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Sistemas de informação: acesso e qualidade de dados em saúde mental

No documento Qualidade de vida e doença mental (páginas 117-133)

PARTE II INVESTIGAÇÃO EMPÍRICA

ÍNDICE DE FIGURAS

3. ASPETOS ORGANIZACIONAIS DOS SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL

3.3 Investigação e melhoria da qualidade em saúde mental

3.3.1 Sistemas de informação: acesso e qualidade de dados em saúde mental

Atualmente as organizações, e em particular as organizações ligadas à saúde, não podem prescindir de um efetivo sistema de informação automatizado, pois a qualidade da prestação de cuidados de saúde dos cidadãos depende da qualidade dos dados armazenados no sistema de registos existente. Assim, é necessário um compromisso das organizações de saúde, no sentido de criar um ambiente facilitador da implementação e funcionamento de sistemas de informação fazendo com que façam parte da rotina, refletindo-se a sua existência na melhoria dos cuidados de saúde, promovendo e facilitando o acesso a dados importantes para o desenvolvimento da investigação necessária. Os sistemas de cuidados de saúde estão em permanente evolução, tornando-se inevitável a necessidade de estarem disponíveis sistemas de informação em condições de promoverem uma utilização da informação para a qualidade e otimização dos processos de gestão (Pereira, 2007). Muitos dos sistemas de informação recolhem dados essencialmente relacionados com a doença. Um completo registo de saúde mental das

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populações também requer dados de determinantes de saúde mental sociais, culturais, demográficos e económicos, como também de atividades e infraestruturas de prevenção e promoção da saúde mental. Estes dados estão raramente disponíveis e, consequentemente, com falta de relevância política. A falta destes dados compromete a avaliação das necessidades e a distribuição de recursos, gerando lacunas no efetivo funcionamento dos serviços. Neste sentido, a investigação em saúde mental é necessária para a gestão eficaz de recursos e apoiar decisões políticas, sendo que a consequência da falta de pesquisa relevante é a falta de políticas eficazes, comprometendo a assistência em saúde das pessoas (WHO, 2005a).

Por sistemas de informações em saúde entende-se “[…] não só ferramentas para as autoridades e profissionais de saúde, bem como, sistemas de saúde personalizados para o utente, tais como, o registo eletrónico dos utentes, a telemedicina, e todo um conjunto de base tecnológica desenhado para a prevenção, diagnóstico, tratamento, monitorização e gestão da saúde do cidadão” (Espanha et al., 2010 cit. por Alto Comissariado da Saúde (ACS)/Ministério da Saúde, 2011, pp. 4-5). Os sistemas de informação em saúde estão intimamente ligados à e-saúde9. Os registos em saúde permitem conhecer a realidade regional e nacional, uniformizar critérios nas diferentes organizações relativos a dados a registar e tratar dados para estudos epidemiológicos descritivos, tais como a incidência, prevalência, mortalidade e sobrevivência. No entanto, uma das mais-valias dos registos é, sem dúvida, permitir um melhor conhecimento da realidade a nível de doenças, diagnósticos de enfermagem, intervenções médicas e de enfermagem, entre outras.

Nos últimos anos, os governos portugueses têm manifestado interesse na qualidade, a qual caminha a par da inovação e da melhor gestão das instituições de saúde, fatores que se têm considerado como decisivos para o desenvolvimento do Sistema Nacional de Saúde Português. Este conjunto de intenções trouxe a necessidade de utilizar as potencialidades das novas tecnologias de informação na área da saúde. De facto, a qualidade e a inovação são constantemente chamadas à discussão quando o tema é saúde (Teixeira & Brochado 2005).

9 Entende-se por e-saúde “[…] todas as redes de informação e comunicação sobre saúde, disponíveis online, dirigidas ao público

em geral, mas também aos profissionais de saúde, construídas em torno desta temática, assim como, todo o tipo de prestação de serviços, de informação, de construção de plataformas, de disponibilização de conteúdos e registo eletrónico de pacientes/utentes, mas que estão disponíveis online, para serem consultados por toda a população utilizadora de internet, diretamente ou através de terceiros” (Espanha et al., 2010 cit. por ACS/Ministério da Saúde, 2011, p.4).

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A visão da necessidade de Informação já é referenciada no Livro Verde para a Sociedade de Informação (Missão para a Sociedade e da Informação/Ministério da Ciência e da Tecnologia, 1997), que declara uma iniciativa nacional para a Sociedade de Informação. O documento apela à urgência de promover a aplicação das novas tecnologias de informação à saúde, e considera uma Sociedade de Informação, aquela que tira partido pela cidadania, pelo conhecimento, pela liberdade e pela inovação.

