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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.1 NATUREZA DO ESTUDO

Empreendido em um tema central da Contabilidade que, por natureza, pertence às Ciências Sociais Aplicadas, cujos princípios gerais conduzem à busca de conhecimentos pela prática para explicar eventos específicos, o assunto problematizado reclama por cuidado particular ao gênero da pesquisa e ao ambiente do estudo. Nesse sentido, nunca é demais informar que, a atividade investigatória utiliza padrões e informações que permitem ampliar a visão do quadro geral de um determinado setor de interesse (PASOLD, 2003).

Silva e Menezes (2005) esclarecem o posicionamento de Pasold (2003) ao definirem que a metodologia da pesquisa compreende a etapa em que se dá a definição de onde e como foi realizado o estudo. Nesse passo, a metodologia também se preza a esclarecer a respeito do método

de abordagem e do método de procedimentos adotados no processo investigatório. Porquanto, vale dizer, a metodologia da pesquisa se refere à situação em que o pesquisador estabelece e comunica tanto sobre a parte procedimental quanto à instrumental da investigação e, desse modo, cumpre a função de descrever os meios e os processos técnicos usados para nortear o estudo.

Deslandes (2010, p. 43) contribui para o estudo, nos termos dessa autora, na medida em que “q metodologia não só contempla a fase de exploração de campo (escolha do espaço da pesquisa, escolha do grupo de pesquisa, estabelecimento dos critérios de amostragem e construção de estratégias para entrada em campo) como a definição de instrumentos e procedimentos para a análise dos dados”.

No entendimento de Minayo (2010, p. 16), “[...] a metodologia inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a construção da realidade [...] e, enquanto conjunto de técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses teóricos para o desafio da prática”.

Leonel e Motta (2007) orientam que há duas categorias de método científico, quais sejam: a) os métodos de abordagem, que se relacionam à cognição, e b) os métodos de procedimento, que estão associados ao fazer. Nessa perspectiva, o método de abordagem funciona como fio condutor do processo investigativo, particularmente porque nele o pesquisador apresenta a linha de raciocínio e as diretrizes perseguidas na abordagem do problema.

Por outro lado, como todo exame ou investigação requer a aplicação de algum método de procedimento, há a necessidade de que o conhecimento construído seja amparo por algum método que valide o estudo. Nessa perspectiva, o método de procedimento funciona como ferramental do estudo. Nesse caso, o pesquisador descreve os critérios metodológicos e as técnicas adotadas para explicar o problema proposto e conferir validade científica aos resultados visados (LEONEL; MOTTA, 2007).

Diante da discussão promovida entre os autores consultados, depreende-se do que foi exposto que a metodologia da pesquisa se refere ao processo de busca traçado pelo investigador para executar determinado estudo. Nesse processo, necessariamente, o pesquisador considera os métodos, as técnicas e os procedimentos empregados para realizar a pesquisa.

Por conta dessas razões, pela perspectiva do estudo de caso, pode-se dizer que a natureza do plano metodológico elaborado para

conduzir a investigação aponta na direção da abordagem quanti- qualitativista amparada pelo método de procedimento descritivo. Nesse campo, Marconi (2001, p. 43) têm se dedicado ao assunto, para essas autoras “[...] toda pesquisa implica o levantamento de dados de várias fontes, quaisquer que sejam os métodos e técnicas empregados”.

Relativamente aos métodos, vale observar que, no setor da abordagem quanti-qualitativa alguns autores preferem não subdividir o método de abordagem em quantitativo e qualitativo. Goode e Hatt (apud RICHARDSON, 2008) justificam esse posicionamento com o argumento de que, em certa medida, a pesquisa quantitativa também apresenta aspectos qualitativos, pois, independentemente da precisão o que pesquisador visa será sempre uma qualidade.

Em vista de o estudo possuir natureza quanti-qualitativa e o objetivo geral ser de caráter descritivo, justifica-se o emprego conjugado desses dois métodos em vista de que enquanto o critério quantitativo possibilita medir alguns aspectos da porção investigada, o sistema qualitativo permite alvejar a dimensão humana e, ao mesmo tempo, valorizar percepção do ator social envolvido no processo. Dessa forma, pode-se dizer que tanto a abordagem quantitativa como a qualitativa pressupõem perspectivas distintas. No entanto, isso não significa dizer que ambas ofereçam pólos opostos ou que uma não se contraponha à outra. Ao contrário, ambas se complementam. Com base nessa linha de raciocínio evidenciam-se, a seguir, o posicionamento de alguns autores a respeito dos critérios técnico-metodológicos adotados para realizar o estudo.

Quanto ao caráter quantitativo da pesquisa, vale observar que esse método de abordagem foi utilizado notadamente porque permite a quantificar o objeto investigado, como também porque autoriza classificar e analisar as categorias de informações obtidas, para o alcance dos objetivos propostos neste estudo. Como, ainda, deveu-se à capacidade que esse formato tem para que se conjugue a experiência do pesquisador ao conteúdo examinado e, simultaneamente, sejam operacionalizados conceitos e ideias fundados na teoria revisada.

