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Os números reveladores do problema

No documento Qualidade de vida e doença mental (páginas 79-82)

PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

ÍNDICE DE FIGURAS

2. A DOENÇA MENTAL: DO ÂMBITO INTERNACIONAL PARA O NACIONAL

2.1 Os números reveladores do problema

Analisando a carga das doenças no mundo, que se reflete em anos de vida com incapacidade de 2001 (WHO, 2003a), podemos dizer que a magnitude e a carga das doenças mentais têm um peso enorme na carga total de todas as doenças. Cerca de 450 milhões de pessoas estão afetadas por uma doença mental ou de comportamento, sendo que 33% dos anos vividos com incapacidade são causados por doenças neuropsiquiátricas. Apenas a doença depressiva unipolar é responsável por 12,15% de anos vividos com incapacidade e constitui a terceira causa que contribui para a carga global das doenças. Das seis causas mais frequentes responsáveis pelos anos vividos com incapacidade, quatro são doenças psiquiátricas, nomeadamente a depressão, as doenças associadas ao álcool, a esquizofrenia e a doença bipolar (WHO, 2003a, 2004; WHO & WONCA, 2008). Acresce ainda que, 150 milhões de pessoas sofrem de

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depressão num dado momento das suas vidas e que, por cada ano, se suicidam cerca de 1 milhão de pessoas. Cerca de 25 milhões de pessoas sofrem de esquizofrenia, 90 milhões de doença associada a álcool e outras drogas (WHO, 2003a; WHO & WONCA; 2008). Ainda, segundo perspetivas da Organização Mundial da Saúde, o número de indivíduos com estes problemas aumentará com o envelhecimento e como resultado de conflitos sociais, o que aumentará a carga global destas doenças e implicará um custo enorme em termos de sofrimento, incapacidade e miséria (WHO, 2003a).

Ao analisarmos a prevalência das doenças mentais em alguns países verificamos que varia de 4% na China a 26% nos Estados Unidos da América. A variabilidade da prevalência pode ser justificada por limitações de ferramentas de diagnóstico, de informação entre países e pela influência do estigma e discriminação (WHO & WONCA, 2008).

Os países da Região Europeia da OMS enfrentam grandes desafios relativamente ao trabalho a realizar de promoção do bem-estar das suas populações; de prevenção de problemas de saúde mental em grupos marginalizados e vulneráveis; de tratamento e; em cuidar e apoiar a recuperação das pessoas com problemas do âmbito da saúde mental.

Na região Europeia a saúde mental tornou-se uma prioridade crescente devido à tomada de consciência dos custos económicos, sociais e humanos, nomeadamente o sofrimento pessoal, que acarretam os problemas de saúde mental. A prevalência das doenças mentais na Europa é muito alta. Dos 870 milhões de pessoas que vivem na Região Europeia da OMS, estima-se que cerca de 100 milhões possam a qualquer momento sofrer de ansiedade e de depressão; 21 milhões, de doença por uso de álcool; mais de 7 milhões, de doença de Alzheimer e outras demências; cerca de 4 milhões, de esquizofrenia; 4 milhões de doença bipolar e; 4 milhões, de doença de pânico. As doenças neuropsiquiátricas são a segunda causa de sobrecarga na Região Europeia, depois das doenças cardiovasculares, representando 19,5 de anos vividos com incapacidade, sendo que cinco dos maiores problemas contribuidores para anos vividos com incapacidade são doenças mentais. A depressão, por si só, é a terceira maior causa representando 6,2% de todos os anos vividos com incapacidade, sendo a mais importante causa dos anos vividos com incapacidade (WHO-Europe, 2005).

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De acordo com o Livro Verde – Melhorar a saúde da população - rumo a uma estratégia de saúde mental para a União Europeia (Comissão das Comunidades Europeias, 2005), a doença mental atinge um em quatro cidadãos da União Europeia e estima-se que 27% dos europeus adultos vivem pelo menos uma forma de doença mental durante um determinado ano. As formas mais comuns de doença mental na União Europeia são os síndromes ansiosos e a depressão, acrescentando que se prevê que a depressão seja a primeira causa de morbilidade nos países desenvolvidos (WHO-Europe, 2005; Comissão das Comunidades Europeias, 2005). O suicídio é um dos mais trágicos problemas de saúde mental, sendo que nove dos países com as maiores taxas de suicídio são na Região Europeia (WHO-Europe, 2005). Suicidam-se na União Europeia cerca de 58.000 pessoas por ano, o que ultrapassa o número anual de vítimas mortais de acidentes de viação, homicídio e vírus de imunodeficiência humana (VIH/síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA) (Comissão das Comunidades Europeias, 2005).