Um processo de investigação clínica exige, quase sempre, o acesso a um conjunto de dados que exige uma série de procedimentos de análise e que obriga o investigador a alguma atenção relativamente a autorização no acesso, custos e tempo necessários para a sua seleção e organização. Apesar de estas necessidades serem evidentes para a investigação, existem dificuldades de acesso aos dados bem como aos procedimentos que lhes são subjacentes no âmbito da investigação em saúde e em todas as áreas disciplinares que utilizam dados relacionados com a saúde e com a doença (Nossa & Pina, 2007).

Registos de saúde eletrónicos

Por Registo de Saúde Eletrónico (RSE) entende-se “[…] um registo médico completo ou documentação equivalente, em formato eletrónico, dos antecedentes e do estado de saúde atual, físico e mental de uma pessoa, que permite obter prontamente os dados para fins de tratamento médico e outros, estritamente conexos” (Comissão das Comunidades Europeias, 2008, p. 38). O RSE tem sido uma preocupação efetiva da OMS. Subjacente a esta preocupação, surge um manual sobre registos eletrónicos de saúde para países em desenvolvimento que pretendia ser uma referência básica para usar quando se explora o desenvolvimento e implementação de RSE. Fornece uma visão geral, algumas definições básicas e exemplos práticos de RSE. Apresenta algumas questões e desafios a abordar e algumas estratégias possíveis, juntamente com as etapas e atividades de implementação. Existe a preocupação em transmitir a importância de estabelecimento de metas, revisão de políticas, desenvolvimento de um plano de ação e a definição de um processo de implementação (WHO, 2006).

Os grandes avanços nas tecnologias de informação nos últimos 20 anos, particularmente nos cuidados de saúde, têm sido acompanhados pela discussão e desenvolvimento de diferentes

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formas de registar eletronicamente a informação de saúde e doença (WHO, 2006). Alguns países e algumas instituições de saúde ainda planeiam a introdução de um RSE, enquanto outros já têm implementado algum tipo de registo, por via da utilização das tecnologias de informação.

No entanto, o tipo e a extensão de registos dos vários países estão em diferentes níveis de desenvolvimento e, portanto, existe entre eles uma grande variabilidade. Embora o trabalho de alguns países tenha sido o de informatizar os dados de saúde dos utentes nos sistemas de informação, outros não têm ainda sucesso nesse tipo de registo, o que impede a entrada e saída de dados no momento em que o utente recorre ao serviço de saúde.

Embora o interesse em automatizar o registo em saúde seja geralmente alto, infelizmente, em alguns casos, a introdução de um dado nos sistemas de informação, está quase fora do alcance de muitos profissionais de saúde e administradores. Os obstáculos não são a tecnologia, porque está disponível, mas o suporte técnico e o custo da mudança para um sistema eletrónico associado ao financiamento insuficiente de cuidados de saúde. A resistência, sobretudo de alguns médicos e outros profissionais de saúde em passar do registo manual para o eletrónico ainda é um problema de alguns países desenvolvidos e em desenvolvimento (WHO, 2006). A alteração que é introduzida com os registos eletrónicos em saúde, não é apenas a passagem de um ambiente de papel para um ambiente sem papel. Os RSE melhoram a precisão e a qualidade dos dados; melhoram o acesso dos profissionais de saúde à informação acerca dos cuidados de saúde prestados a um utente, permitindo que a informação seja partilhada com outros profissionais favorecendo a informação dos cuidados prestados e a continuação de cuidados; melhoram a qualidade do atendimento, como resultados da prontidão da informação e; melhoram a eficiência dos serviços e ajudam na contenção de custos.

As principais orientações estratégicas definidas para a saúde refletidas já no Plano Nacional de Saúde (PNS), de 2004-2010, nomeadamente as Estratégias para a Gestão da Mudança, incluíam a Capacitação do Sistema de Saúde para a Inovação que abrange a Gestão da Informação e do Conhecimento (Direção Geral da Saúde, 2004a). De forma similar, a União Europeia estabeleceu recomendações e diretivas no domínio do RSE numa perspetiva de

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interoperabilidade transfronteiriça10. Aponta para possibilidade de se poderem vencer alguns desafios atuais e futuros com que se deparam os sistemas europeus de saúde através da implementação de um fluxo de informação baseado em tecnologias de informação e das comunicações que denomina “saúde em linha”. Garante que os sistemas de registos em saúde eletrónicos se apresentam como uma parte fundamental dos sistemas de saúde em linha. Para a Comissão os RSE garantem mais qualidade e segurança nas informações de saúde do que os registos de saúde tradicionais, permitindo aos utentes e profissionais da saúde informações atualizadas, garantindo o cumprimento das normas de proteção dos dados pessoais e a confidencialidade (Comissão da Comunidades Europeias, 2008).

