• Nenhum resultado encontrado

2. O NEOEXTRATIVISMO MINERAL E O COLAPSO DAS BARRAGENS

2.1 RACISMO AMBIENTAL E REPATRIARCALIZAÇÃO DOS TERRITÓRIOS

Os grandes empreendimentos extrativistas se alojam em localidades de forma a aprofundar o racismo ambiental e a repatriarcalização dos territórios. São expressões do racismo ambiental os impactos relativos à destruição e privatização de bens comuns, a perda de soberania, danos na saúde através do contato com poluentes e resíduos tóxicos, contaminação, extinção de espécies e biodiversidade que atingem de forma diferenciada determinados grupos populacionais.

O conceito de racismo ambiental se refere às injustiças ambientais que atingem majoritariamente populações racializadas e de etnias socialmente vulneráveis, sobretudo, populações negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas, caiçaras e ciganas que vivenciam os impactos da instalação e operação de grandes projetos extrativistas e de exploração nos seus territórios. Projetos que, em geral

implicam na degradação do meio ambiente, deslocamento compulsório, êxodo populacional para as periferias dos centros urbanos e a mudança do modo de vida e cultura de determinada localidade (HERCULANO, 2008; BARCELLOS, 2013).

O termo nasce na década de 1980, no centro das discussões e lutas pelos direitos civis, realizadas pelo movimento negro estadunidense, com relação às injustiças ambientais vivenciadas pela população negra e indígena. Compreende-se por injustiça ambiental a destinação desproporcional e em maior intensidade dos impactos e danos socioambientais a grupos socialmente marginalizados e alocados na periferia do sistema capitalista, como populações periféricas e empobrecidas, grupos étnicos e povos tradicionais (HERCULANO, 2008).

O conceito diz respeito às injustiças sociais e ambientais que recaem de forma desproporcional sobre etnias vulnerabilizadas. O racismo ambiental não se configura apenas por meio de ações que tenham uma intenção racista, mas igualmente por meio de ações que tenham impacto racial, não obstante a intenção que lhes tenha dado origem.

Diz respeito a um tipo de desigualdade e de injustiça ambiental muito específico: o que recai sobre suas etnias, bem como sobre todo grupo de populações ditas tradicionais – ribeirinhos, extrativistas, geraizeiros, pescadores, pantaneiros, caiçaras, vazanteiros, ciganos, pomeranos, comunidades de terreiro, faxinais, quilombolas etc. – que têm se defrontado com a ‘chegada do estranho’, isto é, de grandes empreendimentos desenvolvimentistas – barragens, projetos de monocultura, carcinicultura, maricultura, hidrovias e rodovias – que os expelem de seus territórios e desorganizam suas culturas, seja empurrando-os para as favelas das periferias urbanas, seja forçando-os a conviver com um cotidiano de envenenamento e degradação de seus ambientes de vida. Se tais populações não-urbanas enfrentam tal chegada do estranho, outras, nas cidades, habitam as zonas de sacrifício, próximas às indústrias poluentes e aos sítios de despejos químicos que, por serem sintéticos, não são metabolizados pela natureza e, portanto, se acumulam. (HERCULANO, 2008, p. 16)

Smith (2005) chama atenção para o dado de que nos Estados Unidos, as terras e reservas indígenas estão cada vez expostas à realização de testes militares e nucleares, a produção de urânio, despejo de lixos tóxicos e diversos danos ambientais gerados por grandes empreendimentos (SMITH, 2005; BARCELLOS, 2013). O Mapa de Conflitos e Injustiça Ambiental em Saúde no Brasil, elaborado pela FIOCRUZ (2022), registrou 615 situações de conflitos no país, e comprova que o perfil de maior incidência das populações impactadas por crimes e desastres socioambientais são

populações indígenas, quilombolas, pequenos agricultores, pescadores e ribeirinhos habitantes de territórios afastados dos centros urbanos e que estão na mira da expansão e exploração capitalista.