De acordo com Moura (1998), os dados quantitativos são aqueles que se apresentam ou podem ser diretamente convertidos para uma forma numérica, como por exemplo, os registros provenientes de observações sistemáticas, as respostas a perguntas fechadas ou de múltipla escolha de questionários, as respostas aos itens de testes e escalas.

Essa modalidade de pesquisa depende, direta e necessariamente, da coleta de elementos quantificáveis em detrimento da colheita de

informações como é o caso da investigação qualitativa. Conquanto, da análise referente advêm resultados quantificados. Nesse sentido, Mezzaroba e Monteiro (2003, p. 108) referem que

quantidade representa tudo [...] que pode ser medido, o mensurável. Então, se o objeto de sua pesquisa se prestar a qualquer tipo de medição e esta, evidentemente, for interessante para o resultado final da investigação a que você se propôs, a adoção de procedimentos de quantificação pode lhe ser útil.

Conforme se depreende da citação anterior, a noção de abordagem quantitativa passa, imprescindivelmente, pela idéia de quantidade, de medição, mensuração. Relativamente, Rauen (2002, p. 33-34) esclarece que

as pesquisas quantitativas [...] são conhecidas como levantamento de dados, de sondagem ou survey. A pesquisa de levantamento consiste na solicitação [...] a um grupo estatisticamente significativo de pessoas sobre um problema estudado, para posterior análise [...] O desenho metodológico recorrente é o da pesquisa de campo.

À semelhança do que ocorrem com os demais sistemas, as pesquisas quantitativas apresentam vantagens e desvantagens, conforme apontam autores como Marconi e Lakatos (2010), Moura (1998), Mezzaroba e Monteiro (2003) e Rauen (2002, p. 56), segundo os quais “[...] são pontos negativos a superficialidade e a redução dos fenômenos a uma perspectiva perceptiva.” Outro aspecto desfavorável da pesquisa quantitativa é que esse formato não é indicado para compreender porquês, em geral, apresenta custo elevado e a análise estatística se mostra confiável diante de uma amostra populacional volumosa.

Em contrapartida, dentre as vantagens que possui, esse tipo de pesquisa permite controle e precisão, possibilita análise estatística, os elementos básicos da análise são numéricos, o raciocínio é lógico e dedutivo, além de permitir estabelecer relações e causa. Nesse tipo de abordagem o investigador tem a possibilidade de analisar e conferir, com precisão, o cômputo geral dos dados que foram colhidos, tabulados e estatisticamente tratados, assim como os resultados finais e respectiva interpretação (MARCONI; LAKATOS, 2010).

abordagem quantitativa constam à identificação dos investigados através de critérios previamente definidos, como sexo, idade, ramo de atividade ou localização geográfica e, dessa forma, obriga-se às regras de seleção da amostra populacional, não requerer local previamente preparado, é aplicada individualmente, é apropriada para medir opiniões, atitudes, preferências e comportamentos, por exemplo (MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003).

No que se refere à abordagem qualitativa, pode-se dizer que pesquisas desse tipo são dependentes de entrevistas ou de questionários com perguntas abertas, a escolha dos atores sociais para compor a amostra populacional se reveste de caráter fundamental, haja vista que interfere na qualidade das informações obtidas e se faz repercutir na análise requerida à compreensão do problema investigado.

Dentre os conceitos coletados destaca-se o entendimento de Minayo (2010). Refere essa autora que na abordagem qualitativa busca- se compreender a complexidade das relações sociais que criam, alimentam, reproduzem e transformam as estruturas. Afirma, ainda, citada autora que esse tipo de pesquisa leva em consideração a maneira de pensar dos envolvidos e, na construção do conhecimento, pressupõe abertura, flexibilidade, capacidade de observação e de interação com os envolvidos.

Para Mezzaroba e Monteiro (2003, p. 108), a qualidade se traduz numa “[...] propriedade de idéias, coisas e pessoas que permite que sejam diferenciadas entre si de acordo com suas naturezas”, bem como há que se considerar que “a pesquisa qualitativa não vai medir seus dados, mas, antes, procurar identificar suas naturezas. [...] A compreensão das informações é feita de uma forma mais global e inter- relacionada com fatores variados, privilegiando contextos”.

Ainda, pela concepção de Mezzaroba e Monteiro (2003, p. 108), a pesquisa qualitativa “[...] também pode possuir um conteúdo altamente descritivo e pode até lançar mão de dados quantitativos incorporados em suas análises, mas o que vai preponderar sempre é o exame rigoroso da natureza.”

Leopardi (2001, p. 64), a respeito da abordagem qualitativa, apresenta a seguinte contribuição:

[...] com a dificuldade encontrada por pesquisadores em acessar aspectos particulares da realidade como experiência pessoal e não como fato apenas, surge a possibilidade de se fazer pesquisa em que o objeto se configura como essencialmente qualitativo, especialmente quando

se deseja compreender os fenômenos sensório- perceptivos de apreensão do real pelos sujeitos, construindo-se uma ampla diversidade de abordagens, genericamente chamada investigação qualitativa.