O programa do XVIII Governo Constitucional no seu Capítulo 3 ”Saúde: um valor para todos” apresentava a política de saúde em três tópicos: mais saúde, reforçar o sistema de saúde e um SNS sustentável e bem gerido. Relativamente a este último tópico, estavam contempladas as tecnologias de informação e comunicação, as quais foram consideradas indispensáveis para alargar o acesso, simplificar procedimentos, melhorar a qualidade e garantir a eficiência

Era objetivo desse governo, assegurar que, até ao final de 2012, todos os portugueses possuíssem um registo de saúde eletrónico. Também o XIX Governo Constitucional apresenta no seu programa medidas relativas à melhoria da informação e do conhecimento do sistema de saúde, assegurando uma política de investimento em sistemas de informação que permita a otimização dos dados das fontes existentes, sendo que uma das medidas aponta para o desenvolvimento de RSE pretendendo ligar diferentes tipologias de unidades prestadoras de cuidados (Presidência do Conselho de Ministros, 2011).

Tendo em atenção as principais orientações estratégicas definidas para a saúde refletidas no PNS, do Programa do XVIII Governo, e as diretrizes da União Europeia, que parecem ter a inovação e o desenvolvimento como horizonte, foi elaborado o Plano para a Transformação dos Sistemas de Informação Integrados da Saúde (PTSIIS) que procurou sintetizar uma visão estratégica para os sistemas de informação para a saúde, no sentido de contribuir para a concretização das estratégias e obter melhor saúde para todos os cidadãos.

10Por interoperabilidade transfronteiriça entende-se “[…] interoperabilidade entre Estados-Membros, vizinhos e não vizinhos, e

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O PTSIIS assenta em princípios de universalidade na acessibilidade aos recursos, equidade e continuidade na prestação de cuidados, melhoria na prestação de cuidados, gestão integrada na saúde pública, vigilância epidemiológica e sustentabilidade e transparência na gestão do SNS. Subjacente a estes princípios está a necessidade de garantir a modernização dos sistemas de informação, quer a nível de infraestruturas, aumentando a velocidade, quer a nível de construção das estruturas de informação, contribuindo para que os dados sejam unívocos, e para a inter- relação e integração entre os diferentes subsistemas de saúde. Tem, ainda, como vetor importante a aposta na inovação e investigação em saúde, pretendendo o acesso e a disponibilização de espaços virtuais para a promoção e partilha do conhecimento em saúde, nomeadamente gestores e dirigentes do Ministério da Saúde e do SNS, das universidades e centros de investigação (Administração Central do Serviço de Saúde/ACSS, 2007).

O Grupo de Trabalho de Registo de Saúde Eletrónico (Despacho n.º10864/2009 de 28 de abril) apresenta uma proposta de especificações relativamente ao futuro do RSE, que constitui a base de trabalho para a implementação do RSE nacional. Os elementos selecionados para constituir este Grupo de Trabalho representam de uma forma abrangente os intervenientes no SNS: Hospitais Públicos/Administração Regional de Saúde (ARS) /Unidades Locais de Saúde (ULS); Cuidados de Saúde Primários; Cuidados de Saúde Continuados; Grupos Privados de Saúde; Ordens Profissionais (Enfermeiros e Médicos) Universidades (I&D); Saúde Pública/Direção Geral da Saúde (DGS) e; Regiões Autónomas.

Uma das determinações do Despacho n.º10864/2009 de 28 de abril, refere-se à necessidade que a constituição do Grupo para o PTSIIS visasse a “[…] promoção da reflexão no domínio dos RSE, a definição de modelos e especificações nacionais, o apoio à convergência dos esforços dos diversos atores e a contribuição para a definição de orientações no domínio da e-saúde em integração com as iniciativas que decorrem na União Europeia” (p.17069).

