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1. A COMPREENSÃO GEOGRÁFICA DO TURISMO

3.2. Municipalização do Turismo

Em agosto de 1994 o governo do então Presidente Itamar Franco, através da EMBRATUR lançou o Programa Nacional de Municipalização do Turismo - PNMT, modelo de uma metodologia que segundo Dias (2003) foi idealizada e elaborada pela OMT – Organização Mundial do Turismo e que teve a sua primeira experiência de ação na Espanha. O foco do programa foi pautado em cima da sustentabilidade do turismo em discussão com as localidades, ou seja, a elaboração, o planejamento e a execução das ações deveriam partir das comunidades locais através de seus agentes locais, neste ponto Bonito se destacou, pois já estava organizada na produção do turismo. Segundo a EMBRATUR, o programa tinha o segunte objetivo:

Fortalecer o Poder Público Municipal para que, em conjunto com as instituições privadas e os representantes da comunidade, assumisse a co-responsabilidade e fosse partícipe da definição e da gestão das políticas, dos programas e das ações locais voltadas para o desenvolvimento do turismo sustentável. (EMBRATUR, 1999).

Para o governo federal a idéia de descentralizar o planejamento e a gestão do turismo era vista como uma saída para resolver e encaminhar uma política de ação do turismo, que ainda se encontrava incipiente, em toda a dimensão do

território nacional. O PNMT, foi implementado em nosso contexto histórico, mesmo

que não tenha sido uma experiência muito bem sucedida na Espanha. (SANTOS

FILHO, 2003, p.1). As características geográficas e as dimensões do Brasil podem ter sido um entrave para o desenvolvimento do programa, entretanto, o Governo Federal insistiu na propagação desta idéia por oito longos anos.

O Programa, através de suas ações de conscientização, chegou ao final de 2002 em torno de 500 municípios conscientes da importância do turismo e alguns com maiores avanços em termos de organizações, como a criação de um conselho municipal de turismo e fundos de arrecadação para investimentos na atividade. É fato que antes de 1994 o Brasil tinha algo em torno de 30 municípios reconhecidos turisticamanente e que ainda contavam com o apoio e divulgação no exterior, através do órgão máximo do turismo. A própria EMBRATUR, através do PNMT, chegou a identificar no país 1.800 municípios com potencial turístico, um número muito grande em relação à quantidade total de municípios no país que era de 5.561 (IBGE, 2008). Um país com esta quantidade de municípios, dos quais quase 33% com algum potencial turístico, tornam quase impraticáveis a sua organização e comercialização de forma adequada e com a qualidade que o mercado exige. Além do mais para a população visitante e analisando o município como produto, neste contexto geral, vários destinos apresentam produtos turísticos homônimos ou singulares. Este fato justifica a comercialização em conjunto desses destinos, caracterizando assim um primeiro passo para a chamada regionalização do turismo.

A ação do governo federal para a difusão do PNMT foi intensa, com ações diretas junto a prefeituras para que entrassem no programa e obtivessem benefícios. Segundo Santos Filho (2003, p.1), que relatou na época: os municípios sofrem um

assédio violento feito pelo marketing e reuniões em que prefeitos por questões financeiras e políticas se deixam atrelar aos interesses de políticos de carreira, na perspectiva de verbas ao município. O legado positivo do programa foi que de uma

forma ou de outra, em municípios com ou sem potencial turístico, foram repassadas metodologias para o início de ações em prol da implantação e estruturação local para a inserção na atividade turística que se idealizava ter no país.

Para alcançar os objetivos propostos, o PNMT organizou-se em torno de cinco grandes ações estratégias: Definir e difundir por todos os meios que estivessem ao seu alcance, os princípios básicos norteadores do processo de

municipalização do turismo; elaborar e aplicar metodologia, apropriada à realidade brasileira para o desenvolvimento do turismo sustentável; estabelecer uma rede de agentes multiplicadores e instituições parceiras para a operacionalização do programa; envolver as comunidades locais através da realização de oficinas e encontros, com aplicação de técnicas de enfoque participativo; e apoiar os municípios nas iniciativas que tinham por finalidade o fortalecimento institucional e na elaboração de planejamento estratégico para o desenvolvimento do turismo sustentável. Os objetivos específicos do PNMT esclarecem os cinco princípios propostos como norteadores das ações do plano, descentralização, sustentabilidade, parcerias, mobilização e capacitação (ALMEIDA e ROCHA: 2008, p.109-110).

O plano proposto e executado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso se resume em transferir para os governos municipais a responsabilidade de acreditar e investir no turismo. Cabe à esfera federal somente oferecer suporte técnico, de informação e capacitação. Recursos para infra-estrutura e fomento da atividade seriam de responsabilidade também dos governos municipais, o que na teoria pode até parecer bom, mas que na prática foi bastante contraditório, pois a grande maioria dos municípios brasileiros tem dificuldades para manter sua estrutura básica social (ALMEIDA e ROCHA: 2008, p.109-110).

O programa foi muito criticado pelos estudiosos da época, pois se acreditava que não havia grandes investimentos na área de infra-estrutura, e que somente o trabalho de conscientização em nível municipal não causaria um grande impacto na atividade em termos econômicos, o que de fato realmente aconteceu.

Os custos para o desenvolvimento da atividade são elevados e os benefícios chegam somente em longo prazo, oportunizando somente benefícios a empresários estrangeiros que pouco contribuem para o desenvolvimento das comunidades onde se inserem, e acabam por promover as desigualdades, a segregação, exclusão social, a deformação e destruição de culturas e formas de organização social (ALMEIDA e ROCHA: 2008, p.109-110).

Desta forma, a atividade se desenvolveu basicamente na sensibilização da comunidade para a atividade do turismo, mas os investimentos não chegaram e assim não foi possível beneficiar a comunidade com oportunidades de emprego no

setor. Este fato desestimulou grande parte dos envolvidos, pois não viram retorno imediato.