Particularmente, a pesquisa qualitativa tem por característica possibilitar com que o pesquisador alcance aspectos fenomênicos que, por si só, retratam com fidelidade ímpar os conteúdos intrínsecos da realidade empírica, tendo-se em mente que “o fenômeno não tem a ver com o ‘eu’ ou com a ‘coisa’ [...] O dado fenomenológico é aquele que surge após a redução, ou seja, depois de afastados, não quer dizer negados, o ‘eu’, a teoria e a tradição” (RAUEN, 2002, p. 33-34).

Bodgan e Bicklen (1994, p. 149) apresentam outras características da pesquisa qualitativa, quais sejam, a “[...] pesquisa qualitativa envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que o produto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes”.

Com base nos estudos desenvolvidos por Bogdam e Biklen (1994), alguns autores como Lüdke e André (1986), e Triviños (1987) referem que dentre as características básicas da pesquisa qualitativa, o ambiente natural funciona como fonte direta dos dados e o pesquisador como instrumento chave. Nesse tipo de estudo, os dados tendem a ser analisados de modo que o significado se torna a preocupação essencial, haja vista que, segundo André (1999, p. 17), “[...] o foco da investigação deve se centrar na compreensão dos significados atribuídos pelos sujeitos às suas ações”.

De acordo com André (1999), dentre as vantagens observadas no sistema de pesquisa qualitativa, pode-se citar o desenvolvimento da teoria, a possibilidade de novas descobertas, a compreensão e interpretação partilhadas e a interpretação individual.

Relativamente às limitações que a investigação qualitativa possui está o fato de que “os elementos básicos da análise são palavras e idéias,” o que restringe o pesquisador da porção objetiva da realidade, nessa perspectiva, qualquer interpretação distorcida pode comprometer o resultado final da investigação (ANDRÉ, 1999, p. 17).

Em argumentação relativa à importância dessa modalidade de investigação, Minayo (1993, p. 22) acrescenta que

[...] a rigor qualquer investigação social deveria contemplar uma característica básica de seu

objeto: o aspecto qualitativo. Isso implica considerar sujeito de estudo: gente, em determinada condição social, pertencente a determinado grupo social ou classe com suas crenças, valores e significados. Implica também considerar que o objeto das ciências sociais é complexo, contraditório, inacabado, e em permanente transformação.

Complementarmente, Minayo (1998, p. 21-22) informa, ainda, que a abordagem qualitativa

[...] se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

Por esses conceitos, pode-se dizer que a investigação qualitativa veio a contribuir para a investigação formal positiva e, desse modo, abriu um horizonte de possibilidades impossível de ser contemplado apenas pelo formato quantitativo. Porquanto, não é incomum encontrar na literatura corrente comentários de autores que apontam à tendência assumida pela pesquisa nas Ciências Sociais. Nesse sentido, Godoy (1995) argumenta sobre a prevalência, até certo momento, de estudos que privilegiam abordagens puramente quantitativas. Não obstante, após ter sido reconhecido por algumas Ciências como a Sociologia, a Antropologia, a Administração, a Psicologia e a Engenharia, o método de abordagem qualitativo, atualmente, tende a ser recepcionado por outras áreas do conhecimento humano. A esse respeito, Amboni (1997) diz que, atualmente, o método qualitativo tem contribuído para elastecer o conceito de pesquisa em Ciências Sociais, notadamente porque conduz à descoberta e compreensão do contexto intra e extra-organizacional.

Pertinente ao tema, Selltiz et al., (1987) conduzem ao entendimento de que, nas Ciências Sociais, não são incomuns as distinções de natureza qualitativa. Também do mesmo autor segue a contribuição que, tanto na ciência quanto na vida diária, é muitas vezes desejável fazer distinções de grau e não de qualidade, para a exatidão de julgamento e para a descoberta de relações entre características que variam em quantidade e em espécie, a ciência procura substituir

proposições que apenas afirmam ou negam características por proposições que indicam o grau de diferença. A mensuração só é possível porque existe certa correspondência entre as relações empíricas de objetos e acontecimentos, de um lado, e as regras da matemática, de outro.

Ademais, importa destacar que a opção pela abordagem qualitativa deveu-se ao fato dessa modalidade contemplar, entre suas particularidades, especialmente porque permite a valorização da subjetividade humana, assim como, também autoriza resgatar a percepção do sujeito da pesquisa a respeito do comportamento dos custos diretos e indiretos em razão dos fatores de produção da Cerâmica Alpha que, no caso deste estudo, é uma das condições para que se possam alcançar os objetivos estabelecidos na introdução. Deste modo, após ter-se esclarecido acerca da natureza do estudo, a seguir, passa-se à definição dos critérios metodológico-procedimentais que caracterizam esta pesquisa, conforme segue detalhado.