O Grupo de Trabalho para o RSE apresentou publicamente os documentos resultantes dos seus esforços: caracterização da situação atual – estado da arte; orientações para a especificação funcional e técnica do sistema de RSE e; orientações relativas ao programa de Implementação do RSE (Ministério da Saúde/ACSS, 2009a, 2009b, 2009c). O Plano de Operacionalização Sistematizado do Programa RSE surge em 2010 para o triénio 2010-2012 (Ministério da Saúde/ACSS, 2010; Despacho n.º 27311/2009 de 21 de dezembro) que apresenta orientações

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que constituem um ponto de partida no processo de planeamento e implementação do RSE, estabelecendo princípios, modelos e diretivas que incorporarão todas as iniciativas que se pudessem desenvolver, com o propósito de concretizar o RSE.

Relativamente à utilização dos sistemas de RSE na Europa o Benchmarking ICT use among General Practitioners In Europe, realizado pela União Europeia (European Commission, 2008), aponta para uma variação considerável entre os Estados-Membros. Todas as práticas (87%) dos Médicos de Clínica Geral (GP) ou médicos de família são apoiadas pelo computador. Restam 13% que não funcionam com computadores e, portanto, não podem usufruir dos benefícios da e- saúde. Em alguns países, a taxa de utilização dos computadores são baixas como 65% (Malta e Roménia) ou 57% na Letónia. Por outro lado, enquanto existem países (Estónia, Finlândia, Dinamarca, Suécia e Islândia) em que a taxa de uso de internet é elevado, atingindo um nível de saturação, existem outros Estados – Membros (Bulgária, Hungria, Roménia e Eslováquia) onde o uso de internet está abaixo dos 50%. Relativamente à utilização de Banda Larga, estamos perante diferenças entre 93% na Finlândia e 5% na Roménia, embora a Banda Larga seja utilizada em 48% dos Estados Membros da União Europeia.

Os dados apresentados neste relatório foram recolhidos a partir dos cuidados de saúde médicos e da utilização que fazem de computadores e da internet para comunicar com os utentes e entre os cuidados de saúde primários e secundários bem como com outros atores da saúde. O levantamento foi realizado em todos os 27 Estados-Membros da União Europeia e na Noruega e Islândia.

Os dados referentes aos utentes registados por via eletrónica nos Estados-Membros podem ser classificados em duas categorias: dados administrativos, os quais são registados por 80% dos Estados-Membros e dados clínicos (estados de saúde, diagnóstico e tratamento). Relativamente aos dados administrativos, a taxa de registo e armazenamento mais elevada encontra-se na Hungria (100%), Finlândia (99.6%), na Islândia (99%), na Noruega (98%), na Estónia (98%), na Dinamarca (97%), na Holanda (97%), Suécia (96%) e no Reino Unido (95%). Os valores percentuais mais baixos referem-se à Letónia (26%), Lituânia (39%), Roménia (47%) e à Grécia (49%). Portugal apresenta uma taxa de 73,6 %.

Relativamente aos dados clínicos, os dados mais registados são referentes aos diagnósticos e medicamentos (92%), parâmetros básicos de saúde, como é o caso das alergias (85%),

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resultados de exames laboratoriais (81%), sintomatologia e razão da consulta (79%), história médica - relatório e exames (77% cada), parâmetros de sinais vitais (76%), resultados de tratamentos (67%) e imagens radiológicas (35%) (Figura 6).

Figura 6. Taxas de armazenamento de dados relativos ao doente na Euro 27 e Euro 27+2 (Adaptado de European Comission, 2008, p. 26)

Ainda, segundo o mesmo Relatório, numa escala de 0 (não utiliza) a 5 (utilizado pelos profissionais de saúde em todo o país), a Dinamarca, a Holanda, a Finlândia, a Noruega, a Suécia e o Reino Unido, surgem na vanguarda da utilização de soluções de e-saúde com pontuações entre os 4.3 e os 3.1. A Lituânia, a Roménia, a Polónia e a Grécia têm um uso de soluções e-saúde Muito Baixos, variando a classificação entre os 0.5 e os 1.0. Portugal apresenta uma pontuação de 1.7.

Os Sistemas de Informação no âmbito do Sistema Nacional de Saúde

Em 2009, o Grupo de trabalho para o RSE descreve que a área da saúde trouxe dinamismo ao mercado, apesar de ser no setor público que se encontrava o grande motor das tecnologias de informação e comunicação na saúde. O Instituto de Gestão Informática e Financeira da Saúde (IGIF) desenvolveu aplicações eletrónicas com o objetivo de responder à crescente necessidade de tornar mais eficiente o trabalho administrativo das instituições de saúde. Em 2007, fornecia

92 91 85 81 79 77 76 76 67 35 92 92 85 81 79 77 77 76 67 35 0 20 40 60 80 100 Diagnóstico Medicamentos Parâmetros médicos básicos Resultatdos laboratoriais Sintomatologia/motivo consulta História médica Relatórios e exames Parâmetros de sinais vitais Resultados do tratamento Imagens radiológicas

