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3. A ENCRUZILHADA DO COLONIALISMO, PATRIARCADO, RACISMO E

3.2 MULHERES ATINGIDAS POR BARRAGENS E MEGAPROJETOS

Todas as histórias antigas chamam a Terra de Mãe, Pacha Mama, Gaia. Uma deusa perfeita e infindável, fluxo de graça, beleza e fartura.

Veja-se a imagem da deusa grega da prosperidade, que tem uma cornucópia que fica o tempo todo jorrando riqueza sobre o mundo…

Noutras tradições, na China e na Índia, nas Américas, em todas as culturas mais antigas, a referência é de uma provedora maternal. Nada tem a ver com a imagem masculina ou do pai. Todas as vezes que a imagem do pai rompe nessa paisagem é para depredar, detonar e dominar. (KRENAK, 2019, p. 61)

A terra é a base de produção da vida e base material para o trabalho das mulheres. O trabalho realizado pelas trabalhadoras rurais garante soberania, segurança alimentar e alimentação dos povos em períodos de crise e alta dos alimentos. São elas, majoritariamente, as agricultoras de subsistência do planeta. Em tempos de fome, as mulheres alimentam14 o mundo (FEDERICI, 2018). As mulheres também são mais dependentes do acesso aos recursos comunitários e figuram como as maiores impactadas com a privatização dos bens comuns. Exercem protagonismo nas lutas sociais e atuam como principal força de oposição à mercantilização da natureza (FEDERICI, 2018).

Nos territórios onde ocorre acumulação primitiva e exploração mineral, as mulheres vivenciam os impactos psicossociais de forma particular, tendo em vista a divisão sexual do trabalho, a violência e o racismo ambiental. A construção de grandes empreendimentos e barragens impactam nas condições de vida e saúde, deixando-as expostdeixando-as a situações que aumentam a vulnerabilidade, como ausência de renda,

14Hoje, diante de um novo processo de Acumulação Primitiva, as mulheres são a principal força social que se interpõe no caminho da completa comercialização da natureza, apoiando o uso não capitalista da terra e uma agricultura voltada à subsistência. São mulheres as agricultoras de subsistência do mundo. Na África, elas produzem 80% da comida consumida pelo povo, a despeito das tentativas feitas pelo Banco Mundial e outras agências para convencê-las a diversificar suas atividades com culturas comerciais. Na década de 1990, em face do aumento dos preços dos alimentos, em muitos municípios africanos elas se apropriaram de terrenos públicos e plantaram milho, feijão, mandioca ao longo das estradas, em parques, ao longo de estradas de ferro, transformando a paisagem urbana de cidades africanas e rompendo no processo com a separação entre o rural e o urbano. Na Índia, nas Filipinas e por toda a América Latina as mulheres plantaram árvores em florestas degradadas, deram-se as mãos para expulsar madeireiros, fizeram bloqueios contra operações de mineração e construção de barragens, e lideraram a revolta contra a privatização da água. (FEDERICI, 2018, p. 313–314)

trabalho, exposição violência doméstica, sexual e sobrecarga com relação ao cuidado doméstico e à saúde dos membros da família.

Sentir no corpo os impactos e violências sofridas são parte do cotidiano das mulheres vizinhas de megaprojetos. Sentir o coração explodir quando explode uma mina. A pele rachar quando ondas de resíduos são jogados no ar. Apertar o peito ao ver os terrenos de brincar e viver sendo invadidos por dragões de aço. A territorialidade nos constitui e se expressa na forma como nos relacionamos com o mundo. Encarna em nossos corpos como extensão da vida e das afetações vividas, numa relação indissociável. As práticas cotidianas e as paisagens dos territórios se confundem com os próprios corpos das mulheres. (QUEIROZ; PRAÇA, 2021, p. 13)

A expropriação da natureza e das matérias primas estratégicas para o comércio global ocorrem em conjunto com a expropriação e apropriação dos corpos das mulheres. A apropriação estabelecida pelo capitalismo, racista e patriarcal nos territórios vai além da exploração da força de trabalho, é a exploração do corpo, do tempo, da carga para o cuidado e do sexo (GUILLAUMIN, 2014; BARROSO, 2017).

