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2.1 CADEIA DE SUPRIMENTOS (SUPPLY CHAIN)

2.1.2 Níveis de relacionamentos na Cadeia de Suprimentos

Os relacionamentos entre empresas na SC foram classificados por autores como Spekman, Kamauff Jr. e Myhr (1998), Moharana et al. (2012), Backstrand (2007) e Ma, Pal e Gustafsson (2018). Neste estudo foi adotada a classificação proposta por Marqui, Moura e Alcântara (2013), que os dispõe conforme três níveis de integração, quais sejam: cooperação, coordenação e colaboração.

No contexto do SCM, estes três termos têm sido utilizados sem serem distinguidos claramente um do outro, ou seja, como se tivessem o mesmo conceito (ZACHARIA; NIX;

LUSCH, 2009; MOHARANA et al., 2012; MARQUI; MOURA; ALCÂNTARA, 2013; HUDNURKAR; JAKHAR; RATHOD, 2014; MONTOYA-TORRES; ORTIZ-VARGAS, 2014; RAMANATHAN, 2014; SOOSAY; HYLAND, 2015). Contudo, a colaboração é o objetivo final das fases por meio das quais um relacionamento em uma SC pode evoluir, o qual inicia-se com a cooperação, passa pela coordenação, até atingir a colaboração (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998; HARRISON; HOEK; SKIPWORTH, 2014).

Segundo Harrison, Hoek e Skipworth (2014), os aspectos obrigatórios dos relacionamentos aumentam até atingirem a colaboração. Para os referidos autores, a coordenação é o passo fundamental para a integração em uma SC, já a colaboração vai além da integração, pois inclui compromissos de longo prazo, compartilhamento de tecnologias e sistemas integrados de planejamento e controle, bem como a interdependência entre as empresas.

A Figura 5 sumariza as fases de transição até alcançar a colaboração e algumas das práticas que lhes caracterizam. A transição é descrita de modo linear, embora deva-se entender que são necessárias mudanças de comportamentos e de orientação estratégica entre os membros da SC para passar de um nível para o outro (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998). Figura 5 - Transição de negociações de mercado aberto para colaboração

Fonte: Adaptado de Spekman, Kamauff Jr. e Myhr (1998)

Nem todos os relacionamentos são candidatos a evoluírem até a colaboração, pois os membros de uma SC podem cooperar e coordenar certas atividades, mas mesmo assim não se comportarem como verdadeiros parceiros (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998; ZHANG; CAO, 2018). Cooperação, coordenação e colaboração são conceitos diferentes, que, consequentemente, envolvem diferentes níveis de confiança, compromisso e compartilhamento de informações (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998).

Integração Planejamento conjunto Compartilhamento de tecnologia Poucos fornecedores Contratos de longo prazo Links de informação Troca de dados Colaboração Coordenação Cooperação Discussões baseadas em preço Relações de concorrência Relações de mercado aberto

Na cooperação, as empresas trocam informações básicas e estabelecem algumas relações de longo prazo com um número limitado de fornecedores e clientes críticos; já na coordenação, ocorre um fluxo contínuo de informações críticas e essenciais por meio do uso da tecnologia da informação; enquanto que na colaboração, há um alto nível de compromisso, confiança e compartilhamento de informações (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998; SINGH; POWER, 2009). Também se diferenciam quanto à importância estratégica e à complexidade de gestão: os relacionamentos que são estrategicamente importantes e complexos de se gerenciar devem ser tratados de forma colaborativa (SPEKMAN; KAMAUFF JR.; MYHR, 1998), como pode ser visualizado na matriz apresentada na Figura 6.