Em 2004, estimava-se que, em Portugal, a prevalência de perturbações psiquiátricas na população geral rondasse os 30%, sendo aproximadamente 12% o correspondente a perturbações psiquiátricas graves. Não existiam dados de morbilidade psiquiátrica de abrangência nacional que permitissem caracterizar melhor o país (Direção Geral da Saúde, 2004a).

O terceiro censo psiquiátrico foi realizado em 2001 em Portugal, em todas as instituições públicas e privadas, no Continente e Regiões Autónomas (68% de instituições públicas; 27,3% de Ordens Religiosas e 4.5% de Instituições Privadas). Os dados foram recolhidos em consultas externas e urgência de 12 a 18 de Novembro de 2001, e em internamento em 14 de Novembro de 2001. O censo teve em conta a utilização da Classificação Internacional de Doenças, 9ª versão – CID9. Este estudo aponta para uma predominância de depressão (cerca de 20% da população) na consulta externa, de alterações associadas ao consumo de álcool na urgência e, de esquizofrenia no internamento. Verificou-se que, no seu conjunto, as esquizofrenias foram as patologias mais frequentes, com 3595 doentes (21.2%), seguidas das depressões com 2525 (14.9%), das oligofrenias com 2268 (13.3%), das alterações associadas ao consumo de álcool com 1502 (8.8%), das neuroses com 1456 (8.6%) e correspondendo as restantes patologias a 5647 doentes. Aponta, ainda, para que em Portugal, a depressão tendesse a aumentar e, em

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conjunto com a esquizofrenia, fossem responsáveis por 60% dos suicídios (Direção Geral da Saúde, s.d.; Direção Geral da Saúde, 2004a).

O Primeiro Estudo Epidemiológico Nacional de Saúde Mental foi conduzido entre 2006 e 2009 e permite ter uma perspetiva da carga dos problemas de saúde mental em Portugal. Este estudo, inserido num projeto internacional, coordenado pela Universidade de Harvard e a OMS, pretende determinar a prevalência, ao longo da vida, nos últimos doze meses e no último mês, de problemas psiquiátricos específicos na população não institucionalizada. Pretende, ainda, conhecer o perfil de utilização dos serviços e os problemas no acesso e conhecer e caracterizar alguns fatores de risco associados a estes problemas (Silva, 2012). Em Portugal, o estudo foi realizado com uma amostra de 3849 indivíduos adultos de 258 localidades. Os seus resultados preliminares foram apresentados publicamente em 23 de Março de 2010 em Lisboa. Aproximadamente 43% dos portugueses sofreram de doença mental ao longo da vida. Quase 23% das pessoas tiveram nos 12 meses que antecederam o inquérito tiveram uma doença mental. Ainda, segundo os primeiros dados do mesmo estudo, as doenças mentais mais frequentes na população portuguesa são a ansiedade (16,5%) e a depressão (7,9%). Adianta, ainda, que os fatores associados a doenças mentais são o sexo feminino, o grupo etário entre os 18 e os 24 anos, o estado civil divorciado/viúvo ou separado e o nível médio /baixo de literacia (Diário de Notícias, 2010; Silva 2012). É também dado a perceber que a grande maioria das pessoas com doença mental não tem acesso a qualquer tratamento e, que 33,6% das pessoas com doenças graves, não recebem tratamento em nenhum dos níveis dos serviços de saúde (Silva, 2012).

O Eurobarómetro (European Commission – Eurobarometer, 2010), Indica-nos que o consumo de antidepressivos pelos portugueses é mais do dobro da média europeia (15 % contra 7 % da média da União Europeia) e que são consumidos em mais situações de depressão do que ansiedade, sendo que na União Europeia são consumidos nas duas situações de igual maneira. Este facto pode ser um indicador indireto da carga da doença mental em Portugal.

No documento Qualidade de vida e doença mental (páginas 79-82)