O desprezo pelo espaço comum e pelo meio ambiente se confunde com o desprezo pelas pessoas e comunidades. Os vazamentos e acidentes na indústria petrolífera e química, a morte de rios, lagos e baías, as doenças e mortes causadas pelo uso de agrotóxicos e outros poluentes, a expulsão das comunidades tradicionais pela destruição dos seus locais de vida e trabalho, tudo isso, e muito mais, configura uma situação constante de injustiça socioambiental no Brasil. (...) Assim, tendo em vista o maior grau de desigualdades e de injustiças socioeconômicas, bem como a renitente política de omissão e negligência no atendimento geral às necessidades das classes populares, a questão da justiça ambiental, para ser adequadamente equacionada entre nós, deve açambarcar também outros aspectos, tais como as carências de saneamento ambiental no meio urbano e a degradação das terras usadas para acolher os assentamentos de reforma agrária, no meio rural. Pois não são apenas os trabalhadores industriais e os moradores no entorno das fábricas aqueles que pagam, com sua saúde e suas vidas, os custos das externalidades da produção das riquezas brasileiras, mas também os moradores dos subúrbios e periferias urbanas onde fica espalhado o lixo químico, os moradores das favelas desprovidas de esgotamento sanitário, os lavradores no campo, levados a consumir agrotóxicos que os envenenam, e as populações tradicionais extrativistas, progressivamente expulsas de suas terras de uso comunal.

(HERCULANO, 2008, p. 5-6)

Os impactos a estas populações no contexto socioambiental refere-se ao desmatamento, queimadas, erosão do solo, incêndios, enchentes, pesca ou caça predatória, assoreamento dos rios, desertificação, contaminação por substâncias tóxicas e metais pesados, intoxicação, falta de saneamento básico, favelização, poluição atmosférica, sonora, do solo e dos recursos hídricos, entre outros. No contexto da saúde, essas populações estão mais expostas a acidentes, contaminação química ou por agrotóxicos, insegurança alimentar, destruição, doenças respiratórias, doenças transmissíveis, doenças crônicas, alcoolismo, piora na qualidade de vida, suicídio, ameaça, lesão corporal, violência psicológica e assassinatos (FIOCRUZ, 2022). Herculano (2008) pontua que é só observar a cor da pele das pessoas que habitam as favelas, os morros, os barracos e quais corpos estão destinados as piores condições de vida e são mais atingidos pelos grandes empreendimentos e catástrofes.

Mecanismos e processos sociais movidos pelo racismo ambiental naturalizam as hierarquias sociais que inferiorizam etnias e percebem como vazios os espaços físicos onde territórios estão constituídos por uma população que se caracteriza por depender estreitamente do ecossistema no qual se insere. Em suma, trata-se aqui da construção e permanência de relações de poder que inferiorizam aqueles que estão mais próximos da natureza, chegando a torná-los invisíveis.

(HERCULANO, 2008, p. 17)

Além da perspectiva de classe social, é importante frisar que a formação social do Brasil está estruturada a partir do racismo e do patriarcado que juntos aprofundam a condição de desigualdade e exploração de determinados grupos sociais. Silvio Almeida na obra “Racismo estrutural” discute que a ideia de raça como conceito político, que só tem sentido quando compreendido no contexto social e antropológico.

Podemos dizer que o racismo é uma forma sistemática de discriminação que tem a raça como fundamento, e que se manifesta por meio de práticas conscientes ou inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios para indivíduos, a depender do grupo social a qual pertençam. Embora haja relação entre conceitos, o racismo difere do preconceito racial e da discriminação racial. O preconceito racial é o juízo baseado em estereótipos acerca de indivíduos que pertençam a um determinado grupo racializado, e que pode ou não resultar em práticas discriminatórias. (ALMEIDA, 2019, p.

