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nosso estudo ficam localizadas na área urbana do município de Serra – ES, situado na região metropolitana da Grande Vitória. O primeiro motivo da escolha por este município se deu em virtude de eu residir no mesmo, o que facilitou a pesquisa de campo no que se refere aos deslocamentos e demais custos, que foram financiados com recursos próprios. Porém, entendemos também que o fato de Serra ser, atualmente, o município mais populoso do Estado do Espírito Santo e possuir um total de vinte e nove escolas estaduais, destas, onze ofertando o Médio Regular Noturno, tornam um excelente território de pesquisas nesse segmento.

Borges (2015, s.p, apud Catedra 201?, p.245) destaca que os registros históricos indicam que a criação do município de Serra está ligada à fundação da Aldeia Nossa Senhora da Conceição da Serra, em 1556, pelo padre jesuíta Braz Lourenço, juntamente com os índios Temiminós, saídos do Rio de Janeiro. A situação de vila independente data de 02 de abril de 1833, quando foi desmembrada do território que pertencia à Vitória. O status de municipalidade foi obtido em 06 de novembro de 1875 quando, por decreto governamental, deixou de ser vila e foi elevada à categoria de cidade.

Segundo informações advindas do site oficial do município, nos últimos trinta anos, Serra conheceu uma transformação radical, deixando de ser predominantemente rural, para tornar-se o principal polo industrial do Espírito Santo e a segunda economia do Estado, sendo superado apenas por Vitória. Abriga empresas da área de logística, especialmente de transportes e armazenamento, grandes projetos industriais tais como o CIVIT67 (Centro Industrial de Vitória) e a Arcelor Mittal Tubarão (antiga CST). Em nossos dias, das 200 maiores indústrias do Espírito Santo, 46 se encontram em Serra. A implantação desses

67 Criado no primeiro ano do governo de Arthur Carlos Gerhardt Santos (15 de março de 1971 a 15 de março de

1975) é um distrito industrial, localizado no município de Serra, que hoje dá nome a essa localidade que concentra empresas de variadas atividades, atraídas para a região pelos incentivos fiscais e baixo custo de terrenos.

projetos industrias trouxeram ao município um fluxo migratório gigantesco a partir da década de 1970, conforme comprova tabela a seguir:

Tabela 1 – População do Município de Serra – ES (1960-2014)

Ano População % de Crescimento 1960 9.162 --- 1970 17.286 88,67 1980 82.581 477,73 1991 222.158 169 2000 321.181 44,57 2009 404.688 25,99 2013 467.318 * 15,47 2014 476.428 * 1,94

* Estimativa IBGE (2013) ** Estimativa IBGE (2014) Fonte: (SOUZA, 2015, apud CATEDRA, 201?, p. 136)

A questão demográfica é uma particularidade muito significativa neste município,

segundo Cátedra (201?). Entre os anos de 1960 a 2014 a população aumentou um percentual

de 5.183%. Esse gigantesco crescimento, em um curto espaço de tempo, criou uma enorme demanda por serviços públicos em geral, especialmente nas áreas de saúde e educação, dado que grande parcela dessa população possui baixa renda, conforme demostra a tabela abaixo.

Tabela 2 – Renda, pobreza e desigualdade - município - SERRA - ES

1991 2000 2010

Renda per capita (em R$) 329,47 472,25 705,89

% de extremamente pobres 10,99 5,52 1,57

% de pobres 32,49 20,53 6,10

Indice de Gini 68 0,50 0,52 0,47

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br>. Acesso em: 15 jun. 2018.

A maior parte da mão-de-obra de Serra está empregada na indústria, mas setores como a prestação de serviços e comércio também geram muitos postos de trabalho. Na tabela abaixo apresentamos alguns dados referentes à população atual com destaque para a parcela que se relaciona mais diretamente com o Ensino Médio.

68 É um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre

os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar. Fonte: http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/4088. Acesso em 15 de jun. 2018.

