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Enfatizando o que pontuamos na apresentação desse estudo, os sujeitos protagonistas são os professores de História em suas práticas docentes. Nesse tópico apresentaremos esses sujeitos, trazendo à tona sua formação, um pouco de sua trajetória profissional, seu interesse pela profissão de professor de História e algumas de suas ideias sobre essa disciplina.

O docente 1 tem 37 anos de idade, é natural de Minas Gerais e reside em Serra há mais de 20 anos. É graduado em História desde de 2006, pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), e possui especialização lato sensu em Gestão Educacional, concluída em 2008, e em Tecnologia Educacional, finalizada em 2013. Já atua como professor de História há 17 anos. Destes, 16 anos com o Ensino Médio Regular Noturno. Possui vínculo efetivo na rede estadual do Espírito Santo e também na rede municipal de Serra. Trabalha na EEEFM A desde 2002, quando ainda era possível estudantes de graduação lecionarem nessa rede. A nós mostrava grande identificação com a unidade de ensino, pois se referia a ela com entusiasmo, apontando-a como uma boa escola pública, organizada, onde o clima de trabalho entre funcionários e discentes era muito bom, por isso destacava que não tinha pretensões de se inscrever em processos de remoção para mudar de local de trabalho.

Quando, foi perguntado se sua opção pela licenciatura em História tinha algum motivo em específico, ele respondeu da seguinte forma:

[...] eu fiz o bacharelado e a licenciatura. Meu interesse em História era enquanto conhecimento mesmo. Conhecer História, pesquisar e talvez um dia produzir alguma coisa de conhecimento em História. A licenciatura em relação a trabalho. Atuação né. A gente na idade, quando entra na licenciatura, eu pelo menos quando com 17 anos, a gente pensa em atuação de trabalho. Você consegue uma coisa que você gosta que é conhecer História e poder ensinar para alguém é melhor ainda. (DOCENTE 1, 2018, informação verbal).

Na fala do docente 1 podemos observar que a escolha pela licenciatura passa pelo gosto pessoal para com a disciplina História somada à possibilidade de conciliar ela a uma profissão, no caso professor.

Em nossas observações de campo, constatamos que esse sujeito presava muito em manter boas relações interpessoais com seus alunos. Na sala, buscava interagir constantemente com os mesmos, preocupando-se em chamá-los pelo nome e utilizando uma linguagem mais simples em suas aulas expositivas, instrumento que utilizava com muita frequência. Durante suas explicações orais, utilizava metáforas tais como, quem entendeu o

assunto dá um like e compartilha o canal, referindo-se ao conteúdo que havia trabalhado.

Comumente atribuía pontos extras aos educandos que participassem com perguntas ou comentários pertinentes aos temas desenvolvidos na aula.

O docente 2 tem 59 anos de idade, é natural de Minas Gerais e morador de Serra há mais de 30 anos. Possui o curso técnico de magistério e é graduado em História pela UFES, desde 2006. Cursou também a especialização lato sensu em Gestão Educacional, concluída em 2010, e em História Geral para o ensino Fundamental e Médio, finalizada em 2015. Atua como professor há 18 anos, sempre na rede estadual, como contratado, alternando entre o

Ensino Médio, Fundamental e EJA em diferentes turnos. No Ensino Médio Regular Noturno, somados, possui 6 anos de experiência. É o quarto ano que atua na EEEFM B, sendo o segundo consecutivo. Mesmo alternando períodos não contínuos de trabalho nessa unidade de ensino, esse docente, sempre que tem a possibilidade de escolher, trabalha nela, porque, segundo ele, gosta de trabalhar nessa escola e também o local tem maior proximidade de sua residência.

Sobre sua opção pela licenciatura em História, assim se pronunciou:

Bom eu sempre gostei muito de ler, gosto muito até hoje. Sempre fui muito curioso. E eu comecei no meu curso muito tardiamente, eu já tinha 38 anos, quando voltei a estudar, fiz o magistério. Fui tentar um vestibular que eu nem imaginava que fosse passar e eu optei por Historia ou Geografia por causa das provas descritivas. A minha vontade mesmo era fazer Psicologia mas aí eu optei por História e Geografia, que era uma base boa que eu tinha de leitura, e como eu gosto mais de História do que de Geografia, eu optei por fazer História já sabendo que o destino seria a sala de aula. (DOCENTE 2, 2018, informação verbal).