32)

A caracterização entre seres humanos é um advento produzido no século 16, diante do contexto histórico do surgimento da modernidade, expansão colonial e ascensão da burguesia. A cultura renascentista do período foi responsável pela

“construção do moderno ideário e filosófico que mais tarde transformaria o europeu no homem universal (atentar gênero aqui é importante) e todos os povos e culturas não condizentes com os sistemas culturais europeus em variações menos evoluídas”

(ALMEIDA, 2019, p. 32)

Raça não é um termo fixo, estático. Seu sentido está atrelado as circunstancias históricas em que é utilizado. Por traz da raça sempre há contingência, conflito, poder e decisão, de tal sorte que se trata de um conceito relacional e histórico. Assim, a história da raça e das raças é a história da constituição política e econômica das sociedades contemporâneas. (ALMEIDA, 2019, p. 24)

De acordo com Cabnal (2010), o racismo se configura como uma opressão histórica e estrutural que se imbrica nos territórios latino-americanos no contexto de dominação colonialista sobre os corpos dos povos originários, sobretudo sobre os corpos das mulheres indígenas. A autora conceitua o racismo a partir de uma metáfora, como uma raiz de origem patriarcal que cresce, se alimenta e se fortalece nas colônias e está desde o princípio da confirmação das repúblicas, países, leis e instituições baseados na dominação dos povos a partir da ideologia dominante de base ocidental e eurocêntrica.

O racismo estrutural e colonial institui uma nova ordem hierárquica e simbólica que organiza as relações nos territórios, subjuga os modos de vida de povos indígenas, controla, oprime e domina toda atividade e pensamento produzido pelos corpos compreendidos como racializados. Como afirma Cabnal (2010, p. 20 [tradução nossa]), “A intenção do racismo através da colonização foi tão estratégica que conseguiu lançar as bases para que a vida das mulheres indígenas ficasse submersa em perpétua desvantagem, pelo fato de serem mulheres.”

No contexto da formação social e econômica brasileira, o genocídio vivenciado pelos povos indígenas e o sequestro e escravização de populações oriundas de países da África para o trabalho escravo nas fazendas e minas, e a consequente desumanização, tortura, violência compõe à condição histórica estabelecida na colonização através do domínio do homem branco. O racismo como condição estrutural da sociedade brasileira desumaniza, desqualifica e estabelece uma hierarquia que define as algumas populações são biologicamente inferiores e por isso responsáveis pela desigualdade, pobreza e violências que estão acometidas (HERCULANO, 2008). A estes grupos estão historicamente reservadas as condições mais precárias de vida, moradia, trabalho e renda, o que sustenta e organiza as condições de exploração de uma grande massa de trabalhadores no contexto capitalista.

O racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares, não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é estrutural.

Comportamentos individuais e processos institucionais são derivados de uma sociedade cujo racismo é regra e não exceção. O racismo é parte do processo social que ocorre “pelas costas” dos indivíduos e lhes parece legado pela tradição esse caso além de medidas que coíbam o racismo individual e institucionalmente, torna-se imperativo

refletir sobre mudanças profundas nas relações sociais, políticas e econômicas. (ALMEIDA, 2019, p. 50)

Além da condição de classe e raça, como já apontado por Cabnal (2010), é importante ressaltar que a pobreza e os impactos da espoliação nos territórios atingem de forma particular as mulheres. A remoção e deslocamento forçado das famílias, a perda dos laços comunitários, impactos na condição de saúde, interdição de modos de vidas e consequente precarização das condições materiais intensificam a condição de subalternização das mulheres. A natureza, compreendida como recurso inesgotável, está subordinada à lógica de exploração e do mercado, assim como o tempo e o trabalho realizado pelas mulheres, também compreendido como inesgotável (PULEO, 2012; SOF, 2015; FEDERICI, 2018).