No documento elaborado pelo Fondo de Acción Urgente intitulado “Extrativismo en América Latina: Impacto en la vida de las mujeres y propuestas de defensas del territorio”, Carvajal (2016) discute que ao mesmo tempo que as atividades de exploração dos territórios acontecem, há também um aumento da violência patriarcal sob as mulheres e meninas e uma exacerbação das desigualdades de gênero.

As mulheres estão mais suscetíveis a perda da autonomia econômica e da soberania alimentar, tendo em vista a perda e a contaminação dos territórios e dos bens naturais (como a água, a biodiversidade, o ar e o solo); a precarização do trabalho e das atividades de cuidado intrafamiliar; a vulnerabilidade no direito à saúde, expostas além das enfermidades típicas de regiões extrativistas, como problemas respiratórios e de pele, à gravidez de risco, abortos espontâneos e infecções sexualmente transmissíveis (CARVAJAL, 2016).

As atividades extrativistas geram uma desarticulação das economias locais e a ruptura de “formas anteriores de reprodução social da vida, que são reorientadas em função da presença central das empresas.

Esse processo instala uma economia produtiva altamente masculinizada nas comunidades, acentuando a divisão sexual do trabalho” (Gartor, 2014), o que gera uma desvalorização do trabalho de cuidado historicamente realizado pelas mulheres. A privatização da água e de outros bens comuns - seja pela limitação de acesso ou pela

contaminação das fontes disponíveis - gera uma sobrecarga no trabalho realizado pelas mulheres (por exemplo, elas devem percorrer distâncias maiores para ter acesso à água) e as expõe para a deterioração de sua saúde. Além disso, as mulheres devem cuidar das pessoas que adoecem devido à contaminação ambiental, sem receber qualquer compensação e sem se libertar das demais cargas de trabalho habituais. (CARVAJAL, 2016, p. 32 [tradução nossa]).

Outro fator de impacto presente em territórios onde são construídos grandes empreendimentos de mineração ou energia são as construções das barragens. As barragens geram os impactos socioambientais negativos desde o anúncio da sua construção. São diversas intervenções que envolve alagamentos, inundações, isolamento, falta de segurança, contaminação e avanço em Áreas de Preservação Permanente (APP).

O relatório produzido pela Comissão Especial Atingidos por Barragens, do Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (2010), apontou que o modelo implantação das barragens no Brasil “tem propiciado, de maneira recorrente, graves violações de direitos humanos, cujas consequências acabam por acentuar as já graves desigualdades sociais, traduzindo-se em situações de miséria e desestruturação social, familiar e individual.” (CDDPH, 2010, p.13).

Para cada um desses momentos, as repercussões negativas às populações atingidas são muito marcantes. - Danos desde o anúncio:

desmobilização de políticas públicas (saúde, infraestrutura, educação), doenças psicossociais, desmobilização e êxodo rural (especialmente dos mais jovens), desvalorização dos bens (móveis e imóveis) atingidos; - Danos durante as obras: paralisia da produção, conflitos entre vizinhos e empresa, perturbação pelo uso intensivo de máquinas e detonações, assédio de agentes externos (imobiliárias e escritórios de advocacia), pressão sobre as mulheres (assédio), aumento do tráfico de drogas, prostituição e violência doméstica, atuação de forças de repressão (polícia, segurança e milícias) e do judiciário; - Danos de operação – montante e jusante: preocupação já existente sobre a segurança das populações que vivem próximas. Em relação à montante, preocupação com alagamentos, poluição, zoonoses e infestação de mosquitos, destruição dos sistemas de abastecimento e saneamento devido à elevação do lençol freático, perturbação da pesca e do pescado, desmoronamento das margens e afogamento devido à mudança da profundidade do rio para o lago da barragem. E quanto à jusante, perda da capacidade produtiva do rio (pesca e navegação) e de suas margens (ciclo natural de cheias terras de vazantes), desmoronamentos das margens e diques e o próprio rompimento de barragens. (ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020, p. 22)

São diversas as violações de direitos das populações que habitam territórios atingidos pelas barragens, sobretudo pelas mulheres, grupo social mais afetado pelo empobrecimento decorrente da operação das barragens, já que, de forma geral, são desconsideradas nas suas especificidades e possuem maior dificuldade de estabelecer seu modo de vida (CDDPH, 2010).