Figura 6 - Importância estratégica e complexidade de relacionamentos em Cadeias de Suprimentos

Fonte: Adaptado de Spekman, Kamauff Jr. e Myhr (1998)

Zacharia, Nix e Lusch (2009) consideram que a cooperação e a colaboração são abordagens diferentes da coordenação. Conforme os referidos autores, a cooperação envolve a comunicação e o trabalho em conjunto para equilibrar a tensão entre objetivos individuais e comuns. Ao simplesmente compartilhar informações sobre necessidades e desejos individuais, cada empresa pode fazer alterações que beneficiam uma ou ambas as empresas, com o objetivo de minimizar qualquer impacto negativo sobre a outra. Por outro lado, a colaboração exige um conjunto de conhecimentos e um nível muito mais alto de tomada de decisão conjunta, compartilhamento de informações e estabelecimento de metas conjuntas destinadas a melhorar objetivos compartilhados e individuais.

Moharana et al. (2012) destacam que a cooperação enfatiza o alinhamento em direção a objetivos comuns e propósitos compartilhados, porém, no seu contexto, a noção de “trabalhar juntos” não sugere uma estreita relação de trabalho operacional. Já a coordenação, refere-se a uma relação mais direta e ativa que a cooperação, com um processo de tomada de decisão interativo e conjunto. A colaboração, por sua vez, é sinônimo de trabalho em conjunto, enquanto

Colaboração Cooperação Coordenação Relações de mercado aberto Alta Importância Estratégica Baixa Complexidade Alta Baixa Importância estratégica Baixo

que a coordenação e a cooperação apontam apenas para objetivos e esforços comuns; indica um processo conjunto e interativo que resulta em decisões e atividades conjuntas, e em um maior grau de implementação conjunta.

Para Marqui, Moura e Alcântara (2013), cooperar e coordenar operações com parceiros estrategicamente selecionados é o caminho para alcançar a colaboração. Contudo, salientam que a cooperação é uma condição necessária, mas não suficiente, para alcançar a coordenação, e a coordenação é uma condição necessária, mas não suficiente, para alcançar a colaboração.

Neste sentido, Marqui, Moura e Alcântara (2013) desenvolveram um Modelo conceitual, no formato de uma escada composta por três etapas, que estabelece as características e os comportamentos requeridos em cada um dos níveis de relacionamentos (cooperação, coordenação e colaboração), conforme ilustrado na Figura 7. As características referem-se à mentalidade que as empresas devem incorporar, caso desejem se engajar em práticas colaborativas. Já os comportamentos, referem-se às ações que precisarão executar para implementar práticas colaborativas e alcançar potenciais benefícios.

Figura 7 - Escada para a Colaboração

Colaboração Características: - Comprometimento - Cultura organizacional compatível - Confiança Comportamentos:

- Adoção de objetivos e metas comuns - Adoção de modelos padronizados de medida de desempenho - Interação multifuncional - Desenvolvimento e manutenção de relacionamento próximo e de longo prazo

- Treinamento para a Cadeia de Suprimentos

Coordenação

Características:

- Flexibilidade - Liderança

- Sincronia na tomada de decisão

Comportamentos:

- Investimento em TI

- Padronização e documentação de processos

- Planejamento conjunto - Suporte da alta gerência

Cooperação Características: - Comunicação - Transparência - Interdependência Comportamentos: - Compartilhamento de informações

Portanto, há um consenso na literatura de que, ao se focar em relacionamentos nas SCs, o nível mais alto de integração é a colaboração, pois baseia-se em um alto nível de confiança; compromisso; planejamento e tomada de decisão em conjunto, quanto a questões operacionais e estratégicas; compartilhamento de recursos, processos, informações e riscos; estabelecimento de objetivos mútuos; e trabalho em conjunto para atingir metas e alcançar soluções ótimas (ZACHARIA; NIX; LUSCH, 2009; MARQUI; MOURA; ALCÂNTARA, 2013; SOOSAY; HYLAND, 2015).

Contudo, embora a colaboração seja baseada em objetivos mútuos, trata-se de um processo de auto interesse no qual as empresas só participam caso contribua para sua própria sobrevivência, isto é, cada membro procura alcançar seus benefícios individuais, como a eliminação de funções redundantes, redução de transações, obtenção de estoques mais baixos, aumento da capacidade de resposta, dentre outros (SIMATUPANG; SRIDHARAN, 2002).