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PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

ÍNDICE DE FIGURAS

5. QUALIDADE DE VIDA E DOENÇA MENTAL

5.3 ESTUDO I Qualidade de Vida das pessoas com doença do humor

5.3.1.2.2 WHOQOL-Bref

Os instrumentos de medida da QDV relacionadas com o estado de saúde incluem medidas de capacidade funcional, do estado de saúde, de bem-estar psicológico, de redes de apoio social e de satisfação (Bowling, 1997).

Estas medidas podem ser classificadas de genéricas, se os instrumentos são aplicados a populações sem especificar a patologia, sendo, neste caso, mais apropriados para estudos epidemiológicos, planeamento e avaliação do sistema de saúde (Minayo et al., 2000).

Na última década, assistimos a uma proliferação de instrumentos de QDV e afins, a maioria de origem americana. A necessidade da existência de um instrumento que avaliasse a QDV numa perspetiva internacional fez com que a Organização Mundial da Saúde desenvolvesse um projeto onde estiveram envolvidos vários centros de diferentes países para a sua construção.

O WHOQOL- Bref (Anexo II) é uma versão breve do WHOQO -100. Este foi desenvolvido pelo WHOQOL- Group com a colaboração simultânea de quinze centros internacionais (Bankok,Tailândia; Beer- Sheva, Israel; Madras, India; New Delhi, Índia; Melbourne, Austrátia; Panamá City, Panamá; Seattle, USA; Tilberg, Holanda; Zagreb, Croácia; Tokyo, Japão; Horare, Zimbabwe; Barcelona, Espanha; Bath, Inglaterra; St Petersburg, Rússia; Paris, França), com o objetivo de ser um instrumento que atravessasse várias culturas (Rapley, 2003; WHO, 1997b; WHOQOL Group, 1995, 1998).

Uma das primeiras preocupações do Grupo foi definir o conceito de QDV, o qual já foi apresentado anteriormente, e o qual assumimos como referência no desenvolvimento de toda a nossa investigação.

O conceito de QDV transmitido pelo WHOQOL-Group reflete uma visão e avaliação inseridas num contexto cultural, social e ambiental específico. Assim, a avaliação da QDV foca-se sobre aspetos percebidos da QDV e, portanto, não é esperado que se obtenham medidas sobre detalhes de sintomas, condições da doença, mas sim dados sobre os efeitos da doença e das intervenções de saúde na QDV. Da mesma forma, a QDV não pode ser simplesmente comparada a termos como “estados de saúde”, “estilos de vida”, satisfação com a vida”, “estado mental” ou “bem-

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estar”. O reconhecimento da natureza multidimensional da QDV é refletido na estrutura do WHOQOL-100 (Rapley, 2003).

Muitas avaliações em saúde obtêm-se por testes laboratoriais e por observação no contexto de trabalho pelo profissional. Os instrumentos de avaliação da QDV (WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref) focam-se na visão do indivíduo e no bem-estar, dando-nos uma nova perspetiva da doença, ou seja, não questiona apenas a funcionalidade das pessoas com determinada doença, mas, também, a sua satisfação com essa funcionalidade e com os efeitos do tratamento (WHO, 1997b).

O WHOQOL-100 é composto por seis domínios (físico, psicológico, nível de independência, relações sociais, ambiente e aspetos espirituais/religião/crenças pessoais). Cada domínio é composto por facetas, num total de 24 facetas específicas e uma de QDV geral (WHOQOL Group, 1995, 1998).

Existem duas versões deste instrumento em Português: uma versão em português do Brasil (Fleck et al., 1999a, Fleck, Louzada, Xavier, Chachamovich, Vieira, & Santos, 1999b) desenvolvida pelo Grupo de Estudos sobre Qualidade de Vida do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e uma versão portuguesa de Portugal cuja tradução foi desenvolvida pelo Centro Português da Organização Mundial da Saúde para a Avaliação da Qualidade Vida representado pela Faculdade de Medicina e Psicologia e das Ciências da Educação da Universidade Coimbra (Canavarro, Vaz Serra, Pereira, Simões, Quintais, & Quartilho, 2006; Vaz Serra, Canavarro, Simões, Pereira, Gameiro, & Quartilho, 2006; Rijo, Canavarro, Pereira, Simões, Vaz-Serra, & Quartilho, 2006).

O WHOQOL-Bref é constituído por 26 perguntas: duas mais gerais, que se referem à perceção geral de QDV e à perceção geral da saúde, e 24 relativas a cada uma das 24 facetas específicas e está organizado em quatro domínios: físico; psicológico; relações sociais e ambiente. A cada faceta corresponde um item (uma questão) e a forma como se agrupam as questões para a formação dos domínios está representada na Figura 9.

Embora já existisse a versão portuguesa do Brasil (Fleck et al., 2000), Portugal necessitava de criar uma versão para português de Portugal devido a variações da língua a um contexto cultural diferente.

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Tal como aconteceu com o WHOQO-100, o WHOQO-Bref foi rigorosamente testado em cada país participante, nomeadamente em Portugal, garantindo a validade científica do instrumento (Vaz Serra et al., 2006).