Como se mergulhássemos dentro de um grande pesadelo, vivenciamos a dor da perda de nossas casas, terras e do nosso jeito de viver. Cada barragem nos trouxe medo, repressão e violência.

Matou nosso rio e um pouco de nós também. Obras faraônicas alagaram nossas memórias em nome de certo "desenvolvimento".

Mas aprendemos na prática que o grande objetivo é gerar energia, extrair minério e utilizar água em benefício de grandes corporações internacionais que visam acumular cada vez mais lucro. Nada ou quase nada é revertido para nós. Mas nunca aceitamos essas violações caladas. Nós resistimos e lutamos porque é isso que fazemos desde quando viemos ao mundo. (Carta às mulheres lutadoras – MAB, 2017)

A violação dos direitos das mulheres perpassa a condição econômica decorrente do não reconhecimento do trabalho feminino. A maioria das mulheres dessas localidades são trabalhadoras rurais, autônomas ou trabalhadoras informais e não possuem seu trabalho e salário reconhecidos pelas grandes empresas no momento de remoção e pagamento de indenizações. Esta concepção tem por base a divisão sexual do trabalho e a hierarquia social que coloca o valor do trabalho feminino como secundário. O trabalho da mulher no contexto rural é compreendido pelo Estado e empresas como inferior, de baixa remuneração e complementar no orçamento das famílias, enquanto que o trabalho e renda primordial viria do homem provedor no espaço público e produtivo (ROSA, 2019).

Queiroz e Praça (2021) apontam que nestes territórios haveria uma intensificação da divisão sexual do trabalho, tendo em vista que os homens atuam em maioria nos setores produtivos, que contam com pouca ou nenhuma infraestrutura e segurança no ambiente de trabalho adaptada para mão de obra feminina. No setor produtivo, a maioria das mulheres estão localizadas em postos de trabalhos terceirizados, informais ou relacionados a atividades de limpeza e serviços gerais, e por isso, em maior insegurança e contato com os resíduos tóxicos. No caso de deslocamento para as zonas urbanas, as mulheres ocupam cargos de trabalho

precarizados, com baixos salários e realizam duplas e triplas jornadas (ROSA, 2019;

ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020; QUEIROZ; PRAÇA, 2021).

A perda da soberania alimentar com a chegada e operação de megaprojetos, que alteram a geografia dos territórios, podendo impedir práticas não monetarizadas, mas fundamentais para a segurança alimentar e nutricional, de plantio em terreiros e quintais;

além dessas não serem incluídas nas negociações reparatórias nos casos de crimes que atingem diretamente os terrenos das casas, destruindo-os. O agravamento da dependência econômica da mulher, que acontece nos contextos de megaprojetos porque, para além do cenário de salários desiguais que encontramos no mercado de trabalho como um todo, a constante masculinização da mão-obra diminui a possibilidade de inclusão das mulheres e reforça sua dependência financeira em relação aos maridos, pais e outros familiares. O reconhecimento só do homem como responsável da casa, o que impõem realidades onde existem casos onde só eles são oficialmente reconhecidos como atingidos e recebem indenizações, o que atinge a autonomia das mulheres. Por vezes o valor acaba não sendo gasto com as despesas de reprodução da casa e da família, reforçando um ciclo de violência de gênero e de invisibilidade do trabalho reprodutivo da mulher. (QUEIROZ; PRAÇA, 2021, p. 17)

A construção das barragens implica na perda de trabalhos informais e autônomos desenvolvidos anteriormente no contexto comunitário, comprometido quando há deslocamento e quebra dos laços sociais do território. As mulheres figuram também como minoria das proprietárias de terra, e por isso não são consideradas como atingidas pelas empresas, perpetuando a condição de dependência econômica dos maridos e demais membros da família (ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020).