A causa de fatores como a militarização dos territórios, a contaminação dos recursos naturais e a desarticulação das economias locais, o extrativismo afeta as vidas, os corpos e os territórios das mulheres. Os projetos extrativistas estão também associados ao aumento de fenômenos como a prostituição, o estupro, problemas de saúde, restrição da liberdade e deslocamentos forçados. Reforçando a cultura patriarcal existente na América Latina e Caribe, o extrativismo contribui também para consolidar papeis tradicionais de gênero e o modelo de masculinidade hegemônica. Diante deste fenômeno, a mobilização, resistência e luta das mulheres é permanente. Elas estão em primeira linha na luta pela terra e a defesa dos recursos naturais e são protagonistas de inúmeras mobilizações, como mostram os conflitos representados no mapa. Seu papel é fundamental como lideranças nos protestos e ocupações, mas também na proteção e a manutenção da vida. Apesar disso, elas enfrentam a invisibilização do seu papel e marginalização social.

Contra elas se praticam também formas de criminalização específicas e, com frequência, são excluídas da propriedade da terra e na hora de negociar ou tomar decisões que afetam diretamente suas vidas.

(GRISUL, 2018, p. 8)

García-Torres et al. (2020) apontam que os grandes projetos extrativistas produzem nos territórios explorados uma “nova ordem patriarcal” que aprofunda as relações prévias de desigualdade entre homens e mulheres e atualiza práticas machistas e violentas. A autora vai chamar de repatriarcalização dos territórios, as diversas violências que se entrelaçam e coexistem como consequência da exploração extrativista e como resposta a resistência das mulheres contra a construção dos grandes empreendimentos e mercantilização da natureza. Garcia-Torres et al. (2002)

pontua que as mulheres vivenciam nos seus corpos e territórios a repatriarcalização através das dimensões política, econômica, ecológica, cultural e corporal.

1) a dimensão política, referente aos processos de tomada de decisões para a implantação de grandes projetos extrativos nos territórios; 2) a dimensão econômica, referente à conformação de estruturas econômicas patriarcais que submetem economias comunitárias e de cuidados e práticas de reprodução da vida, mediante assalariamento masculinizado e expropriação de terras comuns e bens naturais; 3) a dimensão ecológica, que corresponde à interrupção dos ciclos de reprodução da vida, resultando em uma maior feminização da responsabilidade em garantir condições de reprodução social, cuidados com a saúde coletiva e enfrentamento da insegurança alimentar diante da perda de agrobiodiversidade; 4) a dimensão cultural, mediante aprofundamento ou alteração das representações e estereótipos sexistas no plano simbólico e dos imaginários; e 5) a dimensão corporal, que reflete a intensificação dos modos de disciplinamento, controle social e violência machista sobre corpos sexuados e racializados (SEABRA, 2021, p. 44-45).

As violências vivenciadas em territórios ao redor dos megaprojetos são mais acentuadas sobre os corpos das mulheres negras, indígenas, quilombolas, do campo e da periferia das cidades, de mulheres lésbicas, transexuais e travestis e de ativistas e lideranças comunitárias que se posicionam em defesa dos territórios e da vida nos contextos de conflito socioambientais. A violência política e patriarcal se faz presente através de ameaças de lideranças, difamação, atentados, agressões físicas, estupros e feminicídios políticos ou territoriais exercidos por agentes ligados ao capital ilegal, paramilitares, milicianos e jagunços contratados pelo capital privado que com métodos coloniais atualizam cenários de guerra. Como exemplo, destaca-se o assassinato da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro, o feminicídio de Beta Cáceres, em Honduras, e o recente assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips, no Amazonas (ULLOA, 2016; GRISUL, 2018; GAGO, 2020; SEABRA, 2021;

FONTES, 2021).

É importante destacar que essa luta anti-extrativista é criminalizada de diversas formas, uma vez que há o silenciamento das denúncias, mobilizações e protestos contra os impactos do extrativismo, fazendo uso de diversos tipos de violência, ameaças, detenções arbitrárias, complexos processos legais que supõem altos custos para os atores sociais envolvidos, chegando ao assassinato das lideranças desses movimentos (GRISUL, 2018). Um exemplo é o feminicídio político,

nomeado como “feminicídio territorial” (GAGO, 2020), ocorrido em 2016, da hondurenha Berta Cáceres. Ela era defensora dos direitos dos povos e do meio ambiente e lutava junto aos povos originários Lenca e ao Conselho de Organizações Indígenas e Populares de Honduras (COPINH) contra a instalação de projetos extrativistas, como a construção da hidrelétrica de Agua Zarca (RMR, 2019). Aqui cabe destacar o grande poder exercido pelos entes privados sobre o Estado, que, para impor os projetos do extrativismo ou ocultar seus efeitos nocivos, recorrem a acordos secretos e corrupção (GRISUL, 2018). Nessa perspectiva, o assassinato de mulheres pode ser entendido como uma “nova forma de guerra”. (FONTES, 2021, p. 8-9)