Figura 9. Organização do WHOQOL-Bref: domínios e facetas (Adaptado de Vaz Serra et al., 2006, p. 43)

A metodologia utilizada na construção da versão portuguesa de Portugal, pelo Centro Português da WHOQOL foi a indicada pelo WHOQOL-Group para este fim, nomeadamente:

a) A tradução do instrumento, a qual envolveu alguns passos: Relações Sociais Ambiente Q 3. Dor e desconforto Q 4. Dependência de medicação ou tratamentos Q 10. Energia e fadiga Q 15. Mobilidade Q 16. Sono e repouso Q 17. Atividades da vida diária Q 18. Capacidade de trabalho Domínio Físico Domínio Psicológico Q 20. Relações pessoais Q 21. Atividade sexual Q 22. Apoio social Q 5. Sentimentos positivos Q 6. Espiritualidade/Religião/Crenças pessoais

Q 7. Pensamento, aprendizagem, memória e concentração Q 11. Imagem corporal e aparência

Q 19. Autoestima Q 26. Sentimentos negativos

Q 8. Segurança física Q 9. Ambiente físico (poluição/barulho/trânsito/clima) Q 12. Recursos económicos

Q 13.Oportunidades para adquirir novas informações e competências Q 14. Participação e/ou oportunidades de recreio e lazer

Q 23. Ambiente no lar

Q 24. Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade Q 25. Transportes

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 a tradução do instrumento por um tradutor familiarizado com traduções na área das ciências sociais e saúde;

 revisão da tradução por um grupo bilingue composto por entrevistadores, médicos e antropólogos que, no caso concreto, era composto pela equipa do Centro Português;  revisão por um grupo monolingue representativo da população, na qual a instrumento

irá ser aplicado. Nesta versão, o grupo foi constituído por 20 indivíduos da população geral;

 revisão pelo grupo bilingue para incorporação de sugestões do grupo monolingue;  retroversão por tradutor independente; avaliação da retroversão pelo grupo bilingue e

comparação com a versão anterior (Canavarro et al., 2006).

b) Desenvolvimento de escalas de resposta. As escalas de resposta do WHOQOL referem-se a quatro tipos de perguntas: intensidade, capacidade, frequência e avaliação. Para construir as escalas de resposta para português de Portugal, a Equipa do Centro Português, seguiu, também, a metodologia da OMS para o seu desenvolvimento (Canavarro et al., 2006).

c) Estudo qualitativo para preparar o estudo piloto. A versão portuguesa de Portugal do WHOQOL-Bref foi debatida em quatro grupos focais. Segundo o protocolo da OMS, estes grupos focais devem debater o conceito de QDV proposto pela OMS e dar opinião sobre os domínios e dimensões do WHOQOL-Bref. Os grupos podem propor questões adicionais para as facetas existentes e/ou propor novas facetas. O debate da versão portuguesa nos grupos focais levou à criação de uma nova faceta – 25ª faceta – faceta específica – Poder Político (FP – 25 – Faceta Portuguesa) (Rijo et al., 2006).

d) Estudo empírico piloto. Foi aplicada a versão portuguesa para português de Portugal a uma amostra da população portuguesa (315 indivíduos da populaça portuguesa normal e 289 indivíduos doentes, utentes provenientes dos serviços de Psiquiatria (20.4%), Ginecologia (10.7%), Medicina III/Reumatologia (25.3%), Ortopedia/Oncologia (24.9%) dos Hospitais da Universidade de Coimbra, do Instituto Português de Oncologia e dos Centros de Saúde de Coimbra) e foram realizados os estudos psicométricos. O instrumento revelou boas

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características psicométricas ao nível da consistência interna, fiabilidade temporal e viabilidade do construto, permitindo a sua utilização em Portugal (Vaz Serra et al., 2006).

O WHOQOL-Bref foi inicialmente desenvolvido como um questionário de autorresposta. Segundo os procedimentos de administração WHOQOL-Bref da versão portuguesa de Portugal, em determinadas situações não é possível optar por esta modalidade. Por tal razão os modos de administração podem ser:

Autoadministrado – após a leitura das instruções, o respondente preenche o questionário sem qualquer ajuda;

Assistido pelo entrevistador – o entrevistador lê as instruções e explica o modo de preenchimento do questionário. É o respondente que lê as questões e assinala as respostas; Administrado pelo entrevistador – o entrevistador lê as instruções, as questões, os descritores da escala de resposta e assinala no questionário a resposta dada pelo inquirido.

Pelo facto de o WHOQOL-Bref revelar características psicométricas semelhantes ao WHOQOL – 100 (Vaz Serra et al., 2006) e, dada a necessidade de reduzirmos o tempo de preenchimento devido às características dos indivíduos participantes no nosso estudo, optámos pela sua utilização na presente investigação. Quanto ao modo de administração, optámos pelo modo “administrado pelo entrevistador”, dada a dificuldade na leitura e interpretação que a maioria dos participantes apresentava.

Michalak et al. (2007), numa revisão da literatura sobre a QDV e doença bipolar, identificou uma grande heterogeneidade em termos de instrumentos de medição da QDV. Refere, no entanto, que o WHOQOL-Bref é uma alternativa fiável pelo desenvolvimento internacional rigoroso e disponível em várias línguas.

No documento Qualidade de vida e doença mental (páginas 174-178)