A dissolução da comunidade e rede de apoio e proteção corrobora com a sobrecarrega no trabalho doméstico, antes partilhado com a vizinhança, e se configura como um fator de risco com relação a exposição à violência. A violência doméstica, de acordo com Carvajal (2016), pode decorrer da precarização das economias familiares, das diferenças de visão entre homens e mulheres a respeito da atividade extrativa e do aumento do consumo abusivo de substâncias psicoativas em com destaque para o álcool, que está relacionado diretamente com o aumento dos índices de violência.

Com a construção de barragens e seus impactos ambientais e sociais como a perda da terra, dos postos de trabalho, do rio e da casa, as mulheres são vítimas de profundas perdas que vão para além das materiais, sofrendo graves problemas de depressão e desilusão

associados à desestruturação de suas vidas e ao afastamento do convívio de parentes e amigos. Não se pode desconsiderar o vínculo comunitário, cultural e solidário que essas pessoas estabelecem, verdadeira rede de apoio familiar entre elas que será destruída com a chegada da barragem. As mulheres são as principais prejudicadas na quebra dessa rede, pois a elas compete a guarda dos filhos e o seu sustento, muitas vezes alicerçado pelas vizinhas e familiares. A chegada de muitos trabalhadores à região, associada à falta de planejamento prévio para receber um grande número de pessoas à procura de emprego, acarreta a sobrecarga sobre os serviços públicos coletivos (hospitais, Postos de Saúde, escolas, saneamento, dentre outros) e assim percebe-se o agravamento de diversas doenças e o surgimento de outras. (ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020, p. 26)

Rossato, Corbo e Nespoli (2020) destacam a exclusão das mulheres nos processos de decisão envolvidos na implementação das barragens. Excluídas, silenciadas e negadas no que diz respeito aos seus direitos, são afastadas da participação e controle social, tendo em vista seu papel histórico de fortalecimento comunitário e resistência frente a estes megaprojetos. A mudança repentina associada ao deslocamento compulsório, ao isolamento, a mudança no modo de vida, a ruptura dos laços comunitários, perda de renda e sobrecarga no trabalho doméstico pode estar associado ao sofrimento psíquico e impactos na saúde mental.

Em áreas de barragens, observou-se ainda maior exposição a infecções sexualmente transmissíveis, à gravidez de risco e abortos inseguros, além do aumento dos casos de estupro e violência sexual associados a elevada demanda decorrente do mercado sexual e de prostituição. As regiões que possuem uma presença majoritária de trabalhadores homens, advindos de outros territórios, criam uma demanda para uma rede de exploração sexual e a prostituição de mulheres, crianças e adolescentes. As mulheres e meninas estão mais vulneráveis a situação de violência sexual, muitas vezes exercidas pelos agentes do Estado, agentes de segurança privada e grupos militares presentes nos territórios (CARVAJAL, 2016;

BARROSO, 2017; ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020; GAGO, 2020).

A contratação de grandes volumes de trabalhadores estrangeiros aos territórios que eleva, dentre outras coisas, os índices de violência sexual, comprometendo a mobilidade e a segurança das mulheres jovens e adultas. Nesse mesmo sentido, vemos o nascimento dos filhos dos megaprojetos: podendo variar conforme a atividade produtiva (filhos da mineração, filhos do vento), as mulheres vivem a maternidade solo, que também é um dos mecanismos de empobrecimento das mesmas (em diversos casos a gravidez é fruto

do abuso e as vítimas dissuadidas de seu direito legal de interrupção da gestação). (QUEIROZ; PRAÇA, 2021, p. 15)

A prostituição e o serviço sexual realizado pelas mulheres funcionam como processos de controle dos trabalhadores que atuam nesses megaprojetos. Seja como diversão, alivio do estresse e solidão do trabalho produtivo, a satisfação da necessidade sexual masculina envolve a apropriação coletiva e dominação de meninas e mulheres, de forma socialmente naturalizada e conivente pelas empresas e poder público (PEDUZZI, 2012; FALQUET, 2014; BARROSO, 2017).