A fala desse sujeito destaca que a escolha da profissão de professor de História foi muito mais pelas possibilidades que foram se colocando em sua trajetória de vida, do que por uma escolha associada a uma realização pessoal. Notamos, em nossas observações de campo, que, embora sempre pontual e ético em suas atividades laborativas, esse docente não evidenciava um grande entusiasmo no seu ofício de ensinar História.

À medida que íamos conquistando sua confiança, o docente 2 nos relatou que, por já estar atuando há muitos anos na educação e estar em vias de se aposentar, tem uma postura de não se desgastar com os alunos, especialmente nessa escola. Ele justifica esses posicionamentos no fato de a maioria dos educandos não demostrar interesse pelas aulas e a questão da violência, que é corriqueira na comunidade afetando diretamente a unidade de ensino. Dessa forma, para se preservar e evitar problemas de ameaças, como já sofrera no passado, ele destacava que conduzia suas práticas de forma a transmitir, de maneira tranquila, os conteúdos, desenvolvendo avaliações que não causassem prejuízos aos educandos, dado que a maioria deles tinha uma base de conhecimentos pouco sólida e cobrar em demasia era perda de tempo.

Por sua vez, o docente 3 tem 32 anos de idade, é natural de Vitória, mas reside na Serra há mais de 10 anos. Terminou a Licenciatura em História pela Faculdade Saberes, no ano de 2012, e a especialização lato sensu também em História na Educação Básica no ano de 2014. Atua como professor de História há cerca de dois anos e meio, alternando contratos nas redes municipal e estadual. Com o Ensino Médio Regular Noturno é seu primeiro ano de experiência, assim como também é seu primeiro ano de trabalho na EEEFM C.

Ao dialogarmos com ele sobre sua opção pela licenciatura em História, ele enfatizou que a escolha, em si, não teve um motivo específico e nem era sua primeira opção, mas que hoje possui grande realização nessa docência, afirmando que

Se eu disser que tem um motivo eu estaria mentindo. Eu queria fazer educação física. Só que eu converso com os alunos e ai você percebe que, aquilo gera “pra” você, você tem curiosidade pelas coisas que acontecem no mundo. Você sabe como as coisas funcionam. Se eu fizesse educação física não estaria realizado não. A História, ela me completou. Eu como pessoa, eu quanto profissional. É o que eu gosto de fazer. Porque se eu fizesse outra coisa não seria a mesma coisa. (DOCENTE 3, 2018, informação verbal).

Esse docente ressaltou sua predileção por trabalhar com o Ensino Médio Noturno, seja regular ou EJA, pois entende que as interações entre professor e alunos são melhores, dados que eles estão cognitivamente mais preparados para debater História.

Durante nossa participação nas aulas, observamos que o docente 3, em várias ocasiões, dialogava com os educandos a respeito de que, no Ensino Médio Noturno, o aluno deveria se portar como um adulto, ciente de seus direitos e responsabilidades. Esse sujeito partia de uma percepção de que o educando teria que ter um nível mínimo de maturidade para estar estudando à noite, e, aqueles que não possuíssem esse requisito, deveriam correr atrás disso com urgência. Também cobrava dos alunos um silêncio quase que monástico nas aulas. Embora essa fala específica do professor evidencie um certo grau de autoritarismo, no dia a dia constatamos ações que não confirmavam essa postura. Era comum ele receber atividades fora dos prazos estabelecidos, redistribuir alunos em grupos de trabalhos por conflitos entre eles, remarcar provas em virtude de faltas de educandos. Embora exigisse grande silêncio em suas aulas expositivas, metodologia essa que predominava em suas práticas, nunca presenciamos o mesmo encaminhar qualquer discente à coordenação da escola, mesmo havendo situações propícias a isso durante suas aulas.

Para finalizar esse tópico, abrimos espaço para um simples comentário que também é relacionado à identificação dos nossos sujeitos. Mais uma vez a realidade da forte questão migratória no município de Serra se manifesta, dado que os professores 1 e 2 são naturais de Minas Gerais e o docente 3, embora seja da região Metropolitana da Grande Vitória75, também advém de outra municipalidade.

75 Formada pelos municípios de Vitória, Serra, Vila Velha, Cariacica, Viana, Guarapari e Fundão. É a região

mais populosa do Estado do ES, concentrado segundo dados do IBGE 1.960.213 (48,8%) da população capixaba.