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43% das soluções implementadas nos serviços e organismos da saúde. O Memorando de Análise e Diagnóstico dos Sistemas de Informação da Saúde em Portugal, efetuado pelo IGIF, e concluído em janeiro de 2007 no âmbito do projeto PTSIIS, refere que cerca de 44% das aplicações dos serviços eram opções do mercado e que, assim, a dificuldade ou a qualidade da informação disponível nos serviços de saúde não podiam ser imputadas, em primeira linha à ineficiência ou ineficácia das aplicações do IGIF (Instituto de Gestão Informática e Financeira - IGIF, 2007). Conclui que esta dificuldade e a qualidade da informação derivam da ineficiência do desenvolvimento interno das entidades ou da qualidade das aplicações do mercado. Só uma em quatro aplicações tem uma arquitetura Web, e 46% das aplicações dos serviços e organismos da saúde estão direcionadas para o suporte dos processos de prestação de cuidados de saúde, principalmente de apoio à gestão clínica, gestão departamental (laboratórios, farmácia, etc.) e gestão de utentes. O grau de formação técnica do pessoal envolvido nos sistemas e tecnologias de informação (STI) nas instituições de saúde era modesto o que torna preocupante a transformação dos STI.

Embora assistíssemos a experiências com resultados positivos, esta realidade não se estendia ao espaço nacional, assistindo-se durante muito tempo a um investimento sobretudo centrado em responder a necessidades básicas de acesso e gestão da Informação (Ministério da Saúde/ACSS, 2009a).

De acordo com Rita Espanha (Alto Comissariado da Saúde - ACS, 2010) os sistemas de informação como o SONHO (Sistema Integrado de Informação Hospitalar), o SINUS (Sistema Integrado de Informação para os Cuidados de Saúde Primários) e o cartão de utente têm-se revelado desajustados, apresentando diversas fragilidades. Verificou-se que a sua gestão, a inexistência de um datacenter, a dificuldade de uma política de normalização e estruturação de alguns conteúdos e alguma descoordenação no acesso do cidadão à informação, têm sido obstáculos a uma efetiva implementação de sistemas de informação em saúde eficazes. Refere ainda que, até 2002, devido às limitações dos sistemas de informação, houve a necessidade de se implementar software que permitisse que os profissionais registassem as prescrições eletrónicas e dados clínicos dos utentes. Estas alterações resultaram na implementação do SAM (Sistema de Apoio Médico) e o SAPE (Sistema de Apoio à Prática de Enfermagem) em alguns estabelecimentos a partir dessa data.

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O PTSIIS prevê um novo modelo dos Sistemas de Informação para que este assegure uma mais- valia para a concretização das estratégias para obter mais e melhor saúde e de forma sustentada. O objetivo é que se baseie numa abordagem centrada no utente/cidadão (Figura 7), inovando os sistemas de saúde.

Figura 7. Tendências dos sistemas de Informação na saúde em Portugal (Adaptado de Administração Central do Sistema de Saúde /ACSS, 2007, p. 8)

Este modelo prevê uma visão integrada do sistema de saúde com o reconhecimento crescente da necessidade de mais e melhor informação em saúde, incluindo o acesso a informação atualizada sobre saúde por parte dos utentes; novos e melhores métodos de comunicação entre todos os intervenientes da saúde; partilha de informação com os utentes, reduzindo as assimetrias de conhecimento entre os utentes e os profissionais de saúde e, finalmente, a recolha, arquivo, processamento e análise de informação transversal sobre a eficiência do sistema e da prestação de cuidados (Administração Central do Serviço de Saúde/ACSS, 2007). O plano definido pelo Grupo de trabalho para o RSE segue o alinhamento das recomendações do PTSIIS e as diretivas da Comunidade Europeia, atendendo que a arquitetura para o RSE deva partir de um conjunto de princípios e metas a atingir. Todos os sistemas que se incorporem no conceito de RSE devem: i) entender o cidadão como o centro do sistema; ii) suportar a mobilidade de cidadãos e de profissionais de saúde; iii) facilitar aos profissionais de saúde o acesso e a partilha de informação de qualidade no momento e no ponto de prestação de cuidados; iv) melhorar os fluxos de informação de forma a facilitar e melhorar a continuidade de cuidados e; v) suportar a missão e ações no âmbito da Saúde Pública (exs., avaliação, investigação, vigilância). Relativamente a este último princípio/meta, o Grupo propõe que

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