de

produtores até ajudar os caras a vender, organizar a distribuição, organizar feirinha, tudo! Nós fazíamos apoio geral, sabe? Não era aquela coisa, ah, eu te ensino a controlar pragas, mas não... então foi um grande aprendizado pra nós e pra eles foi, enfim, criamos associações do nada! Não tinha nenhum produtor, convencemos alguns, ensinamos, produzimos e comercializamos”.

Com o desenvolvimento histórico das questões ambientais, uma outra frente de debate e articulação se junta àquelas que Milanez já encampava e se ganha centralidade no seu ativismo: a discussão acerca dos transgênicos. A relevância dessa questão se torna fulcral, pois Francisco sabe, por conta de sua gama de conhecimentos científicos, da

164 amplitude que o problema tem e o que ele representa para a sociedade como um todo. Os problemas relativos à transgenia se capilarizariam, envolvendo a saúde pública por conta dos impactos desconhecidos e inconclusivos que os produtos transgênicos teriam estritamente entre as pessoas, mas as problemáticas também se irradiariam para outros espaços do mundo social como a esfera da produção agropecuária nas suas mais variadas áreas. Ou seja, da produção ao consumo, a transgenia era e é uma questão que merecia uma profunda e justificada problematização. Milanez descreve sua “entrada” nessa problemática da seguinte maneira: “A EcoFund me ocupou muito, eu fiquei à frente dela

vários anos e em 1988, por aí, eu entrei em uma das lutas que mais me envolveu na vida, infelizmente, que foi os transgênicos, começaram a falar de transgenia e eu vi que aquilo era um troço muito perigoso”.

Na trajetória de Francisco, a luta contra os transgênicos não faz, todavia, com que ele se afaste de uma outra frente que tinha muito a ver com suas disposições sustentáveis, que era o ativismo em torno da Educação Ambiental. Como já analisado aqui, ele tinha uma visão multi, interdisciplinar e transdisciplinar da questão e que envolvia a formação generalista sobre a qual ele havia fundado sua formação acadêmica e seu ativismo político. Desde jovem Milanez apresentou disposições guiadas a práticas professorais e os valores morais relativos à transmissão de conhecimento sempre haviam sido caros a ele, sendo assim, compreende-se os porquês que seus diversos ativismos, todos orbitando de alguma forma a questão ambiental em torno desse eixo professoral, se alinhem invés de se desagregarem. Sobre essa concomitância, ele explica que: “Eu virei presidente [da

Agapan] e eu já estava envolvidíssimo com transgênicos, trabalhando fortemente com educação ambiental, que se for levar essa luta, essa luta eu considero importante porque em educação ambiental, desde o início da Agapan, eu trabalhei”.

Nessa linha de ação, Milanez sublinha que sua atuação enquanto educador ambiental passava distante de uma determinada visão tradicional que se associaria a práticas meramente paliativas e assistencialistas. O objetivo seminal era engendrar um processo reflexivo que transformasse de maneira dialética e dialógica as práticas das escolas (enquanto organizações) e dos diferentes agentes que participavam das interações. Era um empreendimento que tinha como alvo mudar o campo e seus agentes de dentro para fora e de fora para dentro, em suma. E, para isso, Milanez recorria às suas competências criativas e capacidade de mobilização dos seus capitais social e cultural, conforme ele relata na seguinte passagem: “A minha proposta era inserir a educação ambiental em todas as

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reuni as professoras de matemática, e lá eu falava só de matemática e ecologia. Os professores de Religião, Língua Portuguesa... cada um eu ia. E depois eu comecei a criar uns grupos que entremeavam, isso gerou as coisas mais inesperadas e interessantes do mundo. Depois, eu já comecei... e, bom, é importante dizer que desde o início eu nunca acreditei em educação ambiental, essa padrão, né? Eram sempre outras coisas. E, sobretudo, inserir um pensamento, né? Reflexivo e tal, incluindo a questão ambiental de uma forma mais profunda possível”.

Considerando as mudanças sociais e históricas vindas junto com o processo de redemocratização, um outro fator que colaborou para um determinado êxito que Milanez teve na sua empreitada na Educação Ambiental foi o engajamento de agentes políticos com visões mais progressistas que, por sua vez, forneceram as condições institucionais e materiais que uma proposta educacional diferenciada fosse executada. Francisco articulava atividade aparentemente simples e que interseccionavam uma série de saberes científicos (e intuitivos) interdisciplinarmente.

Ademais, existe a mobilização de um conjunto de capitais culturais para o alcance do objetivo. Não era necessário apenas conhecer o prefeito e expor a ideia, era preciso fazê- lo com uma metodologia que permitisse o sucesso via engajamento dos eventuais participantes. Francisco exemplifica sua abordagem, a participação dos agentes políticos e o engajamento destes com o seguinte relato: “Eu propus um trabalho, ele [o prefeito da

cidade] disse Ah, eu quero um curso aí, uma das coisas que eu quero é um curso para os professores, de educação ambiental’ eu digo ‘Não dá, tchê! Eu dou curso todo tempo, não funciona! Tu dá o curso, os professores adoram, mas no dia-a-dia eles não se sentem potentes e encorajados e vão largando, nós temos que fazer qualquer coisa, mas que seja continuada, pra dar apoio pra eles’ e o prefeito era inteligente, o secretário era um cara