A intersecção entre a classe, o gênero, raça, território e meio ambiente compõe os contextos que o avanço do capitalismo se dá para apropriação da natureza e também dos corpos, do trabalho, do tempo das mulheres. Nos territórios a exploração do corpo-terra-território feminino se reproduz através do controle da sexualidade, da sobrecarga dos trabalhos de cuidados e da reprodução da vida, em forma de dependência econômica do salário dos homens, precarização e inviabilização do trabalho feminino, cada vez mais alocado em postos informais e maior exposição a violência doméstica e de gênero representado pelas perseguições e assassinatos (SEABRA, 2021).

Esse cenário evidencia os desafios à organização coletiva e comunitária como forma de ampliar o poder de interferência frente a estas dinâmicas pela autoproteção contra os modos de estigmatização racista e sexista, de controle da reprodução, do exercício da sexualidade e de sua criminalização. Esses processos afetam com mais força as mulheres racializadas quando elas irrompem e ocupam a cena pública e/ou comunitária, assim, desorganizando as estruturas de silenciamento e subordinação. Como consequência, essas mulheres enfrentam violências não apenas oriundas de agentes estatais e empresariais, mas também no contexto dos próprios movimentos e comunidades. É importante ressaltar que o processo de feminização que recai sobre mulheres, natureza e territórios abarca, igualmente, coletividades inteiras. Neste sentido, os homens racializados, subordinados nas hierarquias prevalecentes, sofrem inúmeras violências e são feminizados e deslegitimados perante a dominação política e econômica da elite branca. É necessário diferenciar o patriarcado branco de outras expressões locais, dependentes etc. Da mesma forma, não se trata de supor uma opressão compartilhada entre todas as mulheres, pelo contrário. É importante buscar analisar como a repatriarcalização em função da territorialização dominante pressiona as relações de gênero, territoriais e comunitárias instituídas em um dado contexto, a partir da concretude das relações vividas e também almejadas. É importante refletir sobre os processos crescentes de militarização dos territórios, densificação e segregação urbana de forma articulada a essas dinâmicas. Isto porque eles culminam em perda de autonomia

territorial das mulheres e de outros corpos feminizados e racializados pela masculinização do espaço ou dos territórios. (SEABRA, 2021, p.

46-47).

Como afirma Seabra (2021, p. 40), “As opressões do modelo de acumulação do capital e dos mecanismos de controle e morte globais não são neutras; elas articulam os vários rostos da dominação racista, patriarcal, heterossexista, imperialista e colonial também sobre a natureza.” Ao debruçar-se sobre a vivência e a subjetividade das mulheres atingidas pela espoliação mineral nos seus corpos-terra-territórios, parte-se do entendimento que a apropriação, controle e atuação das mineradoras alteram e reconfiguram a ordem local de forma a impactar de forma distinta as mulheres.

O contexto do rompimento da barragem de Fundão será melhor explanado a partir do quarto capítulo dessa tese, de forma a aprofundar como um cenário de crise após desastre aprofundou as opressões e impactos psicossociais nos territórios atingidos. As subjetividades dos corpos-terra-territórios atravessados pela lama de rejeitos despejados pela mineração narram de forma complexa a história de espoliação dos bens comuns da natureza e as possibilidades de enfrentamento e resistência ao gigantismo das empresas nos seus territórios.

3. A ENCRUZILHADA DO COLONIALISMO, PATRIARCADO, RACISMO E