Fatos vivenciados na construção das hidroelétricas de Belo Monte na região de Altamira-PA e Santo Antônio e Jirau em Porto Velho-RO, em que ao lado dos imensos canteiros de obras, coexistiam casas de prostituição, receptoras inclusive, de um grande contingente de mulheres oriundas de outras regiões. De acordo com o relatório da Plataforma Desha Brasil (2011), após o início das obras em Porto Velho, o índice de estupro aumentou em 208% e o abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes cresceu em 18% (BARROSO, 2017).

Paralelamente, há espaços vizinhos de socialização —bares ou locais de interação masculino/feminino—, que se convertem em espaços de objetificação, consumo e desejo, permeados pela violência de gênero.

Essas espacializações, invisibilidades e desigualdades em relação às mulheres permitem a reprodução da violência e dos abusos contra as mulheres. Da mesma forma, as redes espaciais entre os enclaves de mineração, seu entorno e seus impactos territoriais (por exemplo, migrações de homens para enclaves de mineração e a permanência de suas famílias em suas casas em lugares distantes) geram processos de espacialização de, por exemplo, a produção (proximidade dos sítios de extração) e a reprodução (casa, distância do sítio de extração), que perpetuam os papéis de gênero e aprofundam as desigualdades econômicas, sociais e políticas. Essas relações espaciais implicam controles territoriais: apropriações de territórios e corpos e a construção de identidades que são permitidas ou socialmente aceitas em determinados lugares. Espaços sociais que devem ser considerados, pois perpetuam relações desiguais associadas ao público/privado, que, quando transgredidas ou confrontadas, geram violência, principalmente contra as mulheres.

(ULLOA, 2016, p. 129 [tradução nossa])

Ainda com relação à saúde, a mudança no ecossistema local decorrente de desmatamento, das construções de diques, reservatórios, e o consequente desequilibro ambiental podem gerar aumento na transmissão de doenças, arboviroses

e ataques de animais peçonhentos. A alteração do território e comprometimento do solo e meios de subsistência das populações afetam também a soberania alimentar a condição de nutrição das famílias. A fome, a nutrição inadequada de crianças e a contaminação ambiental também gera adoecimento nas populações vizinhas e maior sobrecarga no trabalho das mulheres responsáveis pela manutenção da casa, limpeza e cuidado de doentes e idosos (ROSSATO; CORBO; NESPOLI, 2020)

As mulheres atingidas pelos grandes projetos têm publicizado as consequências desses empreendimentos em suas vidas. Entre as questões apontadas, destacam-se: o não reconhecimento do trabalho doméstico e do campo; a ausência das mulheres nos espaços deliberativos; a não qualificação das mulheres do campo para o trabalho urbano; a forma autoritária e truculenta com que os funcionários das empresas tratam e discriminam as mulheres; a ausência de serviços básicos que inviabilizam a mobilização e a participação das atingidas; a perda dos vínculos com a comunidade e a quebra dos laços familiares; e o agravamento da violência e prostituição. (BARROSO, 2017, p. 95).

Os impactos aqui listados são ainda mais agravados quando ocorre rompimentos de barragem e situações de crime e desastre socioambientais como o ocorridos em diversas regiões do Brasil, com destaque aos rompimentos da barragem de Fundão em Mariana-MG e seu impacto em toda bacia do rio Doce, e da barragem B1 da Mina de Córrego do Feijão em Brumadinho-MG. Os colapsos de barragens tem sido cada vez mais recorrentes no Brasil e sua sobreposição ao contexto de crise econômica, social e sanitária, resultam em violações de direitos similares das populações locais, em especial das mulheres e crianças.

3.3 A LUTA E ORGANIZAÇÃO DAS MULHERES ATINGIDAS NOS SEUS