Tabela 3 – Dados sobre o município de SERRA – ES

Área da unidade territorial 547,637 km²

População no último censo [2010] 409.267

População estimada em 2017 502.618

População na faixa de etária do Ensino Médio (15 a 19 anos) 37.473 Taxa de escolarização de 6 a 14 anos de idade [2010] 96,9 %

Matrículas no ensino médio [2015] 15.810

Salário médio mensal dos trabalhadores formais [2015] 2,7 salários mínimos

PIB per capita [2015] R$ 36.656,02

Renda per capita (2015] R$ 705,89

Percentual da população com rendimento nominal mensal per capita de até 1/2 salário mínimo [2010]

32,9 % Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) [2010] 0,739

Fonte: https://cidades.ibge.gov.br/. Acesso em: 01 ju.2018.

A demanda por serviços públicos se mantém na atualidade, acrescenta Cátedra (201?) e é agravada por uma outra situação muito recorrente nessa municipalidade. Existe neste município, um fluxo migratório, extremamente ativo e instável. Muitos imigrantes advindos principalmente da Bahia e de Minas Gerais, que buscam em Serra trabalho e melhores condições de vida, o que nem sempre encontram, se mantêm em constante deslocamento entre seu território de origem e a municipalidade serrana, indo e voltando a estes. Dessa forma, dentro de um breve período, observa-se mudanças expressivas no perfil etário da população em Serra69, conforme demonstrado nas pirâmides etárias na página seguinte70.

69 Cátedra (201?) destaca que estatísticas mais detalhadas desse movimento migratório estão em processo de

elaboração.

70 Mesmo com disponibilidade de espaço nessa lauda, optamos por manter as pirâmides etárias na mesma página

Figura 1 - Pirâmide etária - SERRA – ES - distribuição por sexo,

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br>. Acesso em: 15 jun. 2018.

Fonte: PNUD, IPEA e FJP. Disponível em: <http://www.atlasbrasil.org.br>. Acesso em: 15 jun. 2018.

Essas constantes variações no perfil etário da população serrana influenciam diretamente na demanda pela oferta de vagas nos sistemas públicos de ensino. Em curto espaço de tempo tem-se mudanças expressivas na procura de vagas nas escolas, por exemplo, em um ano ela é maior pelo ensino fundamental, no outro pela educação infantil, depois volta para o fundamental, em outro se concentra no médio. Essa situação é bem desafiadora aos

Figura 1 – Pirâmide Etária - SERRA – ES - distribuição por sexo, segundo os grupos de idade (2000)

gestores públicos. Além disso, o fluxo de transferência de alunos é muito intenso, refletindo também nos índices de evasão e reprovação.

Em nosso período de observações nas escolas, em todas elas, pudemos constatar a materialização dessas situações. Alunos novos chegando a qualquer momento do trimestre, sem a devida avaliação (quantitativa), o que gera muitos temores quanto à questão da reprovação. Alunos que matriculavam-se e permaneciam nas escolas por duas ou três semanas apenas. Alunos que estavam matriculados, mas que não frequentavam as aulas e que a escola também não conseguia contato, precisando, por vezes, tomar os devidos encaminhamentos legais. Destes últimos, era comum ouvir nas aulas quando o professor, durante a chamada, perguntava aos demais colegas de sala se tinham notícias, respostas do tipo: Voltou para a

Bahia, Voltou para Minas, professor.

Essas questões têm reflexo no processo de ensino-aprendizagem e, consequentemente, sobre o ensino de História. O professor 2, por exemplo, nos relatou em conversas, em momentos de planejamentos, que esse ‘entra e sai de alunos’ o obrigava a repetir avaliações constantemente. Quando acreditava ter finalizado seus diários, novamente tinha que alterá-los para acertar pendências de ‘notas de meninos (as)’ que estavam saindo ou chegando a escola. O docente 1 destacava que era difícil avançar com os conteúdos pois “sempre tinha que voltar com a matéria devido a alunos novos que estavam vindo de outro turno ou de outra escola” (DOCENTE 1, 2018, informação verbal). O docente 3 destacou que essa movimentação toda contribui, em muito, para o aumento do desinteresse dos alunos. Desanimado, ele nos relatou que se aborreceu algumas vezes ouvindo dos alunos que não iriam realizar determinada atividade ou trabalho pois já estavam saindo da escola e não iam dedicar-se a realizá-los. Isto, mesmo com o professor esclarecendo a importância de fazê-los para sua aprendizagem e sua aprovação para a próxima série.